Apurados os
resultados das eleições legislativas (estou a escrever esta crónica ainda sem
estarem apurados os deputados eleitos pelo círculo da emigração), algumas coisas
são dignas de registo:
- O PS ganhou
folgado, embora sem maioria absoluta. António Costa já decidiu governar em
minoria e está à vontade para o fazer, a direita não tem expressão para moções
de censura, e a esquerda da geringonça nunca se vai aliar à direita para
colocar em causa a governação. António Costa tem desta vez ainda mais motivos
para ser ele o escolhido a formar governo, e desta vez até ganhou as eleições!
- O PSD perdeu
deputados, perdeu expressão e perdeu a compostura. Na noite das eleições o seu
líder fez um discurso de “quase vitória”. Perdeu, mas não perdeu pela margem
anunciada. Perdeu, mas a culpa foi da oposição interna. Embora não sejam
argumentos, até teve razão, e logo nos dias seguintes apareceram os tais
opositores internos a anunciar a luta pela liderança. Em breve o PSD irá a
eleições, e cá para mim, dificilmente alguém derrotará Rui Rio.
- O CDS/PP desta
vez perdeu mesmo, foi quase varrido da Assembleia da República. Voltou a ser o
“partido do táxi”, com apenas 5 deputados eleitos, e a líder Assunção Cristas a
anunciar a sua saída, avizinham-se tempos muito difíceis para os democratas cristãos.
Vai ser preciso um líder jovem, que aposte na mudança de discurso e de
prioridades para que o partido volte a ter alguma esperança de ter uma voz
ativa no parlamento.
- O BE manteve
os seus deputados, mas perdeu votos. Logo na noite eleitoral a sua líder
congratulou-se com a derrota da direita, e com a tese de que os portugueses
gostaram da solução governativa da geringonça e a queriam prolongar,
“oferecendo” desde logo a sua disponibilidade a António Costa. Mas pelo que se
viu nos dias seguintes, a geringonça como a conhecemos, acabou. Como eu já ouvi
mais do que uma vez, “sabe mais de política António Costa a dormir, que os outros
todos acordados”!
- A CDU voltou a
fazer aquilo que faz melhor: oposição. O discurso de Jerónimo de Sousa na noite
das eleições demonstrou isso mesmo. A CDU perdeu votos e perdeu deputados. Já
era previsível, fazer parte da solução governativa tinha mesmo de dar este
resultado. Defender os direitos dos trabalhadores, uma maior justiça social,
voltam a ser as bandeiras da CDU.
- E agora,
aqueles que são a par do PS os verdadeiros vencedores destas eleições, os três
“pequenos” partidos que elegeram deputados para a Assembleia da República. E
destes, dois tiveram o mérito de incendiar as redes sociais: Joacine Katar
Moreira, eleita pelo Livre, festejou com bandeiras da sua terra, a
Guiné-Bissau, provocando logo a criação de uma petição que pretende impedir a
sua tomada de posse. Enquanto escrevo esta crónica verifico que essa petição já
tem mais de 21000 assinaturas. Vergonhoso. Do outro lado, André Ventura, eleito
pelo Chega, um partido conotado com a extrema-direita, conhecido por ser
comentador do Benfica e contra os ciganos. Engraçado ver tanta gente contra a
eleição destes dois deputados, e se calhar muitas das vozes que agora se
levantam são daqueles que provavelmente nem foram votar.
- Para terminar,
uma palavra para a abstenção: mais de 4 milhões de portugueses não votaram,
cerca de 45% da população não votou em nenhum partido. Noutros países desta
Europa, quando o povo está descontente com os partidos do “costume”, vota nos
partidos do “contra” … imaginem só o que seria se o povo tivesse todo ido votar
no Livre, no Chega, na Iniciativa Liberal, no Aliança e “noutros que tais”. A
Assembleia da República seria um local bem mais interessante!
Crónica publicada na edição 373 do Notícias de Coura, 22 de outubro de 2019.