segunda-feira, 14 de fevereiro de 2022

Ganhou o “partido do murro”!

Escrevo mais uma crónica no limite do prazo que costumo cumprir, mas completamente despreocupado pois quis o destino que os resultados das eleições assim me ajudassem! Na verdade, fossem quais fossem os resultados, bastava-me pegar nas projeções que fiz na última crónica para me vangloriar de ter acertado, ou arranjar desculpas naquilo em que falhei. E como errei bastante, fica fácil “martelar no teclado” até chegar ao meio da segunda página!

Chega: Nunca pensei errar redondamente, não só foi a terceira força política, como elegeu mais deputados que BE e PCP. Os fenómenos “Trump e Bolsonaro”, afinal também acontecem num país que eu julgava mais moderado. (Apetecia-me escrever inteligente, mas não o vou fazer.) André Ventura foi inteligente em apostar num discurso populista, desconfiava que o povo estava sedente de migalhas, atirou-lhas, e o povo comeu. Por mais que algumas propostas sejam demasiado extremistas e perigosas (embora eu confesse que nalgumas estou absolutamente de acordo), temos de respeitar democraticamente a votação do povo. Cada voto do Chega vale o mesmo que os votos que elegeram António Costa, e o mesmo daqueles que se perderam no CDS-PP. Resta à Assembleia da República (AR) saber combater o populismo, e não temam os doze deputados do Chega, certamente não serão “doze Andrés Venturas”.

BE/PCP: Foram esmagados pela estratégia de António Costa. Durante o período da geringonça António Costa conseguiu aprovar orçamentos, satisfazendo a sua esquerda, mas mantendo as “contas certas”. Depois ainda aguentou dois anos, e quando se fartou mesmo das exigências dos seus ex-parceiros forçou as eleições. Já várias vezes escrevi que António Costa é o mais hábil e inteligente político português de sempre, e esta maioria absoluta é mais uma prova.

IL/Livre/PAN: O PAN salvou-se nos últimos minutos de desaparecer, o Livre conseguiu eleger Rui Tavares (contra as minhas previsões), erro que me alegra pois é de certeza um dos intelectualmente mais bem preparados deputados que a AR vai ter. A IL passou de um para oito deputados, tem tudo para ser um fenómeno de como um partido deve ser, bem liderado e com um discurso coerente e sustentado.

PSD: Rui Rio perdeu as eleições. Não conseguiu mobilizar o voto útil à direita, ao contrário do PS à esquerda. Avizinham-se quatro anos difíceis, de travessia do deserto. E agora que “já não cheira a poder”, aparecerá alguém a pedir a cabeça do líder?

CDS-PP: Dizia-se em tempos que o CDS era o partido do táxi, estive quase na última crónica para escrever que provavelmente seria o partido da lambreta, e ainda bem que o não fiz. É que nem isso… o CDS-PP conseguiu mesmo desaparecer da AR. Está de facto à beira do abismo, mas já hoje Nuno Melo afirmou que se dele depender, o partido não morrerá. É um sinal de coragem, um sinal de esperança para o partido e até para a democracia. Nunca votei no CDS-PP, provavelmente nunca votarei, mas respeito um partido em cuja história estão “alguns políticos de antigamente”, daqueles que admirei, como Lucas Pires e Freitas do Amaral, ou até Narana Coissoró que foi meu Professor de Análise Económica.

PS: Ao contrário daquilo que eu pensava, contrariando as sondagens e até aquilo em que muitos dos seus membros acreditavam, o PS alcançou a maioria absoluta do número de deputados. Como afirmou em debate António Costa, o PS está pronto a governar, tem orçamento pronto, é só levar à votação, aprovar, e “andar com o país para a frente”.

Embora tenha escrito na última crónica que me assustava uma maioria absoluta do PS (insisto em lembrar-me de Sócrates), encaro os resultados com alguma tranquilidade. Foi talvez este o sentimento que levou muitos portugueses a colocar a cruz no “partido do murro”, como me disse o meu sobrinho de quatro anos em alusão à “mão do PS”. E de facto, este resultado é mesmo um “murro na mesa”. Ainda estavam demasiadas frescas as memórias dos sacríficos do tempo de Passos Coelho, e o povo teve medo. O povo que foi votar… todo o outro continuará a reclamar no café e nas redes sociais!

Crónica publicada na edição 426 do Notícias de Coura, 08 de fevereiro de 2022.

terça-feira, 1 de fevereiro de 2022

Apostas políticas!

Terminei a última crónica com umas breves considerações sobre as minhas perspetivas acerca dos resultados eleitorais das próximas eleições legislativas. Apesar de ser mais fácil fazer os prognósticos depois do jogo, como disse um dia o carismático capitão do FC Porto, João Pinto, eu prefiro arriscar e fazê-lo já. Se acertar em todas, envio logo depois das eleições a minha crónica para as empresas de sondagens em busca de um part-time bem remunerado, se falhar, arranjo assunto para escrever mais qualquer coisa!

PS: A menos que aconteça um qualquer “acidente eleitoral” do outo mundo, o PS vai ganhar as eleições. O PS, não é António Costa, pois como todos sabem nestas eleições elegem-se deputados, não se escolhe o 1.º Ministro! O objetivo do PS é obviamente alcançar a maioria absoluta, já vários analistas políticos tinham previsto eleições antecipadas, o apoio ao governo estava a desgastar o eleitorado do PCP e do BE, e sabia-se que ao mínimo sinal positivo de sondagens próximas da maioria absoluta o PS forçaria as eleições, e foi o que aconteceu. A estratégia agora é simples, culpam-se os partidos à esquerda pelo chumbo do orçamento, assusta-se o eleitorado com o fantasma do PSD de Passos Coelho e pede-se a maioria absoluta. Talvez fique perto, mas não acredito que a consiga, e assusta-me que a possa conseguir. Da única vez que o PS teve maioria absoluta, José Sócrates começou a conduzir o país para a banca rota. (Eu fui um dos culpados, também votei nele).

PSD: Vai de certeza aumentar o número de deputados na Assembleia da República, mas não terá hipóteses de formar governo, uma vez que qualquer coligação que possa fazer com os partidos à direita não é suficiente. Nem que tivesse a tentação de aceitar o apoio do Chega. Rui Rio mostra-se uma pessoa séria e honesta, mas impreparado para ser 1.º Ministro. Aliás, tanta seriedade e honestidade, aliada ao facto de ter “o coração junto à boca”, só lhe traria dissabores. Basta ver o ataque constante que sofre pelo facto de querer acabar com o sistema de saúde “tendencialmente gratuito”, o PS sente-se muito ofendido com isto, mas a verdade é que de nada vale estar essa expressão na Constituição, se cada vez mais pessoas estão sem médico de família e são obrigadas a ter seguros de saúde ou a pagar consultas em clínicas ou hospitais privados. (Também aqui falo por experiência própria).

CDS/PP: o futuro avizinha-se negro* para o partido de Francisco Rodrigues dos Santos, algumas sondagens atiram-no para o abismo, à beira da extinção. Mas se há partido em que as sondagens nunca acertam é sempre o CDS, acredito que seja pela lealdade dos militantes. Narana Coissoró, ex-dirigente do partido, afirmou há tempos que “Se pusessem um macaco à frente do partido, votava no macaco.” Vamos esperar pelos resultados, mas vai de certeza perder deputados.

BE/PCP/PEV: Coloco estes partidos juntos porque me começa a faltar espaço para escrever, não é nenhuma provocação. Têm culpa obviamente na crise política que vivemos, e vão pagar por isso. Mais o BE do que o PCP. Ambos os partidos vão perder deputados, com particular expressão o BE, o eleitorado do PCP é mais fiel. Muitos eleitores do BE vão votar PS, com a justificação do voto útil, e uma vez que António Costa já firmou que não conta com eles para nenhuma futura geringonça.

IL/Livre/PAN: Juntar estes três também não é provocação. A Iniciativa Liberal vai eleger mais deputados e se todos tiverem a qualidade intelectual de João Cotrim de Figueiredo é a Assembleia da República (AR) que ganha. O Livre dificilmente vai eleger Rui Tavares, o que é pena, fica a AR a perder um político intelectualmente bem preparado, embora algumas das propostas do seu partido sejam um “devaneio político sem sentido”. O PAN vai perder deputados, logo agora que António Costa está a pensar em aliar-se a ele para formar maioria absoluta. Por mais que eu goste muto dos animais e da natureza, algumas das propostas do PAN são um verdadeiro absurdo, destruiriam o sector primário da economia. Quase fazem lembrar o tempo em que entrou dinheiro em Portugal para se abater barcos de pesca e destruir pomares e outras culturas agrícolas, era Cavaco Silva 1.º Ministro.

Chega: Ainda bem que já não tenho muito espaço! Não vai ser a terceira força política obviamente, pode até ter muitos votos, mas não vai eleger mais deputados que BE ou PCP. Até porque ter muitos “Venturas” na AR deixava de ser uma coisa com piada para ser um absurdo.

* Na eventualidade da ex-deputada Joacine Katar Moreira ler a minha crónica, alerto-a que uso a palavra negro no sentido figurado, antevendo um período de desgraça ou infortúnio para este partido. Sinto-me na necessidade desta nota de rodapé em virtude da ex-deputada se ter indignado com o cartaz do BE onde anunciavam “compromissos claros”.

Crónica publicada na edição 425 do Notícias de Coura, 25 de janeiro de 2022.