segunda-feira, 14 de junho de 2021

Vergonhoso, outra vez

No início do mês de maio o país futebolístico congratulava-se com o anúncio de que a final da Liga dos Campeões de futebol se iria realizar no nosso país, no Estádio do Dragão, no Porto. Mariana Vieira da Silva, Ministra de Estado e da Presidência, fez saber que os 12000 adeptos ingleses que viriam à final se deslocariam numa “bolha”, teriam de viajar com um teste negativo à covid-19, ter bilhete para o jogo e não teriam qualquer contacto com a população em geral, estando menos de 24 horas no nosso país. Para não me perder em tantas coisas que me apetecia escrever, vou agrupar isto por tópicos, é também uma forma de me acalmar… apetecia-me descarregar a indignação de tal forma que as mãos jamais conseguiriam escrever aquilo que a boca iria proferir, portanto… calma:


1 – Foram lindas e serenas as palavras da Senhora Ministra, e só são perdoáveis se tivermos em conta a impreparação política que carateriza o executivo de António Costa. Então a Senhora Ministra achava mesmo que os adeptos ingleses viriam para Portugal numa bolha?! Viriam como carneiros num avião, conduzidos ao estádio e de regresso ao aeroporto!? Já ouviu falar dos adeptos ingleses Senhora Ministra!? Eles não precisam de bilhetes para acompanhar as equipas, eles querem é viajar, beber e andar à pancada. Foram imagens lindas, fantásticas para a promoção do país, do Algarve ao Porto, passando pela “impoluta” capital, os ingleses beberam, agrediram-se, e mostraram que as regras de saúde pública são para cumprir… pelos portugueses. Triste país que permite aos estrangeiros, aquilo que proíbe aos seus.

2 – Questionado sobre os perigos da realização de um evento deste calibre em Portugal, o Sr. Secretário de Estado da Juventude e do Desporto apressou-se a dizer que o evento teria “medidas excecionais de segurança”. Viu-se. Mas não é de admirar, há casos em que os Secretários de Estado são a tábua de salvação dos Ministérios, neste caso, se o patrão já é fraco, o empregado então é melhor nem falar.

3 – A Direção Geral da Saúde recusou um pedido feito pela Federação Portuguesa de Rugby, que pretendia ter 500 adeptos na final da competição, no Estádio Nacional. Na final da Liga dos Campeões foram autorizados 12000, mas depois acabaram por ser cerca de 16000. Este é o país em que aos fins-de-semana encontramos 30 ou 40 pessoas em cima de escadotes ou bancos, junto a recintos desportivos, para poder ver os seus filhos a jogar. Triste país que permite aos estrangeiros, aquilo que proíbe aos seus.

4 – A final da Liga dos Campeões foi entre duas equipas inglesas. Ao que parece, chegou a ser equacionada a hipótese da mesma ser em Inglaterra, nada que fizesse mais sentido. A questão foi que o governo das terras de Sua Majestade não considerou estarem reunidas as condições de segurança! Vejam só, despacharam os adeptos ingleses para a periferia, vão portar-se mal lá fora. Se é para sujar, é melhor sujar o quintal do vizinho.

5 – Nunca julguei encontrar tamanha clareza nas palavras de Pinto de Costa, um dirigente que apesar de ser do “meu clube grande”, nunca me manifestou grande simpatia. Aquilo que o governo fez, foi mesmo passar um “atestado de mediocridade ao povo português”. Ao mesmo tempo que já começa a haver espetáculos musicais com imenso público, o futebol português continua de portas fechadas. Portas abertas, só para os estrangeiros.

Para terminar, deixo as palavras do Presidente do FC Porto, dirigidas ao Senhor 1.º Ministro sobre a atuação dos seus Ministros e Secretários de Estado: “Demita-os e, se não é capaz, demita-se o senhor”. Aquilo que Pinto da Costa esquece, o que é natural pois a idade não perdoa, é que hoje em dia ninguém demite ninguém pela falta de competência. Política, honestidade, caráter e ética, parecem ser termos em rota de colisão, impossíveis de coexistir num mesmo espaço temporal.

Crónica publicada na edição 411 do Notícias de Coura, 8 de junho de 2021.