terça-feira, 3 de junho de 2014

Coisas que me irritam


Sei de antemão que muitos dos que lerem este título vão virar a página do jornal, respirando fundo e pensando: Que me interessa a mim as coisas que te irritam!? Não me chateio por isso, e garanto-vos, muito provavelmente, eu pensaria em fazer o mesmo! Mas, assumo o risco, sabendo que muitos leitores farão esse esforço, quanto mais não seja para me poder questionar (ou mesmo atacar, no bom sentido do termo).

Pipocas no cinema
Já perceberam não é? A mim também! Dirão vocês certamente.
As pipocas no cinema, bem como aquela bebida gasosa mundialmente apreciada, são a principal fonte de receitas das salas de cinema no nosso país. Apesar dos bilhetes não serem baratos, o rendimento proveniente da venda destes “alimentos” é uma fonte de receitas indispensável à sustentabilidade das salas, tanto é que, o preço de um destes menus é superior ao do bilhete. Acresce ainda o facto da maioria dos espetadores só se contentar com o “balde gigante” de pipocas, e mais grave ainda, aqueles que aproveitam o intervalo para reabastecer. Até aqui, não me irrito, o pior é quando começam a comer… tenho o azar de ficar sempre numa sala onde parece que todos comem de boca aberta, fazendo ainda mais barulho que um qualquer animal que tenha estado uma semana privado de alimento, e de repente se veja colocado diante de um belo manjar. E mais azar ainda, na minha sala de cinema, nunca ninguém percebe quando é que a bebida chega ao fim, e todos insistem em chupar furiosamente pela palhinha, como que à espera da multiplicação do líquido. Por fim, e porque nem tudo pode ser negativo, tenho a sorte de ter pouco cabelo, caso contrário, seria provavelmente brindado com algumas pipocas que saltariam da boca, ou das mãos de um incauto espetador, atrás de mim sentado!

Luzes dos flash´s no teatro
Neste ponto, a minha irritação atinge um ponto perigoso. Eu fico extremamente furioso quando isto acontece. Acredito que é uma questão de bom senso, não é preciso avisar antes de uma peça de teatro começar, que não se podem tirar fotografias com flash. Será que as pessoas não entendem que a força daquela luz perturba os atores? Será que não percebem que incomoda também, se calhar ainda mais, quem está a assistir? Será que não conseguem discernir que, se a sala está às escuras, e se as cenas têm pouca luz, é porque alguém decidiu que assim é que deve ser? A menos que alguém vos peça para ajudar a recriar um cenário de trovoada, por favor, desliguem os flash’s, ou deixem as máquinas em casa.

Pais dos bebés que choram em espetáculos
Pensei muito antes de incluir este tópico, e estou recetivo às críticas que me possam fazer, mas não poderia deixar de o fazer, sob pena de ficar seriamente irritado com a minha consciência. Obviamente que não me irritam os bebés, nem sequer os bebés a chorar, o que me perturba é quando eles choram nos locais onde simplesmente não deviam estar. O que me irrita são os pais dos bebés que insistem em levar as crianças a um espetáculo de teatro, ou cinema, ou até a um concerto, sabendo de antemão que aquela é uma escolha deles, e não da criança. Pior do que os que levam as crianças, (felizmente ainda há alguns que ficam sossegados), são aqueles que depois de ela começar a chorar, insistem em permanecer na sala, pensando que um simples embalo no colo é suficiente para acalmar a criança. Será que não percebem que isto é perturbador para quem está a atuar, e principalmente para quem está a assistir? (E a mim chateia-me mesmo quando sou espetador). Já para não falar da própria criança, se ela está a chorar, não está por certo confortável. Ainda assim, até sou capaz de os desculpar quando penso naqueles que passam o tempo a falar alto com os parceiros do lado, e a comentar em alto e bom som as peripécias do espetáculo.
Já chega. Já me começo a irritar com as minhas próprias irritações. Apanharam-me num dia especialmente mau. Desta vez foi a crónica do Notícias de Coura que teve de suportar o meu, “por vezes”, mau feitio. Se me perdoarem esta, e esperarem pela próxima, talvez arrisque a entrar nos meandros da política. Entretanto, lembrem-se que a irritação não resolve nenhum dos nossos problemas, e portanto, respirem fundo, voltem a página, e esqueçam tudo aquilo que acabaram de ler.

Crónica publicada na edição 249 do Notícias de Coura, 27 de maio de 2014.