No passado dia 29 novembro, e quando os deputados votavam o Orçamento de Estado e aprovaram o fim do corte de 5% no salário dos políticos, o partido Chega pendurou tarjas nas janelas da Assembleia da República (AR). O Presidente da AR, José Pedro Aguiar Branco, “considerou esta ação como um momento de vandalismo contra um património nacional” mas não teve a coragem de suspender imediatamente os trabalhos. Quando solicitou a André Ventura que retirassem as tarjas e este se negou a fazê-lo, não devia ter anunciado o que iria fazer, chamava os bombeiros para o fazer e a polícia para identificar os autores de tal vandalismo. E obviamente que é vandalismo, pois se fosse um qualquer cidadão que o fizesse seria preso imediatamente. A imunidade dos deputados não pode chegar para tudo. Faltou também coragem a todos os deputados que pediram a suspensão dos trabalhos e não a viram atendida pelo Presidente da Assembleia da República, deviam ter-se retirado, não estavam garantidas as condições de segurança e tal comportamento era uma séria forma de coação à votação do Orçamento de Estado. André ventura apressou-se a dizer que não era vandalismo, eu queria ver se fosse uma tarja a apoiar as touradas ou a causa LGBT o que ele diria.
Será que já se esqueceram da invasão do Capitólio nos EUA em 2021? E dos ataques aos palácios dos 3 Poderes no Brasil? Não se admirem se dentro de muito pouco tempo acontecer uma coisa parecida em Portugal. Basta ver o que se vai passando nas redes sociais, há grupo radicais infiltrados, especialmente de direita, que incendeiam tudo, querem é agitação, barulho, confusão.
Nos dias seguintes ouviram-se alguns deputados de partidos políticos de esquerda a acusar os deputados do Chega de serem insolentes e mal-educados na Assembleia da República. Não precisamos de provas para acreditar, obviamente que o são, mas dizer só na televisão não chega. Façam chegar essas queixas às autoridades, obriguem o Senhor Presidente da AR a ter pulso forte e coragem para mandar sair da AR os deputados que ofendem outros, porque tem esse poder. E se ele não o fizer, abandonem os trabalhos, ninguém é obrigado a estar no seu local de trabalho, ainda mais na casa da democracia, a ser humilhado dessa forma. Então aceita-se que quando a deputada do PAN, Inês Sousa Real fala sobre touradas, os deputados do Chega gritem “Olés”? Chamo-lhes deputados por respeito a este jornal e aos seus leitores, apetecia-me chamar-lhes outra coisa.
Concordo com algumas das coisas que André Ventura diz, que as fronteiras do país não podem estar escancaradas; que há crimes que deviam ter penas muito mais severas; que há apoios descontrolados a gente que simplesmente não quer trabalhar nem respeita as leis do país, mas jamais votarei num partido que envergonha a própria democracia, e mesmo que tenha vontade de fazer um voto de protesto, não será certamente no Chega. Haja paciência, ninguém tem mãos para pôr esta gente no seu devido lugar? O povo tem mãos, tem pelo menos a mão que segura a caneta no dia do voto. É isto que querem?
Vou terminar com dois ou três apontamentos distintos. Ruben Amorim seguiu o seu sonho e foi para Inglaterra, não tenho dúvidas que será feliz. O Sporting bem tentou disfarçar a perda, mas a avaliar pelos últimos resultados está num período de luto que se recusa a aceitar, e tenho pena. Apesar de não ser sportinguista, habituei-me a gostar das vitórias de uma equipa com um grupo de adeptos fantástico, não mereciam estar a passar por isto. Mas no futebol, quem manda é o dinheiro, temos mesmo de nos habituar! Cá por Portugal também o F.C. Porto vive uma crise de resultados e de falta de dinheiro, mas pelo menos sente-se uma limpeza e honestidade no clube que há muitos anos não se via. Talvez seja melhor assim. 2024 está a acabar, um ano marcado pelo regresso de Donald Trump, pelo escalar da guerra no Médio Oriente e na Ucrânia, por tragédias climáticas, algumas bem perto de nós; pela subida da extrema-direita em cada vez mais países. Se tudo isto não é uma terceira guerra mundial, não estará muito longe.
Desejos sinceros de um feliz Natal e de um próspero ano de 2025!
Crónica publicada na edição 492 do Notícias de Coura, 17 de dezembro de 2024