terça-feira, 21 de fevereiro de 2017

A Universidade Invisível


Isso não existe! Alguma vez se viu uma universidade invisível!? 
Foram estas as palavras de alguém quando lhe disse que iria frequentar esta universidade. Pois bem, na verdade isso nunca se viu, e provavelmente nunca se irá ver, mas existe e sente-se, o que é bem mais importante! 
A Universidade Invisível é mais um projeto (ou criação ou loucura, ou que lhe quiserem chamar) das Comédias do Minho. Essa companhia de teatro que insiste em levar o teatro às aldeias, cria agora uma universidade que leva aos “seus” cinco municípios do Vale do Minho. Durante um ano, e num fim de semana de cada vez, a universidade viaja, leva consigo alunos e professores e organiza-se em torno de vários géneros artísticos: artes visuais, teatro, dança, música, cinema e performance. 
Nesta universidade não há aulas nem exames. A abordagem teórica aos temas faz-se através de conferências ou palestras, momentos de puro prazer de quem transmite e de permanente intervenção de quem assiste, nunca se sabe o destino de tais conversas e as portas abertas ao longo das conversas são tantas e tão interessantes, que temos vontade de lá ficar, entrar em todas elas e explorar as tantas curiosidades trazidas à conversa. 
Na primeira sessão de trabalho, e após uma manhã deliciosa sobre “Isto é arte?”, somos contemplados com um intervalo para almoço. E o que é que isto tem afinal de diferente? É que para sobremesa, temos a possibilidade de assistir a uma peça de teatro(1)! Esqueçam lá as dietas, sobremesas destas, muitas! 
Nesta universidade as sessões de trabalho/discussão/debate são cheias de livros, de citações inquietantes, de imagens perturbadoras, de autores sem fim que mais do que esclarecer, abrem-nos dúvidas e desejos de aprofundar alguns temas. Para fechar o dia, temos a oportunidade de assistir a mais uma peça de teatro(2) e de conversar no final com os atores. 
O dia foi cansativo, o temporal que assolou a região do Minho neste fim de semana convidava a ficar em casa mas, ainda bem que temos a coragem de sair. Estar rodeado da “malta do teatro” é muito enriquecedor, não só pelo que aprendemos e pelo que nos é dado a conhecer mas também, porque é uma forma de aprender com aqueles que já são nossos amigos, e isso torna tudo mais fácil. 
As Comédias do Minho continuam assim a fazer a história de um território, depois de levarem o teatro às aldeias, de criarem um festival itinerante de teatro amador, de levarem os grupos de teatro amadores às “capitais do Império”, de levarem as crianças para o palco, de fazerem das crianças autores de guiões, criam agora esta universidade invisível e itinerante, que aparece sem avisar e desaparece deixando o rasto apenas nos espíritos de quem a frequenta. 
Que mais nos irão trazer as Comédias do Minho? 
Sei lá, nem me interessa para já. Estou ansioso por dizer novamente: - Neste fim de semana estou ocupado, tenho de ir para a Universidade! 

(1) Utopia, de Gonçalo Fonseca, Comédias do Minho. 
(2) Philatélie, de Jorge Andrade, Mala Voadora.

Crónica publicada na edição 311 do Notícias de Coura, 14 de fevereiro de 2017.