terça-feira, 29 de outubro de 2019

Os novos partidos!


Apurados os resultados das eleições legislativas (estou a escrever esta crónica ainda sem estarem apurados os deputados eleitos pelo círculo da emigração), algumas coisas são dignas de registo:
- O PS ganhou folgado, embora sem maioria absoluta. António Costa já decidiu governar em minoria e está à vontade para o fazer, a direita não tem expressão para moções de censura, e a esquerda da geringonça nunca se vai aliar à direita para colocar em causa a governação. António Costa tem desta vez ainda mais motivos para ser ele o escolhido a formar governo, e desta vez até ganhou as eleições!
- O PSD perdeu deputados, perdeu expressão e perdeu a compostura. Na noite das eleições o seu líder fez um discurso de “quase vitória”. Perdeu, mas não perdeu pela margem anunciada. Perdeu, mas a culpa foi da oposição interna. Embora não sejam argumentos, até teve razão, e logo nos dias seguintes apareceram os tais opositores internos a anunciar a luta pela liderança. Em breve o PSD irá a eleições, e cá para mim, dificilmente alguém derrotará Rui Rio.
- O CDS/PP desta vez perdeu mesmo, foi quase varrido da Assembleia da República. Voltou a ser o “partido do táxi”, com apenas 5 deputados eleitos, e a líder Assunção Cristas a anunciar a sua saída, avizinham-se tempos muito difíceis para os democratas cristãos. Vai ser preciso um líder jovem, que aposte na mudança de discurso e de prioridades para que o partido volte a ter alguma esperança de ter uma voz ativa no parlamento.
- O BE manteve os seus deputados, mas perdeu votos. Logo na noite eleitoral a sua líder congratulou-se com a derrota da direita, e com a tese de que os portugueses gostaram da solução governativa da geringonça e a queriam prolongar, “oferecendo” desde logo a sua disponibilidade a António Costa. Mas pelo que se viu nos dias seguintes, a geringonça como a conhecemos, acabou. Como eu já ouvi mais do que uma vez, “sabe mais de política António Costa a dormir, que os outros todos acordados”!
- A CDU voltou a fazer aquilo que faz melhor: oposição. O discurso de Jerónimo de Sousa na noite das eleições demonstrou isso mesmo. A CDU perdeu votos e perdeu deputados. Já era previsível, fazer parte da solução governativa tinha mesmo de dar este resultado. Defender os direitos dos trabalhadores, uma maior justiça social, voltam a ser as bandeiras da CDU.
- E agora, aqueles que são a par do PS os verdadeiros vencedores destas eleições, os três “pequenos” partidos que elegeram deputados para a Assembleia da República. E destes, dois tiveram o mérito de incendiar as redes sociais: Joacine Katar Moreira, eleita pelo Livre, festejou com bandeiras da sua terra, a Guiné-Bissau, provocando logo a criação de uma petição que pretende impedir a sua tomada de posse. Enquanto escrevo esta crónica verifico que essa petição já tem mais de 21000 assinaturas. Vergonhoso. Do outro lado, André Ventura, eleito pelo Chega, um partido conotado com a extrema-direita, conhecido por ser comentador do Benfica e contra os ciganos. Engraçado ver tanta gente contra a eleição destes dois deputados, e se calhar muitas das vozes que agora se levantam são daqueles que provavelmente nem foram votar.
- Para terminar, uma palavra para a abstenção: mais de 4 milhões de portugueses não votaram, cerca de 45% da população não votou em nenhum partido. Noutros países desta Europa, quando o povo está descontente com os partidos do “costume”, vota nos partidos do “contra” … imaginem só o que seria se o povo tivesse todo ido votar no Livre, no Chega, na Iniciativa Liberal, no Aliança e “noutros que tais”. A Assembleia da República seria um local bem mais interessante!


Crónica publicada na edição 373 do Notícias de Coura, 22 de outubro de 2019.

terça-feira, 15 de outubro de 2019

A época dos beijinhos e abraços!


O País está em campanha eleitoral. As eleições legislativas estão à porta e vivemos aquelas semanas “magníficas” em que os políticos se lembram do povo, visitam todas as terrinhas, andam nos mercados, nas feiras e nas festas, distribuem beijinhos e abraços, prometem mil coisas que sabem que não vão cumprir, e depois desaparecem até às próximas eleições. É claro que nem todos são assim, mas quase.*
Nestas eleições não são esperadas grandes surpresas. Acreditando nas sondagens que quase todos os dias aparecem, é certo que o PS vai ganhar, o PSD está em maus lençóis, apesar de nos últimos dias ter vindo a recuperar, o CDS-PP arrisca-se a desaparecer, mas isso já não é novidade, há anos que as sondagens os vão “quase” apagando, e eles lá se vão aguentado, BE e PCP lutam pelos votos da esquerda, atacando o partido que suportaram no governo, o BE por certo vai subir na votação, o PCP terá rapidamente de mudar o discurso repetitivo que tem desde o 25 de abril, renovar-se, sob pena de quase desaparecer. O PAN e o Aliança esforçam-se por eleger um ou dois deputados e serem decisivos na formação de um governo.
Se a minha crónica ocupasse apenas um cantinho numa página do Notícias de Coura, ficava-me por aqui, ainda por cima gosto cada vez menos de política e é difícil escrever sobre uma coisa que não se gosta sem cair na tentação de só falar mal. Como ainda me faltam 20 ou 30 linhas para a crónica ter um tamanho aceitável, vou aqui recordar algumas das coisas engraçadas, ou estranhas, desta campanha eleitoral.
O Bloco de Esquerda foi apanhado a pintar propaganda eleitoral num dos muros do Instituto Superior Técnico em Lisboa. Nada na lei impede a realização de murais de propaganda em período eleitoral, exceto em monumentos nacionais, edifícios religiosos, e edifícios do estado. Desculpem-me a franqueza, mas haja paciência para tamanha estupidez. Eu não sei como iria reagir se apanhasse a malta de um partido político, fosse ele qual fosse, a pintar propaganda eleitoral num muro ou parede da minha casa. Uns dias depois, alguns elementos do PNR (aquele partido da extrema-direita, daqueles homens carecas assustadores), pintou o muro, fazendo desaparecer a propaganda do Bloco. Como se está mesmo a ver, alguém vai ser condenado, é que “danificar material de propaganda eleitoral constitui crime punível com prisão”. Pois é, a malta do PNR provavelmente até merecia estar toda presa, mas não por isto.
O caso “Tancos” torna-se a arma de arremesso entre PS e PSD. Para os mais esquecidos, “Tancos” é aquele caso estranho das armas que desapareceram, e voltaram a aparecer algum tempo depois. Há quem diga que foram roubadas, depois os ladrões zangaram-se uns com os outros, ameaçaram denunciar-se e finalmente, encenaram a sua devolução para que ninguém pudesse ser castigado. Mas o mais grave sabe-se agora, pelos vistos há escutas que confirmam que o Ministro da Defesa da altura sabia de tudo, bem como o chefe da Casa Militar da Presidência da República. E mais, noutra escuta, o major da Polícia Judiciária Militar refere-se a uma grande personalidade como o “papagaio-mor do reino”, justificando-se depois que não se referia ao Presidente da República, podia ser o Miguel Sousa Tavares ou o Marques Mendes! Oh Senhor Major, um bocadinho mais de respeito… só faltava dizer que até podia ser o Bruno de Carvalho! Mais do que estranho, tudo isto é muito grave, e vergonhoso para o país. Na falta de argumentos e de melhores assuntos, o PSD usa isto para “atacar” o PS. Também mal fica o PS, quando se refere a tudo isto como uma “cabala” do Ministério Público. E como quase tudo parece acontecer ao PS, ainda veio o Ex 1.º Ministro Sócrates defender o ex-partido!
Quando este artigo vos chegar às mãos as eleições já terminaram. Os políticos já estarão a ocupar os seus novos lugares na Assembleia da República. Outros, não eleitos, começarão desde já a “trabalhar” para nas próximas eleições ocupar um melhor lugar na lista. Quanto ao povo, voltará a ser “quase” esquecido, as feiras e mercados serão locais menos confusos e os noticiários voltarão a ter mais acidentes, desgraças e crimes.

* O autor conhece alguns políticos que felizmente não são assim. Felizmente, a população de Paredes de Coura também.


Crónica publicada na edição 372 do Notícias de Coura, 08 de outubro de 2019.