terça-feira, 24 de janeiro de 2023

Habituem-se.

Esta foi a crónica que começou a ser escrita com mais antecedência. Não podia deixar de aproveitar a entrevista do 1.º Ministro dada à revista Visão, e tinha mesmo vindo em boa altura, uns dias antes de receber em casa o Notícias de Coura. Recebo-o normalmente à quarta-feira, no dia a seguir chega o SMS a lembrar-me da minha obrigação! Quando olhei para a capa e vi que a próxima edição só iria sair a 17 de janeiro pensei: - Olha que chatice! Daqui a um mês ninguém se vai lembrar disto! Sabia lá eu, a quantidade de “casos e casinhos” que estavam para vir!

Depois de ler e ouvir a entrevista, já poucos têm dúvidas sobre o cariz prepotente de António Costa. Não estão em causa as suas qualidades como político, já escrevi mais que uma vez sobre o assunto, e se relativamente à sua competência para o cargo também já o afirmei, neste momento não o posso fazer, são disparates a mais, muita falta de cuidado na tomada de decisões e uma sistemática fuga às respostas no tempo certo. (Se isto assusta, ainda mais me assusta procurar alternativas e pouco encontrar.) António Costa faz-me lembrar um transmontano que aparecia para ajudar nas tarefas do campo sempre ao final da manhã, quando o trabalho estava a terminar, e ainda questionava surpreso: - “Então não era para começar depois de almoço?”

Enquanto António Costa “pinta” o país cor-de-rosa, e manda a oposição habituar-se à maioria absoluta, eu, aqui do meu pequeno cantinho, aproveitando estas linhas que me são concedidas, tomo a liberdade de sugerir aos meus leitores:

- Habituem-se a ouvir o nosso 1.º Ministro ter expressões infelizes quando se dirige à oposição, chamar os deputados da Iniciativa Liberal de “Queques que guincham” foi só o começo, até porque quem “guincha” mais na Assembleia da República é André Ventura.

- Habituem-se, se é que ainda não estão, às coisas (trapalhadas, vigarices, esquemas, trafulhices, patranhas, …) que acontecem na TAP. O que se tem passado nos últimos dias é um verdadeiro filme, dá para escrever pelo menos duas ou três crónicas, pelo que vou guardar o assunto para quando nada de estranho aconteça.

- Habituem-se às escolhas dos responsáveis políticos a partir dos seus cartões partidários ou das amizades pessoais. (Obviamente que isto não é exclusivo do PS, não sabem é ser discretos, ou então pensam que os órgãos de comunicação social e o povo andam a dormir). O caso Miguel Alves é um belo exemplo. António Costa sabia que ele era arguido em dois casos e ainda assim convidou-o para Secretário de Estado Adjunto. O autarca passou a ter uma exposição mediática que em pouco tempo lhe acabou com a carreira política. E António Costa sai bem na fotografia, exclamando: “- É a justiça a funcionar.”

- Habituem-se a que, nas palavras do Senhor Ministro da Saúde, Portugal seja o melhor país para se nascer. A prova está nas muitas estrangeiras que escolhem o nosso país par dar à luz, aceder dessa forma a uma autorização de residência e depois á naturalização. Chama-se “turismo de nascimentos” e é apenas mais um esquema, de entre tantos outros que fazem de Portugal um país de oportunidades.

- Habituem-se a ver Portugal descer nos rankings da competitividade europeia. Nos últimos anos o nosso país tem vindo a ser sistematicamente ultrapassado por países aparentemente mais pobres e menos desenvolvidos. Em 1995 a Roménia era o mais atrasado dos 27 países da União Europeia. Em 2023 vai-nos ultrapassar. A Roménia!?

- Habituem-se aos constantes atrasos na justiça e a que os grandes tubarões escapem sempre; habituem-se à falta de médicos e enfermeiros e até à falta de serviços de urgência; habituem-se à falta de professores; habituem-se às constantes inundações nalgumas cidades e aos habituais incêndios de verão; … enfim, não vale a pena continuar, se calhar o problema do nosso país é mesmo sermos um povo que se habitua demasiado a tudo.

Embora as previsões não sejam animadoras, bom ano de 2023 a todos.

Crónica publicada na edição 447 do Notícias de Coura, 17 de janeiro de 2023.