terça-feira, 26 de setembro de 2017

16 anos depois

São seis da manhã do dia 11 de setembro de 2017. Saio da cama sem sono, lá fora uma chuva miudinha refresca o jardim, o nevoeiro torna a paisagem misteriosa. Já que não tenho sono, vou aproveitar para trabalhar. A população em geral não imagina que antes das aulas começarem os professores têm dezenas de reuniões de trabalho, mas não vou falar de escola, chega. 
Vamos lá trabalhar então... ups... esqueci-me de escrever a crónica para o Notícias de Coura. Hoje é o último dia do prazo, é um prazo que não é imposto, mas que eu gosto de cumprir, e se até agora nunca falhei, não é hoje que isso vai acontecer. Como estou sem ideias, o que já não é novidade nenhuma, vou espreitar a Internet à procura de notícias sobre Paredes de Coura. Festival foi um sucesso (lógico); assembleia municipal com acusações de pressões e mudanças de cores politicas (não me interessa); Casa Grande Romarigães vai ser alvo de um projeto de recuperação (acho muito bem); congresso sobre alimentação vegetariana (excelente iniciativa); ... e volto ao mesmo, não encontro nada que me sirva de inspiração. 
Mas como sempre me tem acontecido, algo acontece que me ajuda. Perante a minha preocupação e angústia, a minha cara metade, acordada pelo meu súbito desaparecimento, lembra-me que “Hoje é 11 de setembro... podias escrever tanta coisa sobre isso!*”. E assim se recuam 16 anos, parece que foi ontem... lembro-me tão bem de estar a ouvir as notícias, e depois ver a tragédia em direto... 
Entrar em grandes considerações sobre as consequências dos atentados seria cansativo, o mundo mudou radicalmente desde esse dia. O dia em que a América percebeu que afinal, somos todos vulneráveis, quando há alguém disposto a fazer-nos mal. Infelizmente, continuam a existir cada vez mais “loucos” dispostos a morrer, para matar em nome de um “Deus” ou de uma causa qualquer. A Europa tem sido fustigada por atentados, Espanha, França, Inglaterra, Alemanha... nenhuma grande potência parece escapar. Como em muitas outras coisas, Portugal continua a ser um cantinho sossegado e esquecido. Será que devemos ter medo? Evitar grandes concentrações e espaços públicos? Na verdade, passamos tanto tempo “sozinhos”, agarrados às redes sociais, que a probabilidade de nos apanharem na rua tem diminuído drasticamente. Será que o 11 de setembro nos tornou mais isolados? Sem dúvida. Será que nos fez sentir mais medo? Claro que sim. Será que alguma coisa mudou para melhor? Não creio... desencadeou-se uma guerra global aos grupos terroristas e muitos foram apanhados e mortos, mas ainda assim, não me parece que quase três mil mortos tenham sido um preço justo a pagar pelo que quer que seja. 

* Obrigado Graça Silva. Já sabes que se daqui a mais ou menos um mês eu sair da cama de madrugada, talvez precise de ajuda para escrever mais uma crónica!

Crónica publicada na edição 325 do Notícias de Coura, 19 de setembro de 2017.