terça-feira, 21 de abril de 2015

É alemão, não é terrorista

No passado dia 24 de março um avião da companhia Germanwings que fazia a ligação Barcelona – Dusseldorf, despenhou-se nos Alpes franceses provocando a morte a 150 pessoas. Seria apenas mais um trágico acidente de avião, não fosse tudo aquilo que se seguiu. 
Logo no próprio dia, tanto a Lufthansa, dona da Germanwings, como o governo do Estados Unidos da América, apressaram-se a afastar a tese de um ataque terrorista. Dois dias depois, o ministro do interior da Alemanha veio também garantir “não existirem indícios de comportamento terrorista em relação ao copiloto da companhia”. 
Hoje, já sabemos algumas coisas: 
- Sabemos que o copiloto fechou imediatamente a porta do cockpit quando o piloto saiu, bloqueando os mecanismos que permitem a sua abertura a partir do exterior; 
- Sabemos que o copiloto, imediatamente após ter ficado sozinho no cockpit, executou os procedimentos necessários para colocar o avião numa rota descendente; 
- Sabemos que o copiloto tinha um historial médico rico em depressões e esgotamentos, tendo sofrido em 2009 um “episódio depressivo grave” e recebido tratamento para “tendências suicidas”; 
- Sabemos que rasgou deliberadamente um atestado médico que comprovava que deveria estar de baixa médica, não o dando a conhecer à companhia; 
- Sabemos que em tempos disse a uma namorada que “ainda um dia havia de ficar na história”; 
- Sabemos que fez pesquisas na internet sobre formas de suicídio e sobre o funcionamento e os mecanismos de segurança das portas do cockpit. 
Perante tantas evidências e tantas certezas quanto à causa do acidente dei por mim a questionar-me a razão pela qual ainda ninguém tinha chamado terrorista ao copiloto. Não tenho grandes dúvidas que se o piloto tivesse uma farta barba, ou a sua aparência se aproximasse do usual no povo muçulmano, ninguém se preocuparia em questionar o estado mental ou psíquico do mesmo, seria imediatamente considerado um ato terrorista. 
Estas minhas dúvidas levaram-me a fazer algumas pesquisas sobre “o que é afinal o terrorismo”. Entre as muitas definições encontradas, sobressai em grande parte delas a questão de terrorismo ser “o uso da violência, contra a ordem estabelecida, contra indivíduos ou Estados, de modo a instalar um ambiente de medo generalizado”. 
Ao que parece, o copiloto não tinha motivações políticas nem religiosas, foram apenas motivos egoístas e cobardes que o levaram a acabar com a vida de 149 seres humanos. Não lhe querem chamar terrorista? Não chamem. Mas pelo menos, por respeito aos 149 inocentes, parem de lhe dar a “fama” e a importância que ele desejava ter. Neguem-se a publicar mais histórias sobre a sua vida, a infância, as namoradas, as corridas em que participava. A mim não me interessa nada, e acredito que para grande parte da humanidade também não. Só escrevi o nome da “criatura” uma vez no Google para procurar informação para esta crónica. O curioso, é que quando o fiz os sistemas detetaram tráfego fora do comum na minha rede, e tive mesmo de ultrapassar um mecanismo de segurança. Será que quando o copiloto procurou informação sobre suicídios e formas de trancar a porta do cockpit, também foi alvo de tal verificação? Ou será que na Alemanha as medidas de segurança não são assim tão rigorosas para os “seus” cidadãos? Para terminar este artigo fiz inúmeras pesquisas sobre terrorismo, o que provavelmente colocou o meu computador nalguma lista de cidadãos a ter debaixo de olho. 

Crónica publicada na edição 269 do Notícias de Coura, 14 de abril de 2015.