terça-feira, 22 de setembro de 2015

Refugiados, eleições e piza

Há já alguns meses que estava decidido a dedicar uma das minhas crónicas ao tema dos refugiados. A situação não é de agora, infelizmente foi preciso a imagem de uma criança morta numa praia turca para alertar algumas consciências. Mas é tarde. E o resultado pode ser desastroso. Há anos que a barbárie impera em muitos países, Síria, Iraque, Afeganistão, Líbano. A situação no médio oriente é explosiva, e a Europa pode bem vir a sofrer graves consequências. A Alemanha encabeça a lista do cinismo, promete milhões, abre as fronteiras a milhares de refugiados, “obriga” os restantes estados membros da União Europeia a redefinir números e receber milhares de refugiados também. Todos compreendemos decerto o sofrimento daqueles que arriscam mais do que a própria vida para fugir de um país em guerra, mas, que temos nós para lhes oferecer? Está a europa preparada para criar emprego para milhares de pessoas? Não, claro que não. Só a Alemanha diz preparar-se para receber este ano 800.000 refugiados. É caso para dizer, como têm condições para tal? Se calhar têm. Em 2014 a Alemanha bateu o recorde de venda de armas no Golfo. Bruxelas quer que Portugal receba cerca de 5000 refugiados. Será justo abrir as portas a estes, quando há cá tantos nas mesmas condições? Será justo e digno fechar-lhes as portas? O que as grandes potências deveriam fazer era tentar resolver a questão na raiz. Porque fogem eles? Guerra? Ditadura? Conflitos? Por que razão os “donos do mundo”, os grandes Estados Unidos da América, não tomam uma atitude? Não foram eles que libertaram o povo do ditador Saddam Hussein? Ah… se calhar na Síria não há petróleo… Que dizer mais? Nada. 
Como provavelmente esta é a minha última crónica antes das eleições legislativas, e está a ser escrita antes do debate que muitos consideram decisivo, gostava de escrever algumas coisas, que fazem com que a cada dia que passa, mais decidido esteja, embora isso me pareça que não vai agradar a ninguém. De um lado temos uma coligação que se intitula de salvadora, mandou a troika embora e libertou o país da dependência dos credores. Será? Até pode ser, mas eu, como muito milhares de portugueses, sofremos e bem com todas as medidas tomadas. De outro lado, o partido que vai ganhar as eleições (a menos que continue a dar tiros nos próprios pés), que promete já mil e uma coisas, e que esquece que foram os seus governos que contribuíram decisivamente para aquilo a que o país chegou. Enfim, em mais de 40 anos de democracia os portugueses entregaram sempre o poder a dois partidos, queixam-se e com razão, mas dia 4 de outubro vão voltar a fazê-lo. Nestas eleições estou num estado de dúvida permanente que acho que vai permanecer até ao momento de fazer a cruz no boletim de voto. A cada dia que passa continuo sem saber em que partido votar, vou é escolhendo aqueles em que não votarei de certeza. Vamos ver se no dia 4 resta algum. Uma pequena nota que não posso deixar de salientar, é que Paredes de Coura será decerto um concelho vencedor, ao eleger o Tiago Brandão Rodrigues para a Assembleia da República. 
Por fim, e para valorizar o debate político e enriquecer as reportagens televisivas, eis que a medida de coação do ex. Primeiro-ministro José Sócrates passa para prisão domiciliária. As televisões enviam equipas de combate para “ajudar” na vigilância ao arguido. Abafam qualquer pessoa que se aproxime da residência, e atingem o cúmulo do rigor jornalístico quando conseguem cercar um entregador de pizas e sacar-lhe a informação pela qual todos nós esperávamos, era uma piza de extra-queijo e pepperoni. Citando Goethe, “nada mais assustador que a ignorância em acção”.

Crónica publicada na edição 279 do Notícias de Coura, 15 de setembro de 2015.