terça-feira, 22 de dezembro de 2015

Balanço

A melhor forma de não ter de pensar muito sobre o que escrever nesta crónica, é aproveitar a sorte de estarmos no fim do ano e fazer um balanço de 2015. 

Educação 
Sobre esta temática não posso deixar de salientar 3 marcos: 

1) O novo ministro da educação é courense. Tiago Brandão Rodrigues foi eleito deputado pelo PS e teve o mérito de ver o seu concelho como o único do distrito de Viana de Castelo, onde a votação do PS foi superior à da coligação PSD/PP. Quanto a prognósticos, estou como dizia o outro*, “…só no fim do jogo”. Já muito se escreveu sobre a sua falta de experiência política, sobre os muitos anos que esteve fora do país, sobre o seu desconhecimento do setor, eu quero acreditar que talvez isso seja uma vantagem. Cá estaremos para na devida altura fazer esse balanço, eu, como professor e interessado nesse resultado, obviamente que lhe desejo o melhor. 

2) Fim dos exames do 4.º ano. Um dia depois da tomada de posse do XXI governo constitucional, ainda o ministro não tinha por certo arrumado o seu novo gabinete, e já o parlamento aprovava o fim dos exames do 4.º ano. Não vou aqui descarregar argumentos contra e a favor, vou mais uma vez escrever o que sinto: alívio! Os exames acarretavam para mim o trabalho suplementar de ficar responsável pelos programas informáticos que fazem a sua gestão. Não é que não queira trabalhar, não quero é perder horas e horas em trabalhos administrativos que me afastam daquilo que gosto de fazer, o trabalho pedagógico com os alunos, uma das principais razões que me levou a apostar nesta profissão, aposta da qual não estou minimamente arrependido. No dia da votação o PCP afirmou que já entregou uma iniciativa legislativa para acabar também com os exames do 6.º e do 9.º ano! O que acho!? Para já não acho nada, vou deixar os argumentos das vantagens e desvantagens dos exames nacionais para uma futura crónica. 

3) Obras na escola básica e secundária: Este foi o ano em que a “minha” escola mudou de cara! A escola está mais bonita, mais limpa e muito mais quente. Assim se criam as condições para um ensino de qualidade. Depois da mentira que foi o “parque escolar”, e por mais discursos de valorização da escola pública que os sucessivos governos possam ter, só podemos (e devemos) acreditar em quem faz. Assim é a autarquia de Paredes de Coura. A aposta na educação e cultura é a prioridade. (Agora que o ministro da educação é um filho da terra, vejam lá se o contagiam com essa paixão.) 

Política 
Sobre este assunto prefiro não escrever nada. O país foi a eleições, a coligação ganhou mas a maioria parlamentar chumbou esse governo. António Costa mostrou a sua garra e poder de persuasão, mesmo perdendo as eleições é 1.º ministro, apoiado por 3 acordos de incidência parlamentar. O que lhe desejo? Obviamente o melhor, por interesse é claro. 

Desporto 
O ano fica inevitavelmente marcado pela viagem de Jorge Jesus do Benfica para o Sporting. Este episódio mostra um bocadinho do pior que pode existir no ser humano: só porque o homem foi para o clube rival então agora não presta? A verdade é que enquanto foi treinador do Benfica defendeu com profissionalismo as cores do clube, e deu-lhe mais do que se calhar algum treinador virá a dar. Enquanto os clubes de Lisboa se atacam quase diariamente, o FC Porto tem um treinador que continua a inventar de tal forma que contribui decisivamente para que Jorge Jesus volte a ter sucesso. Não sou homem de apostas, mas era capaz de apostar uns 5 ou 10 euros em como o Sporting vai ser campeão. (Não aposto mais pois ainda não me foi reposto o corte salarial!). 

Mundo 
Atentados, guerras, extremismos religiosos, fome, refugiados, crise… nada de novo. Assim vai o mundo. Um mundo onde a palavra do ano foi um emoji, um bonequinho amarelo, a sorrir, com lágrimas de alegria. É caso para dizer… L 

* Afirmação célebre do antigo defesa-direito do FC Porto, João Pinto.

Crónica publicada na edição 285 do Notícias de Coura, 15 de dezembro de 2015.

terça-feira, 24 de novembro de 2015

A terra mais bonita do Mundo

“Somos ou não somos a terra mais bonita do Mundo?! Nunca se esqueçam disso.” 

Acompanhada de uma fantástica paisagem (vista do Monte da Pena), foi esta a frase que um amigo meu publicou no seu mural do facebook num belo domingo de manhã. Não demoraram os comentários, “Somos pois”, “A terra do meu coração”, “Sem dúvida”, mas alguém mais atrevido escreveu: “Não se fiem nisso...uma das...” 
Quando se fala da terra, da nossa terra, é normal existir um sentimento de pertença, uma força de a defender acima de todas as coisas. E se calhar, é assim que deve ser! Quem escreveu a frase é natural de Coura, aqui cresceu, estudou, fez amigos; aqui casou, aqui trabalha e aqui escolheu viver e criar um filho, haverá melhor razão para justificar o amor à terra? 
Há uns tempos, alguém me perguntou se ainda estava apaixonado por Paredes de Coura. Se calhar ficou perplexa com a minha primeira frase, mas logo depois percebeu. Respondi-lhe: Eu nunca estive apaixonado por Paredes de Coura. Continuo sim, apaixonado pelas pessoas que encontrei, continuo a sentir-me apaixonado pelo trabalho que desenvolvo, pelas coisas (muitas) que Coura me deu, mas a mim, as terras dizem-me muito pouco. Estar apaixonado por tudo isto é sinal de amor pela terra, só pode, no entanto continuo a defender que as terras, são as pessoas que lá vivem, são as relações que se estabelecem, são as atitudes e os comportamentos que se têm. De que servirá uma bela paisagem sem pessoas com as quais nos sintamos bem? De que nos valeria viver na mais bela aldeia, se depois nos sentíssemos sós? Embora por vezes a paisagem possa ajudar a mudar comportamentos, e cada individuo seja dono da sua consciência, “creio que é a força coletiva exercida sobre os indivíduos que faz com que eles ajam e vivam de acordo com as normas da sociedade onde estão inseridos.” Durkheim (1858-1917) 
Voltando ao amor pelas terras, e ao meu estranho sentimento de não me sentir apaixonado por nenhuma, acabo por ter de confessar que afinal, há uma terra que me faz respirar de forma diferente quando penso nela: a ilha do Pico, nos Açores. Foi para lá que fui em 1999, era a primeira vez que ia morar fora do seio familiar, era a primeira vez que como professor, ia ter um horário completo e anual, podendo assim acompanhar os alunos de setembro a junho, eram demasiadas “primeiras vezes”. Foi lá que conheci alguns dos amigos que ainda hoje preservo, foi lá que conheci a minha esposa, devo demasiado aquela ilha e aquela montanha! 
Lembro-me de ter um colega de Viseu, professor de Português que “odiava” estar nos Açores. Dizia que não aguentava o isolamento, contava a cada hora os dias que faltavam para regressar ao continente, perante as minhas manifestações de alegria e deslumbre pelas paisagens, dizia: “Isto é muito bonito, mas é para o postal.” Aprendi com ele que a beleza das terras não está só nas paisagens, está acima de tudo nas pessoas, naquelas que queremos ter ao nosso lado. Para ele, nada naquela terra lhe aliviava a saudade dos que amava. Está nos meus planos fazer uma visita ao Pico dentro de alguns meses, vou gostar de regressar, vou adorar poder voltar a subir a montanha, vou estranhar estar lá, sem algumas das pessoas que lá conheci. Se calhar por isso, não vou achar a ilha tão bonita. 

Obrigado Carlos Barbosa e Sandra Santos por me terem, sem saber, arranjado inspiração para mais uma crónica. Obrigado acima de tudo por contribuírem para que Paredes de Coura, seja também para mim, uma das mais bonitas terras do Mundo!

Crónica publicada na edição 283 do Notícias de Coura, 17 de novembro de 2015.

terça-feira, 27 de outubro de 2015

Três anos depois, o que fica?

Foi há 3 anos que saiu a minha crónica no Notícias de Coura. 

Nesse primeiro texto lembro-me de chegar ao fim consciente das dificuldades em escolher o tema e de ter andado perdido por parágrafos dispersos, porventura sem sentido. Três anos depois, continuo com o mau hábito de deixar as coisas para o fim, mas com confiança na minha capacidade de resolver sempre o problema. Um dia vai correr mal, eu sei. Nessa altura, o melhor que me poderá acontecer é ficar com assunto para um próximo texto, caso ele venha a existir. 
Depois de 33 textos creio ter chegado a altura de fazer um balanço, um breve resumo daquilo de que fui escrevendo. (Eu sei que alguns leitores estão a pensar que eu não tenho assunto e me vou entreter com o que já escrevi para mais uma vez me salvar. Por acaso até tinha imensos assuntos: o resultado das eleições e as negociações em curso para a formação do governo; as bombásticas declarações do presidente do Sporting que incendiaram, o já de si inflamável, mundo do futebol ou até a história surreal da manipulação do software dos carros da Volkswagen.) 
Ao longo destes três anos debrucei-me muitas vezes sobre a temática da educação. Exultei com a notícia das obras na escola secundária (que já estão concluídas e dão outra qualidade de trabalho a professores, alunos e funcionários), zanguei-me com a ideia das escolas formatarem os alunos com currículos nacionais pouco flexíveis às realidades locais, irritei-me com o facto de cada vez se dar mais importância ao português e à matemática (reconheço a sua relevância, mas não para representarem quase 50% do currículo), justifiquei o vício da internet e do facebook, apesar dos perigos que estas tecnologias podem representar, as suas vantagens são imensamente superiores. É reconhecida a necessidade de se apostar na formação nas novas tecnologias de informação e comunicação desde os primeiros anos de escolaridade; na Escola Básica de Paredes de Coura a aposta começa logo no 3.º ano, e isso deixa-me muito satisfeito. 
Em determinada altura, atrevi-me a escrever um título enigmático: “Beethoven em Paredes de Coura”. Alegrava-me dessa maneira a aposta do município em trazer a música clássica às escolas do concelho. 
Em duas oportunidades ousei escrever sobre a “marca” do concelho, aquilo que lhe dá nome, o Festival. Nada mais poderá ser dito, a cada ano que passa mostra ser uma referência nacional e internacional. Se há coisa que não podem perder, é o festival rock! 
Certa vez, chamei Biblioteca Itinerante à Biblioteca Aquilino Ribeiro. E porquê? Pela possibilidade dos leitores requisitarem “internet móvel”, e levarem para casa a maior das enciclopédias! Sobre o Teatro, manifestei a minha alegria em viver numa terra onde habitam “as Comédias do Minho”. Paredes de Coura já me deu muito, o teatro é uma das que eternamente lhe irei agradecer. 
Nas páginas deste vosso jornal pude ainda lembrar o Rei Eusébio, questionar a fé aquando do acidente com peregrinos a caminho de Fátima, lamentar o atentado ao jornal Charlie Hebdo e até desabafar sobre algumas das coisas que me irritam. 
Sobre política escrevi se calhar mais do que deveria, até para bem da minha saúde. Depois destas eleições, vou pensar seriamente se o devo voltar a fazer, começo a ficar muito irritado e revoltado com o tema que tenho medo de ser injusto ao pensar que na política vale tudo, que são todos iguais, e que cada um busca apenas o seu próprio bem. 

E neste parágrafo me aproximo do fim de mais um texto. Prometo só voltar a fazer um balanço daquilo que escrevo daqui a outras trinta e três crónicas, se continuar a merecer a confiança do diretor do jornal e a paciência dos leitores. A ambos, muito obrigado por me permitirem fazer parte da vossa vida.

Crónica publicada na edição 281 do Notícias de Coura, 20 de outubro de 2015.

terça-feira, 22 de setembro de 2015

Refugiados, eleições e piza

Há já alguns meses que estava decidido a dedicar uma das minhas crónicas ao tema dos refugiados. A situação não é de agora, infelizmente foi preciso a imagem de uma criança morta numa praia turca para alertar algumas consciências. Mas é tarde. E o resultado pode ser desastroso. Há anos que a barbárie impera em muitos países, Síria, Iraque, Afeganistão, Líbano. A situação no médio oriente é explosiva, e a Europa pode bem vir a sofrer graves consequências. A Alemanha encabeça a lista do cinismo, promete milhões, abre as fronteiras a milhares de refugiados, “obriga” os restantes estados membros da União Europeia a redefinir números e receber milhares de refugiados também. Todos compreendemos decerto o sofrimento daqueles que arriscam mais do que a própria vida para fugir de um país em guerra, mas, que temos nós para lhes oferecer? Está a europa preparada para criar emprego para milhares de pessoas? Não, claro que não. Só a Alemanha diz preparar-se para receber este ano 800.000 refugiados. É caso para dizer, como têm condições para tal? Se calhar têm. Em 2014 a Alemanha bateu o recorde de venda de armas no Golfo. Bruxelas quer que Portugal receba cerca de 5000 refugiados. Será justo abrir as portas a estes, quando há cá tantos nas mesmas condições? Será justo e digno fechar-lhes as portas? O que as grandes potências deveriam fazer era tentar resolver a questão na raiz. Porque fogem eles? Guerra? Ditadura? Conflitos? Por que razão os “donos do mundo”, os grandes Estados Unidos da América, não tomam uma atitude? Não foram eles que libertaram o povo do ditador Saddam Hussein? Ah… se calhar na Síria não há petróleo… Que dizer mais? Nada. 
Como provavelmente esta é a minha última crónica antes das eleições legislativas, e está a ser escrita antes do debate que muitos consideram decisivo, gostava de escrever algumas coisas, que fazem com que a cada dia que passa, mais decidido esteja, embora isso me pareça que não vai agradar a ninguém. De um lado temos uma coligação que se intitula de salvadora, mandou a troika embora e libertou o país da dependência dos credores. Será? Até pode ser, mas eu, como muito milhares de portugueses, sofremos e bem com todas as medidas tomadas. De outro lado, o partido que vai ganhar as eleições (a menos que continue a dar tiros nos próprios pés), que promete já mil e uma coisas, e que esquece que foram os seus governos que contribuíram decisivamente para aquilo a que o país chegou. Enfim, em mais de 40 anos de democracia os portugueses entregaram sempre o poder a dois partidos, queixam-se e com razão, mas dia 4 de outubro vão voltar a fazê-lo. Nestas eleições estou num estado de dúvida permanente que acho que vai permanecer até ao momento de fazer a cruz no boletim de voto. A cada dia que passa continuo sem saber em que partido votar, vou é escolhendo aqueles em que não votarei de certeza. Vamos ver se no dia 4 resta algum. Uma pequena nota que não posso deixar de salientar, é que Paredes de Coura será decerto um concelho vencedor, ao eleger o Tiago Brandão Rodrigues para a Assembleia da República. 
Por fim, e para valorizar o debate político e enriquecer as reportagens televisivas, eis que a medida de coação do ex. Primeiro-ministro José Sócrates passa para prisão domiciliária. As televisões enviam equipas de combate para “ajudar” na vigilância ao arguido. Abafam qualquer pessoa que se aproxime da residência, e atingem o cúmulo do rigor jornalístico quando conseguem cercar um entregador de pizas e sacar-lhe a informação pela qual todos nós esperávamos, era uma piza de extra-queijo e pepperoni. Citando Goethe, “nada mais assustador que a ignorância em acção”.

Crónica publicada na edição 279 do Notícias de Coura, 15 de setembro de 2015.

terça-feira, 11 de agosto de 2015

O Mundo ao Contrário

Tinha uma enorme vontade de usar esta crónica para falar sobre política. O Presidente da República já marcou a data das próximas eleições legislativas, os partidos começam a delinear as suas linhas de atuação e as “promessas” com que visam “roubar” a cruz aos eleitores e as movimentações para a escolha dos nomes dos deputados e a sua colocação em lugares elegíveis estão ao rubro (embora o salário dos deputados não seja suficiente para levar uma vida desafogada). No entanto vou resistir à tentação, e guardar este tema para o final do verão, mais perto da campanha eleitoral, logo, com muito mais matéria-prima para o fazer de uma forma acutilante, mas divertida! 

Assim, olhando para algumas das notícias dos últimos dias, sou levado a pensar que algo parece estar errado, e talvez não seja só em Paredes de Coura que o mundo está ao contrário! 

1) A Universidade Lusíada informou que dos 152 alunos com processos de creditação académica e profissional mandados analisar pelo Ministério da Educação, 151 já tinham visto os seus diplomas “caçados”, ou anulados. Pelas contas… falta 1! Precisamente o de Miguel Relvas, um brilhante estudante que requereu a admissão à universidade em 2006 e concluiu a licenciatura e Ciência Política e Relações Internacionais em 2007, graças a um fabuloso sistema de equivalências. Mais que fabuloso, este sistema é (era!?) muito criativo, Nuno da Câmara Pereira, o fadista, teve equivalência à cadeira de Microbiologia por ter a responsabilidade das obras de drenagem enquanto vice-presidente da Cruz Vermelha de Sintra! E um aluno que conseguiu aprovação automática a uma cadeira da licenciatura em Engenharia Eletrotécnica por ter frequentado um curso técnico-profissional de Instalações Elétricas na escola secundária?! Não é brilhante?! 

2) A sonda “New Horizons” chegou a Plutão! Depois de 9 anos de viagem e um investimento de 700 milhões de dólares, os cientistas vão ter dados para um estudo da geologia e morfologia daquele que em 2006 deixou de ser planeta, para ser apenas, planeta-anão! Poucos dias depois, o telescópio espacial Kepler, da NASA, encontrou um planeta gémeo da Terra, a 1400 anos-luz, e com hipóteses de ter água. A exploração espacial é responsável por algumas das mais brilhantes conquistas do homem. A ida do homem à lua é ainda nos dias de hoje um feito por vezes difícil de acreditar. Logo à noite saiam à rua, olhem para a Lua, conseguem imaginar que já lá esteve o homem? Deve ter sido maravilhoso, ver o nosso planeta lá de cima! Voltando ao planeta gémeo da Terra, será importante saber se tem água ou não? Não será mais útil saber que aqui, na Terra, há 750 milhões de pessoas sem acesso a água potável? Que por dia morrem 2300 pessoas de doenças associadas ao consumo de água imprópria? 

3) A justiça brasileira pediu a colaboração de Portugal na operação Lava Jato. Trata-se de uma investigação ao ex-presidente brasileiro Lula da Silva , para averiguar se houve tráfico de influência junto de políticos de outros países para que fossem atribuídos contratos à construtora Odebrecht. E o que é que isto tem a ver com Portugal?! Ao que parece, Lula terá pedido ao primeiro ministro Passos Coelho para dar atenção aos interesses da Odebrecht na privatização da EGF. Além disto, estão também sob suspeitas as viagens do ex-presidente Lula, por terem sido pagas pela construtora. Entre elas, a realizada a Portugal em 2013 para a apresentação de um livro, “Confiança no Mundo”, do ex-primeiro ministro José Sócrates. Enfim, Lula da Silva, o homem do povo que se fez presidente, o ex-sindicalista e defensor dos Sem Terra está agora rendido ao encantos do “grande capital”! O vício da política tem destas coisas, tanto Lula como Sócrates tornaram-se assessores de empresas com as quais os seus governos fizeram negócios. Que reservará o futuro a Pedro Passos Coelho?! Dentro de alguns meses saberemos, ou talvez não! 

Para terminar, resta-me pedir desculpa aos leitores que, enganados pelo título, leram esta crónica à espera de “ouvir falar” sobre as fantásticas atividades que encheram o fim de semana em Paredes de Coura. Não assisti, mas pelo que vi publicado, é uma aposta mais que ganha! Parabéns a quem insiste em apostar na cultura, embora cultura seja quase tudo, esta é uma cultura que me agrada particularmente!

Crónica publicada na edição 277 do Notícias de Coura, 4 de agosto de 2015.

terça-feira, 14 de julho de 2015

Hiperatividade, autoestrada, Grécia…

Esta é a 31.ª crónica da sombra das palavras que escrevo. Até hoje, e passados quase 3 anos da primeira, foi a mais difícil de escrever. Não que a temática seja penosa ou delicada, o problema é a minha “desaconselhável” mania de deixar as coisas para a última hora. Desta vez, acresce ainda o facto de no limite do prazo eu estar sem acesso à Internet, e dessa forma, sem poder cumprir o meu dever. “Isso não é justificação”, dirão vocês, e com razão, no fundo é mais uma desculpa para adiar o compromisso. Seja como for, aqui estou eu a escrever, e já com a conta de correio eletrónico preparada para fazer o envio, ainda muito tempo antes da saída do jornal para as bancas, mas já quase dois dias depois do prazo que eu gosto de cumprir. Toda esta pressão em não saber o que escrever teve para já duas consequências: a primeira foi permitir-me escrever as primeiras dez linhas, a outra foi ter tomado a decisão de ter esboçadas pelo menos duas crónicas, para quando for assaltado por esta falta de assunto. Na procura de argumento para a presente crónica muitos foram os temas que me bateram à porta, vou pegar neles nas próximas edições, mas partilho já com os leitores a base da sua futura existência, com a esperança que algum leitor, já farto destas minhas justificações, me escreva a enumerar uma série de assuntos, de preferência locais, desafiando-me dessa forma a deixar suspensos os que agora descrevo: 

1. Escrever sobre a Hiperatividade. Este seria um desafio tremendo, especialmente por não possuir os conhecimentos suficientes para me atrever a fazê-lo. Ainda assim, gostaria de me poder pronunciar sobre um dos problemas “da moda” nas escolas atuais. Hoje em dia são imensas as crianças medicadas para os sintomas do défice de atenção e hiperatividade, no meu tempo (há longos anos), só me lembro de ter colegas mais irrequietos e distraídos. Ainda sobre esta temática, não posso deixar de partilhar uma notícia que li nos últimos dias. David Neeleman, o empresário que é um dos novos donos da TAP, foi diagnosticado com défice de atenção e hiperatividade, mas recusa ser medicado, diz que tem medo de ficar parado e perder a criatividade. Numa conferência em que lhe perguntaram porque não tratava do seu problema, respondeu: "Se fizesse isso, ficaria igual a vocês." 

2. Escrever sobre a falta de uma autoestrada até Paredes de Coura. Esta poderia ser uma crónica com alguma polémica, pois este é um dos temas que vem sempre à baila, nomeadamente em altura de eleições. Como viajo muito pouco, não sinto essa necessidade, e chegar, ou sair de Paredes de Coura uma ou duas vezes por semana é sempre um apelo aos sentidos, uma contemplação à paisagem que a envolve. Para quem o faz todos os dias, e percorre distâncias consideráveis, é óbvio que seria uma mais-valia. No entanto, sou daqueles que acredita que não é a autoestrada que vai trazer pessoas a Paredes de Coura, se a oferta cultural, desportiva, recreativa for interessante, as pessoas aparecem. Aliás, mesmo sem autoestrada, pressinto que em Agosto vão aparecer aqui uns milhares de pessoas para um festival de música! 

3. Escrever sobre a Grécia. Mas para dizer o quê? Seria complicado, nem sequer saberia por onde começar. Durante anos a Grécia viveu muito acima das suas possibilidades, qualquer pessoa, só por existir, conseguia viver de um qualquer subsídio. Depois, com a crise a alastrar pela Europa, a Grécia teve de pagar, e não tinha dinheiro. Austeridade, programas de apoio e mais dificuldades. Entretanto, um governo eleito democraticamente e que bate o pé à austeridade. Ameaça com um referendo, mas os Gregos não querem sair da União Europeia. Do outro lado, a União Europeia ameaça com o fim dos programas de apoio e com a saída da Grécia do Euro, mas está com medo que isso aconteça, por certo a Europa sofreria uma crise, até porque, muitos dos bancos da Grécia são… alemães, e grande parte do dinheiro que está na Grécia é… alemão. 

E desta forma termino a mais dura crónica dos últimos tempos. Espero que os leitores me perdoem esta forma de cumprir a minha obrigação, escrevendo sobre tantas coisas, e ao fim e ao cabo, sobre coisa nenhuma. Se o Diretor me perdoar, estarei convosco daqui a um mês. Fiquem bem!

Crónica publicada na edição 275 do Notícias de Coura, 7 de julho de 2015.

terça-feira, 16 de junho de 2015

Estão a chegar as férias!


Fazer os exames finais dos 1.º e 2.º ciclos três semanas antes de as aulas terminarem tem duas grandes implicações, por um lado apressa os professores na lecionação das matérias, uma vez que em meados do mês de maio já tudo tem que estar tratado, por outro lado permite aos alunos entrar num período de pré-férias, uma vez que depois de feitos os exames, tudo o que resta é cumprir calendário. Para aqueles a quem os exames correrem “menos mal”, esperam-nos mais de três meses de férias; para os outros, avizinha-se um período de recuperação, em que vão poder mostrar que são capazes de aprender em quinze dias, aquilo que lhes escapou durante todo o ano. Bom, mas isto é apenas um desabafo inicial, pessoalmente concordo com os exames finais de ciclo, acho é que deveriam ser feitos depois das aulas terminarem. Também gostava de saber quem é a equipa responsável pelos mesmos, quem é que os orienta e coordena, e quais os critérios que levam a que em determinados anos, os resultados sejam bem melhores. Este ano nem sequer vi os exames, mas já ouvi dizer, a quem de direito, que eram fáceis, nalguns casos, demasiadamente fáceis. Se as notas forem muito boas, todos ficarão contentes, e só quem for mal-intencionado associará tal facto à coincidência com o ano eleitoral! 
Mas o que me leva a escrever esta crónica é o tema das férias! Sim, os 3 meses de férias que os professores têm por ano, já sem contar com o Natal, a Páscoa e o Carnaval! Não vale a pena estar com muitas explicações, eu aceito que seja difícil a quem desconhece a vida nas escolas, perceber o que fazem os professores na escola, quando já não há alunos. O que se faz é simples: reuniões de avaliação, vigilância de exames, vigilância de provas de equivalência à frequência, correção de exames e provas, análises de resultados e balanços do trabalho desenvolvido, inventários, matrículas e elaboração das turmas para o próximo ano letivo, entre muitas outras. 
Além disto, lembram-se de no 1.º parágrafo vos ter falado no período de recuperação para os alunos a quem os exames correrem mal?! Pois é, há professores que vão ter nas mãos essa tarefa árdua e tentar fazer o milagre da recuperação. (Aqui que ninguém nos ouve, coitados dos miúdos, duas semanas a aturar um professor, e a tentar recuperar a matéria do ano todo… não é fácil a vida de estudante!) 
Por esta altura, no nosso país, há ainda professores que andam atarefados a corrigir os exames de inglês, aqueles que a universidade de Cambridge “vendeu” ao Estado Português aproveitando a mão-de-obra barata dos professores portugueses! Mais engraçado ainda foi que tiveram de se submeter a uma formação e a um exame para mostrar que tinham as competências necessárias para tal tarefa. Na semana passada uma colega minha, professora “metida” nessas andanças, queixava-se que ia ter que comprar uma pen banda larga para corrigir os exames, pois era tudo on-line; e que o computador dela se calhar não servia pois tinha de ter uma versão atualizada do navegador! Enfim, é o nosso Ministério da Educação no seu melhor! Enquanto escrevo estas linhas, também eu deveria estar a assistir a uma conferência on-line de uma ação de formação promovida pela Microsoft e pela Direção Geral de Educação, mas como não consegui ter som, e do lado de lá me perguntaram se tinha as colunas ligadas, achei melhor desistir, para não me aborrecer! 
Quase a terminar, aproveito para esclarecer que não me estou a queixar do trabalho, nem dos 22 dias de férias que tenho, se há coisa que eu gosto muito é da minha profissão e de “quase” tudo o que a envolve, embora em certas alturas eu possa pensar nos empregos “das 9 às 5” e nas inúmeras vantagens que isso possa ter! E quando alguém me vê a passear e diz: eu queria era ter a vida de professor, só me ocorre uma resposta, que repetidamente dou: - Estudasses! 

E como hoje (no dia em que escrevo esta crónica, 1 de junho), se comemora o Dia da Criança, deixo-lhes a todos o desejo de boas férias. E aqui por Paredes de Coura muito vão ter para se divertir; ontem já tiveram os carrinhos de rolamentos, o Centro Cultural está inundado com os Legos, depois vêm a Feira Mostra, o Mundo ao Contrário, as festas da Vila, o Festival… enfim… vejam lá se aproveitam bem para em setembro nos encontrarmos de novo, no sítio do costume! 

Boas férias!

Crónica publicada na edição 273 do Notícias de Coura, 9 de junho de 2015.

terça-feira, 19 de maio de 2015

Será justo questionar a fé?

Madrugada de sábado, dia 2 de maio de 2015. A caminho do Santuário de Fátima segue um grupo de 80 peregrinos, na zona de Cernache, Coimbra. De repente, uma viatura em sentido contrário sai da sua faixa de rodagem, despista-se e vai de encontro ao grupo. Cinco mortos e quatro feridos graves. 
Em Portugal, o mês de maio é marcado pelas inúmeras peregrinações que se fazem de muitos pontos do país em direção ao Santuário de Fátima. É uma forma de manifestação de fé e que tem as mais variadas motivações, há quem agradeça o restabelecimento da saúde de familiares ou o sucesso profissional, e há quem acompanhe de forma voluntária todos os que se aventuram nesta caminhada. A fé não precisa de motivos, nem de justificações. 
No entanto, agora que a tragédia se abate sobre todos, é hora de verdadeiramente a questionar. Sempre que uma coisa destas acontece é frequente ouvir de algumas pessoas que é injusto, como pode isto acontecer a quem vai nesta missão de sacrifício? Como pode N.ª Sr.ª de Fátima não proteger aqueles que a vão visitar? Não me vou alongar nas questões de debater a fé, simplesmente por não possuir os argumentos suficientes. Eu, sinto-me como muitos, não consigo compreender a razão de tamanha injustiça, sinto-me tão revoltado que chego a questionar muitas coisas, coisas demais. Será válido nesta situação questionar a grandeza da fé? Não sei. 
Resta-me, na minha condição de ser humano, mortal, deixar algumas considerações: 
- Embora louvável, e demonstrativa de um espírito de sacrifício fenomenal, esta forma de pagar promessas tem um risco demasiado elevado. Percorrer tamanhas distâncias, em estradas movimentadas e em muitos locais mal sinalizadas, quer seja de dia sob movimento intenso, quer seja de noite sem condições de visibilidade, é um comportamento muito arriscado. Nesta situação em particular, o que nos leva ainda mais a questionar a fé, é que os peregrinos viajavam devidamente sinalizados, na sua faixa de rodagem. O problema foi ter havido um acidente, e o que se sabe para já em nada nos atenua a dor e a revolta. O condutor já tinha tido outros acidentes, estava sinalizado como pessoa conflituosa e consumidora de drogas, tentou fugir depois do acidente e até o próprio pai já veio dizer que “a cabeça do meu filho não funciona”. 
- Já por várias vezes foi posta a questão da necessidade de retirar os peregrinos da estrada e tornar os caminhos de Fátima num produto de referência para o turismo nacional, à semelhança do que acontece na vizinha Espanha com os caminhos de Santiago. Com isto, em nada seria beliscada a fé, porque a verdade é que Fátima (localidade), não é mais do que uma cidade turística que vive à custa da fé dos visitantes. Fazer nascer os “caminhos de Fátima”, seria dar condições aos peregrinos de fazer um caminho em segurança, em comunhão com a natureza, com espaços para descansar, para comer e para dormir. Governo, autarquias, Igreja, talvez se sentem um dia destes a uma mesa e possam discutir o assunto. 
Entretanto, os peregrinos continuarão o seu caminho. Com lágrimas de sacrifício ou com lágrimas de dor, seguirão o caminho até à Cova da Iria. Resta-nos rezar por eles, desejando-lhes boa viagem, lembrando-lhes que “pior que não terminar uma viagem, é nunca partir.”

Crónica publicada na edição 271 do Notícias de Coura, 12 de maio de 2015.

terça-feira, 21 de abril de 2015

É alemão, não é terrorista

No passado dia 24 de março um avião da companhia Germanwings que fazia a ligação Barcelona – Dusseldorf, despenhou-se nos Alpes franceses provocando a morte a 150 pessoas. Seria apenas mais um trágico acidente de avião, não fosse tudo aquilo que se seguiu. 
Logo no próprio dia, tanto a Lufthansa, dona da Germanwings, como o governo do Estados Unidos da América, apressaram-se a afastar a tese de um ataque terrorista. Dois dias depois, o ministro do interior da Alemanha veio também garantir “não existirem indícios de comportamento terrorista em relação ao copiloto da companhia”. 
Hoje, já sabemos algumas coisas: 
- Sabemos que o copiloto fechou imediatamente a porta do cockpit quando o piloto saiu, bloqueando os mecanismos que permitem a sua abertura a partir do exterior; 
- Sabemos que o copiloto, imediatamente após ter ficado sozinho no cockpit, executou os procedimentos necessários para colocar o avião numa rota descendente; 
- Sabemos que o copiloto tinha um historial médico rico em depressões e esgotamentos, tendo sofrido em 2009 um “episódio depressivo grave” e recebido tratamento para “tendências suicidas”; 
- Sabemos que rasgou deliberadamente um atestado médico que comprovava que deveria estar de baixa médica, não o dando a conhecer à companhia; 
- Sabemos que em tempos disse a uma namorada que “ainda um dia havia de ficar na história”; 
- Sabemos que fez pesquisas na internet sobre formas de suicídio e sobre o funcionamento e os mecanismos de segurança das portas do cockpit. 
Perante tantas evidências e tantas certezas quanto à causa do acidente dei por mim a questionar-me a razão pela qual ainda ninguém tinha chamado terrorista ao copiloto. Não tenho grandes dúvidas que se o piloto tivesse uma farta barba, ou a sua aparência se aproximasse do usual no povo muçulmano, ninguém se preocuparia em questionar o estado mental ou psíquico do mesmo, seria imediatamente considerado um ato terrorista. 
Estas minhas dúvidas levaram-me a fazer algumas pesquisas sobre “o que é afinal o terrorismo”. Entre as muitas definições encontradas, sobressai em grande parte delas a questão de terrorismo ser “o uso da violência, contra a ordem estabelecida, contra indivíduos ou Estados, de modo a instalar um ambiente de medo generalizado”. 
Ao que parece, o copiloto não tinha motivações políticas nem religiosas, foram apenas motivos egoístas e cobardes que o levaram a acabar com a vida de 149 seres humanos. Não lhe querem chamar terrorista? Não chamem. Mas pelo menos, por respeito aos 149 inocentes, parem de lhe dar a “fama” e a importância que ele desejava ter. Neguem-se a publicar mais histórias sobre a sua vida, a infância, as namoradas, as corridas em que participava. A mim não me interessa nada, e acredito que para grande parte da humanidade também não. Só escrevi o nome da “criatura” uma vez no Google para procurar informação para esta crónica. O curioso, é que quando o fiz os sistemas detetaram tráfego fora do comum na minha rede, e tive mesmo de ultrapassar um mecanismo de segurança. Será que quando o copiloto procurou informação sobre suicídios e formas de trancar a porta do cockpit, também foi alvo de tal verificação? Ou será que na Alemanha as medidas de segurança não são assim tão rigorosas para os “seus” cidadãos? Para terminar este artigo fiz inúmeras pesquisas sobre terrorismo, o que provavelmente colocou o meu computador nalguma lista de cidadãos a ter debaixo de olho. 

Crónica publicada na edição 269 do Notícias de Coura, 14 de abril de 2015.

terça-feira, 24 de março de 2015

Um título que me encheu de alegria!

Na última edição do Notícias de Coura, tive a oportunidade de ler uma das notícias que mais alegria me trouxe desde que cheguei a esta terra, no já longínquo ano de 2006! 

“Obras na Escola Secundária” 

Foi este o título que me fez saltar de alegria. Já em diversas ocasiões me tinha pronunciado neste jornal sobre o esquecimento a que minha escola tinha sido sujeita por parte da Parque Escolar. E especialmente pelo azar que teve em ficar para o fim nas intervenções que o Ministério da Educação e Ciência ia levar a cabo em todas as escolas do país. Como se devem lembrar, a Parque Escolar gastou o triplo do previsto, em apenas um terço das escolas! 
As obras vão durar 4 meses e destinam-se a renovar as coberturas, isolar as paredes exteriores e substituir portas e janelas. E melhor, iriam já começar a 2 de março! 
- Então e vão fazer as obras com as aulas a decorrer? Vai ser bonito! Uma barulheira enorme! Quero ver como vou dar aulas! Lamentava-se desta forma uma colega minha, preocupada obviamente com o normal decorrer das suas aulas e com a perturbação que as obras poderiam trazer às mesmas. Perante o meu riso, ainda mais indignada ficou, questionando: - Tu ainda te ris?! 
Pois é claro que rio! Lembrei-lhe que não podemos querer o sol na eira e a chuva no nabal. Se o preço que temos de pagar para ter uma escola confortável e apresentável forem 4 meses a suportar as obras, pois venham elas. Venha o pó, o barulho e o cheiro a cimento. Venham até os piropos dos trolhas! No próximo Inverno, quando nos sentirmos mais quentes e confortáveis nas salas de aula, decerto ninguém se lembrará das obras. 
Fiquei satisfeito por ler na mesma notícia as palavras do Sr. Presidente da Câmara afirmando ser a educação uma das suas prioridades, acreditando que o futuro de Paredes de Coura depende da formação dos nossos jovens. Como professor, preocupa-me bastante a formação de alguns jovens, chego a questionar-me muitas vezes sobre o que nos trará o futuro, e o cenário que vislumbro não é muito animador. Vários assuntos e exemplos práticos eu poderia trazer para o justificar, mas trago apenas um: a limpeza. 
Na passada semana recebi por correio electrónico uma mensagem da minha escola alertando para a necessidade de debater com os meus alunos a problemática do lixo na escola. Não fiquei surpreso. Se eu vos mostrasse a quantidade de fotografias que tenho de situações verdadeiramente inaceitáveis em qualquer espaço público, ainda mais numa escola, não acreditariam que tinham sido tiradas numa escola. Nalguns corredores e especialmente no polivalente, é normal verno chão, cascas de laranjas e bananas, pães inteiros ou metades, pacotes de sumo e de iogurtes, rodelas de chouriço, fatias de queijo e fiambre, caroços de maças, folhas de alface, entre outros, uma autêntica “roda dos alimentos” de desperdícios. Sim, é verdade. Tudo isto se pode ver na escola de Paredes de Coura. Sim, na minha escola, e isso deixa-me triste. 
Amanhã, (uma semana antes de este número sair para as bancas), é chegado o dia de, eu, como professor e diretor de turma, debater estas questões com os meus alunos. Não vou preparar nenhum discurso, muito menos mostrar-lhes um PowerPoint com as vantagens e desvantagens de manter a escola limpa. Vou-lhes falar do conceito básico de educação e contar-lhes algumas histórias do meu tempo. No meu tempo, não foi a escola que me ensinou as regras da boa educação, não foi preciso a escola lembrar-me que eu não devia deitar o lixo para o chão. Nunca o fiz em casa. Talvez por isso também o não fizesse na escola. 
Imensos especialistas em pedagogia e educação defendem que “a família educa e a escola ensina”. Talvez seja mesmo assim. Obviamente que a criança também aprende com a família; é lógico que se a família não estiver a educar a escola não vai deixar a criança à sua própria sorte. Aquilo que eu penso, é que quem não respeita e cuida do seu próprio lar, dificilmente o fará a outro. Quem não respeita os pais (ou aqueles que os criaram), não respeita mais ninguém. Sobre este assunto, tenho uma experiência verdadeiramente “surreal” vivida numa sala de aula há muitos poucos dias com uma criança de 7 anos! Talvez um dia a partilhe com os leitores! 
Vou terminar assim para deixar que esta questão possa suscitar algum tipo de debate e partilha de opiniões, para o bem da nossa escola, para o bem do nosso concelho. 

Crónica publicada na edição 267 do Notícias de Coura, 17 de março de 2015.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

Tolerância disfarçada

No passado dia 7 de janeiro, em Paris, 2 irmãos franco-argelinos entraram nas instalações do jornal satírico francês Charlie Hebdo vestidos de preto e com armas automáticas. Mataram 12 pessoas. Entre eles, a equipa de cartoonistas do jornal. Proferiram gritos de vingança afirmando terem vingado o profeta.
O Charlie Hebdo é um jornal satírico francês. Trata-se de um semanário recheado de caricaturas e piadas, quase todas dirigidas aos temas da religião e aos extremismos políticos. A principal razão para este ataque foi o ódio extremo pelas caricaturas e pelas piadas que eram publicadas no jornal sobre líderes islâmicos, principalmente sobre o profeta Maomé.
Este ato de terrorismo foi um atentado contra a liberdade de imprensa. Este jornal limita-se a satirizar a sociedade, explorando as permanentes contradições entre os discursos e os comportamentos. E não o fazem somente com os muçulmanos, católicos, judeus e políticos de todos os quadrantes já foram alvo das suas publicações.
O Papa Francisco afirmou que “não se pode provocar, não se pode insultar a fé dos outros, não se pode ridicularizar a religião dos outros”, e que por isso a liberdade de expressão “tem limites”*. Numa primeira leitura senti-me capaz de concordar, mas pouco depois acabei por não o fazer. É muito difícil misturar as palavras liberdade e limites. Costuma-se dizer que a nossa liberdade acaba quando começa a do outro, o que parece difícil é definir essa fronteira. Nas suas publicações, o Charlie Hebdo não apela à violência nem se apoia em discursos de ódio. E sobre apelos à violência e discursos de ódio muito poderíamos escrever, pois a bibliografia é vasta, basta fazer uma pequena recolha dos discursos de alguns líderes muçulmanos e de alguns políticos da extrema-direita. 
Nada justifica um ataque destes. Temos o direito de gostar ou não, e até temos a liberdade de comprar ou não o jornal. Ter sentido de humor é ser capaz de apreciar o que é divertido, é ser capaz de rir de uma coisa que nos poderia deixar enraivecidos e magoados. Devemos ter consciência de nós próprios e a capacidade de rir dos nossos defeitos e limitações, e fazer dos nossos erros momentos divertidos, para ser mais fácil aprender com eles.
O mundo manifestou-se solidário com o jornal. A tiragem histórica de milhões de exemplares esgotou-se num ápice em todas as bancas onde eram colocados à venda. Em Paris, um milhão e meio de pessoas juntou-se numa manifestação histórica pela liberdade e pela democracia.
Em Israel, o diário HaMevaser, um jornal judeu ultra-ortodoxo apagou as mulheres na fotografia que publicou da manifestação de Paris. Numa altura em que se debate o extremismo religioso, e em que a maioria dos muçulmanos se demarca publicamente das ações dos terroristas, há quem não se afaste da sua linha editorial, e fazendo uso da sua liberdade, faça capa com uma fotografia adulterada.
E vamos ouvindo com insistência a palavra tolerância. Sobre ela, muito me apetecia escrever, mas prefiro deixar as palavras do professor Agostinho da Silva: “Entre as palavras e as ideias detesto esta: tolerância. É uma palavra das sociedades morais em face da imoralidade que utilizam. É uma ideia de desdém; parecendo celeste, é diabólica; é um revestimento de desprezo, com a agravante de muita gente que o enverga ficar com a convicção de que anda vestida de raios de sol.”

* http://www.publico.pt/mundo/noticia/oito-razoes-contra-o-papa-1683143

Crónica publicada na edição 265 do Notícias de Coura, 3 de fevereiro de 2015.

terça-feira, 13 de janeiro de 2015

Foi um ano espetacular! Obrigado por fazeres parte dele.

Começou um novo ano! Que 2015 seja um ano cheio de prosperidade, amor e saúde, especialmente saúde, pois ela já é meio caminho andado para o sucesso. É normalmente assim que o desejamos, é com estas ou com outras palavras parecidas que entramos no ano novo, neste e nos anteriores, embora esta coisa da saúde já não seja uma verdade absoluta. Que o digam os milhares de saudáveis desempregados do nosso país. 
Na verdade o novo ano começou, e isso é uma verdade para vocês, caros leitores. Mas para mim, como estou a escrever esta crónica em 2014, o novo ano ainda nada me diz! Esta parece ser a segunda inverdade** que escrevo, uma vez que a primeira foi o título. Na verdade, até posso agradecer o terem feito parte do ano de 2014, mas ele não foi nada espetacular. Obviamente que esta minha consideração é feita na minha pele de “cidadão de um país”, pois pessoalmente tive um ano de 2014 cheio de coisas boas. Assim, esta crónica vai-se debruçar sobre meia dúzia de factos que certamente marcam o ano que passou.

- Morreram Eusébio e Di Stéfano, a seleção portuguesa teve uma triste prestação no Mundial do Brasil, o Benfica ganhou quase tudo e Cristiano Ronaldo foi eleito o melhor jogador do mundo de 2013. Se tudo decorrer com normalidade, dentro de dias repetirá o feito, a menos que os esforços do senhor Platini, surtam efeito. Não consigo perceber este ódio de Platini pelos portugueses, chego mesmo a desconfiar que talvez seja um descendente do general Massena, aquele que foi derrotado nas famosas “Linhas de Torres”, e originou a retirada das tropas francesas de Portugal. 

- Sócrates, o político, foi preso. Ao que consta, corrupção e enriquecimento ilícito. Fico feliz pois a justiça parece ser igual para todos, e há juízes com “coragem” para mandar prender um ex-primeiro ministro. Também gostava que fosse célere, e que não deixasse ninguém durante meses em prisão preventiva. Coisa triste também é ver centenas de portugueses a tirar “selfies” à porta do estabelecimento prisional de Évora. Perdoem-me a expressão mas, já não há paciência para tanta ignorância...

- Nasceu o “banco mau”; um dos maiores banqueiros portugueses de todos os tempos é agora considerado pela BBC como o pior CEO (Presidente Executivo) do ano. Ainda há dois anos a revista Forbes o colocava como um dos grandes milionários do país. Ainda muita tinta vai correr e muitas gravações vamos ouvir sobre esta gestão familiar do BES, e agora que se “zangaram as comadres”, vamos saber de algumas verdades; o que me preocupa é a possibilidade de ser o Estado Português, isto é, o povo, a pagar as “habilidades” do Dr. Ricardo Espírito Santo.

- Paredes de Coura viu ser encerrado o Tribunal, um processo marcado pelo bloqueio da plataforma informática Citius, e que gerou o caos nos tribunais de todo o país. No verão, viveu um festival classificado como um dos melhores de sempre, há muito que é provavelmente o melhor do país, é um dos melhores da Europa, e mais não digo pois não tenho passaporte! A vila esteve animada e maravilhosamente decorada no “Mundo ao Contrário”, a decoração de Natal, da rua principal, esteve fantástica, e ouvi dizer que Escola de Rock foi um êxito! Durante todo o ano assistimos às comemorações dos 10 anos das Comédias do Minho, e que bom era que eles fizessem 10 anos todos os anos! Continuamos sem acesso à auto-estrada é verdade, o debate mantém-se, há quem defenda que é preciso criar eventos que a justifiquem, há quem ache que poderá ser ela a potenciar essa criação. Eu não me pronuncio, mas que agradecia uma melhor ligação a Valença ou Ponte de Lima, ai isso agradecia!

Despeço-me com amizade (recordando com nostalgia o Eng.º Sousa Veloso), desejo a todos um ano de 2015 cheio de tudo o que desejarem, e não se esqueçam: Novo ano ... vida nova! (Desculpem esta terceira mentirinha: a vida é a mesma, a atitude é que deve ser nova!). Bom 2015!

* Título retirado da rede social Facebook, numa das milhares de publicações em que os utilizadores partilham com a comunidade o resumo da sua vida em 2014!
** inverdade: palavra utilizada para suavizar a palavra mentira.

Crónica publicada na edição 263 do Notícias de Coura, 6 de janeiro de 2015.