segunda-feira, 20 de fevereiro de 2023

Os meus livros

Tal como prometi na anterior crónica (embora quem prometa raramente cumpra!), o título desta crónica é mesmo o anunciado. E vai ser enviada antecipadamente, vou provavelmente receber amanhã (hoje é quarta-feira, dia um de fevereiro), a mensagem da Goreti a relembrar a minha obrigação, começo-a a escrever hoje para que lhe possa responder: - “Está pronta Goreti, enviarei ainda hoje.”

Falei de livros na primeira crónica escrita para o Notícias de Coura (NC), em outubro de 2012. Escrevia nessa altura que não poderia falar deles, escolher uns faria com que os outros se revoltassem contra mim ao sentir-se esquecidos. Dez anos depois, vou arriscar. Agora eles são muitos mais, se decidirem atacar-me não tenho salvação possível. Vou então escolher alguns, ousar ser conselheiro dos leitores do NC ao falar-lhes deles e dessa forma desafiá-los à sua leitura. Difícil vai ser escolher, mas ainda bem, daqui a uns meses poderei intitular uma próxima crónica de “Mais alguns dos meus livros.” Aqui ficam as primeiras escolhas:

A Profecia Celestina – James Redfield: Lê-se na capa de algumas edições que é “um livro que surge uma vez na vida para mudar a vida para sempre”. E de facto muda. Inspirado num antigo manuscrito peruano, este livro ajuda-nos a tomar consciência do sentido da vida e da necessidade de olhar para as coisas mais simples do nosso planeta. A leitura é fácil, a perceção também, o mais difícil é, nos dias em que vivemos, ter tal capacidade. Aconselho a leitura, ao som da banda sonora. Esqueçam o filme.

O Diário de Anne Frank: que me lembre já o li pelo menos quatro vezes. E de cada vez que o faço fico encantado com a simplicidade com que aquela criança conseguiu escrever um dos relatos mais genuínos daquele que foi, para mim, um dos atos mais desprezíveis da raça humana.

O Alquimista – Paulo Coelho: Relata as aventuras de um jovem pastor que faz uma viagem em busca de um tesouro. Sem saber muito bem o que procura, o jovem acaba por se descobrir a si, e quando pensa que essa é se calhar a maior riqueza, eis que… Leiam o livro. Este é daqueles que tem uma frase que nos prende a respiração por uns segundos.

Pobby e Dingan – Ben Rice: Passada numa povoação mineira da Austrália, esta história é contada por um menino cuja irmã tem dois amigos imaginários. É uma história encantadora, foi o único livro que me acordou a meio da noite e me fez levantar para acabar a sua leitura. Existe em filme com o nome “Amigos Imaginários”. Podem ver, mas leiam o livro primeiro.

Já ninguém morre de amor – Domingos Amaral: Um dia ofereceram-me este livro. Quando vi o título pensei: “Ora aqui está um livro que eu jamais compraria, este título é uma tristeza.” Enganei-me, como me engano tantas vezes quando não espero três ou quatro segundos antes de falar. Por respeito a quem mo ofereceu comecei a ler, e não consegui parar. Adorei, embora tivesse ficado zangado com uma parte final da história. Desde aí, Domingos Amaral passou a ser um dos meus escritores de eleição, se calhar é o meu preferido, mas não vou dizer isso não vá ele ler e ficar convencido.

Planície de espelhos – Gabriel Magalhães: “Se só pudesse existir um livro no mundo, eu queria que fosse este.” Foi esta a frase que escrevi no site da wook como comentário ao livro, e foi talvez isso que fez com que passados uns tempos tivesse recebido uma mensagem de email do autor a agradecer. Leiam-no. Não se assustem quando o fantasma da história entrar na vossa vida, é mesmo assim, este livro “leva às últimas consequências a magia da literatura”. (Acreditem ou não, depois de escrever isto fui procurar o livro, tenho de o voltar a ler!)

A verdade sobre o caso Harry Quebert – Joël Dicker: São mais de seiscentas páginas que se podem ler quase de uma assentada. As voltas e reviravoltas da história prendem-nos a cada capítulo que termina, ficamos tão desassossegados que não se consegue parar de ler. Quando apareceu a série pensei logo que talvez não lhe conseguisse ser justa. Enganei-me. O livro é fantástico, a série de 10 episódios é extraordinária.

Já não tenho mais espaço. José Saramago, William Boyd, Miguel Sousa Tavares, Francisco José Viegas, Luís Sepúlveda, S.K. Tremayne, Rosa Lobato Faria: desculpem-me. Ficam para a próxima.


Crónica publicada na edição 449 do Notícias de Coura, 14 de fevereiro de 2023.

terça-feira, 7 de fevereiro de 2023

Sei lá o que escrever!

Depois da última crónica ter sido escrita com uma antecedência nunca vista, voltei aos dias difíceis na escolha de assunto. Hoje é terça-feira dia vinte e quatro, o dia limite do envio do meu texto, já passa das oito da noite e aqui estou eu, em frente ao computador, e ao mesmo tempo em que escrevo estas linhas, estou atento a um Webinar sobre realidade virtual, vou tirando alguns apontamentos à mão, vou espreitando a página do jornal “A bola” para ver o resultado do Arouca-Sporting para a Taça da Liga, e, imaginem lá, ainda ando a navegar nalguns blogs com a esperança de encontrar um assunto que me inspire a escrever esta crónica e apagar estas linhas que acabei de escrever. (Como elas ainda aqui estão já perceberam, nada encontro que me salve!) Com isto, ajudo a provar que não, não é só a mulher que tem capacidade para realizar várias tarefas ao mesmo tempo! (Não sou eu que digo, é um estudo do Independent de 2018.)

Durante o dia de hoje fui tomando nota de algumas das coisas que poderia agarrar para cumprir esta minha obrigação. Lembrei-me de voltar a falar das estranhas coisas que se vão passando com alguns membros do governo. Desde o esquecimento de Pedro Nuno Santos de que afinal tinha autorizado o pagamento da indemnização de quinhentos mil euros à ex-administradora da TAP, Alexandra Reis (Só depois da senhora francesa que gere a TAP afirmar que tinha um documento escrito é que o ex-ministro Pedro Nuno foi rever a linha do tempo e encontrou as mensagens no WhatsApp!); da indignação do Ministro João Gomes Cravinho que diz não ter mentido quando afirmou que ninguém lhe solicitou autorização para a derrapagem no custo das obras do Hospital Militar de Belém! (Parece uma anedota: -“Senhor Ministro, queira vossa excelência saber que vamos ter de triplicar os custos desta obra, mas nem pense que lhe peço autorização!”); podia também escrever meia dúzia de linhas sobre as buscas que a Polícia Judiciária anda a fazer na Câmara de Lisboa mas não vale a pena, até porque o Diretor da PJ já garantiu que as buscas na Câmara de Lisboa não visam António Costa e Fernando Medina… enfim, quem me lê pensa que eu sou algum soldado do PSD, ou pior, do Chega, que estou sempre a falar mal do PS! Nada disso, como não tenho partido, e quando voto, voto nas pessoas, sinto-me na liberdade de falar mal (e às vezes bem) de todos. Quem está no governo é sempre um alvo fácil, e quanto mais disparates cometem mais interessantes se tornam. (Obviamente que como Professor teria muito a falar… e mal… mas fica para uma próxima oportunidade.)

(Caso não acreditem no primeiro parágrafo deixem-me que vos diga que o webinar já acabou, não só assisti e fiz as atividades como até já recebi e imprimi o certificado; o Sporting está ao intervalo a ganhar 1-0!)

Com esta conversa fui ganhando linhas, já estou na segunda página e já me falta pouco. E para comprovar a minha capacidade de fazer várias coisas ao mesmo tempo, acabei de publicar no Facebook duas fotografias minhas do Santuário de Santa Luzia em Viana do Castelo, tiradas lá do alto, no corno de bico, um dos sítios mágicos deste mundo que tive a sorte de conhecer. (São 21:30, podem ir ao meu Facebook e comprovar).

Prometo enviar a próxima com mais antecedência, até já está pensada, vai chamar-se “Os meus livros”, na qual gostava de partilhar algumas das obras cuja leitura deixou marcas na minha memória. Vivo numa casa recheada dos livros, chegou a hora deles servirem para mais alguma coisa que não seja só serem lidos e encherem estantes!

Assim termino, peço aos meus leitores o favor de me avisarem caso esta crónica tenha sido uma verdadeira chatice. Se o fizerem, não me volto a armar em herói e rendo-me ao mito de que se calhar, sendo homem, é mesmo melhor fazer só uma coisa de cada vez!


Crónica publicada na edição 448 do Notícias de Coura, 31 de janeiro de 2023.