terça-feira, 24 de março de 2015

Um título que me encheu de alegria!

Na última edição do Notícias de Coura, tive a oportunidade de ler uma das notícias que mais alegria me trouxe desde que cheguei a esta terra, no já longínquo ano de 2006! 

“Obras na Escola Secundária” 

Foi este o título que me fez saltar de alegria. Já em diversas ocasiões me tinha pronunciado neste jornal sobre o esquecimento a que minha escola tinha sido sujeita por parte da Parque Escolar. E especialmente pelo azar que teve em ficar para o fim nas intervenções que o Ministério da Educação e Ciência ia levar a cabo em todas as escolas do país. Como se devem lembrar, a Parque Escolar gastou o triplo do previsto, em apenas um terço das escolas! 
As obras vão durar 4 meses e destinam-se a renovar as coberturas, isolar as paredes exteriores e substituir portas e janelas. E melhor, iriam já começar a 2 de março! 
- Então e vão fazer as obras com as aulas a decorrer? Vai ser bonito! Uma barulheira enorme! Quero ver como vou dar aulas! Lamentava-se desta forma uma colega minha, preocupada obviamente com o normal decorrer das suas aulas e com a perturbação que as obras poderiam trazer às mesmas. Perante o meu riso, ainda mais indignada ficou, questionando: - Tu ainda te ris?! 
Pois é claro que rio! Lembrei-lhe que não podemos querer o sol na eira e a chuva no nabal. Se o preço que temos de pagar para ter uma escola confortável e apresentável forem 4 meses a suportar as obras, pois venham elas. Venha o pó, o barulho e o cheiro a cimento. Venham até os piropos dos trolhas! No próximo Inverno, quando nos sentirmos mais quentes e confortáveis nas salas de aula, decerto ninguém se lembrará das obras. 
Fiquei satisfeito por ler na mesma notícia as palavras do Sr. Presidente da Câmara afirmando ser a educação uma das suas prioridades, acreditando que o futuro de Paredes de Coura depende da formação dos nossos jovens. Como professor, preocupa-me bastante a formação de alguns jovens, chego a questionar-me muitas vezes sobre o que nos trará o futuro, e o cenário que vislumbro não é muito animador. Vários assuntos e exemplos práticos eu poderia trazer para o justificar, mas trago apenas um: a limpeza. 
Na passada semana recebi por correio electrónico uma mensagem da minha escola alertando para a necessidade de debater com os meus alunos a problemática do lixo na escola. Não fiquei surpreso. Se eu vos mostrasse a quantidade de fotografias que tenho de situações verdadeiramente inaceitáveis em qualquer espaço público, ainda mais numa escola, não acreditariam que tinham sido tiradas numa escola. Nalguns corredores e especialmente no polivalente, é normal verno chão, cascas de laranjas e bananas, pães inteiros ou metades, pacotes de sumo e de iogurtes, rodelas de chouriço, fatias de queijo e fiambre, caroços de maças, folhas de alface, entre outros, uma autêntica “roda dos alimentos” de desperdícios. Sim, é verdade. Tudo isto se pode ver na escola de Paredes de Coura. Sim, na minha escola, e isso deixa-me triste. 
Amanhã, (uma semana antes de este número sair para as bancas), é chegado o dia de, eu, como professor e diretor de turma, debater estas questões com os meus alunos. Não vou preparar nenhum discurso, muito menos mostrar-lhes um PowerPoint com as vantagens e desvantagens de manter a escola limpa. Vou-lhes falar do conceito básico de educação e contar-lhes algumas histórias do meu tempo. No meu tempo, não foi a escola que me ensinou as regras da boa educação, não foi preciso a escola lembrar-me que eu não devia deitar o lixo para o chão. Nunca o fiz em casa. Talvez por isso também o não fizesse na escola. 
Imensos especialistas em pedagogia e educação defendem que “a família educa e a escola ensina”. Talvez seja mesmo assim. Obviamente que a criança também aprende com a família; é lógico que se a família não estiver a educar a escola não vai deixar a criança à sua própria sorte. Aquilo que eu penso, é que quem não respeita e cuida do seu próprio lar, dificilmente o fará a outro. Quem não respeita os pais (ou aqueles que os criaram), não respeita mais ninguém. Sobre este assunto, tenho uma experiência verdadeiramente “surreal” vivida numa sala de aula há muitos poucos dias com uma criança de 7 anos! Talvez um dia a partilhe com os leitores! 
Vou terminar assim para deixar que esta questão possa suscitar algum tipo de debate e partilha de opiniões, para o bem da nossa escola, para o bem do nosso concelho. 

Crónica publicada na edição 267 do Notícias de Coura, 17 de março de 2015.