terça-feira, 12 de abril de 2022

“Habemus” Governo!

Finalmente foi conhecida a lista dos ministros para a próxima legislatura. Depois da repetição das eleições do círculo eleitoral da Europa, por culpa exclusiva do cambalacho que os partidos tinham combinado, foi finalmente entregue ao Sr. Presidente da República a composição do novo governo… perdão, escapou do segredo de quem a conhecia e veio parar à comunicação social. Propositado ou não, é um incidente curioso, não sei se tal aconteceria se o PS não tivesse maioria absoluta. Pode apenas ser um sinal ao Sr. Presidente da República que o seu papel de árbitro da democracia está agora passado para segundo plano, ou então foi mesmo algum deputado zangado por não ter sido escolhido.

Este é um governo mais pequeno e onde as mulheres, além de estarem em maioria, assumem pastas de grande relevo, como a defesa e a justiça. Mais relevante ainda é o papel dado a Mariana Vieira da Silva. Passa a ser a número dois de António Costa, com poderes reforçados e acumulando as pastas do Planeamento e da Administração Pública, ficando com um dos trabalhos mais importantes de sempre, a gestão dos milhões de euros do PRR (Plano de Recuperação e Resiliência). Há quem diga que esta é a última grande oportunidade de Portugal se desenvolver como deve ser. A confiança depositada em Mariana Vieira da Silva é um sinal de que António Costa desenhou o governo a pensar na sua sucessão, sendo bem provável que seja ela a próxima líder socialista e, em condições normais, a futura chefe do governo. António Costa foi em 2019 convidado para ser Presidente do Conselho Europeu, a acontecer novo convite em 2024 tem tudo preparado para o poder aceitar, basta que haja estabilidade governativa, coisa bastante mais provável agora que o PS tem maioria absoluta.

Sobre as restantes pastas não há grandes surpresas, Marta Temido permanece na saúde e Pedro Nuno Santos nas infraestruturas e habitação. Este último continua a ocupar uma posição de pouca relevância no governo, António Costa teme que ele aspire a seu sucessor e volte a aproximar o PS da convergência com a esquerda, nomeadamente com o Bloco de Esquerda. Na Educação, João Costa sobe de Secretário de Estado a Ministro, acaba por não ser surpresa uma vez que, a acreditar em conhece os corredores da governação, já era ele quem tomava as decisões. De Tiago Brandão Rodrigues ficam duas coisas, ter sido até hoje o Ministro da Educação com mais tempo no cargo, e ser no seu mandato que os manuais escolares passaram a ser gratuitos. Sobre as futuras políticas da educação não se esperam grande mudanças. Vamos ver quais as ações concretas para a resolução do desafio de colmatar a enorme falta de professores que a escola pública enfrenta. A escolha de António Costa e Silva para a Economia e o Mar é recebida com expetativa pois foi o responsável pela definição de uma visão estratégica para a implementação do PRR. Talvez não tivesse sido má ideia ser ele a tutelar o mesmo! Para o Ministério da tecnologia e ensino superior foi escolhida Elvira Fortunato, engenheira, professora e cientista conhecida e reconhecida mundialmente. Tem criticado o subfinanciamento da investigação científica em Portugal. Pode ser uma excelente ministra, se conseguir lutar por aquilo que acredita e ter poder de decisão para um definitivo e urgente investimento em investigação e desenvolvimento.

Para terminar, e porque desta vez decidi deixar o pior para o fim, a escolha do Ministro das Finanças. Em 2015 Fernando Medina ascendeu a Presidente da Câmara de Lisboa quando António Costa foi liderar o PS. Em 2021 Fernando Medina liderava a autarquia responsável pelo envio às autoridades russas dos nomes e moradas de manifestantes russos que participaram num protesto pela libertação de Alexey Navalny (opositor de Putin que há tempos foi envenenado). Em 2021 Fernando Medina perdeu a autarquia da capital. Em 2022 Fernando Medina foi escolhido para Ministro das Finanças.

Crónica publicada na edição 430 do Notícias de Coura, 5 de abril de 2022.