terça-feira, 11 de outubro de 2016

Obrigado João.

Foi com uma estranha sensação que li no passado dia 15 de setembro uma notícia do jornal Público, “João Pedro Vaz vai dirigir o Teatro Oficina em Guimarães”. De repente pensei ser engano, depois olhei para a data, esperançado que fosse uma daquelas notícias já com meia dúzia de anos de atraso e que por vezes se partilham no facebook, alarmando quem as lê. Mas não era. Era atual. De seguida pensei que provavelmente isto seria uma daquelas acumulações de cargos que se fazem, dá-se uma mão neste projeto, apoia-se um outro, faz-se uma perninha em mais um, mas não era, não é. João Pedro Vaz vai mesmo deixar as Comédias do Minho, vai mesmo embora… 
Já em tempos escrevi uma crónica sobre esta coisa fantástica de existir uma companhia de teatro profissional sediada no Alto Minho, que leva espetáculos de teatro às aldeias, que trabalha com a comunidade, que dá formação aos grupos de teatro amador, que leva o teatro às escolas, e faz isto em cinco municípios, cinco municípios com dirigentes políticos ousados, capazes de investir na cultura. 
Ao longo dos últimos anos tive o prazer de estar presente em muitas reuniões de trabalho orientadas pelo João Pedro Vaz. Muitas vezes, quando apresentava um projeto, o João dizia “Eu tive uma ideia louca de se fazer…”! E assim foi quando pela primeira vez se falou do Fitavale, o Festival Itinerante de Teatro Amador do Vale do Minho. Começou em 2011, a ideia louca era a de num fim-de-semana os grupos amadores dos cinco concelhos apresentarem os seus trabalhos num concelho diferente do seu! Todos os grupos fariam uma “peregrinação”, acompanhando os outros grupos. Funcionou. Os grupos conheceram-se, partilharam as vivências que só o teatro proporciona, e o Fitavale já vai a caminho da sétima edição! Mais, já não ocupa um fim-de-semana, já ocupa dois, integra grupos de teatro amador espanhóis que vêm a Portugal, integra oficinas de leitura encenada em três línguas e reuniões de trabalho. Numa das últimas em que estive presente, o João, desculpando-se com a loucura que o orienta, falava para os presentes em projetos futuros, mas não para 2017, já falava de coisas a fazer em 2018 e que teriam frutos em 2020! Ao meu lado, um dos nossos parceiros espanhóis, visivelmente admirado com tais planos segredava-me: “Como diabo consegue ele já estar a planear para 2020?!” (Obviamente que as palavras usadas por ele eram ligeiramente mais picantes, vocês já imaginam!). 
Lembram-se das Comédias do Minho terem feito uma ocupação minhota no Teatro D.ª Maria II em Lisboa? E dos grupos amadores dos cinco concelhos terem levado os seus espetáculos ao Porto e a Lisboa? Pois bem, quando pela primeira vez o João falou nisto disse: “Sabem, as Comédias do Minho conseguiram disponibilidade para apresentar espetáculos no Porto e em Lisboa. Mas nós não vamos apresentar nenhum espetáculo da companhia, quem vai atuar vão ser os grupos amadores! “ 
Já este ano, em mais uma reunião de trabalho da Platta, a Plataforma Transfronteiriça de Teatro Amador, falava-se da necessidade de conhecer os públicos e de satisfazer os seus desejos de teatro, o João mais uma vez surpreende, “É importante saber que existe muita gente a querer um determinado tipo de espetáculo, mas se eu sei que há duas pessoas que têm outro desejo, porque não satisfazê-lo? Se há duas pessoas que querem uma coisa diferente, eu vou trabalhar para elas.” 
Costuma-se dizer que ninguém é insubstituível, mas a verdade é que há pessoas que simplesmente nós não queremos substituir. 

João Pedro Vaz: Não te vou desejar boa sorte, não precisas, sorte vão ter os que vão trabalhar contigo. Obrigado por tudo o que deste ao teatro no Vale do Minho.

Crónica publicada na edição 303 do Notícias de Coura, 04 de outubro de 2016.