terça-feira, 15 de outubro de 2013

O dia da reflexão!

Hoje é sábado, 28 de setembro, a manhã está fria, o vento abana os toldos dos feirantes e o trabalho para manter os artigos protegidos da chuva é redobrado. Sim, é verdade, acabei de dar uma volta pela feira de Paredes de Coura e achei-a mais leve. Com este tempo, quem é que ousa sair à rua senão por extrema necessidade? O dia convida-nos a ficar em casa, de pantufas ou chinelos, a ler um livro, ver televisão, fazer as arrumações típicas do fim-de-semana e passar horas e horas, fazendo mil e uma coisas no facebook, ou em qualquer outro lugar da imensidão da web! E de repente, neste meu marasmo de não saber o que fazer, aliás, de não me apetecer fazer nada, vejo que alguém comenta no seu mural, que hoje é o dia da reflexão! Ah, exclamo eu… agora sei porque razão havia poucas pessoas na feira: estão a refletir. E é nesse momento que me recordo da feira anterior, a do dia 14 de setembro! Essa estava cheia de gente, pois havia imensas pessoas que equipadas de bonés, canetas, papéis e bandeiras, ajudavam as outras a refletir. Costuma-se chamar campanha eleitoral, mas sinceramente eu acho que era mais correto chamar-lhe, ajuda à reflexão.
Os tempos que antecedem os atos eleitorais são uma fonte de recursos quase inesgotável de matérias que eu poderia aproveitar, e guardar aqui na “sombra das palavras”, para que quando me faltasse a inspiração, lhe pudesse pegar e fazer uma crónica. Mas qual seria o interesse? Daqui a duas ou três semanas já está tudo acabado e esquecido. Os vencedores já terão passado o período de euforia e certamente já estarão a tomar conta dos seus novos afazeres, e a pensar como “diabo” vão fazer para levar a bom porto tudo aquilo que enriqueceu o seu programa eleitoral. Os vencidos, esses por certo voltarão imediatamente às rotinas das suas vidas, e muitos serão aqueles que pensarão para os seus botões: - Nunca mais me meto noutra.
E os eleitores?
- Quem?!
Bem, esses provavelmente serão os esquecidos mais rapidamente. E afinal, a única coisa que eles fizeram foi votar. O voto, talvez a conquista mais significativa da democracia, é o ato pelo qual todos nós, temos o poder, mas acima de tudo o dever, de eleger os nossos representantes. E a partir desse momento, tudo o que os nossos representantes fazem, é em nosso nome, e como eles nos fazem questão de lembrar muitas vezes, com a legitimidade do voto que o povo lhes deu. E não nos adianta reclamar quando constatamos que as decisões são contrárias às medidas que nos apresentaram, e quase todos os dias que ouvimos dizer:
- Na campanha prometeram “mundos e fundos”, e agora que estão no “poleiro”, fazem exatamente o contrário.
O que resta ao povo é exprimir o seu descontentamento, manifestar-se pacificamente, aderir a greves e tentar levar a sua voz mais longe, e aguardar pelas próximas eleições. E quando elas se aproximarem, é um novo mundo que se avizinha cheio de esperança, de oportunidades para todos, de empregos, de investimento, de mais saúde e educação… é o paraíso prometido por quem provavelmente está mais interessado no seu próprio “lugar ao sol”, do que na luta pelo bem-estar daqueles de quem deseja governar.
E desta forma termino, resignado às sábias palavras de Winston Churchill, proferidas há mais de 65 anos: “A Democracia é o pior de todos os sistemas, com exceção de todos os outros”.

Nota: esta nota justifica-se, em primeiro lugar, porque o autor gosta de fazer notas. Além disso, como se pode depreender pelo texto, o autor escreve totalmente liberto de tonalidades partidárias. Em atos eleitorais locais, o importante são as pessoas, e não a cor que elas escolhem para decorar a sua ação política. Por fim, o autor espera enganar-se profundamente na sua reflexão, e deseja que nos próximos anos, até um novo ato eleitoral, tanto os vencedores como os vencidos, oiçam o povo, e estejam ao lado do povo, da mesma forma como o fizeram nas últimas semanas.

Crónica publicada na edição 235 do Notícias de Coura, 8 de outubro de 2013.