Não queria nada
gastar esta crónica a falar de educação, mas enquanto não me surge outra ideia
vou escrevendo. Se daqui até ao final da folha me surgir algo melhor eu apago isto
tudo e recomeço.
António Costa
demonstrou esta semana ser um político inteligente. Uso a palavra inteligente
no sentido mordaz da palavra, é provavelmente o político mais inteligente da
atualidade, um exemplo de 1.º ministro que conseguiu ser nomeado sem ganhar
eleições e, tal como se previa, conseguiu “enganar” o Bloco de Esquerda e o
Partido Comunista Português até ver aprovado o seu quarto e último Orçamento de
Estado. Obviamente que tanto o BE como o PCP sabem que foram “enganados*”.
Obviamente que preferem isso a deixar a direita voltar ao poder.
Esta jogada
política, digo, crise política lançada por António Costa, resulta da vontade de
todos os partidos políticos, com exceção do PS, de reconhecerem aos professores
o tempo que trabalharam durante o tempo de congelamento das carreiras. Ao
contrário do que têm dito alguns dirigentes do PS, nunca em tempo algum os
professores pediram retroativos monetários. Esta é uma das mentiras, ou
não-verdades como agora alguns políticos dizem, de virar a opinião pública
contra a classe docente. Outra das não-verdades aos ventos anunciadas é a de
que o PS nunca se comprometeu a reconhecer esse tempo aos professores, está na
Resolução 1/2018 da Assembleia da República, basta ler. Não façam de nós
estúpidos por favor. Por fim, refiro mais uma das não-verdades, os valores
adicionais de despesa. Quase todos eles falsos, pois são tão diferentes entre
os anunciados por António Costa, Mário Centeno e demais políticos, que
dificilmente haverá quem não esteja errado! Mas nisto das contas, Mário Centeno
tem revelado ser um verdadeiro malabarista. Mário Centeno Ministro das Finanças
de Portugal é um verdadeiro mestre a dar a volta ao Mário Centeno, Presidente
do Eurogrupo!
Por fim, uma
última palavra para os dirigentes da oposição: Rui Rio e Assunção Cristas
demonstraram bem a credibilidade que têm. E mais palavras não merecem.
Como até este
momento não me ocorre nada melhor para escrever, vou deixar o texto como está,
e largar um último desabafo: Sou professor há mais de 20 anos. Estou no segundo
escalão de uma carreira de dez. Recebo menos agora do que em 2008! Se Portugal
não voltar a ser alvo da Troika, vou-me reformar lá para 2044, isto se até lá
durar (coisa que sinceramente não acredito!), e nessa altura devo estar a meio
da tabela remuneratória, terei trabalhado quase 50 anos! Apesar de tudo isto,
não pensem que não gosto da minha profissão, gosto muito! Mas toda este
descrédito que a classe docente tem sofrido nos últimos anos faz-me olhar para
a minha profissão como isso mesmo, a minha profissão. A forma de trabalho que
remunera a minha vida. E é assim que tem de ser. Temos a obrigação de ser
profissionais, fazer o melhor que sabemos, mas nada mais que isso. O tempo de
trabalhar fora de horas, por amor à camisola ou por amor à causa pública, já lá
vai. E não há ninguém que tenha o direito de o questionar. Ninguém.
Quando esta crónica chegar aos leitores a
crise política já passou, estará tudo na mesma. O povo continuará como sempre
esteve, conformado, e provavelmente feliz pois o Benfica certamente já será
campeão. As eleições europeias estarão à porta, e os resultados voltarão a ser
os mesmos, desde 1974 que não variam muito, por que raio haveriam agora de
mudar?
* o autor
utiliza a palavra “enganados” no sentido mais inocente da palavra. Quem engana
fá-lo pelo bem da nação, quem se deixa enganar também.
Crónica publicada na edição 363 do Notícias de Coura, 14 de maio de 2019.