segunda-feira, 23 de novembro de 2020

Goodbye Trump!

Custou, mas aconteceu! Donald Trump perdeu as eleições. 

Ainda assim, foi o segundo candidato mais votado de sempre, com mais de 70 milhões de votos. Desta vez a América não ficou em casa, os democratas e muitos outros americanos, não confiaram nas sondagens e fizeram questão de dar o seu voto a Joe Biden. Mais do que eleger Biden, os Americanos quiseram derrotar Trump. 
Em 2016, o mundo ficou atónito quando percebeu que Hillary Clinton tinha perdido as eleições. Nessa altura os democratas perderam por culpa própria, acreditaram nas sondagens e nunca lhes passou pela cabeça que o seu país pudesse votar em alguém como Donald Trump, mas aconteceu. 
Uma das primeiras medidas de Trump foi proibir a entrada de cidadãos de sete países de maioria islâmica nos Estados Unidos, visava manter os terroristas islâmicos radicais fora do país. Proteger o país de terroristas é importante, mas não desta maneira, até porque são infelizmente cada vez mais os exemplos de que muitos atos terroristas são efetuados por radicais já nascidos nos próprios países que atacam. 
Depois mandou erguer um muro com o México, fazendo com que dessa forma o número de imigrantes ilegais que entravam nos Estados Unidos diminuísse para metade, mas separou inúmeras famílias que procuravam na América um futuro melhor. O ridículo foi afirmar várias vezes que o México iria pagar o muro. Obviamente que os países devem ter uma política de emigração bem definida e controlada, mas ao fechar desta forma as fronteiras Donald Trump esquece uma coisa muito importante, a América tornou-se naquilo que é graças a milhões e milhões de emigrantes. 
Mais tarde retirou os Estados Unidos do Acordo de Paris e do Acordo Nuclear com o Irão. Provocou muitas vezes, nalgumas delas até de forma ofensiva, Kim Jong-un, o líder da Coreia do Norte que tantas e tantas vezes ameaçou a América. Alguns meses mais tarde tornaram-se amigos, ao ponto de Trump dizer que Kim Jong-un lhe escreveu imensas cartas, cartas muito bonitas. 
Em 2020, e para infelicidade de todo o planeta, surgiu o Covid-19. E não haja dúvidas que foi este o grande responsável pela derrota de Trump. Não fosse a pandemia, e talvez o nome desta crónica tivesse de ser: Trump, outra vez. 
Perante a pandemia que se espalhava pelo mundo Donald Trump começou por ignorar, depois menosprezar, e mesmo quando já tinha o país completamente apanhado pelo vírus nunca deu ouvidos à comunidade científica, chegando mesmo a sugerir injeções de desinfetante, e anunciando o corte de relações com a Organização Mundial de Saúde. Hoje, os EUA representam 20% das mortes por Covid-19, e somam já quase 250 mil mortos. 
Estas eleições terminam com Donald Trump a alegar fraude eleitoral em diversos Estados, embora sem apresentar provas. Aliás, Trump foi bem claro quando disse que “respeitaria os resultados eleitorais, se ganhasse.” Foram 4 anos de mentiras (mais de 20 mil segundo o jornal "The Washington Post", veiculadas nas contas pessoais do Presidente). Mesmo assim, obteve mais de 70 milhões de votos, “quase” metade dos eleitores queria continuar a ter Trump como Presidente. Existir um presidente como Trump parece-me perigoso, existirem 70 milhões que votam nele, parece-me muito mais. Vivemos tempos difíceis, inimagináveis para muitos de nós. As eleições na América são certamente um sinal de esperança. 

Crónica publicada na edição 398 do Notícias de Coura, 17 de novembro de 2020.

segunda-feira, 9 de novembro de 2020

Irritações de outono.

Já por duas vezes tive oportunidade de partilhar com os leitores algumas das coisas que me irritam. Desta vez, e como estas são irritações do momento, resolvi juntá-las ao outono, esta fantástica estação cujas cores dão tanta beleza ao mundo e me fazem recordar com saudade as cores de Paredes de Coura. Aqui ficam então algumas das coisas com as quais me sinto irritado: 

1. Irritado com a Fórmula 1: gosto muito deste desporto e tenho saudades dos tempos em que os grandes-prémios eram transmitidos na televisão pública. A Fórmula 1 ter regressado ao nosso país foi uma notícia excelente, obviamente que tal só aconteceu por atravessarmos este período pandémico, em condições normais não sei se tal aconteceria. Aquilo que tivemos oportunidade de ver durante o fim-de-semana da sua realização foi simplesmente vergonhoso, e mostra bem os dois pesos e duas medidas que continuam a imperar nas decisões tomadas pelo governo e pela DGS. Trinta mil pessoas em Portimão, bancadas cheias de pessoas, sem distanciamento quase nenhum e muitas delas sem máscara. As autoridades que permitiram isto são as mesmas que impedem os estádios de futebol de ter público. O autódromo de Portimão tem capacidade para 100.000 espetadores e a DGS autorizou 30.000 (30%). O Estádio do Braga tem lotação para 30.000 espetadores, e a DGS resolveu autorizar apenas cerca de 2.200 para o jogo com o AEK a contar para a Liga Europa (7%). Falta saber porquê. Eu sei que o vírus está mais ativo no norte, mas será que ele é assim tão malandro que só ataca a malta que vai à bola? Eu sei que a malta que vai à Fórmula 1 é mais rica e tem mais estatuto mas… não diziam que este vírus atacava os pobres e os ricos?! 

2. Irritado com o fim-de-semana de circulação condicionada: desculpando-se com o aumento assustador dos números da pandemia nos últimos tempos, o Governo decidiu limitar a circulação entre concelhos no fim-de-semana de 30 de outubro a 3 de novembro. E decidiu com alguma antecedência, o que foi bom, pois deu a hipótese a muitas pessoas de em vez de ir à terra no dia de finados, irem até Portimão à Fórmula 1 no fim-de-semana anterior. Podia até ser uma decisão com algum sentido, caso não tivéssemos depois exemplos verdadeiramente contrários. Pela primeira vez na vida vou precisar de uma declaração da minha entidade patronal para poder ir trabalhar, e deslocar-me entre concelhos. Eu, que nasci já depois do 25 de abril, começo a ter experiências dos tempos da “outra senhora”. Mas compreendo. Todos temos de ter comportamentos responsáveis. Eu não posso ir à terra no dia dos finados, mas posso ir dar aulas a 28 alunos numa sala com pouco mais de 20 metros quadrados. O Covid-19 é respeitador, ele sabe que não pode entrar nas escolas, mas quando apanha o povo nos cemitérios, vinga-se. 

3. Irritado com as capas de jornais: escrevo esta crónica no dia seguinte ao final da volta à Itália em bicicleta, aquela em que João Almeida acabou em 4.º lugar depois de andar 15 dias com a camisola rosa de líder da prova, aquela em que Ruben Guerreiro venceu a camisola azul de líder da montanha, e apesar dos destaques nalguns jornais, apenas um dos desportivos apresenta uma capa que faz justiça a um feito desta magnitude. Mas já se sabe que o que importa é o futebol. Irritado fico com o título do jornal “A Bola”, que dá voz às palavras do Presidente do Benfica, “Ninguém apaga a minha passagem pelo Benfica”. Obviamente que não, e tem muito mérito por ter colocado o Benfica no caminho das vitórias. Gostava de sugerir a um jornal de cariz económico que pudesse dar voz ao Sr. Luís Filipe Vieira para um título parecido: “Alguém apagou as minhas dívidas ao Novo Banco”. O jornal “I” resolve dar destaque ao confinamento de Cristiana Ferreira e de Ricardo Araújo Pereira… quem é famoso, fica mais famoso só por ter de ficar em casa! 

Enfim… chega de me irritar com os jornais, não quero correr o risco de me irritar com as minhas próprias crónicas.

Crónica publicada na edição 397 do Notícias de Coura, 3 de novembro de 2020.