terça-feira, 5 de março de 2024

Espero ou não pelo debate?

É segunda-feira dezanove de fevereiro. Tenho como tarefa fundamental para este dia a escrita e envio da minha crónica número cento e oitenta para o Notícias de Coura. Posso fazê-lo até ao dia seguinte, mas outras tarefas ditam que o faça hoje. Começo por dar uma vista de olhos às capas de jornais, a blogs sobre atualidade e política e ligo a televisão na SIC notícias. Alguns assuntos dominam a atualidade: a morte de Alexei Navalny, a indignação de José Sócrates perante o abuso das juízas em mudarem os factos e a qualificação de um crime que lhe é imputado, ainda se ouvem algumas coisas sobre a guerra na Ucrânia e na Palestina mas, o assunto que domina a atualidade é mesmo o debate desta noite entre Luís Montenegro e Pedro Nuno Santos. Até à hora de almoço não se ouve mais nada. Entrevistam-se pessoas nas ruas, questionam-se os comentadores para fazerem as suas apostas, fazem-se balanços dos debates feitos até agora, apresentam-se sondagens e até memórias de outros debates entre candidatos destes partidos a primeiros-ministros. Sou tentado a fugir a este assunto e ensaio alguns parágrafos.

Morreu há três Alexei Navalny. O mais temido opositor de Vladimir Putin tinha em tempos sido envenenado. Depois de uma difícil recuperação num hospital alemão decidiu voltar ao seu país. Obviamente que foi imediatamente preso. Desde aí pouco mais se soube. Condenado a dezanove anos de prisão estava numa cadeia no Ártico. Como morreu ainda não se sabe, mas não é difícil imaginar. (Opositores de Putin têm morrido envenenados, caindo de janelas ou terraços, talvez Navalny se tenha descuidado e caído das escadas.) Até ao terceiro dia, nem a mãe de Navalny nem os seus advogados tiveram acesso ao corpo. As autoridades russas apenas adiantam que foi aberta uma investigação. Ao mesmo tempo, prendem quem nas ruas lhe quer prestar homenagem e limpam constantemente as flores que lhe vão sendo deixadas nalguns memoriais que espontaneamente vão surgindo. É o regime russo. Aquele que muitos países não condenam. Aquele que muitos políticos admiram.

José Sócrates viu o Tribunal da Relação de Lisboa reverter parcialmente a decisão do Juiz Ivo Rosa e mandou o ex-primeiro-ministro ser julgado por vinte e dois crimes, três de corrupção, treze de branqueamento de capitais e seis de fraude fiscal. A sua defesa reclama a nulidade da decisão e a distribuição a um novo coletivo de juízes. Alegam que duas das três juízas deixaram de pertencer à instância de Lisboa, logo não poderiam assinar aquela decisão. Ao mesmo tempo, José Sócrates fala em alteração do conteúdo da acusação. Seja por um lado ou por outro, adivinham-se mais recursos e mais demoras. Até que este caso transite em julgado, já cada vez menos pessoas se lembrarão de quem foi José Sócrates.

Infelizmente, como estes dois assuntos não chegam para completar a página e meia que normalmente escrevo, lá vou ter de dizer qualquer coisa sobre o debate que se avizinha. Não tenho grandes expetativas em ver esclarecidas medidas concretas de atuação num próximo governo, e não me parece que alguém vença claramente e possa assim determinar o rumo da vitória. Montenegro só precisa de deixar o tempo correr e não se exaltar. Pedro Nuno Santos tem estado pouco corajoso, fazia mais oposição ao seu próprio governo quando era comentador político do que faz agora que quer ser 1.º ministro. Pode tentar atacar Montenegro com a falta de experiência dos seus futuros deputados, mas corre o risco de ser acusado de ter feito vários disparates quando era um ministro com uma elevada experiência governativa. Pode fazer lembrar o difícil tempo que os portugueses passaram aquando da troika e do governo de Passos Coelho, mas esse já é um passado longínquo, a troika veio resolver problemas criados pelo governo de José Sócrates. O PS até esteve bem no tempo da geringonça. Desde aí, aumentou a votação, pediu a maioria aos portugueses para uma maior estabilidade. Teve-a, e foi o que se viu.

Já passa das dezoito horas. Vou rever o artigo e enviar. Se por acaso alguma coisa de extraordinário acontecer no debate de logo à noite, escrevo outro texto ainda hoje. Peço ao Tinoco para esquecer este e publicar o próximo. Se estiverem a ler estas últimas frases é sinal de que o debate foi morno e não justificou o esforço de voltar a ligar o computador.



Crónica publicada na edição 473 do Notícias de Coura, 27 de fevereiro de 2024

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