terça-feira, 15 de janeiro de 2013

O mundo em 2012

Quando os leitores estiverem a ler este artigo, já estaremos em 2013. Avizinha-se um ano difícil, não pelo facto do número 13 trazer uma pontinha de superstição, mesmo para aqueles que não acreditam em tais devaneios, mas especialmente, por tudo o que aconteceu em 2012. E aquilo que aconteceu, foi tanto que não me atrevo a enumera-lo, sob pena de ficar tão preocupado com o que aí vem, que teria de parar de escrever, desligar o computador e apagar as luzes, para adiar um futuro incerto, e já agora poupar uns tostões na conta da eletricidade.
O nosso pequeno país vive momentos tensos, as sucessivas promessas de austeridade e adiamentos da recuperação económica aliadas ao aumento do desemprego e dos impostos, trouxeram uma agitação social há algum tempo esquecida das nossas mentes e desaparecida das nossas ruas. O povo está descontente e tem razões que a razão conhece muito bem. Mais do procurar culpados, pois todos sabemos muito bem quem eles são, há que procurar, e encontrar soluções. A crise económica não deve trazer associada uma crise de valores, está na altura de sermos sérios, trabalharmos honestamente, trabalharmos ainda mais e talvez a luz ao fundo do túnel possa começar a brilhar, ainda que muito levemente. Talvez possamos ir buscar um bocadinho desta luz à cidade de Guimarães, que foi durante um ano a Capital Europeia da Cultura e que presenteou todos quantos a visitaram, com excelentes e variados espetáculos. Mais uma vez mostrámos que quando queremos, somos grandes, somos extraordinários, e provámos a importância de apostar na cultura. O nosso ano de 2012 foi de facto diferente, mas por esse mundo fora a situação não foi assim tão diferente do que costuma ser, tirando o caso da Grécia, do qual, Deus nos livre, senão vejamos:
- Os homens continuam em guerra. Este ano a Síria foi talvez a recordista de notícias, sem contar com a permanente tensão entre Palestinianos e Israelitas, estes infelizmente, condenados a ser notícia ano após ano.
- Nos Estados Unidos o cenário é sempre o mesmo, furacões devastadores, massacres em centros comerciais, escolas e universidades; já não basta a sentença implacável da natureza, e os homens ainda são castigados pela loucura dos seus semelhantes.
- Ainda nos Estados Unidos, a NASA foi notícia pela chegada a Marte do robô Curiosity, um verdadeiro “feito tecnológico sem precedentes”, segundo palavras do presidente Obama. Espero bem que o robô vá equipado com um potente telescópio que permita observar o nosso planeta, e ter consciência do tanto que ainda há cá por fazer.
- Do Congo e do Iémen vêm notícias de pobreza e fome, somos assim acordados para este problema, pelas fotografias chocantes de crianças subnutridas. Estamos no século XXI, o avanço tecnológico é imparável, mas incapaz de acabar com a necessidade mais básica do ser humano.
- O Tibete continua a sua cruzada, talvez inglória, contra o domínio chinês, este ano marcado pelas dezenas de imolações de jovens tibetanos que dão a vida, na incessante busca da libertação do seu povo.
No momento em que termino de escrever este artigo, são quase 23 horas do dia 31 de dezembro de 2012, e entre os milhares de mensagens e fotografias que se publicam e partilham no facebook, entre desejos de amor e paz, saúde, felicidade e dinheiro, alguém escreve: 12 meses se passaram… E o que realmente valeu a pena?
A resposta mais simples que me atrevo a dar é: TUDO. Quando se chega a um determinado destino é porque se fez um caminho para lá chegar. Com o tempo, é a mesma coisa. Um dos provérbios chineses mais conhecidos é aquele que por muitos é considerado como o ensinamento de uma vida, diz-nos que, “O passado é história, o futuro é desconhecido e o hoje é uma dádiva (é por isso que se chama presente!). Por isso, tudo valeu a pena, porque tudo o que se fez teve uma razão, um propósito e uma consequência, e se não tivesse sido dessa maneira, seria decerto de uma outra qualquer, e o resultado, impossível de prever, e aqui é que está a magia da vida!
Por fim, resta-me exprimir os desejos para 2013! Como os desejos ainda não são tributados, vou dar-me ao luxo de desejar muitas coisas e partilhar com os leitores duas delas. Espero bem, estar daqui a um ano a escrever outro artigo para o Notícias de Coura, será sinal de saúde e paciência dos leitores, e de força e imaginação de mim próprio. Espero também não ter vontade de fazer um balanço de dificuldades e preocupações, e olhar para o país e não ver fome e miséria, para que nunca mais ninguém nos venha dizer que “não tivemos o Natal que merecíamos”, mas que teremos o Natal que merecemos.

Crónica publicada na edição 219 do Notícias de Coura, 8 de janeiro de 2013.