terça-feira, 9 de setembro de 2014

Banhos públicos e outras coisas

Então “Fulano”!? Querias comer à minha pala?! Pois comigo não tens sorte! (E nesta altura, seria dada ordem para que alguém despejasse um balde de água fria sobre mim, ou em alternativa, atirar-me-ia para um qualquer fontanário, cumprindo assim o desafio lançado pelo dito “Fulano”). Logo após esta tão grande prova de coragem, e ao mesmo tempo que me livrava do “dever” de lhe pagar o jantar, teria o “direito” de nomear mais 3 ou 4 “Beltranos e Sicranos”, com a esperança que a falta de coragem de algum me trouxesse a tão ambicionada refeição grátis! 
E é disto que se tem alimentado neste verão a rede social Facebook! 
Esta história dos banhos públicos quase que me dava de vontade de gritar de indignação, perante tão grande desperdício de água, não fossem as causas sociais a que tais banhos se associaram. Quando o objetivo é ajudar a APELA (Associação Portuguesa de Esclerose Lateral Amiotrófica), e como ultimamente tenho visto e ouvido, os Bombeiros Voluntários de Paredes de Coura e Associação Courense de defesa dos animais, tenho de louvar a iniciativa e dar os parabéns a quem nela participa, embora não ache necessária tal demonstração pública de apoio. Muitas vezes, esta aparente generosidade é no fundo uma demonstração de egoísmo, pois o seu objetivo é fazer sentir-se bem quem a pratica. Já agora, atrevo-me a fazer também um desafio: - Seria interessante saber, daqui a um ou dois meses, quanto receberam estas instituições desta onda de solidariedade “banhista”! 
Mas nem só de banhos se tem pautado este verão! 
Não posso deixar de fazer referência a dois acontecimentos que decididamente marcaram o verão em Paredes de Coura. A iniciativa “Mundo ao Contrário”, encheu de cor e alegria esta vila, a diversidade dos artistas e a qualidade dos espetáculos deve deixar orgulhosos os organizadores e ansiosos os espetadores, pois coisas destas, são uma dádiva! Depois, o FESTIVAL*. Sobre este, só me atrevo a escrever uma palavra: “Assombroso”. 
Entretanto o país manteve-se mais ou menos igual: 

- Rebentou mais um escândalo na banca, ouvimos falar de tantos milhões de euros em operações tão estranhas, de bancos que emprestam dinheiro às suas empresas, que por sua vez o aplicam noutras empresas que dominam o primeiro banco; de administradores de bancos que são afastados do banco “mau” por conduta danosa e que depois são convidados a comandar os destinos do banco “bom”; a confusão é tanta que qualquer cidadão menos cuidadoso era capaz de chamar a isto tudo uma vigarice! 

- Recomeçou o campeonato nacional de futebol. E lá fica metade do povo adormecido com a bola até maio! 

- Parece que se avizinha um novo aumento do IVA. É caso para perguntar: E então?! Qual é a novidade?! Até parece que os portugueses não estão habituados a aumentos de impostos! 

- Lá por fora, um jornalista americano foi degolado e decapitado pelo Estado Islâmico; um avião comercial foi abatido, ao que tudo indica pelos rebeldes separatistas ucranianos, matando 298 pessoas; o vírus Ébola deixou as fronteiras da Libéria e espalha-se perigosamente pelo continente Africano; em suma, o ser humano continua a contribuir de forma decisiva para a sua destruição. 

Vou terminar como estive quase para começar: Escrever esta crónica está a custar-me imenso, hoje é um dia aborrecido para mim, pois ontem terminaram as minhas férias. Mas depois pensei que afinal o fim das férias é um bom sinal, é sempre bom saber que o seu fim provoca o início do período de trabalho, coisa de muito valor nos dias de hoje, especialmente em Portugal. 

* O autor escreve a palavra FESTIVAL em letras maiúsculas pois é o mínimo que pode fazer para honrar tal acontecimento. 

Crónica publicada na edição 255 do Notícias de Coura, 2 de setembro de 2014.