Já passa das 9
horas da noite, da noite em que tenho de enviar a minha crónica para a redação
do Notícias de Coura. Enviar é fácil, o problema é que antes tenho de a
escrever. Ando para aqui às voltas à espera de caçar alguma ideia interessante,
encontro imensas, mas nenhuma capaz de me fazer conseguir escrever mais do que
meia dúzia de linhas. Greta Thunberg registou o seu nome como marca comercial (pirralha
capitalista, deve estar a pensar o Bolsonaro!); Azeredo Lopes confessou ao Juiz
Carlos Alexandre que afinal recebeu um documento pelo Whatsapp sobre o roubo
das armas de Tancos e a encenação da sua devolução, mas que não o relatou
porque não é funcionário público (!); o Brexit concretizou-se para gáudio de
muitos Ingleses, não duvido que os Ingleses continuarão com a mesma postura,
dentro ou fora, não conseguirão fugir à sua histórica apetência de dividir para
reinar; a braços com a epidemia do Coronavírus, a China consegue construiu um
hospital em menos de 10 dias, não me admirei de ler algures um comentário de
alguém que pedia: “Será que não podem vir cá num fim-de-semana construir a ala
pediátrica do Hospital de São João?”.
Enfim, imensos temas interessantes, mas vou mesmo ter que escrever sobre
as polémicas palavras do deputado André Ventura! (Que sacrifício!) Depois da
deputada Joacine Katar Moreira, ainda em representação do Livre, ter apresentado
uma proposta que pretendia que “todo o património das ex-colónias presente em
território português fosse restituído aos países de origem de forma a
descolonizar museus”, André Ventura publicou na sua página pessoal do facebook
um comentário onde propunha que “a própria deputada Joacine seja devolvida ao
seu país de origem”. Estalou a indignação no país, especialmente no Parlamento
e nas televisões, onde foi dada voz a todos quantos se insurgiram contra as
palavras “xenófobas e racistas” de André Ventura. O engraçado no meio de tudo
isto é a capacidade de André Ventura de, com um comentário irónico, conseguir
capitalizar votos, e muitos. Obviamente que a publicação não é inocente mas,
daí até fazer parecer disto um caso de emergência nacional, vai muito.
Especialmente porque aqueles que agora se insurgem nada disseram quanto às
imensas trapalhadas e confusões em que deputada tem estado envolvida, algumas
delas nada abonatórias da instituição que representa. O que se passou a seguir
é fácil de resumir, os partidos nem sequer chegaram a avançar para o voto de
condenação às declarações de André Ventura, segundo eles, para não as
amplificar, por certo perceberam que quanto mais falarem do assunto, menos
apoiantes têm. A Assembleia da República rejeitou a proposta do Livre e a
deputada passou à condição de não inscrita, deixou de ter a confiança do Livre,
o partido que a elegeu, ou melhor, do partido que se serviu dela para conseguir
representação parlamentar e acabou por se tramar! Ainda assim, ficou bem ao
Livre, que afirmou que “entre um cargo e os nossos valores, optamos pelos
nossos valores”, na verdade, entre ficar a arder em lume brando ou queimar-se
já de uma vez, o Livre optou pela última! Por outro lado, Joacine Katar Moreira
mantém o registo, afirma que jamais vai renunciar ao mandato, que é dela; que
nasceu para estar ali, e por ali vai ficar até lhe passar a gaguez. Enfim, a
avaliar pelo último discurso que a deputada fez na rua, parece que a gaguez
dela é apenas nervosismo que a atinge na Assembleia da República. Só vejo duas
grandes vantagens na sua permanência como deputada, a primeira é para benefício
financeiro e de currículo da mesma, a segunda, é para satisfação da comunicação
social, pois certamente as trapalhadas vão continuar! Ainda sobre a proposta
inicial que levantou tamanhas ondas de indignação, obviamente que se alguém
provar que há nos museus portugueses obras pilhadas das colónias, as mesmas
devem ser devolvidas, mas por favor, não venham acordar o “demónio” da
colonização/descolonização, a história foi o que foi e nada a vai fazer mudar.
E por fim, obviamente que eu vejo nas palavras de André Ventura humor, mordaz,
maldoso o suficiente, mas humor. Ele que nem se atreva a mandar-nos para a
nossa terra. Eu nasci em Angola, sou Português, e não quero ir para lá.
Crónica publicada na edição 380 do Notícias de Coura, 11 de fevereiro de 2020.