terça-feira, 28 de dezembro de 2021

O passageiro

Em junho deste ano um trabalhador de limpeza da autoestrada A6 foi colhido mortalmente pelo carro onde viajava o Sr. Ministro da Administração Interna. Seis meses volvidos, o seu motorista é acusado de homicídio por negligência. O carro seguia a 163 km/h pelo que, de acordo com a acusação, “o arguido conduzia em violação das regras de velocidade e circulação previstas no Código da Estrada e com “inobservância das precauções exigidas pela prudência”. Foi também apurado que o carro seguia pela via da esquerda, apesar da inexistência de trânsito. Acidentes acontecem, e que atire a primeira pedra quem nunca prevaricou. (Eu não atiro.) Toda esta situação não indignaria a opinião publica se a postura do Sr. Ministro não fosse tão arrogante e indigna.

Desde sempre o Sr. Ministro sacudiu as culpas, obviamente que ninguém o acusaria de homicídio, obviamente que em nenhum momento o Sr. Ministro, e muito menos o motorista, tiveram intenção de matar aquele pobre trabalhador. O que deve envergonhar o país é nunca ter existido um pedido de desculpas publico do Estado, nem sequer no funeral houve representação Estatal. Indesculpável foi também a postura do Sr. Ministro ao longo do tempo, só prestou declarações muito tempo depois, e apenas para afirmar que não viu sinalização na estrada que indicasse obras e que não deu indicações para acelerar. Acho incrível como é conseguia estar atento a olhar para a frente e não se ter apercebido da velocidade a que o carro seguia. Nem ele, nem nenhum dos ocupantes. Em determinada altura ainda se atreveu a culpar o trabalhador, de facto, o que é que ele estava a fazer na estrada? O que é que ele tinha ido fazer ao separador central?

Entretanto, e para não se pensar que isto dos carros dos ministros andarem a acelerar é coisa rara, dois canais de televisão apresentaram reportagens onde filmaram alguns Ministros a serem conduzidos a mais de 200km/h na autoestrada e até a mais de 160 km/h em estradas nacionais. E não seguiam em missão urgente. Confrontado com a situação, o Sr. Ministro do Ambiente, João Pedro Matos Fernandes, assumiu a situação dizendo que já falou com o motorista e que tal nunca mais voltará a acontecer… mas não se coibiu de afirmar que “não era eu quem ia a conduzir.”

Mas aquele senhor (agora o “s” minúsculo é propositado) Ministro, Eduardo Cabrita, ainda conseguiu ter uma postura mais baixa e arrogante quando o motorista foi formalmente acusado. Questionado pelos jornalistas, disse num tom “raivoso” que ele “era apenas um passageiro”. Obviamente que depois disto, não havia outro caminho que não a demissão. Mas, se pensam que acaba aqui… não. Até no pedido de demissão conseguiu piorar. Vangloriou-se da sua postura no combate à pandemia, afirmou que desde 2017 não morreu nenhum civil nos incêndios rurais, e que se demite pois não pode permitir o aproveitamento político da situação, ou seja, demite-se para não prejudicar a imagem do seu partido, agora que vamos para eleições. Costuma-se dizer que mais vale tarde que nunca, mesmo sendo tarde demais, é caso para dizer: finalmente. A culpa não é só dele, por mais amizade que o Sr. 1.º Ministro lhe tivesse, já o devia ter demitido há muito… mas a teimosia de António Costa vence sempre.

Para terminar, permitam-me mais uma provocação… então a polícia sul-africana atreve-se a prender João Rendeiro e a publicar a sua fotografia em pijama? Ainda por cima, um pijama que é oferecido pela companhia de aviação Qatar Airways a quem viaja em 1.ª classe? Haja decência. Deixo as palavras que ouvi de Fernando Alves na TSF: “Não quero ver um homem de pijama contra a sua vontade. Ainda que seja um canalha.”

A todos os leitores, desejos de um feliz Natal e um ano de 2022… melhorzinho!

Crónica publicada na edição 423 do Notícias de Coura, 21 de dezembro de 2021.

quinta-feira, 16 de dezembro de 2021

Entrevista ao fugitivo

Começaram no passado dia 22 de novembro as transmissões televisivas da CNN Portugal, um novo canal de informação que substituiu a TVI24. CNN é uma marca de informação lançada há 40 anos nos Estados Unidos e uma referência mundial no jornalismo. Em Portugal o canal resolveu incluir na programação do primeiro dia de emissão, uma entrevista a João Rendeiro! (Este ponto de exclamação significa que quase pensei estar a ver a CMTV).

João Rendeiro, ex-presidente do Banco Privado Português (BPP) tem no seu currículo 3 condenações recentes: 10 anos de prisão efetiva por crimes de fraude fiscal, abuso de confiança e branqueamento de capitais; 5 anos e 8 meses de prisão efetiva por falsidade informática e falsificação de documento e 3 anos e 6 meses de prisão efetiva por burla qualificada. Apesar de tudo isto, João Rendeiro informou no verão a justiça que ia passar uns dias a Londres e que regressaria no dia 30 de setembro. Sabe-se agora que não pretende voltar, a menos que, segundo palavras do próprio, seja ilibado dos crimes ou lhe seja concedido um indulto por parte do Presidente da República.

Através de uma nota do Conselho Superior de Magistratura, a juíza que presidiu ao coletivo que julgou João Rendeiro afirmou que não houve “qualquer informação da qual pudesse antever-se um concreto perigo de fuga”. O próprio João Rendeiro afirmou que quando viajou para Londres não tinha planeado a fuga. No entanto, sabe-se agora que passou uma procuração forense ao seu advogado, Carlos do Paulo, com data de 25 de agosto, onde lhe concede poderes de representação jurídica em qualquer processo de extradição. Curioso…

Entretanto, soube-se também há dias, que as 124 obras de arte arrestadas pela justiça a João Rendeiro não estavam à guarda do Estado, as obras continuavam em sua casa à guarda da sua esposa, que tinha sido nomeada fiel depositária das mesmas. Estranhamente, parece que desapareceram 15 obras de arte e suspeita-se da autenticidade de pelo menos 3 delas. Só agora as obras de arte foram transportadas para as instalações da Polícia Judiciária (PJ). Estas obras, pinturas e esculturas, foram apreendidas há 10 anos para servirem de indemnização aos lesados do BPP. Três destas obras foram vendidas pela leiloeira Christie’s entre março e outubro de 2021, rendendo a João Rendeiro 229 mil euros. A esposa, incorre agora no crime de descaminho de coisa pública. Todos estes factos parecem retirados do argumento de um filme italiano mafioso, no meio de tanta vigarice e estratagema, a esposa arrisca-se a ser a única a ir parar atrás das grades. É mais um triste exemplo da justiça em Portugal.

A PJ encontra-se a analisar o vídeo da entrevista em busca de pistas que ajudem a localizar João Rendeiro. Pelo aspeto dos cortinados deve estar na casa de alguma Tia-Avó. Alguém já se lembro que as autoridades portuguesas têm ao seu serviço outro “condenado”, o hacker Rui Pinto? Coloquem o rapaz nos computadores da CNN e ele descobre a localização do ex-banqueiro em três tempos!

Numa coisa João Rendeiro é capaz de ter razão, quando diz “Como nunca paguei nada a ninguém e não tenho segredos de Estado, sou um poderoso fraco”, lembrando um outro ex-banqueiro que segue a sua vida tranquila em Lisboa, Ricardo Salgado. Afirma também que a justiça portuguesa tem dois pesos e duas medidas e justifica-o pelo facto de Ricardo Salgado ser “uma pessoa que tem muita informação sobre operações delicadas e intervenientes também complexos.”

Na minha mordaz forma de ironizar com tudo isto apetece-me dizer-lhe: - Esqueça-se de tudo. Já pensou em tentar safar-se alegando esquecimento?

É uma pena as centenas de pessoas que foram lesados pelas vigarices destes ex-banqueiros não possam também esquecer-se. É uma pena os portugueses não se poderem esquecer que estão há anos a pagar as vigarices de alguns bancos portugueses.

Crónica publicada na edição 422 do Notícias de Coura, 7 de dezembro de 2021.

terça-feira, 30 de novembro de 2021

Um país à deriva

Tráfico nas forças armadas: Há uns dias veio a público a notícia de que havia suspeitas de tráfico nas forças armadas. Alguns militares envolvidos em missões da ONU em África, aproveitaram o facto de os aviões militares não estarem sujeitos a vigilância, para trazer para a Europa diamantes, algum ouro e droga. Até aqui não é caso para admiração, a denuncia foi investigada desde o final de 2019 e os principais suspeitos já estão em prisão preventiva, e obviamente que isto não coloca em causa, como disse, e bem, o Sr. Presidente da República, a “excelência das forças armadas”. O que é grave neste caso é os mais altos responsáveis da nação não terem conhecimento das investigações. João Gomes Cravinho, Ministro da Defesa diz não ter informado António Costa, este por sua vez diz que não podia ter informado o Sr. Presidente da República pois de nada sabia. A mim parece-me grave, ainda mais quando o Sr. Presidente da República é o Comandante Supremo das Forças Armadas. O Ministro da Defesa alega o segredo de justiça e a separação de poderes para se ter mantido em silêncio, o que só tem explicação caso João Gomes Cravinho suspeitasse do envolvimento de algum dos dois. É mais uma trapalhada a fazer recordar Tancos.

Covid de regresso: Os números de casos positivos sobem de dia para dia, e embora alguém tenha dito que “agora a situação não é grave pois a probabilidade de morrer é menor”, Portugal já tem saudade de quando o Vice-Almirante Gouveia e Melo comandava isto tudo. Obviamente que a 3.ª dose já devia estar a ser administrada a todos os idosos e profissionais de saúde, e não na modalidade de casa aberta, mas nos mesmos moldes do anterior processo de vacinação, ao mesmo tempo que a vacinação nos lares já devia estar finalizada. Da mesma forma, o alívio nas medidas foi exagerado, quem anda pelas redes sociais e pelas ruas vê que maior parte do povo esqueceu o Covid, as festas voltaram, distanciamento social é uma mera recordação, e até as máscaras já estão ao preço da chuva pois quase ninguém as compra. Os Países Baixos, embora com mais de 83% da população vacinada, impuseram um confinamento parcial de 3 semanas para combater o aumento exponencial de casos positivos. Esperemos que por cá não tenhamos uma desagradável surpresa.

Direita em guerra interna: Já não devia surpresa para ninguém que quando “cheira a poder”, há sempre lutas internas nos partidos e candidatos que tentam “atacar a cadeira do poder”. No CDS, a coisa é tão grave que a atual liderança nem sequer admite congressos antecipados. (Na minha desinteressada opinião, faz bem, esta coisa de não haver respeito pelos mandatos internos nos partidos é uma vergonha, qualquer argumento é bom para se anteciparem eleições, quer sejam elas derrotas eleitorais ou vitórias por poucochinho!) No PSD a coisa acaba por ser mais engraçada! Vai haver eleições, Paulo Rangel acusa Rui Rio de não fazer oposição a António Costa, Rui Rio diz que não quer debates internos pois está concentrado em traçar um plano para o país e fazer oposição a António Costa. Tal como escrevi na crónica anterior, andam tão zangados entre eles, que António Costa só precisa estar calado e aparecer pouco para ganhar as eleições.

António Costa disponível para consensos: Quase parece uma piada, mas é mesmo verdade, António Costa, bem com alguns líderes do Partido Socialista, têm vindo a público espalhar a mensagem de que estão disponíveis para consensos alargados! Mas então, será que querem coligar-se novamente com o BE e o PCP, responsáveis diretos pelo chumbo do Orçamento de Estado e pela antecipação das eleições? Será que imaginam coligar-se com o PSD, de quem há tempos o 1.º Ministro afirmou que “no dia em que o governo depender do PSD, o governo cai”? Será que António Costa pensa que vai chegar à maioria absoluta? Ou será que pensa que vai chegar quase à maioria absoluta, ficando o apoio do PAN a chegar para governar?

Sondagens: Esta crise política é particularmente interessante para as empresas de sondagens, quer aquelas que fazem um trabalho independente ao serviço de alguns órgãos de comunicação social, quer aquelas que contratadas pelos partidos políticos, têm um trabalho mais difícil, pois têm de tentar agradar aos clientes sem colocar muito em causa a credibilidade. A última sondagem do Expresso não trouxe novidade nenhuma, PS destacado, maioria dos partidos da esquerda, “quase” desaparecimento do CDS e, o Chega como terceira força política! Não acredito que tal aconteça, mas se acontecer, como vão os outros partidos reagir a esta “maldade” da democracia?

Crónica publicada na edição 421 do Notícias de Coura, 23 de novembro de 2021.

terça-feira, 16 de novembro de 2021

Crise política à vista

Esta crónica está a ser escrita no dia 25 de outubro pelas 20 horas. Hoje é o dia de a enviar para a redação do Notícias de Coura e, embora já tivesse em mente falar da crise política que se avizinha, nunca pensei que tal estivesse na iminência de acontecer. Apesar de ainda ter a possibilidade de esperar pelas decisões da reunião de Conselho de Ministros convocada extraordinariamente por António Costa para esta noite (madrugada), vou arriscar a escrevê-la já com aquilo que acho que vai acontecer.

Nos últimos dias o governo tem estado em negociações com os partidos de esquerda com o objetivo de chegar a acordo para a aprovação do Orçamento de Estado. Ontem, um dos parceiros da anterior geringonça, o Bloco de Esquerda, anunciou que votaria contra. Catarina Martins afirmou que o “O Orçamento do Estado para 2022 não responde aos problemas relevantes dos restantes serviços públicos. Na educação, quando mais de 40 mil alunos estão sem aulas ou sem parte das aulas por falta de professores, não existe qualquer medida de valorização da carreira docente. Na saúde, existem mais de um milhão de utentes sem médico de família.” O voto contra do BE não é grande novidade, já no ano passado aconteceu.

Novidade é sim aquilo que hoje veio a público. Ao contrário da opinião de grande parte dos comentadores políticos dos vários canais televisivos, o Partido Comunista não “vestiu” o traje de partido responsável, e anunciou o voto contra este Orçamento de Estado. Jerónimo de Sousa anunciou-o afirmando que "Portugal não precisa de um Orçamento de Estado qualquer, precisa de resposta aos problemas existentes que se avolumam à medida que não são enfrentados.”

Neste momento, o governo precisa de 15 abstenções, ainda só tem 5 garantidas, tendo todos os outros partidos já afirmado que irão votar contra. Resultado: quando o orçamento for a votos, chumba.

A culpa da radicalização nas negociações deste Orçamento de Estado é, na minha humilde opinião, do Senhor Presidente da República. Quando há uns tempos Marcelo Rebelo de Sousa afirmou que se não houvesse Orçamento de Estado aprovado haveria eleições, estava a “meter a foice em seara alheia”, perdoem-me a expressão, e é com respeito que a faço. A elaboração do Orçamento de Estado é da responsabilidade do governo, a sua aprovação ou não é da responsabilidade da Assembleia da República. Só depois disso acontecer é que o Senhor Presidente da República se deveria ter pronunciado. Na minha também humilde opinião, ao fazer tais afirmações o Senhor Presidente deu a António Costa motivos para ser intransigente nas negociações e provocar eleições antecipadas. O PS até pode perder alguns votos, e vai por certo perder pois já assim foi nas autárquicas, sofre o desgaste da crise dos combustíveis e ainda não pode capitalizar as “benfeitorias” dos milhões da europa que se aproximam. Por outro lado, António Costa vai culpar os ex-parceiros da geringonça pela falha na aprovação do orçamento, os partidos da direita, PSD e CDS, andam em processos de eleições internas, em processos de “guerrilha” que nunca trazem benefícios. António Costa prova mais uma vez ser o mais hábil político da atualidade, se calhar de todos os tempos, e não me admirava nada que daqui a algumas horas “tire um coelho da cartola”, anuncie a demissão do governo ou outro qualquer “golpe de teatro” que a todos espante. Não posso deixar de tirar o chapéu à coragem do PCP em manter os seus princípios e anunciar o voto contra, embora em nada me reveja em muitos dos seus ideais, é de coragem assumir uma posição sabendo que muito provavelmente vão ser penalizados nas urnas. Em 2015 foi Jerónimo de Sousa que fez de António Costa 1.º Ministro quando, após a vitória da coligação de direita PSD/CDS nas legislativas, afirmou que “O PS só não forma governo se não quiser.” Seis anos depois… parece que volta a ser o PCP a escolher o trunfo e a distribuir as cartas.

Esta crónica vai ser enviada para a redação do Notícias de Coura antes das 21 horas do dia de hoje, 25 de outubro, e vai mesmo, não pensem que estou a inventar, e a quem duvidar terei todo o gosto em apresentar as provas. Quando o jornal vos chegar às mãos vão estar em condições de dizer que adivinhei, ou que errei profundamente. Sinceramente, e embora ache que este PS de António Costa mereça “levar um apertão”, não desejo que haja eleições. Em primeiro lugar porque teria muitas dúvidas em quem votar, em segundo lugar porque me parece que eleições nesta altura só dariam força àquele perigoso partido de extrema-direita, em terceiro lugar porque se me enganar terei assunto para mais uma crónica.

Crónica publicada na edição 420 do Notícias de Coura, 2 de novembro de 2021.

terça-feira, 26 de outubro de 2021

O apagão

O passado dia 4 de outubro foi marcado por um “acontecimento dramático”, Facebook, Instagram, Messenger e WhatsApp estiveram em baixo durante várias horas, inacessíveis a milhões de utilizadores desesperados. Segundo informações posteriores da empresa tratou-se de um problema originado por alterações às configurações dos servidores. Uma falha meramente técnica deu para perceber até que ponto está o mundo, estamos todos, tão dependentes das redes sociais e das suas conexões. Foram vários os relatos de pessoas que acharam que o problema era da sua internet ou dos seus equipamentos, e os reiniciaram várias vezes sem no entanto conseguir resolver o problema. Eu próprio, confesso, também acabei por desligar e ligar a conexão à rede, não fosse o problema ser meu. Na verdade, aconteceu numa tarde em que me encontrava em Trás-os-Montes a “cortar lenha”. Como não andava com o telemóvel no meio das giestas, arrancava meia dúzia delas e depois verificava se o Instagram já funcionava (estava a tentar publicar uma fotografia), como não dava, pegava novamente na machada e no serrote e cortava mais umas quantas giestas. A vantagem do problema ter durado toda a tarde foi o azar das giestas, e a sorte dos meus Pais que ficaram com lenha para duas semanas! No Pai Tirano, na falta dos pastéis de camarão e dos rissóis de carne bebiam-se dois copos de vinho branco, eu, na falta do Instagram, cortava mais umas giestas!

Quem ganhou com este problema foi o Twitter; durante todas estas horas foi a rede escolhida para milhões de utilizadores se manterem “vivos” nas redes sociais, e foram milhares os memes criados para gozar com a situação. Entre eles, a verdadeira causa do apagão: “Zuckerberg tropeçou nos cabos de rede e desligou tudo”! Num outro, irónico mas assustadoramente verdadeiro, vê-se Zuckerberg a dizer: “Vou desativar todas as redes sociais para vocês viverem um pouco!” Uma das piadas mais engraçadas que me lembro de ver (infelizmente não me lembro de quem, mas era um jogador de futebol), onde ele afirmava: “Durante o apagão do facebook aproveitei para falar com a minha esposa, e pareceu-me boa pessoa!”

Piadas à parte, mais do que um entretenimento as redes sociais são um negócio de milhões, a empresa de Zuckerberg perdeu num só dia mais de 6 milhões de dólares; por outro lado, o Telegram, um serviço de mensagens instantâneas (parecido ao WhatsApp), ganhou mais de 70 milhões de novas adesões. Como em tantas coisas na vida, "a desgraça de uns faz a felicidade de outros".

Alguns especialistas em comportamento humano alertaram para a importância deste apagão, muitas pessoas aperceberam-se de como de facto estão dependentes das redes sociais, da necessidade de as consultar 20 ou 30 vezes por dia, e do medo de estarem sozinhas. Ao mesmo tempo, muitas experienciaram uma sensação de alívio, ao perceber que não estavam a perder nada porque simplesmente nada estava a acontecer! Anna Lembke, professora de psiquiatria e ciências comportamentais da Universidade de Stanford afirma que “embora o vício em redes sociais não esteja atualmente incluído na categoria de transtorno mental, as redes sociais são viciantes.” O terapeuta John Duffy, recomenda mesmo uma “desintoxicação digital de um mês para desenvolver uma relação mais consciente com as redes sociais.” Segundo afirma, depois disto as pessoas passam apenas 1/3 do tempo nas redes sociais, e aumentam a sua autoestima.

Não será fácil nos dias que correm, principalmente porque os telemóveis são hoje um instrumento de trabalho, e a menos que os deixemos em casa, é inevitável sempre que pegamos nele irmos espreitar o que se passa nas redes sociais, é a curiosidade humana a trabalhar! Talvez fruto destes últimos acontecimentos, e das acusações dos efeitos negativos do Instagram na saúde mental dos jovens, o Facebook revelou que vai introduzir ferramentas de controlo parental para obrigar os jovens a fazerem uma pausa. Talvez já nem seja necessário… há cada vez mais jovens “agarrados” ao TikTok!

Crónica publicada na edição 419 do Notícias de Coura, 19 de outubro de 2021.

terça-feira, 12 de outubro de 2021

Resultados eleitorais

Esta foi uma crónica em que não me preocupei minimamente com a necessidade de arranjar assunto. Tive a sorte de ter de a escrever no fim-de-semana das eleições legislativas, e portanto bastou esperar até serem anunciados os resultados eleitorais para arranjar vários pontos interessantes para umas quantas linhas, algumas com satisfação, outras com alguma preocupação e tristeza, mas que temos de aceitar em virtude de, como um disse Winston Churchill, “a democracia ser o pior dos regimes, à exceção de todos os outros.” Aqui ficam então, os aspetos mais relevantes da “minha” noite eleitoral:

1. Abstenção: Ultrapassou os 46%, é assustador ver que quase metade da população portuguesa está-se a “marimbar” para a democracia, desculpem-me o termo. Por mais que muitos partidos e muitos políticos “deixem muito a desejar”, não é a melhor forma de o manifestarmos. No Ensaio sobre a Lucidez, Saramago faz uma crítica mordaz ao poder político, quando num qualquer país mais de 70% da população vota em branco. E se por cá acontecesse algo parecido? Ficariam os políticos preocupados?

2. Chega: Se a abstenção não é a melhor forma de responder ao descontentamento com a política, votar em determinados partidos, daqueles em que o povo vota “só para chatear”, talvez também não seja melhor. O Chega obteve mais de 200 mil votos, elegeu 19 vereadores e ficou em 4.º lugar. Para um partido com pouco mais de 2 anos e com ideais que muitos consideram perigosos, pode ser assustador.

3. Santana Lopes: Vinte e quatro anos depois, Pedro Santana Lopes volta a vencer as eleições na Figueira da Foz e torna-se novamente Presidente de Câmara. Como independente, e contra todos os aparelhos partidários, Santana Lopes demonstrou o que é ser um político da velha guarda. Foi a minha primeira alegria da noite eleitoral.

4. Carlos Moedas: A minha segunda alegria da noite eleitoral foi a vitória de Carlos Moedas na capital. Este também, contra tudo e contra todos, venceu aquela que no fundo é Câmara mais importante do país. Carlos Moedas mostrou ao longo da campanha ser um político do qual não é difícil gostar, transpira simpatia, respeito e honestidade. Apesar de Fernando Medina ter assumido a derrota como “pessoal e intransmissível”, António Costa tem muita responsabilidade também. Andar pelo país a fazer da “bazuca” uma arma de campanha ficou-lhe mal, tentar passar a ideia de que com autarcas do PS seria mais fácil às autarquias aceder aos milhões da “bazuca” foi um truque baixo. Incompreensível para aquele que é, na minha e na de muitos comentadores, o mais hábil político do país.

5. Valença: O resultado de Valença deixou-me triste e feliz ao mesmo tempo. Depois do meu amigo Jorge Mendes ter deixado a Câmara para rumar à Assembleia da República, o PSD fragmentou-se, essa divisão levou a que o PS ganhasse as eleições. O movimento independente Fortalecer Valença, liderado por José Monte, integrava nas suas listas a Professora Catarina Domingues, que em tempos passou por Paredes de Coura, e com a qual tive o privilégio de trabalhar. Valença pode ter perdido uma excelente Vereadora da Educação, mas as crianças que a vão continuar a ter como Professora ganharam ainda mais!

6. O meu concelho: Fruto da minha mudança de residência, votei pela primeira vez no concelho de Alcochete. Ajudei o PS a obter a maioria na Câmara e na Junta de Freguesia do Samouco, e fiquei feliz por isso. Embora não me identifique muito com este atual PS, quando se trata de eleições locais o que importa são as pessoas, e é fácil perceber quando os executivos trabalham bem. E aqui, tive a sorte de ver obras, limpeza e bastante alcatrão durante todo o mandato, não como em muitas autarquias do país onde o alcatrão só aparece 6 meses antes das eleições. E quando é assim, é esse partido que merece o voto do povo.

7. Paredes de Coura: Esta foi daquelas alegrias que quase nem se festeja pois já se sabe que vai acontecer. Ainda assim fiquei admirado pois desta vez o PS não obteve a totalidade dos mandatos. Se calhar até é bom, ter algum tipo de oposição é muitas vezes um estímulo para se melhorar o trabalho. Apesar de estar longe, sigo com atenção o que se passa naquela que foi a minha terra durante 13 anos, e continua e vai continuar no meu coração. Continuo a achar que era muito bom que houvesse uns quantos “Vítor Paulos” pelo país fora. O PS tem muito a aprender com Paredes de Coura, e já teve tempo para isso.




Crónica publicada na edição 418 do Notícias de Coura, 5 de outubro de 2021.

segunda-feira, 27 de setembro de 2021

Terroristas em Portugal

Fomos surpreendidos há dias pela notícia da detenção em Lisboa de 2 iraquianos suspeitos de terrorismo. Os detidos, dois irmãos de 32 e 34 anos de idade chegaram ao nosso país em 2017, vindos de um campo de refugiados na Grécia e depois de terem pedido asilo a Portugal. Pelos vistos, foram logo levantadas suspeitas e os dois passaram a ser monitorizados pela Polícia Judiciária, pois são suspeitos de terem praticado crimes violentos no Iraque.

Dias depois, a notícia incrível das fotografias do Presidente da República e do 1.º Ministro tiradas no Restaurante onde os suspeitos trabalhavam. Segundo palavras do próprio Presidente obviamente que ele não conhece o “cadastro” de todos aqueles com quem é fotografado, mas o suspeito estava identificado, era seguido pelas autoridades, a equipa de segurança do Presidente devia ter sido alertada. Acho eu. Provavelmente acho mal, eu percebo pouco de questões de segurança.

Já em tempos, António Costa escrevia no Twitter que “Portugal tem sido exemplar no acolhimento a refugiados, O restaurante Mezze, em Lisboa, da associação PãoaPão, com a sua equipa do Médio Oriente, é prova da integração bem-sucedida.” Não duvido do exemplo de Portugal e da necessidade de acolher pessoas oriundas de outros países, desde que venham para o nosso país para trabalhar e para se integrar, à semelhança dos milhares e milhares de portugueses espalhados pelo mundo, no entanto neste caso Portugal esteve mal, muito mal. Se quando cá chegaram já eram suspeitos de terrorismo, a solução era simples, não lhes era permitida a entrada no país. Mas Portugal é tão bonzinho que pelos vistos ainda lhes pagava alojamento e dava uma pensão. Veja-se o que aconteceu há alguns dias na Nova Zelândia, um terrorista, perdão, suspeito, era monitorizado pela polícia 24 horas por dia, não o podiam prender pois era apenas suspeito, até ao dia em que esfaqueou 6 pessoas num supermercado, sendo abatido de seguida.

Por falar em terrorismo, eis que não posso deixar passar em claro a atuação do Sr. Dr. Juiz* Rui Fonseca e Castro. Este senhor está suspenso de funções e à entrada do Conselho Superior de Magistratura teve uma atitude de desafio e total falta de educação para com as forças policiais que simplesmente lhe pediram que colocasse uma máscara. Insurgiu-se contra as autoridades tentando rebaixar os agentes e afirmando ser o seu lugar acima de todos. O agente visado manteve uma postura educada e correta, fazendo logo prova de que de facto as posições de ambas na escala da educação são bem diferentes. Foi um momento em que eu, e se calhar alguns de vós, ansiaram por um bocadinho de violência policial, só um bocadinho, duas ou três bastonadas nunca fizeram mal a nenhum arruaceiro. Mas ainda bem que o agente manteve a calma, em Portugal os episódios de violência policial são raros, e até já aconteceu a polícia disparar sobre os bandidos e ainda ser condenada. Muito bem Sr. Agente. Mas a atuação do Sr. Dr. Juiz não fica por aqui, pouco depois acusou os membros do órgão que tutela os juízes de pertencerem a sociedades secretas e de inocentarem pedófilos. Dias depois, num vídeo colocado no Youtube, o Sr. Juiz chamou verme ao Ministro Eduardo Cabrita, acusando-o de ter dois homicídios às costas. Não me parece que haja mesmo outra solução que não seja a de expulsar este Sr. Juiz da magistratura, embora eu aproveite estas linhas que me restam para fazer uma sugestão: E que tal despachar este Sr. Juiz para o Brasil para ser entregue ao Presidente Bolsonaro!? Ainda o podia nomear Ministro da Justiça ou outra coisa qualquer! Como às vezes dizemos: “Só se estragava uma casa!”




* Como por certo os leitores já imaginam, o autor utiliza a expressão Sr. Dr. Juiz pois é assim que nos devemos referir aos mesmos. Neste caso, o autor escreve essas palavras mas no seu espírito ouvem-se outras, que obviamente não podem aqui ser reproduzidas.




Crónica publicada na edição 417 do Notícias de Coura, 21 de setembro de 2021.

segunda-feira, 13 de setembro de 2021

Mesmo em cima da hora!

Comecei a última crónica partilhando com os leitores a minha leve irritação pelo facto das férias estarem a acabar, mas algo descansado pois em poucos dias elas voltariam. Desta vez, coincidência das coincidências, escrevo esta crónica a poucas horas de regressar ao trabalho, mas desta vez já não há mais férias! (Vai trabalhar malandro, diz-me a voz da consciência, daqui ao Natal é um “pulinho” e depois lá terás mais uma semana de descanso.)

Esta foi uma crónica especialmente difícil de escrever, não sei se a razão é o estado adoentado que há dias me persegue, se é mesmo a falta de ideias, se calhar é efeito da vacina Pfeizer… começo a suspeitar que tudo é culpa da vacina, e não da idade! Hoje é terça-feira, são sete da manhã do dia seguinte àquele em que religiosamente envio o artigo para o Notícias de Coura, mas como na mensagem que recebi dizia “Armando, artigo até terça-feira, por favor”, vou fazer como os meus alunos, se é até terça, é até à meia-noite! Brincadeira… tenho de acabar isto até às 8 da manhã, e dois parágrafos já estão! Vamos lá então escrever qualquer coisa minimamente interessante sobre a atualidade.

Regresso às aulas: Está a começar mais um ano letivo. Vai continuar quase tudo na mesma, as máscaras, o distanciamento social, embora este ano esteja prevista a realização de testagem já nas primeiras semanas de aulas, o que é uma medida mais do que justificável e necessária. Ao mesmo tempo, o país está quase a atingir a percentagem de vacinação que permite falar em “imunidade de grupo” e os mais jovens foram vacinados. Entretanto, a Organização Mundial de Saúde recomenda menos alunos por turma… aquela medida que todos os governantes anunciam mas que, estranhamente, poucas vezes se vê concretizada… havendo até casos em que é o próprio Ministério de Educação a autorizar a abertura de turmas maiores que o limite legal. Será um ano letivo que se aproximará sem dúvida da normalidade há muito desejada, talvez no 3.º período já possamos ver a cara uns aos outros!

Estado de contingência: Portugal antecipou numa semana as medidas previstas para setembro, aumentam os limites de clientes nos restaurantes, de espetadores nos espetáculos culturais e desportivos, os serviços públicos deixam de exigir marcação prévia e os transportes públicos deixam de ter lotação máxima. Aos poucos o país está a regressar à normalidade, muito graças à eficácia do plano de vacinação. Creio que a medida mais perigosa é mesmo o fim da lotação máxima nos transportes, associada à previsível medida de deixar de ser obrigatória a utilização de máscara na rua, coisa que ainda não sendo, já o parece ser, pois vê-se cada vez mais gente sem máscara, e são poucos os que a colocam quando se aproximam de alguém.

Campanha eleitoral: “Eles andem aí!” Pois é, as eleições autárquicas aproximam-se e as cidades começam a estar cheias de cartazes publicitários, grupos de políticos sorridentes invadem feiras e mercados, distribuindo folhetos com 1000 promessas que não pretendem cumprir, um cenário que todos conhecemos, bem podemos agradecer ao Covid a proibição dos beijinhos e dos abraços. Os resultados são mais do que previsíveis, o PS vai ganhar e o PSD vai levar (mais) uma tareia, as únicas coisas que podem dar algum interesse a estas eleições são a quantidade de votos do Chega, e se é desta que o CDS-PP desaparece! Ah, quase me esquecia de outro ponto de interesse: - Voltará Pedro Santana Lopes a ser Presidente da Câmara da Figueira da Foz!?

E está feito! Ainda não são 8 da manhã e acabei. Já só falta guardar, fechar o documento e enviar por email! Vamos lá ver se nas próximas duas semanas acontecem algumas coisas interessantes no país que me ajudem a arranjar assunto!  

Crónica publicada na edição 416 do Notícias de Coura, 7 de setembro de 2021.

segunda-feira, 16 de agosto de 2021

Otelo, medalhas e vacinas.


Na última crónica falei das férias que se aproximavam. Hoje escrevo-vos com a irritação de ter de ir trabalhar amanhã, mas são apenas mais dois ou três dias, depois volto a ter mais três meses, perdão, três semanas de descanso! Não vos querendo maçar com uma crónica inteira sobre um mesmo tema, volto a dividir o meu texto em partes, torna-se bem mais fácil para mim, e tenho a possibilidade de não desagradar a tantos leitores, de entre dois ou três assuntos, algum lhe deve agradar!

Otelo: Morreu Otelo Saraiva de Carvalho e não houve luto nacional. Eu acho uma vergonha, mas como já nasci depois do 25 de abril se calhar não tenho direito a achar nada. O luto nacional é declarado quando morrem as altas figuras do Estado, ou quando o governo assim o entende. Usar o argumento de que não é comum os militares terem luto nacional é lamentável. Não vou obviamente comparar Otelo com outras figuras como Eusébio, Carlos do Carmo, Manuel de Oliveira ou D. José Policarpo, mas foi graças a ele que morreram em liberdade, viveram os seus últimos anos em democracia e tiveram até direito a luto nacional. Caso Otelo não tivesse tido a ousadia e coragem (alguns chamam-lhe loucura) de fazer o que fez, será que o país era hoje o que é? (Não quero com isto dizer que somos um país exemplar, longe disso, mas pelo menos até eu tenho a oportunidade de escrever isto, e têm vocês, leitores, a oportunidade de o ler). Termino com um pequena história que provavelmente muitos conhecem, quando uma jornalista, que não conhecia Otelo Saraiva de Carvalho, lhe perguntou onde estava no 25 de abril, ao que ele respondeu: “Oh menina, eu sou o 25 de abril!”. Com todo o respeito me dirijo ao comandante: “Obrigado pá, obrigado!”

Medalhas: Na noite em que escrevo esta crónica Portugal ainda “só” conquistou 2 medalhas, uma de prata, Patrícia Mamona no triplo salto, e outra de bronze, Jorge Fonseca no judo. Ao mesmo tempo percebe-se a razão, em muitas publicações que se vão tornando virais pelas redes sociais, e onde se pode ler: “Um país quer medalhas mas só pensa em futebol; um país que tirou horas à disciplina de educação física, quer medalhas olímpicas; um país onde os alunos que querem praticar desporto profissional são obrigados a ter uma carga letiva absurda, e acabar os treinos às 10 ou 11 da noite; um país que despreza a educação física no 1.º ciclo, quer medalhas.” Podia continuar mas não é necessário. A disciplina de Educação Física, tal como a de Educação Visual, TIC, Educação Musical e Educação Moral, faz parte do grupo de disciplinas da 3.ª divisão (como carinhosamente aprendi com a minha saudosa colega Alzira). E posso-vos dar imensos exemplos: Quando um aluno tinha por exemplo negativa a Português, Inglês e Educação Física, e só podia ter duas para passar, o conjunto de professores ponderava e ouvia-se então o diretor de turma dizer: “- E então? Quem é que pode subir a negativa?” E toda a gente se virava na direção de quem?! Do Professor de Educação Física é claro… e nem que a criança não conseguisse correr 10 metros, jogasse com dois pés esquerdos e não soubesse distinguir as regras do futebol das do badminton, era de Educação Física a negativa que subia. Ah… não é bem assim dirão alguns… atrevam-se a desmentir-me. Qualquer medalha trazida pelos portugueses é uma vitória, deles, da família e nalguns casos dos clubes que os apoiam. O país deve ficar orgulhoso, mas se quiser mais, tem de dar condições às crianças, desde a mais tenra idade, de praticar desporto nas melhores condições.

Vacinas: Pelos vistos a vacinação às crianças com menos de 15 anos não foi aprovada pela DGS, no continente, pois na região autónoma da Madeira já decorre a bom ritmo. A ordem dos médicos já se veio manifestar contra esta regra que cria desigualdades, pois a vacina foi apenas recomendada às crianças com morbilidades. Entretanto, já houve alguns desenvolvimentos e pelos vistos, a vacinação das crianças saudáveis vai ficar à “livre escolha dos Pais”. Pois muto bem! Eu também assinei um termo de responsabilidade quando levei a Pfeizer! Continuo com um cansaço inexplicável e por vezes com palpitações no coração. Se calhar é apenas malandrice ou outra coisa qualquer, se calhar daqui a uns anos vai-se perceber que afinal a vacina provocava outras coisas… sei lá, mas obviamente que mesmo sabendo tudo isto, levei a vacina, e voltaria a levar. Como diz o ditado, “Enquanto o pau vai no ar, folgam as costas.” Enquanto nos vão testando com as vacinas, vamos enganando o vírus. E pelo menos até agora, é a vacina que nos está a salvar.


Crónica publicada na edição 415 do Notícias de Coura, 10 de agosto de 2021.

 

terça-feira, 3 de agosto de 2021

Finalmente de férias!

Estou a escrever este artigo quando já só me resta um dia de trabalho para entrar de férias! Já!? Pois já! Mas não fiquem a pensar que vou já de férias até meados de setembro! O tempo em que os Professores tinham dois ou três meses de férias de verão já lá vai! Alguns ainda têm quase isso, mas isso é outra conversa! Este foi um ano letivo extremamente duro. Começou em setembro com muitas medidas que nos condicionaram o trabalho, as máscaras, as bolhas, o desfasamento das turmas, as portas e as janelas abertas, o afastamento entre as crianças (tantas e tantas vezes esquecido). Depois, no final de janeiro viria o pior, voltámos todos para o ensino à distância e por lá ficámos durante dois meses. A pausa letiva da Páscoa de uma semana serviu apenas para as reuniões de avaliação, estamos a trabalhar sem parar há praticamente 6 meses. Estamos todos cansados, e não é apenas um efeito secundário da vacina! Antes de ir para férias, deixo alguns desabafos sobre o que se passa na educação:

Matemática: O programa da disciplina vai mudar pela sexta vez nos últimos 30 anos. Daquilo que li, desta vez vai ser suprimida a numeração Romana e as medidas agrárias! Vou deixar isto para uma crónica inteira, de facto, a numeração Romana e as medidas agrárias são coisas sem interesse nenhum, nem utilidade! No ensino, como em áreas fundamentais como a saúde e a justiça, a estabilidade devia ser um pilar fundamental, não dependente da ideologia política de quem nos governa. Não tem sido o caso. Não vou escrever muito sobre a matemática, já o fiz algumas vezes, é uma disciplina da 1.ª divisão, tem sido das que mais tem ocupado as preocupações dos governantes nas últimas décadas. Resultados? Estão à vista.

Provas de Aferição: Ainda este ano letivo não terminou, o próximo vai começar com as mesmas medidas de combate à pandemia que o anterior, e já o governo se antecipou a publicar um calendário escolar (obviamente necessário), cheio de datas para imensas provas de aferição. Já muitas vezes critiquei estas provas e volto a fazê-lo, e continuarei a fazê-lo enquanto não vir soluções ou estratégias decididas em função dos seus resultados. Até hoje, o que é que mudou com as Provas de Aferição? Nada. Sobre as escolas são despejadas orientações e despachos, sem nunca se avaliar qual o seu impacto nas aprendizagens dos alunos. Os resultados da aferição que se aproxima vão trazer como conclusão aquilo que todos já sabem: que nestes últimos dois anos os alunos viram as suas aprendizagens comprometidas pela pandemia que vivemos, e que aprenderam pouco, e que os alunos com mais dificuldades e com problemas sociais, menos aprenderam ainda. Não é preciso ser bruxo para prever isto.

Promessas e anúncios: Foi com satisfação que ouvi o Senhor Ministro da Educação anunciar que a diminuição dos alunos por turma iria continuar. Mas depois refleti e pensei: Mas para continuar, já devia ter começado, coisa que ainda não aconteceu. Já quase parecem aqueles anúncios da contratação de auxiliares de ação educativa para as escolas, se contratassem tantos quantos prometem, as escolas teriam mais auxiliares que alunos! Mas sobre o tamanho das turmas, vou também deixar casos concretos para uma próxima crónica.

Imprecisões nos Exames Nacionais: A elaboração dos exames nacionais do ensino secundário é um processo elaborada por equipas experientes de professores, analisados por consultores, validados cientificamente por professores do ensino superior, verificados e testados por outros tantos especialistas, e ainda assim, todos os anos há gralhas, há imprecisões, há questões dúbias e constantes ajustes aos critérios de correção. Não devia acontecer. Não devia, mesmo.

Vou agora de férias durante uns dias. Quando voltar a escrever já estarei de novo a trabalhar, e às tantas até posso usar os resultados dos exames nacionais como tema de inspiração para a próxima crónica!

Crónica publicada na edição 414 do Notícias de Coura, 27 de julho de 2021.

terça-feira, 20 de julho de 2021

O Ministro azarado

O Ministro da Administração é definitivamente um homem azarado. Depois das tantas trapalhadas em que tem estado envolvido, vê-se agora embrulhado em mais um episódio lamentável, do qual obviamente não tem culpa direta mas que tardou a esclarecer.

No passado dia 18 de junho um trabalhador que fazia a manutenção da A6 foi atropelado mortalmente. No carro, que segundo algumas notícias circulava a mais de 200km/h, seguia o Ministro da Administração interna, Eduardo Cabrita. Antes de se remeter ao silêncio, a tutela afirmou que as obras na via não estavam sinalizadas, facto já negado pela concessionária da autoestrada, e por testemunhas no local. Nesta versão sou obrigado a acreditar, não me lembro de ter passado alguma vez por obras na autoestrada sem estarem sinalizadas. Depois, o acidente ocorreu na faixa da esquerda, numa estrada sem trânsito. Este facto não me admira muito, ainda se apanham muitos “artistas” na autoestrada que vão sempre na faixa da esquerda. Acredito que uma investigação séria ao acidente vai apurar todos estes dados, especialmente o da velocidade, basta analisar os dados do computador de bordo da viatura, e numa marca como a BMW aposto que até conseguem saber qual a música que vinham a ouvir no rádio. Outra das coisas estranhas que se ouviu na altura foi que o carro foi transportado depois por uma viatura da GNR, uma vez que o seguro do mesmo não cobria a assistência em viagem. Não vou duvidar, mas acho mal que as viaturas do Estado estejam tão desprotegidas. Começo a acreditar quando há uns anos ouvi dizer que as viaturas militares não têm seguro, e que se houver um acidente é o militar que vai a conduzir que acarreta com as responsabilidades e os custos. A ser verdade, é lamentável.

Mas o mais estranho ainda estava para vir. Então não é que dias mais tarde se vem a saber que a viatura ao serviço do Senhor Ministro pertence a um traficante de droga? Pelos vistos é normal o Estado poder utilizar as viaturas que estão apreendidas e à sua guarda, segundo a legislação com o propósito de não se deteriorarem por estarem paradas. Creio que esta história ainda vai dar muito que falar, é que entretanto o suposto dono da viatura, o tal traficante condenado por tráfico de droga, já veio exigir a devolução da viatura e a empresa proprietária da viatura também já veio afirmar que o leasing da viatura continua a ser pago todos os meses. Acresce ainda o facto de a viatura não estar em nome do traficante, mas sim em nome de uma empresa em que é sócia a sua sogra. Vai ser uma confusão, mesmo que venha a ser dada razão ao “senhor bandido”, quando lhe devolverem o carro ele já vai com uns milhares de quilómetros, e embora o Estado possa ser condenado a indemnizar pelos danos, o valor da viatura já fica comprometido, além de que, recurso atrás de recurso, isto pode-se estender uns anos, talvez o tempo do “senhor bandido” se tornar uma pessoa de bem. Embora não tenha nenhuma simpatia por bandidos, creio que este uso dos bens por parte do Estado, pode-se revelar nalguns casos uma grande injustiça.

Tudo isto daria para rir, tudo isto seria mais uma história cheia de trapalhadas, daquelas que “contadas, ninguém acredita”, mas não dá. No meio de tantas e tantas notícias sobre este caso, parece esquecer-se o mais importante e mais triste, morreu um homem, Nuno Santos, um homem que deixa mulher e duas filhas. Seja qual for o epílogo deste caso, para estas três pessoas a vida nunca mais será a mesma.

Crónica publicada na edição 413 do Notícias de Coura, 13 de julho de 2021.

terça-feira, 6 de julho de 2021

O espião russo

Desde sempre existiram espiões. A guerra fria foi um período fértil para a inspiração de dezenas de livros que se tornaram sucessos de vendas, muitos deles inspirando outros filmes famosos. Tratando-se quase sempre de romances de guerra, estes livros têm a sorte de ter imensas histórias reais onde se inspirarem, o escritor só precisa de ter a responsabilidade de fazer uma boa investigação e depois o talento de ficcionar uma história à volta da realidade. Da mesma forma que os humoristas se inspiram muitas vezes nas trapalhadas dos políticos para nos fazer rir, os escritores aproveitam estas trapalhadas para construir histórias dramáticas, que muitas vezes nos alertam para os perigosos tempos em que vivemos, e dos quais nem nos apercebemos absorvidos que estamos pelas redes sociais. E toda esta conversa porquê? Pela simples razão da Câmara Municipal de Lisboa ter contribuído para que, provavelmente dentro de alguns meses, saia para as bancas mais um livro de espionagem, com epicentro em Lisboa, mas onde a semelhança com a realidade será, obviamente, mera coincidência!

Em janeiro de 2021 realizou-se em Lisboa, em frente à Embaixada da Rússia, uma manifestação contra a detenção de Alexei Navalny, opositor de Putin. Para os mais distraídos, Navalny “atreveu-se” a ser opositor de Putin, estando na linha da frente nos protestos contra as fraudes eleitorais nas eleições parlamentares e presidenciais. Em agosto de 2020 foi internado num hospital após suspeita de envenenamento num ataque orquestrado pela agência russa de serviços de informação. Esteve internado e em coma durante dois dias na Rússia, sendo depois autorizado a ser transportado para um hospital alemão, onde recuperou e onde foi confirmado o envenenamento. Após recuperar voltou à Rússia e, obviamente foi detido. Ser opositor na Rússia é assinar o próprio atestado de óbito, deixando em branco apenas o espaço para a data. Voltando a Lisboa… fez-se a manifestação, como aliás em muitas outras cidades do mundo, e os serviços da Câmara Municipal enviaram os dados dos promotores para a embaixada da Rússia. Fernando Medina desculpou-se publicamente, dizendo tratar-se de um procedimento habitual nestes casos. Da embaixada da Rússia veio também uma declaração que a mim me parece ter um tom jocoso e ofensivo, só não o vou escrever não vá esta edição do Notícias de Coura parar às mãos de algum apoiante do Presidente Putin. Escreveram eles: “Os indivíduos não interessam nem à Embaixada em Lisboa, nem a Moscovo e que a "senhora ativista" que denunciou o caso "pode voltar tranquilamente para casa”. Eu no lugar dela tinha algum receio em voltar à Rússia.

Mais intoleráveis ainda foram as declarações do Senhor Ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, que sobre este caso declarou ter já pedido à Rússia que apague as informações. Ou o Senhor Ministro está a brincar, ou está a fazer dos portugueses parvos. Vou acreditar que está a brincar, como daquela vez que comparou a concertação social com uma feira de gado, como quando chamou ao Diretor de Informação da TVI, o "ayatollah de Barcarena", ou até quando pediu a Cavaco para não condecorar José Sócrates, pois isso seria uma nódoa no currículo do Engenheiro! É de facto muito engraçado este Senhor Ministro.

Entretanto, Fernando Medina vem a terreno exultar a rapidez com que foi feita uma auditoria a estes procedimentos, concluiu-se que foram enviados dados pessoais em 52 manifestações junto a embaixadas. Afirma também que as regras para manifestações foram alteradas, o gabinete de apoio à presidência foi extinto e o funcionário exonerado. Foram exigidas responsabilidades políticas, mas obviamente que tanto Fernando Medina como o PS apelidaram tais declarações como sendo “aproveitamento político”. Sobre este assunto, repito a frase com que terminei a crónica anterior: “Política, honestidade, caráter e ética, parecem ser termos em rota de colisão, impossíveis de coexistir num mesmo espaço temporal.”

Crónica publicada na edição 412 do Notícias de Coura, 29 de junho de 2021.

segunda-feira, 14 de junho de 2021

Vergonhoso, outra vez

No início do mês de maio o país futebolístico congratulava-se com o anúncio de que a final da Liga dos Campeões de futebol se iria realizar no nosso país, no Estádio do Dragão, no Porto. Mariana Vieira da Silva, Ministra de Estado e da Presidência, fez saber que os 12000 adeptos ingleses que viriam à final se deslocariam numa “bolha”, teriam de viajar com um teste negativo à covid-19, ter bilhete para o jogo e não teriam qualquer contacto com a população em geral, estando menos de 24 horas no nosso país. Para não me perder em tantas coisas que me apetecia escrever, vou agrupar isto por tópicos, é também uma forma de me acalmar… apetecia-me descarregar a indignação de tal forma que as mãos jamais conseguiriam escrever aquilo que a boca iria proferir, portanto… calma:


1 – Foram lindas e serenas as palavras da Senhora Ministra, e só são perdoáveis se tivermos em conta a impreparação política que carateriza o executivo de António Costa. Então a Senhora Ministra achava mesmo que os adeptos ingleses viriam para Portugal numa bolha?! Viriam como carneiros num avião, conduzidos ao estádio e de regresso ao aeroporto!? Já ouviu falar dos adeptos ingleses Senhora Ministra!? Eles não precisam de bilhetes para acompanhar as equipas, eles querem é viajar, beber e andar à pancada. Foram imagens lindas, fantásticas para a promoção do país, do Algarve ao Porto, passando pela “impoluta” capital, os ingleses beberam, agrediram-se, e mostraram que as regras de saúde pública são para cumprir… pelos portugueses. Triste país que permite aos estrangeiros, aquilo que proíbe aos seus.

2 – Questionado sobre os perigos da realização de um evento deste calibre em Portugal, o Sr. Secretário de Estado da Juventude e do Desporto apressou-se a dizer que o evento teria “medidas excecionais de segurança”. Viu-se. Mas não é de admirar, há casos em que os Secretários de Estado são a tábua de salvação dos Ministérios, neste caso, se o patrão já é fraco, o empregado então é melhor nem falar.

3 – A Direção Geral da Saúde recusou um pedido feito pela Federação Portuguesa de Rugby, que pretendia ter 500 adeptos na final da competição, no Estádio Nacional. Na final da Liga dos Campeões foram autorizados 12000, mas depois acabaram por ser cerca de 16000. Este é o país em que aos fins-de-semana encontramos 30 ou 40 pessoas em cima de escadotes ou bancos, junto a recintos desportivos, para poder ver os seus filhos a jogar. Triste país que permite aos estrangeiros, aquilo que proíbe aos seus.

4 – A final da Liga dos Campeões foi entre duas equipas inglesas. Ao que parece, chegou a ser equacionada a hipótese da mesma ser em Inglaterra, nada que fizesse mais sentido. A questão foi que o governo das terras de Sua Majestade não considerou estarem reunidas as condições de segurança! Vejam só, despacharam os adeptos ingleses para a periferia, vão portar-se mal lá fora. Se é para sujar, é melhor sujar o quintal do vizinho.

5 – Nunca julguei encontrar tamanha clareza nas palavras de Pinto de Costa, um dirigente que apesar de ser do “meu clube grande”, nunca me manifestou grande simpatia. Aquilo que o governo fez, foi mesmo passar um “atestado de mediocridade ao povo português”. Ao mesmo tempo que já começa a haver espetáculos musicais com imenso público, o futebol português continua de portas fechadas. Portas abertas, só para os estrangeiros.

Para terminar, deixo as palavras do Presidente do FC Porto, dirigidas ao Senhor 1.º Ministro sobre a atuação dos seus Ministros e Secretários de Estado: “Demita-os e, se não é capaz, demita-se o senhor”. Aquilo que Pinto da Costa esquece, o que é natural pois a idade não perdoa, é que hoje em dia ninguém demite ninguém pela falta de competência. Política, honestidade, caráter e ética, parecem ser termos em rota de colisão, impossíveis de coexistir num mesmo espaço temporal.

Crónica publicada na edição 411 do Notícias de Coura, 8 de junho de 2021.

segunda-feira, 31 de maio de 2021

Vergonhoso

O Sporting foi campeão! Justíssimo. Ainda há poucas semanas escrevi uma crónica sobre este assunto, portanto não vale a pena voltar a falar sobre a justiça da conquista e a alegria que iria sentir quando tal acontecesse. Aconteceu, e gostei. O que não gostei foi do clima de desobediência civil que se viveu no dia do jogo do título. De facto todos os adeptos de Sporting que conheço são boas pessoas, e para que assim continuem a ser espero bem que nenhum deles estivesse no meio daquele grupo de milhares de pessoas irresponsáveis (escrevo irresponsáveis mas no meu pensamento gravitam adjetivos que não posso aqui partilhar). Foi uma manifestação vergonhosa para o nosso país. De quem foi a culpa!? Castigue-se o Rúben Amorim.

Embora culpados, os adeptos são talvez os únicos a merecer uma pena suspensa pelo comportamento irrefletido que tiveram. Mas há algumas personagens no meio disto tudo que mereciam uns “puxões de orelhas”:

- O Sr. Presidente da Câmara de Lisboa. Apressou-se a afirmar que a Câmara não tinha o poder de autorizar, ou não, manifestações, que isso seria violar a Constituição, mas esquece-se que ainda estamos em Estado de calamidade, e o não cumprimento das regras de higiene sanitária ainda são punidas. Esquece-se também que alguém autorizou a colocação de ecrãs gigantes no exterior do estádio do Sporting, e que foi autorizado e preparado o cortejo do autocarro até ao Marquês de Pombal, apesar da discordância da PSP, num email que a Câmara de Lisboa diz só ter visto dois dias depois. Para Câmara da capital do país, é incompetência. Mas percebe-se, o Dr. Fernando Medina está mais ocupado a preparar o seu tempo de antena semanal televisivo, e não quis tomar medidas que lhe pudessem tirar votos nas próximas eleições. É político. É normal que atue desta maneira.

- O Sr. Secretário de Estado da Juventude e do Desporto apressou-se a afirmar que “não teve nada a ver como a forma como foi preparada a festa do título”, mas dias antes tinha afirmado que houve uma reunião entre o Ministério da Administração Interna e a Câmara de Lisboa para a preparação de uma possível festa, dizendo que as comemorações deviam “acontecer nas melhores condições, como as do 25 de abril e do dia do trabalhador.”

- O Ministro da Administração Interna, Eduardo Cabrita, junta mais um “caso” ao seu desempenho. Depois das golas anti fumo que afinal eram inflamáveis, do vergonhoso caso do emigrante assassinado no Aeroporto por inspetores do SEF, os braços-de-ferro com os bombeiros, o Sirespe, junta-se agora esta manifestação. O Ministério da Administração Interna tinha a obrigação de ter evitado que a festa sportinguista tomasse tais proporções. Ainda assim, António Costa afirma ter um excelente ministro da Administração Interna, o que prova que ser amigo do 1.º Ministro é condição quase única para se ser ministro.

- A DGS, que tão exigente foi com o PCP para autorizar a festa do Avante, neste acontecimento esteve completamente ausente. Talvez estejam ocupados com a vacinação, merecem portanto algum tipo de condescendência.

- O Sr. Presidente do Sporting é Médico. Nos tempos “negros” da pandemia em Portugal esteve na linha da frente do combate ao vírus, será que não considera tais festejos inadequados? Será que não se indigna, como tantos colegas seus, pelo comportamento das pessoas?

Para terminar, e porque até estou bem-disposto (embora combalido com a 2.ª dose da Pfizer), interessa salientar que foram definidas as regras para o povo ir à praia. Só se pode tirar a máscara quando se estiver a apanhar banhos de sol, as multas podem chegar aos 100 euros, e as raquetes estão proibidas. Talvez fique mais em conta estender uma toalha verde e branca na rotunda do Marquês.

Crónica publicada na edição 410 do Notícias de Coura, 25 de maio de 2021.

segunda-feira, 17 de maio de 2021

Soltem o povo

Depois de quase meio ano em estado de emergência, o país entra agora em estado de calamidade. Dito assim até parece mais assustador. Na verdade, é a forma do governo ter poderes para limitar algumas das liberdades e definir medidas de funcionamento da atividade económica para combater alguma esperança que o vírus possa ter de nos vencer, agora que nos vão “abrir as portas de novo”!

A vacinação processa-se a um ritmo que nos dá esperança de que pelo menos até ao final do mês do maio estejam vacinados a quase totalidade dos grupos de risco e dos maiores de 60 anos. Além destes, há outros grupos que vão chegar ao final do mês com as duas doses da vacina, entre eles, aquele em que me incluo, o dos professores, num processo de vacinação digno de um elogio do tamanho do mundo, extremamente rápido, organizado de uma forma fantástica, e com uma simpatia tal por parte dos profissionais de saúde, de tal forma que tive de perguntar se já estava vacinado pois quase nem senti a picada da agulha! Já que estou numa de elogiar, não posso deixar de dar aos parabéns ao Governo por ter colocado o Vice-almirante Gouveia e Melo como coordenador do Plano de Vacinação contra a covid-19, depois da sua nomeação, acabaram as “poucas-vergonhas” que se viram com a inclusão nos planos de vacinação de familiares e amigos de quem ocupava cargos de decisão. Se todas estas medidas me dão um certo alívio e esperança, aquilo que vejo na rua já me assusta um pouco. Nos últimos dias as esplanadas encheram-se de gente, sedenta de um café, de uma conversa com os amigos à mesa, sem máscara… os centros comerciais voltaram a encher-se… não que eu tenha entrado, mas habituei-me a ver cerca de 50 a 100 carros no parque de estacionamento, e da última vez que lá passei eram mais de 1000… e nos supermercados já se vê muita gente que se esquece do distanciamento social…

Enfim, isto tem tudo para correr mal, não me parece que o povo se sinta muito assustado com o vírus e esteja lembrado do que aconteceu depois do Natal, mas tenho a esperança que a coisa não vá correr assim tão mal, e embora o número de infetados vá por certo subir, a taxa de mortalidade não vai ser muito afetada, como dizia alguém informado que ouvi há dias, “quem tinha de morrer já morreu, os velhotes já estão quase todos vacinados e os riscos já são menores, e a malta que agora está a apanhar o vírus, muitos deles nem sintomas têm…”. Que assim seja, que as coisas possam lentamente voltar a algum tipo de normalidade, e que tudo não passe em breve de uma recordação, um período difícil pelo qual fomos obrigados a passar.

Em termos económicos é que não me parece que estes tempos se tornem numa recordação a curto prazo. O desemprego aumentou, centenas de empresas fecharam portas e dificilmente voltarão a abrir. O governo já apresentou muitos milhões num plano de recuperação e resiliência (PRR) que se apresenta como o salvador da pátria, são quase 17 mil milhões de euros. Mas as empresas já se queixaram que neste plano há muito investimento público e pouco apoio concreto à atividade empresarial. Ainda estes dias o governo foi confrontado com a ideia de que estava a esconder as reformas negociadas com Bruxelas, comprometendo-se depois de divulgada esta notícia a apresentar ao público todas as reformas estruturais que se propõe implementar até 2026. Vamos aguardar.

Disse um dia Winston Churchill “Nunca desperdice uma boa crise.” Curiosamente ouvi um dia destes num programa de rádio alguém afirmar uma coisa semelhante, que Portugal tinha saído mais forte da crise de 2008, e que esta crise era mais uma oportunidade para fortalecer o país. Perante isto, lembrei-me de uma frase que ouvi há imenso tempo, “Não sei se pense, não sei se diga, não sei se fale!” Não fazia ideia de quem a tinha proferido, verifiquei agora ter sido José Castelo Branco! Acabo de escrever esta crónica a rir! Que mais nos reservará o futuro!?

Crónica publicada na edição 409 do Notícias de Coura, 11 de maio de 2021.

terça-feira, 4 de maio de 2021

Prescreveu

Durante mais de três horas e em direto para as televisões, o Juiz Ivo Rosa fez a leitura da súmula da decisão instrutória da Operação Marquês.

José Sócrates foi detido no Aeroporto de Lisboa em novembro de 2014. Depois de quase 7 anos de investigações, de milhares e milhares de páginas e milhões de ficheiros informáticos, conseguir escrever uma decisão instrutória de 6728 páginas e fazer a leitura do seu resumo em pouco mais de 3 horas, é obra.

Depois da leitura atenta do documento… estou a brincar, não tive tempo obviamente de o fazer, teria de ficar um ano sem escrever as minhas crónicas no Notícias de Coura, mas li algumas páginas, e se mesmo à sorte consegui encontrar histórias delirantes, imaginem se fizesse a leitura na íntegra. Uma das primeiras coisas que fiz foi contar algumas palavras constantes no documento, e o que encontrei é interessante: Sócrates (7429); branqueamento (1769); corrupção (1598); prescrição (305); amigo (179); prescrito (63); inocente (3)! Obviamente que é natural o nome do ex-Primeiro Ministro aparecer tantas vezes, bem como das palavras branqueamento e corrupção, uma vez que se tratavam (tratam) dos crimes de que era (é) acusado, já a palavra amigo devia ser proibida de estar presente nestas coisas, a amizade é das coisas mais bonitas que pode existir, julgar alguém só pelos favores que um amigo nos faz não devia ser possível. Aproveitando aquela rábula que se vê muito das redes sociais: “Depois de saber que Sócrates tem um amigo como Carlos Santos Silva, eu sinto-me muito dececionado com os meus amigos”!

Após a leitura, e já no exterior do Tribunal, os portugueses tiveram a oportunidade de ver novamente José Sócrates com o ar de “político feroz” a que nos habituou. Assim à primeira vista até parece ter razões para isso, dos 31 crimes de que era acusado, vê apenas ser feita acusação para 6. No entanto, em muitos deles o que aconteceu foi que prescreveram, embora existam factos que os sustentem. (Isto é um bocado como aquelas histórias do bandido que foi preso em flagrante delito, se o polícia se esquecer de lhe ler os direitos, ele é libertado)! Ainda assim, e nunca esquecendo a presunção de inocência, José Sócrates esqueceu-se que foi pronunciado por 3 crimes de branqueamento de capitais e 3 crimes de falsificação de documentos, talvez não seja ainda o tempo de festejar. Nalgumas coisas não posso deixar de lhe dar razão, especialmente quando diz que foi preso e só depois investigado. De facto, quando se prende alguém já se devia ter bem sustentada a acusação e todos os factos, e tratando-se de um ex-Primeiro-Ministro mais cuidados deveria haver, não que ele mereça mais consideração que qualquer outro cidadão, mas pelas consequências para o país em termos de imagem e credibilidade internacionais. O Ministério Público foi arrasado, e talvez bem, pelo Juiz Ivo Rosa, quando considerou muitas das alegações como meras opiniões subjetivas com recurso à especulação e à fantasia. Já na questão do IRS, creio que o Juiz Ivo Rosa esteve bastante mal. De início quase parecia piada, mas afinal era mesmo a sério, José Sócrates não foi pronunciado pelo crime de fraude fiscal pois, segundo o juiz, não era obrigado a declarar no seu IRS proveitos provenientes de um crime. A verdade é que existe uma categoria no IRS para “Acréscimos patrimoniais não justificados”, seria bem engraçado saber quantos portugueses preenchem alguma coisa nesta categoria! (Qualquer dia vão obrigar os ladrões a passar recibo!) No mesmo sentido, todos os portugueses deveriam ter o direito de colocar como despesas extraordinárias no seu IRS, o que têm pago ao longo dos últimos anos para as vigarices que ocorreram nos bancos.

Por fim, deixo-vos uma das coisas engraçadas que li na decisão instrutória. Sofia Fava, ex-mulher de José Sócrates, aparece neste processo por causa de compra de uma quinta, o “Monte das Margaridas”, com o dinheiro do amigo de José Sócrates, Carlos Santos Silva. Questionada sobre as razões de tal aquisição, Sofia Fava diz ter sido uma decisão dela e do companheiro, Manuel Costa Reis. Este último, estava em processo de partilhas com os irmãos e vendeu ao irmão uma quinta no norte por 200 mil euros. Como ficaram tristes, decidiram comprar uma quinta para eles no valor de 760 mil euros. Como depois era preciso dinheiro e fiador, recorreu ao amigo do ex-marido. O português comum, penso eu, quando fica triste chora, fecha-se em casa, embriaga-se… nunca pensei que houvesse gente que comprasse quintas!

Crónica publicada na edição 408 do Notícias de Coura, 27 de abril de 2021.

segunda-feira, 19 de abril de 2021

Moçambique, Ronaldo e AstraZeneca

Finalmente começaram a matar estrangeiros em Moçambique.


Escrito assim parece uma falta de respeito, eu sei, o objetivo não é desrespeitar ninguém, é talvez apenas alertar para uma evidência demasiado triste e inadmissível, mas a verdade é que há vidas que valem bem mais que outras, e Moçambique é a prova viva (morta) disso. Desde 2017 que o país sofre com os ataques do grupo jihadista Estado Islâmico. O conflito armado no norte de Moçambique faz com que haja cerca de 700 mil pessoas deslocadas que fogem à morte, e haja quase 1 milhão de pessoas a enfrentar forme severa. A razão é simples, acho eu… a região é rica em pedras preciosas e é lá que se localiza um dos maiores investimentos de África para extração de gás natural. As notícias sempre existiram e já eram chocantes antes do último ataque em Palma. Já se ouviam relatos de imensas pessoas desaparecidas e de ruas cheias de corpos, por onde passava, o grupo terrorista semeava o terror e a morte. A diferença parece ser simples, no último ataque começaram a morrer estrangeiros, e talvez seja essa a sorte do povo de Moçambique. Nas últimas semanas já se começaram a ouvir as vozes de alguns dirigentes mundiais, inclusive do governo português que se mantinha vergonhosamente calado, nunca tendo assumido uma posição firme de condenação. António Guterres, Secretário-geral da Organização das Nações Unidas, alertou há dias para a necessidade de ajudar o país, e “pediu mais apoio internacional para Moçambique ultrapassar tripla ameaça, resultante da violência, das crises climáticas e da pandemia". Esteve bem, embora tardiamente. Quase me apetece aproveitar parte de uma rábula dos Gato Fedorento e escrever: “O que era preciso era que os Amaricanos amandassem para lá uma bomba.” Mas os Americanos têm mais apetência para ajudar povos de países ricos em petróleo…

Segundos antes do final do jogo Sérvia-Portugal, a contar para o apuramento para o Mundial, e numa altura em que o jogo estava empatado a duas bolas, Ronaldo marcou um golo, um jogador sérvio conseguiu tirar a bola de dentro da baliza e, vergonhosamente, o golo não foi assinalado. O árbitro principal até podia não ter visto, mas o fiscal de linha tinha a obrigação de ter visto a bola completamente dentro da baliza. Ronaldo revolta-se, reclama, leva cartão amarelo, atira a braçadeira ao chão e vai-se embora. Minutos depois já havia umas quantas “virgens ofendidas” a condenar o gesto. Haja paciência… digam-me lá qual seria a vossa reação… eu era bem capaz de atirar a braçadeira, e as chuteiras e a camisola e tudo o resto. Portugal tem na sua seleção o melhor do mundo, e por tudo o que já nos deu, e se calhar o que ainda nos vai dar, nem merece que se coloque a questão da desculpa. Desculpa pediu o árbitro depois pelo erro que cometeu, mas de nada vale, o que fica é o empate. Ironia das ironias, até os atos “irrefletidos” de Ronaldo são um exemplo. Dias depois a braçadeira apareceu num leilão de caráter humanitário, e rendeu cerca de 64 mil euros, quantia destinada a ajudar um bebé de seis meses que sofre de atrofia muscular.

Os Professores foram incluídos na primeira fase da vacinação contra a Covid-19. Acho bem porque sou Professor, acho bem porque é um grupo que lida com centenas de crianças diariamente, acho mal pois preferia ver vacinados os meus Pais em primeiro lugar. Depois de vacinados médicos, enfermeiros e bombeiros da primeira linha de combate à pandemia, seguir o critério da idade talvez fosse mais justo, e provavelmente mais aceite por todos. Mas adiante. Venha a vacina. E como alguém engraçado escreveu no facebook “Os professores tanto quiseram ter a vacina, que vão levar com a AstraZeneca. Bem feito!” Esta vacina tem estado sobre forte pressão, já foi suspensa por alguns países, inclusive durante uns dias em Portugal. São várias as notícias de que têm surgido casos de trombose após a vacinação. Foram identificados 30 casos de coágulos sanguíneos em 18,1 milhões de pessoas vacinadas. A percentagem é baixíssima, mas ainda assim, é natural sentir um certo receio. Qualquer um de nós pode fazer parte desses 30. Com receio ou não, quando receber o SMS obviamente que vou responder SIM. E lá vou, mesmo sabendo que tenho uma série de colegas professores que vieram de lá como se um “camião lhes tivesse passado por cima”. Pelos vistos, os sintomas são duros. É caso para alertar: Se a vacina faz isto, imagine-se o vírus.

Crónica publicada na edição 407 do Notícias de Coura, 13 de abril de 2021.

terça-feira, 30 de março de 2021

Onde vai um, vão todos!

Com este título, acabei de prender às páginas do jornal alguns adeptos de futebol! Agora falta arranjar assunto para explicar o uso desta frase da autoria do atual treinador do Sporting, Rúben Amorim.

Esta frase foi proferida pelo treinador após um empate com o Famalicão, num jogo onde a tecnologia anulou o golo da vitória do Sporting, já depois dos 90 minutos, e pelos vistos injustamente. A tecnologia, inventada pelo homem para superar as suas dificuldades e minimizar os seus erros, falhou… ou se calhar, falhou a parte humana da tecnologia.
Estas injustiças têm muitas vezes o efeito contrário, fazem com que os grupos se tornem mais fortes e unidos, quantas vezes não se vê no futebol equipas reduzidas a 10 elementos terem um desempenho ainda superior ao de quando estavam com 11?
Entretanto, o campeonato seguiu o seu curso e o Sporting foi ganhando, e foi ganhando muitas vezes já perto do final dos jogos, o que é perfeitamente legal. Estrelinha da sorte, apressaram-se alguns a dizer, invejosos… os jogos só terminam quando o árbitro apita, muitas vezes têm ganho no fim, e quantas vezes já não perderam nas mesmas circunstâncias?
Nos dias de hoje, à data em que escrevo este artigo, o Sporting tem dez pontos de avanço e só um grande percalço lhes tirará o título, mas já há coisas a acontecer cujo único objetivo é tentar fazer tremer uma equipa que se atreveu a meter-se na luta pelo título, na luta por um lugar que dá acesso aos milhões da Liga dos Campeões.
Pelos vistos, para ser treinador é preciso ter um nível 4 de formação, e enquanto os treinadores não o têm, as equipas “dão o golpe” e inscrevem-nos como treinadores adjuntos, enquanto não obtêm a certificação. Obviamente que isto é uma prática corrente, mas não faz dela uma prática correta… digo eu. Mas esta prática não foi uma “habilidade” feita agora pelo Sporting, já há anos que é assim, por que razão só agora a Associação Nacional de Treinadores de Futebol se lembrou de apresentar queixa? Treinadores como Paulo Bento, Sérgio Conceição, Petit, Silas, Nuno Espírito Santo e Pepa, são nomes que já lideraram equipas técnicas e estavam inscritos como treinadores-adjuntos. A culpa aqui é de quem permitiu que esta prática fosse sendo aceite. É justo que se faça justiça mas, só agora? Só o Rúben Amorim ou o Sporting é que vão ser penalizados?! Haja paciência para tamanho descaramento.
Queres ver que qualquer dia ainda alguém vai fazer queixa do Paulinho por ele não ter um qualquer certificado para ser Roupeiro da equipa do Sporting!? O que mais irrita nesta situação é que muito provavelmente, se o Sporting estivesse a lutar pelo 3.º ou 4.º lugar, ninguém se preocupava com essa questão.
Sabem bem os leitores do Notícias de Coura, que eu já em tempos confessei ser adepto do Grupo Desportivo do Chaves, e é esse o meu 1.º clube, em termos de grandes do futebol até sou do F.C. do Porto mas, da mesma maneira que digo “não ser carneiro de nenhum partido”, também escrevo não “ser cordeiro de nenhum clube”, e obviamente que este ataque às gentes verdes e brancas é orquestrado por quem tem poder, e quem tem poder são normalmente os grandes clubes.
Não me aborrece nada ver o Sporting na frente do campeonato. Não há adeptos como os do Sporting, tenho muitas dúvidas que os adeptos do Benfica ou do Porto tivessem a mesma admiração pelo clube se estivessem tantos anos sem ganhar um campeonato. Pois que o sejam. Quando o Sporting for campeão há muita gente que vai ficar feliz, quase todos os que conheço do Sporting são boas pessoas, estou a lembrar-me de um Advogado, de um DJ, de um Padre, de um Produtor Musical, de um Produtor de Teatro, de um Professor de EVT e de um outro de Informática, de um oftalmologista… e aposto que alguns destes que acabei de referir também vocês os conhecem. Se as pessoas de quem gostamos ficarem felizes, também nós devemos ficar. E onde for um, iremos todos.


Crónica publicada na edição 406 do Notícias de Coura, 23 de março de 2021.

segunda-feira, 15 de março de 2021

Abaixo a Ponte 25 de Abril.

Para quem não sabe, existe lá para os lados de Lisboa, junto ao Tejo, um monumento que evoca a expansão ultramarina portuguesa, relembra o passado glorioso dos portugueses, impulsionado pela grandeza da obra do Infante D. Henrique, é o Padrão dos Descobrimentos. O monumento simboliza uma caravela, na proa da qual se destaca o Infante, acompanhado de outros heróis portugueses, “navegadores, cartógrafos, guerreiros, colonizadores, evangelizadores, cronistas e artistas.”[1]

Mas o que foi isso dos descobrimentos? Como disse um dia Agostinho da Silva, “Uns acham que foi por outros, outros acham que foi pela fé, outros acham que foi pela aventura, outros acham que eles iam impelidos por uma ideia de catolicidade do Universo, outros acham que iam impelidos por outra ideia, quer dizer, o descobridor sobra no sistema filosófico. O descobridor tem o corpo mais vasto de que os paletós de que os querem vestir.” Suspeitaria ele que, um dia, alguém considerasse os descobrimentos uma vergonha para o país?

Embora a minha opinião pouco possa interessar, especialmente quando a coloco lado a lado com as das individualidades referidas nesta crónica, parece-me que os descobrimentos são algo que devemos lembrar com orgulho, se hoje se fala em globalização, aos portugueses se deve provavelmente o conceito. Por que razão se falará português em tantas partes do mundo? Agostinho da Silva dizia também que “Nós não devemos nada à Europa, a Europa é que nos deve a nós o conhecimento do Mundo”.

E esta conversa a que respeito, perguntarão os leitores do Notícias de Coura, pensando com todo o direito que estou a valer-me de factos históricos para encher mais uma crónica? Talvez em parte tenham razão. Mas a verdade é que não podia deixar passar em claro esta ideia, completamente patética, do deputado do PS Ascenso Simões, que numa crónica escrita no jornal Público veio defender que o “O 25 de abril de 1974 não foi uma revolução, foi uma festa. Devia ter havido sangue, devia ter havido mortos…”, e ainda que “o Padrão dos Descobrimentos deveria ser demolido, enquanto monumento do regime ditatorial que é”.

Depois da polémica, Ascenso Simões veio dizer que não o fez no sentido literal das palavras. Donald Trump, há pouco tempo, quando afirmou que "a eleição lhe foi roubada pelos democratas e que se teria que travar o roubo”, também não estava a ser literal, e o que aconteceu foi a invasão do Capitólio poucas horas depois. Mas de Ascenso Simões devemos sempre esperar o pior, já em tempos usou o Twitter para apelidar de “palerma”, “parvo” e “ausente de cérebro”, internautas que o criticaram. Chegou mesmo a questionar uma delas de “qual seria a sua rua e a sua esquina”. Posteriormente, alegou que a conta era falsa, mas era a que tinha registada na sua página oficial. Já em tempos, João Soares, então Ministro da Cultura, ameaçava com um par de bofetadas um colunista do jornal Observador, não lhe restando outra alternativa senão apresentar a demissão. Quando Ascenso Simões associa o Padrão dos Descobrimentos ao regime ditatorial, quererá ele também sugerir um dia, a demolição de coisas como a Ponte 25 de Abril, dezenas de escolas primárias, os hospitais de Santa Maria e São João e até o Estádio do Jamor? Nem sei por que razão em vez de terem mudado o nome à ponte não a destruíram. Isso sim, seria acabar de vez com a imagem de Salazar.

Imagine-se que na atual democracia, os sucessivos governos do PS e PSD desatavam a destruir tudo aquilo que os antecessores tinham feito!? Já nos bastam as mudanças ideológicas. Se a redução de deputados na Assembleia da República fizer com que deputados como Ascenso Simões deixem de representar os Portugueses, será uma medida positiva.
Crónica publicada na edição 405 do Notícias de Coura, 9 de março de 2021.

[1] https://padraodosdescobrimentos.pt/padrao-dos-descobrimentos/

terça-feira, 2 de março de 2021

Não vou escrever sobre isso!

Esta é a minha crónica número 111. Como é habitual, deixo a sua escrita para o último dia, e agora ando aqui aos papéis à procura de assunto. Por vezes, surgem-me algumas ideias de temas que dariam boas crónicas. Para não me esquecer, vou registando meia dúzia de palavras sobre os mesmos num documento que fica aqui “pendurado” à espera do dia em que, desesperado por assunto, lá vá espreitar. De todas as vezes que escrevo uma nova crónica, vou apagando algumas ideias que, ou já explorei ou já se tornaram tão antigas que se escrevo sobre elas ninguém se vai lembrar. Hoje foi esse dia, o dia em que vasculho por todas estes rascunhos e … pouco ou nada encontro. E agora? Deixa-me cá vasculhar mais uns minutos na Internet à procura... e nada. A Internet está pobre, não me está a ajudar, tudo o que me aparece tem pouco interesse, ou tendo interesse são assuntos que já esgotei.

Não vou escrever novamente sobre o Covid-19. Dizer o quê? Que estou farto deste confinamento? Na verdade estamos todos, especialmente os proprietários dos pequenos negócios que estão a morrer lentamente. Dizer que os números estão a melhorar? Estão sim, felizmente, mas ao ritmo que a vacinação está a ser feita não acredito que se alcance a imunidade de grupo este ano. Falar da falta de vacinas? Estamos a falar em vacinar a população mundial, como conseguem as farmacêuticas atingir níveis de produção satisfatórios? A cada semana que passa aparece uma nova variante e mais rápida a transmitir-se. Nalguns países as novas variantes já se tornaram dominantes, e para piorar ainda mais as coisas, parece que as vacinas têm uma eficácia reduzida para estas novas variantes. Um pesadelo… quando é que terminará este pesadelo? Será que ainda vamos ter a variante portuguesa? (Este é um assunto que dava umas belas piadas, mas o assunto é triste demais para tal).

Não vou escrever novamente sobre o ensino à distância. Ainda hoje um aluno meu brasileiro me dizia: “- Professor, estou farto dessa droga desse ensino à distância.” E ainda só passou uma semana. Basicamente, estamos a brincar às escolas, podemos estar todos a dar o melhor que sabemos, mas de uma forma geral os alunos fingem que aprendem e os professores fingem que ensinam. E depois, há a gigante desigualdade de condições em que os alunos estão. Há uns dias via-se na televisão uma criança da região de Bragança que tinha de ir com o computador para a serra na carrinha do Pai, para apanhar rede de internet. Obviamente que se todos tivessem os computadores e as ligações à internet prometidas, tudo seria melhor, mas não necessariamente justo. Às vezes falta muito mais do que o computador e a internet na casa dos nossos alunos. Por isso o Sr. Ministro diz repetidas vezes: “Nada substitui o ensino presencial.” E diz muito bem. Mas sempre assim foi. Ou será que só agora é que estão a ter consciência da importância do trabalho dos professores e das escolas?!

Não vou falar de futebol. Dizer o quê? Que os grandes clubes quando não conseguem ganhar se queixam sempre das arbitragens? Que os dirigentes não ajudam a um clima de paz e dignidade? Que o campeonato português se limita a 2 equipas a lutar pelo título, 3 ou 4 a lutar pelos lugares europeus e os restantes a lutar para não descer? Ah… este ano será diferente, a menos que uma grande tragédia se abata sobre o campeonato, o Sporting será campeão. (Acabei de me lembrar agora que quando o Sporting for campeão, tenho assunto para uma crónica). Não vou falar de Coura. Dizer o quê? Que estou cheio de saudades? Obviamente que estou, mas como tenho a mania que sou insensível nem quero admitir. Não vou confessar a ninguém mas tenho aqui uma crónica intitulada “Saudades de Coura”. Mas quero guardá-la. Publicá-la seria quase desistir. Quero matar as saudades de Coura sem máscara, ver o sorriso e sentir o abraço daqueles que gosto. Coragem… quem aguenta um ano, também aguenta mais alguns meses…


Crónica publicada na edição 404 do Notícias de Coura, 23 de fevereiro de 2021.