terça-feira, 24 de dezembro de 2019

Alguém nos “Livre”!

As polémicas em torno do Livre e da sua deputada Joacine Katar Moreira, começaram logo no dia das eleições, com a festa do partido a ser criticada pelas bandeiras da Guiné-Bissau. Exagero e radicalismo do povo, digo eu, num momento de alegria é natural ela ter festejado com a bandeira do seu país natal, tal como por exemplo Jorge Jesus fez quando ganhou a Copa dos Libertadores ao serviço do Flamengo.
No dia da tomada de posse, Joacine Katar Moreira chegou à Assembleia da República acompanhada do seu assessor. Até aqui nada de estranho. Surpreendente foi o facto de ele ir vestido de saia! (Este ponto de exclamação é irónico). Tornou-se de imediato no centro das atenções dos jornalistas e das redes sociais. Justificou dizendo com o facto de querer manter «o Reino Unido e a sua cultura tão rica, interessante e exótica dentro da União Europeia». Ridículo. Não as vestes, mas sim a explicação. Logo aqui foi fácil perceber que esta deputada estava mesmo decidida a marcar a legislatura.
Dias depois, foi votada na Assembleia da República uma proposta de condenação aos bombardeamentos do exército israelita sobre a população da Faixa de Gaza. Joacine Katar Moreira absteve-se. A direção do partido Livre mostrou-se preocupada, afirmando que a posição sobre a Palestina é clara desde a fundação do mesmo, pela autonomia do território e pelo reconhecimento do Estado da Palestina. Joacine justificou-se dizendo que tentou contactar o partido durante três dias, sem sucesso, e como não queria arriscar, absteve-se. Ridículo. Não o voto, mas a justificação. Ninguém acredita que durante três dias responsáveis políticos não conseguissem contactar, e mesmo que isso tivesse acontecido, a obrigação da deputada era votar de acordo com o programa do partido, a sua obrigação era conhecer as ideias que regem o partido, coisa que pelos vistos não conhece.
Mas ainda há pior. A senhora deputada não gostou da posição do partido e acusou-o de falta de apoio desde o início, dizendo que ganhou as eleições sozinha e que a direção não precisa de a ensinar a ser política. Ridículo. Ninguém ganha eleições sozinho e a verdade é que senhora deputada precisa mesmo de quem a ensine a ser política, senão veja:
- Na questão da abstenção sobre a condenação aos bombardeamentos na Palestina, a senhora devia votar de acordo com os estatutos/ideias/posições do partido pelo qual foi eleita, pois foi ao partido que os eleitores deram o voto, não a si.
- Durante a campanha eleitoral, Joacine Katar Moreira considerou uma das suas prioridades políticas a Lei da Nacionalidade. Quando chegou a altura de a entregar para discussão na Assembleia da República, falhou o prazo de entrega, não tendo entregue a sua proposta a horas. Aqui já não é ridículo, aqui é mesmo falta de responsabilidade, incompetência, ou talvez maldade… pois algo me diz que isto foi propositado.
O Livre está a colher os frutos daquilo que plantou. Escolheu uma candidata diferente, conseguiu muitos votos graças ao percurso ativista de defesa dos direitos das minorias étnicas e das mulheres da candidata. Agora, vê a sua deputada assumir uma posição arrogante e centrada em si mesma e alinhar com uma política identitária exclusiva. O Livre vai assim num caminho perigoso. Estas políticas identitárias em defesa de grupos sociais mais vulneráveis não podem ser pretexto ou desculpa para marginalizar os outros. Quando a deputada evita dialogar com o seu partido e chama de extrema-direita a quem não concorda com ela, não está a respeitar nem a liberdade, nem a democracia, nem quem a elegeu.
Não é difícil ter uma ideia do que vai acontecer nesta legislatura. Joacine Katar Moreira dificilmente deixará a sua postura egocêntrica e arrogante. Durante a legislatura será deputada, obtendo daí vantagens ao alcance de muito poucos, não só financeiras é claro! O Livre não a voltará a escolher para deputada.
O Livre nunca mais elegerá ninguém.

Crónica publicada na edição 377 do Notícias de Coura, 17 de dezembro de 2020.

terça-feira, 10 de dezembro de 2019

Obrigado Mister!

Algures do outro lado do mundo, a mais de 9000 km de distância do nosso país, vejo um senhor de cabelos brancos com uma bandeira portuguesa vestida. Chama-se Jorge Jesus, tem 65 anos e é treinador de futebol.
Quando saiu de Portugal para treinar nas “Arábias”, os portugueses puderam ver um homem no Aeroporto que partia sozinho, emocionado e triste por deixar o país, especialmente nas condições em que o fazia, depois dos lamentáveis incidentes em Alcochete. Alguns meses depois numa reportagem sobre a vida de Jorge Jesus na Arábia Saudita, lembro-me de ver um homem rodeado de luxos, tinha tudo o queria no país do “petróleo”, mas os seus olhos não conseguiam disfarçar tristeza, aquela tristeza tão portuguesa chamada saudade.
Tempos depois vai para o Brasil. A chegada ao nosso “país irmão” não foi acolhedora, muitos lhe vaticinaram um regresso precoce a Portugal. Entre eles, Marco de Vargas, jornalista desportivo brasileiro que “gozou” com “aquele velhinho de 64 anos que só tinha ganho 3 campeonatos na porcaria do futebol português”. Pouco tempo depois, o velhinho sábio e humilde afirmou que não tinha ido para o Brasil para ensinar ninguém. Ainda assim, os brasileiros aprenderam como com trabalho se pega numa equipa a 8 pontos do 1.º lugar e se é campeão a 4 jornadas do fim do campeonato. Entretanto, leva-a à conquista de um título único.
Num fim-de-semana histórico, Jorge Jesus conduziu o Flamengo à vitória na Taça Libertadores da América e poucas horas depois sagrou-se campeão de futebol do Brasil. Alvo de imensas piadas sobre o seu português “engraçade”, Jorge Jesus nunca deixou de ser quem era, um homem trabalhador. Sempre deixou a sua marca nos clubes que treinou, sendo no Benfica que alcançou as suas maiores conquistas. Muitos insistem em lembrar-se daquele título perdido para o Porto nos minutos finais de um jogo, bem como das duas finais europeias perdidas. Não deviam. Deviam recordar os títulos que ganhou, e que foram muitos. E quanto às finais perdidas, tal como ele não se cansa de lembrar: “Perdeu-as porque esteve lá”, são muitos mais aqueles que nunca as vão perder. Talvez tivessem sido estas lembranças que nos fizeram (sim, a nós, milhares de portugueses), vibrar tanto com aquela reviravolta sobre o River Plate. Estas lembranças e aquelas mais dolorosas quando, um bando de patifes invadiu a academia do Sporting agredindo jogadores e desrespeitando um treinador que, embora não tendo sido campeão (embora o merecesse), levou o Sporting a lutar pelo título até à última jornada.
Tal como eu, creio que milhares de portugueses festejaram aquele título. Mais do que uma vitória de uma equipa de futebol, foi a vitória de um homem, um português que nos festejos vestiu a bandeira do país e emocionou-se ao dizer que tinha muito orgulho em ser português. E nós também. Os portugueses também têm orgulho em si.
Obrigado Senhor Jorge Jesus!

Crónica publicada na edição 376 do Notícias de Coura, 03 de dezembro de 2019.