terça-feira, 30 de novembro de 2021

Um país à deriva

Tráfico nas forças armadas: Há uns dias veio a público a notícia de que havia suspeitas de tráfico nas forças armadas. Alguns militares envolvidos em missões da ONU em África, aproveitaram o facto de os aviões militares não estarem sujeitos a vigilância, para trazer para a Europa diamantes, algum ouro e droga. Até aqui não é caso para admiração, a denuncia foi investigada desde o final de 2019 e os principais suspeitos já estão em prisão preventiva, e obviamente que isto não coloca em causa, como disse, e bem, o Sr. Presidente da República, a “excelência das forças armadas”. O que é grave neste caso é os mais altos responsáveis da nação não terem conhecimento das investigações. João Gomes Cravinho, Ministro da Defesa diz não ter informado António Costa, este por sua vez diz que não podia ter informado o Sr. Presidente da República pois de nada sabia. A mim parece-me grave, ainda mais quando o Sr. Presidente da República é o Comandante Supremo das Forças Armadas. O Ministro da Defesa alega o segredo de justiça e a separação de poderes para se ter mantido em silêncio, o que só tem explicação caso João Gomes Cravinho suspeitasse do envolvimento de algum dos dois. É mais uma trapalhada a fazer recordar Tancos.

Covid de regresso: Os números de casos positivos sobem de dia para dia, e embora alguém tenha dito que “agora a situação não é grave pois a probabilidade de morrer é menor”, Portugal já tem saudade de quando o Vice-Almirante Gouveia e Melo comandava isto tudo. Obviamente que a 3.ª dose já devia estar a ser administrada a todos os idosos e profissionais de saúde, e não na modalidade de casa aberta, mas nos mesmos moldes do anterior processo de vacinação, ao mesmo tempo que a vacinação nos lares já devia estar finalizada. Da mesma forma, o alívio nas medidas foi exagerado, quem anda pelas redes sociais e pelas ruas vê que maior parte do povo esqueceu o Covid, as festas voltaram, distanciamento social é uma mera recordação, e até as máscaras já estão ao preço da chuva pois quase ninguém as compra. Os Países Baixos, embora com mais de 83% da população vacinada, impuseram um confinamento parcial de 3 semanas para combater o aumento exponencial de casos positivos. Esperemos que por cá não tenhamos uma desagradável surpresa.

Direita em guerra interna: Já não devia surpresa para ninguém que quando “cheira a poder”, há sempre lutas internas nos partidos e candidatos que tentam “atacar a cadeira do poder”. No CDS, a coisa é tão grave que a atual liderança nem sequer admite congressos antecipados. (Na minha desinteressada opinião, faz bem, esta coisa de não haver respeito pelos mandatos internos nos partidos é uma vergonha, qualquer argumento é bom para se anteciparem eleições, quer sejam elas derrotas eleitorais ou vitórias por poucochinho!) No PSD a coisa acaba por ser mais engraçada! Vai haver eleições, Paulo Rangel acusa Rui Rio de não fazer oposição a António Costa, Rui Rio diz que não quer debates internos pois está concentrado em traçar um plano para o país e fazer oposição a António Costa. Tal como escrevi na crónica anterior, andam tão zangados entre eles, que António Costa só precisa estar calado e aparecer pouco para ganhar as eleições.

António Costa disponível para consensos: Quase parece uma piada, mas é mesmo verdade, António Costa, bem com alguns líderes do Partido Socialista, têm vindo a público espalhar a mensagem de que estão disponíveis para consensos alargados! Mas então, será que querem coligar-se novamente com o BE e o PCP, responsáveis diretos pelo chumbo do Orçamento de Estado e pela antecipação das eleições? Será que imaginam coligar-se com o PSD, de quem há tempos o 1.º Ministro afirmou que “no dia em que o governo depender do PSD, o governo cai”? Será que António Costa pensa que vai chegar à maioria absoluta? Ou será que pensa que vai chegar quase à maioria absoluta, ficando o apoio do PAN a chegar para governar?

Sondagens: Esta crise política é particularmente interessante para as empresas de sondagens, quer aquelas que fazem um trabalho independente ao serviço de alguns órgãos de comunicação social, quer aquelas que contratadas pelos partidos políticos, têm um trabalho mais difícil, pois têm de tentar agradar aos clientes sem colocar muito em causa a credibilidade. A última sondagem do Expresso não trouxe novidade nenhuma, PS destacado, maioria dos partidos da esquerda, “quase” desaparecimento do CDS e, o Chega como terceira força política! Não acredito que tal aconteça, mas se acontecer, como vão os outros partidos reagir a esta “maldade” da democracia?

Crónica publicada na edição 421 do Notícias de Coura, 23 de novembro de 2021.

terça-feira, 16 de novembro de 2021

Crise política à vista

Esta crónica está a ser escrita no dia 25 de outubro pelas 20 horas. Hoje é o dia de a enviar para a redação do Notícias de Coura e, embora já tivesse em mente falar da crise política que se avizinha, nunca pensei que tal estivesse na iminência de acontecer. Apesar de ainda ter a possibilidade de esperar pelas decisões da reunião de Conselho de Ministros convocada extraordinariamente por António Costa para esta noite (madrugada), vou arriscar a escrevê-la já com aquilo que acho que vai acontecer.

Nos últimos dias o governo tem estado em negociações com os partidos de esquerda com o objetivo de chegar a acordo para a aprovação do Orçamento de Estado. Ontem, um dos parceiros da anterior geringonça, o Bloco de Esquerda, anunciou que votaria contra. Catarina Martins afirmou que o “O Orçamento do Estado para 2022 não responde aos problemas relevantes dos restantes serviços públicos. Na educação, quando mais de 40 mil alunos estão sem aulas ou sem parte das aulas por falta de professores, não existe qualquer medida de valorização da carreira docente. Na saúde, existem mais de um milhão de utentes sem médico de família.” O voto contra do BE não é grande novidade, já no ano passado aconteceu.

Novidade é sim aquilo que hoje veio a público. Ao contrário da opinião de grande parte dos comentadores políticos dos vários canais televisivos, o Partido Comunista não “vestiu” o traje de partido responsável, e anunciou o voto contra este Orçamento de Estado. Jerónimo de Sousa anunciou-o afirmando que "Portugal não precisa de um Orçamento de Estado qualquer, precisa de resposta aos problemas existentes que se avolumam à medida que não são enfrentados.”

Neste momento, o governo precisa de 15 abstenções, ainda só tem 5 garantidas, tendo todos os outros partidos já afirmado que irão votar contra. Resultado: quando o orçamento for a votos, chumba.

A culpa da radicalização nas negociações deste Orçamento de Estado é, na minha humilde opinião, do Senhor Presidente da República. Quando há uns tempos Marcelo Rebelo de Sousa afirmou que se não houvesse Orçamento de Estado aprovado haveria eleições, estava a “meter a foice em seara alheia”, perdoem-me a expressão, e é com respeito que a faço. A elaboração do Orçamento de Estado é da responsabilidade do governo, a sua aprovação ou não é da responsabilidade da Assembleia da República. Só depois disso acontecer é que o Senhor Presidente da República se deveria ter pronunciado. Na minha também humilde opinião, ao fazer tais afirmações o Senhor Presidente deu a António Costa motivos para ser intransigente nas negociações e provocar eleições antecipadas. O PS até pode perder alguns votos, e vai por certo perder pois já assim foi nas autárquicas, sofre o desgaste da crise dos combustíveis e ainda não pode capitalizar as “benfeitorias” dos milhões da europa que se aproximam. Por outro lado, António Costa vai culpar os ex-parceiros da geringonça pela falha na aprovação do orçamento, os partidos da direita, PSD e CDS, andam em processos de eleições internas, em processos de “guerrilha” que nunca trazem benefícios. António Costa prova mais uma vez ser o mais hábil político da atualidade, se calhar de todos os tempos, e não me admirava nada que daqui a algumas horas “tire um coelho da cartola”, anuncie a demissão do governo ou outro qualquer “golpe de teatro” que a todos espante. Não posso deixar de tirar o chapéu à coragem do PCP em manter os seus princípios e anunciar o voto contra, embora em nada me reveja em muitos dos seus ideais, é de coragem assumir uma posição sabendo que muito provavelmente vão ser penalizados nas urnas. Em 2015 foi Jerónimo de Sousa que fez de António Costa 1.º Ministro quando, após a vitória da coligação de direita PSD/CDS nas legislativas, afirmou que “O PS só não forma governo se não quiser.” Seis anos depois… parece que volta a ser o PCP a escolher o trunfo e a distribuir as cartas.

Esta crónica vai ser enviada para a redação do Notícias de Coura antes das 21 horas do dia de hoje, 25 de outubro, e vai mesmo, não pensem que estou a inventar, e a quem duvidar terei todo o gosto em apresentar as provas. Quando o jornal vos chegar às mãos vão estar em condições de dizer que adivinhei, ou que errei profundamente. Sinceramente, e embora ache que este PS de António Costa mereça “levar um apertão”, não desejo que haja eleições. Em primeiro lugar porque teria muitas dúvidas em quem votar, em segundo lugar porque me parece que eleições nesta altura só dariam força àquele perigoso partido de extrema-direita, em terceiro lugar porque se me enganar terei assunto para mais uma crónica.

Crónica publicada na edição 420 do Notícias de Coura, 2 de novembro de 2021.