terça-feira, 21 de maio de 2013

O Festival, é a vossa ameaça

Agora que o sol parece estar finalmente de volta às nossas vidas, é altura de colocar algumas palavras na sombra, dando um sentido literal ao nome destas crónicas, e fazendo-o inspirado pelas muitas visitas que tenho feito nos últimos dias a um local estranhamente encantador, a praia fluvial do taboão.

Em poucas palavras: imaginem um rio de águas frias, mas límpidas, algumas pequenas quedas de água, árvores que o acompanham, pontes que o atravessam, uma imensidão de espaço verde, juntem-lhe o silêncio e o ar puro, e sejam bem-vindos ao paraíso.

Ter este espaço aqui tão perto de casa, e saboreá-lo 12 meses por ano, é uma dádiva! Ups… 12 meses não, afinal são só 11!

Há uma altura no ano em que tudo se transforma!

Por alturas do verão, começam a chegar dezenas de camiões, centenas de quilómetros de cabos elétricos, milhares de watts de som, palcos gigantes com luzes psicadélicas, são centenas de técnicos a trabalhar para preparar um festival. E depois?! Bem, depois, quando começam a chegar as pessoas, os visitantes, os festivaleiros, é que a coisa fica mesmo impossível de descrever. São aos milhares, vêm de todos os lados do mundo, a pé, de autocarro, de caravana, de mota ou bicicleta, tomam conta de todos os espaços verdes e decoram-no com as suas tendas de campismo, montam as suas próprias casas de férias e provocam um impacto visual na paisagem, absolutamente assustador.

É nesta altura que o silêncio vai de férias, e aqui para nós que “ninguém nos ouve”, o silêncio também merece um pouco de descanso.

A praia fluvial do taboão ganha um novo encanto. E Paredes de Coura, ganha um lugar de destaque no país. Sei que muitos discordam e até se zangam com a ideia mas, a verdade é que existem milhares de portugueses e mesmo estrangeiros que conhecem Paredes de Coura, graças “a um” festival de música. Eu mesmo, “qual pecador me confesso”, quando soube que vinha trabalhar para aqui, só me lembrava de ter ouvido falar disto, por causa do festival. Ainda hoje, quando longe daqui digo que estou a trabalhar em Paredes de Coura, muitos respondem: Ah, é onde há um festival, não é?

E qual é o mal disto? Perguntarão vocês! Não é nenhum, aposto que há centenas de vilas e cidades por esse país fora que davam tudo para ter uma coisa assim!

Segundo dados da organização, o festival de 2012 contou com 85000 espetadores, nos cinco dias do festival. Durante alguns dias, a vida na vila transforma-se em absoluto. Os locais para estacionar são raros, as esplanadas são poucas para tanta sede, as prateleiras dos supermercados são completamente esvaziadas, acredito que os fornos das padarias não devem parar de produzir para saciar tantas bocas ávidas de sustento. Há filas na estação dos correios, nas caixas multibanco, nas casas de banho e em todos os locais a que se queira ir. Não sei quanto dinheiro fica em Paredes de Coura, mas tenho a certeza que é uma fonte de oxigénio para muitos negócios. Ainda mais, nestes anos de crise que vivemos, e que ameaçam prolongar-se no tempo.

Perante estes números, não consigo perceber como é que existem ainda vozes críticas quando se fala em apoiar esta iniciativa! Conseguem imaginar alguma alterativa que gere esta riqueza? Conseguirão inventar uma forma de durante uma semana multiplicar por quase 10 a população residente?

Não creio.

Enquanto o silêncio ainda reina por estes lados, ouvem-se algumas ideias vindas das árvores e das plantas da praia fluvial do taboão:

Preparem-se! Eles estão quase a chegar! Não se limitem a aumentar o stock de cerveja e a encher um pouco mais as prateleiras! Saiam das vossas lojas, criem espaços de vendas pelas ruas, contratem vendedores ambulantes, levem os produtos onde os clientes vagueiam, não esperem… vão!

Lembram-se de em janeiro deste ano ter havido um acidente na auto-estrada A1 devido ao despiste de um camião que transportava animais, e da mesma ter estado cortada ao trânsito várias horas? Ouvi dizer que lá pelo meio das centenas de carros bloqueados, estava uma carrinha carregada de bolos. O motorista, transformou a ameaça de ficar com um carregamento de produtos estragados, numa oportunidade única de os vender, e assim o fez, esgotou o carregamento num ápice!

O festival de Paredes de Coura é a vossa ameaça. Os milhares que vos visitam são a vossa oportunidade!

Crónica publicada na edição 227 do Notícias de Coura, 14 de maio de 2013.