segunda-feira, 18 de março de 2024

Coisas e coisinhas!

Esta é uma daquelas crónicas em que deixei os dias passar à espera de que algo de estrondoso acontecesse e me servisse de inspiração. O tempo passou e nada aconteceu. Nada digno de uma crónica inteira, mas muitas coisinhas que talvez cheguem para encher página e meia. Vamos lá então!

Sobressaltos na campanha: a campanha eleitoral está na estrada, beijinhos, abraços, as promessas habituais, o falar mal dos outros partidos, enfim, nada de novo. Luís Montenegro foi atacado com tinta verde numa ação de protesto reivindicada pelos ativistas do movimento 'Fim ao Fóssil'. Julgo que já numa anterior crónica exprimi a minha indignação com este tipo de protestos idiotas, muitos deles levados a cabo por jovens instrumentalizados por determinados partidos políticos. Não é assim que se defende uma causa, aliás, alguns destes jovens nem sabem sequer qual é a causa. Fiquei surpreendido quando fiz pesquisas sobre este assunto ao descobrir que é fornecido a estes jovens um manual com orientações sobre o que fazer quando são detidos, como provocar a polícia, quais os crimes. que podem cometer e a terem escrito o número do advogado no corpo. Já me apetece meter estes grupos de arruaceiros no mesmo saco de algumas claques de futebol.

A comitiva do PS também teve também encontros pouco saudáveis. Aos impropérios e gestos obscenos de um homem numa varanda responderam atirando uma bandeira e um guarda-chuva, acabaram por levar com um vaso. Se o cidadão está descontente com o partido pode exprimi-lo de forma educada e concretizar esse descontentamento no boletim de voto. Pouco depois, alguns carteiristas trataram de fazer pela vida nas ruas estreitas de Guimarães e assaltaram alguns elementos da comitiva. Como diz o ditado, “A ocasião faz o ladrão.” Dei comigo a pensar: “Na altura da campanha eleitoral os políticos sujeitam-se a cada coisa.”

André Ventura denunciou uma publicação de um militante do Bloco de Esquerda que falava que iria anular votos do Chega na contagem dos mesmos. Para evitar estas coisas é que todos os partidos têm os seus delegados nas assembleias de voto. Mas não sejamos inocentes, já há muitos anos que estas artimanhas se passam nalgumas mesas de voto, ainda me lembro do truque de ter no bolso um lenço sujo com tinta, de vez em quando mete-se a mão ao bolso, suja-se um dedo, e na contagem suja-se um boletim de voto, tornando-o nulo. Estas coisas aconteciam nas décadas de oitenta e noventa. Esclareço desde já que nunca estive em nenhuma mesa eleitoral, e, portanto, não vi. Mas aconteceu.

O prémio Pinóquio: Após os muitos debates televisivos entre todos os candidatos, o Observador deu-se ao trabalho de enumerar todas as falsidades e imprecisões dos candidatos e eleger o “Pinóquio” das eleições legislativas! Não é de admirar que tenha ganho André Ventura, o que é assustador é que Pedro Nuno Santos tenha ficado a apenas um ponto e Luís Montenegro a dois! É assustador pensar que um deles será o próximo 1.º Ministro. Um deles, dos últimos dois enunciados!

De volta à América: O Supremo Tribunal dos Estados Unidos considerou que Donald Trump não pode ser impedido de ser candidato às eleições presidenciais, apesar do processo em que está envolvido sobre a invasão ao Capitólio. Em novembro os americanos irão eleger o próximo presidente com a certeza de que será o mais velho de sempre, seja Trump ou Biden. Voltarão os americanos a surpreender o mundo? Não creio, elegerem de novo Trump não será surpresa nenhuma.

Vergonha benfiquista: O Benfica foi jogar ao Estádio do Dragão e perdeu por 5-0 com o Porto. Perder seria sempre um mau resultado, por estes números colocou a nação benfiquista com as miras apontadas a Roger Schmidt. Não sou adepto do Benfica e compreendo a frustração e até alguma vergonha por perder desta forma. Compreendo também que aqueles que percebem de táticas critiquem o treinador, mas, ainda assim, o Benfica está com mais seis pontos que o Porto e a lutar pelo título. Tomara eu que o meu Chaves, depois de na mesma jornada ter perdido por 5-1 com o Arouca, estivesse com mais seis pontos que eles!



Crónica publicada na edição 474 do Notícias de Coura, 12 de março de 2024

terça-feira, 5 de março de 2024

Espero ou não pelo debate?

É segunda-feira dezanove de fevereiro. Tenho como tarefa fundamental para este dia a escrita e envio da minha crónica número cento e oitenta para o Notícias de Coura. Posso fazê-lo até ao dia seguinte, mas outras tarefas ditam que o faça hoje. Começo por dar uma vista de olhos às capas de jornais, a blogs sobre atualidade e política e ligo a televisão na SIC notícias. Alguns assuntos dominam a atualidade: a morte de Alexei Navalny, a indignação de José Sócrates perante o abuso das juízas em mudarem os factos e a qualificação de um crime que lhe é imputado, ainda se ouvem algumas coisas sobre a guerra na Ucrânia e na Palestina mas, o assunto que domina a atualidade é mesmo o debate desta noite entre Luís Montenegro e Pedro Nuno Santos. Até à hora de almoço não se ouve mais nada. Entrevistam-se pessoas nas ruas, questionam-se os comentadores para fazerem as suas apostas, fazem-se balanços dos debates feitos até agora, apresentam-se sondagens e até memórias de outros debates entre candidatos destes partidos a primeiros-ministros. Sou tentado a fugir a este assunto e ensaio alguns parágrafos.

Morreu há três Alexei Navalny. O mais temido opositor de Vladimir Putin tinha em tempos sido envenenado. Depois de uma difícil recuperação num hospital alemão decidiu voltar ao seu país. Obviamente que foi imediatamente preso. Desde aí pouco mais se soube. Condenado a dezanove anos de prisão estava numa cadeia no Ártico. Como morreu ainda não se sabe, mas não é difícil imaginar. (Opositores de Putin têm morrido envenenados, caindo de janelas ou terraços, talvez Navalny se tenha descuidado e caído das escadas.) Até ao terceiro dia, nem a mãe de Navalny nem os seus advogados tiveram acesso ao corpo. As autoridades russas apenas adiantam que foi aberta uma investigação. Ao mesmo tempo, prendem quem nas ruas lhe quer prestar homenagem e limpam constantemente as flores que lhe vão sendo deixadas nalguns memoriais que espontaneamente vão surgindo. É o regime russo. Aquele que muitos países não condenam. Aquele que muitos políticos admiram.

José Sócrates viu o Tribunal da Relação de Lisboa reverter parcialmente a decisão do Juiz Ivo Rosa e mandou o ex-primeiro-ministro ser julgado por vinte e dois crimes, três de corrupção, treze de branqueamento de capitais e seis de fraude fiscal. A sua defesa reclama a nulidade da decisão e a distribuição a um novo coletivo de juízes. Alegam que duas das três juízas deixaram de pertencer à instância de Lisboa, logo não poderiam assinar aquela decisão. Ao mesmo tempo, José Sócrates fala em alteração do conteúdo da acusação. Seja por um lado ou por outro, adivinham-se mais recursos e mais demoras. Até que este caso transite em julgado, já cada vez menos pessoas se lembrarão de quem foi José Sócrates.

Infelizmente, como estes dois assuntos não chegam para completar a página e meia que normalmente escrevo, lá vou ter de dizer qualquer coisa sobre o debate que se avizinha. Não tenho grandes expetativas em ver esclarecidas medidas concretas de atuação num próximo governo, e não me parece que alguém vença claramente e possa assim determinar o rumo da vitória. Montenegro só precisa de deixar o tempo correr e não se exaltar. Pedro Nuno Santos tem estado pouco corajoso, fazia mais oposição ao seu próprio governo quando era comentador político do que faz agora que quer ser 1.º ministro. Pode tentar atacar Montenegro com a falta de experiência dos seus futuros deputados, mas corre o risco de ser acusado de ter feito vários disparates quando era um ministro com uma elevada experiência governativa. Pode fazer lembrar o difícil tempo que os portugueses passaram aquando da troika e do governo de Passos Coelho, mas esse já é um passado longínquo, a troika veio resolver problemas criados pelo governo de José Sócrates. O PS até esteve bem no tempo da geringonça. Desde aí, aumentou a votação, pediu a maioria aos portugueses para uma maior estabilidade. Teve-a, e foi o que se viu.

Já passa das dezoito horas. Vou rever o artigo e enviar. Se por acaso alguma coisa de extraordinário acontecer no debate de logo à noite, escrevo outro texto ainda hoje. Peço ao Tinoco para esquecer este e publicar o próximo. Se estiverem a ler estas últimas frases é sinal de que o debate foi morno e não justificou o esforço de voltar a ligar o computador.



Crónica publicada na edição 473 do Notícias de Coura, 27 de fevereiro de 2024