Sei de antemão que muitos dos que lerem este título vão virar
a página do jornal, respirando fundo e pensando: Que me interessa a mim as
coisas que te irritam!? Não me chateio por isso, e garanto-vos, muito
provavelmente, eu pensaria em fazer o mesmo! Mas, assumo o risco, sabendo que muitos
leitores farão esse esforço, quanto mais não seja para me poder questionar (ou
mesmo atacar, no bom sentido do termo).
Pipocas no cinema
Já perceberam não é? A mim também! Dirão vocês certamente.
As pipocas no cinema, bem como aquela bebida gasosa
mundialmente apreciada, são a principal fonte de receitas das salas de cinema
no nosso país. Apesar dos bilhetes não serem baratos, o rendimento proveniente
da venda destes “alimentos” é uma fonte de receitas indispensável à
sustentabilidade das salas, tanto é que, o preço de um destes menus é superior
ao do bilhete. Acresce ainda o facto da maioria dos espetadores só se contentar
com o “balde gigante” de pipocas, e mais grave ainda, aqueles que aproveitam o
intervalo para reabastecer. Até aqui, não me irrito, o pior é quando começam a
comer… tenho o azar de ficar sempre numa sala onde parece que todos comem de
boca aberta, fazendo ainda mais barulho que um qualquer animal que tenha estado
uma semana privado de alimento, e de repente se veja colocado diante de um belo
manjar. E mais azar ainda, na minha sala de cinema, nunca ninguém percebe
quando é que a bebida chega ao fim, e todos insistem em chupar furiosamente
pela palhinha, como que à espera da multiplicação do líquido. Por fim, e porque
nem tudo pode ser negativo, tenho a sorte de ter pouco cabelo, caso contrário,
seria provavelmente brindado com algumas pipocas que saltariam da boca, ou das
mãos de um incauto espetador, atrás de mim sentado!
Luzes dos flash´s no teatro
Neste ponto, a minha irritação atinge um ponto perigoso. Eu
fico extremamente furioso quando isto acontece. Acredito que é uma questão de
bom senso, não é preciso avisar antes de uma peça de teatro começar, que não se
podem tirar fotografias com flash. Será que as pessoas não entendem que a força
daquela luz perturba os atores? Será que não percebem que incomoda também, se
calhar ainda mais, quem está a assistir? Será que não conseguem discernir que,
se a sala está às escuras, e se as cenas têm pouca luz, é porque alguém decidiu
que assim é que deve ser? A menos que alguém vos peça para ajudar a recriar um
cenário de trovoada, por favor, desliguem os flash’s, ou deixem as máquinas em
casa.
Pais dos bebés que choram em espetáculos
Pensei muito antes de incluir este tópico, e estou recetivo
às críticas que me possam fazer, mas não poderia deixar de o fazer, sob pena de
ficar seriamente irritado com a minha consciência. Obviamente que não me
irritam os bebés, nem sequer os bebés a chorar, o que me perturba é quando eles
choram nos locais onde simplesmente não deviam estar. O que me irrita são os
pais dos bebés que insistem em levar as crianças a um espetáculo de teatro, ou
cinema, ou até a um concerto, sabendo de antemão que aquela é uma escolha
deles, e não da criança. Pior do que os que levam as crianças, (felizmente
ainda há alguns que ficam sossegados), são aqueles que depois de ela começar a
chorar, insistem em permanecer na sala, pensando que um simples embalo no colo
é suficiente para acalmar a criança. Será que não percebem que isto é
perturbador para quem está a atuar, e principalmente para quem está a assistir?
(E a mim chateia-me mesmo quando sou espetador). Já para não falar da própria
criança, se ela está a chorar, não está por certo confortável. Ainda assim, até
sou capaz de os desculpar quando penso naqueles que passam o tempo a falar alto
com os parceiros do lado, e a comentar em alto e bom som as peripécias do
espetáculo.
Já chega. Já me começo a irritar com as minhas próprias
irritações. Apanharam-me num dia especialmente mau. Desta vez foi a crónica do
Notícias de Coura que teve de suportar o meu, “por vezes”, mau feitio. Se me
perdoarem esta, e esperarem pela próxima, talvez arrisque a entrar nos meandros
da política. Entretanto, lembrem-se que a irritação não resolve nenhum dos
nossos problemas, e portanto, respirem fundo, voltem a página, e esqueçam tudo
aquilo que acabaram de ler.
Crónica publicada na edição 249 do Notícias de Coura, 27 de maio de 2014.