terça-feira, 16 de novembro de 2021

Crise política à vista

Esta crónica está a ser escrita no dia 25 de outubro pelas 20 horas. Hoje é o dia de a enviar para a redação do Notícias de Coura e, embora já tivesse em mente falar da crise política que se avizinha, nunca pensei que tal estivesse na iminência de acontecer. Apesar de ainda ter a possibilidade de esperar pelas decisões da reunião de Conselho de Ministros convocada extraordinariamente por António Costa para esta noite (madrugada), vou arriscar a escrevê-la já com aquilo que acho que vai acontecer.

Nos últimos dias o governo tem estado em negociações com os partidos de esquerda com o objetivo de chegar a acordo para a aprovação do Orçamento de Estado. Ontem, um dos parceiros da anterior geringonça, o Bloco de Esquerda, anunciou que votaria contra. Catarina Martins afirmou que o “O Orçamento do Estado para 2022 não responde aos problemas relevantes dos restantes serviços públicos. Na educação, quando mais de 40 mil alunos estão sem aulas ou sem parte das aulas por falta de professores, não existe qualquer medida de valorização da carreira docente. Na saúde, existem mais de um milhão de utentes sem médico de família.” O voto contra do BE não é grande novidade, já no ano passado aconteceu.

Novidade é sim aquilo que hoje veio a público. Ao contrário da opinião de grande parte dos comentadores políticos dos vários canais televisivos, o Partido Comunista não “vestiu” o traje de partido responsável, e anunciou o voto contra este Orçamento de Estado. Jerónimo de Sousa anunciou-o afirmando que "Portugal não precisa de um Orçamento de Estado qualquer, precisa de resposta aos problemas existentes que se avolumam à medida que não são enfrentados.”

Neste momento, o governo precisa de 15 abstenções, ainda só tem 5 garantidas, tendo todos os outros partidos já afirmado que irão votar contra. Resultado: quando o orçamento for a votos, chumba.

A culpa da radicalização nas negociações deste Orçamento de Estado é, na minha humilde opinião, do Senhor Presidente da República. Quando há uns tempos Marcelo Rebelo de Sousa afirmou que se não houvesse Orçamento de Estado aprovado haveria eleições, estava a “meter a foice em seara alheia”, perdoem-me a expressão, e é com respeito que a faço. A elaboração do Orçamento de Estado é da responsabilidade do governo, a sua aprovação ou não é da responsabilidade da Assembleia da República. Só depois disso acontecer é que o Senhor Presidente da República se deveria ter pronunciado. Na minha também humilde opinião, ao fazer tais afirmações o Senhor Presidente deu a António Costa motivos para ser intransigente nas negociações e provocar eleições antecipadas. O PS até pode perder alguns votos, e vai por certo perder pois já assim foi nas autárquicas, sofre o desgaste da crise dos combustíveis e ainda não pode capitalizar as “benfeitorias” dos milhões da europa que se aproximam. Por outro lado, António Costa vai culpar os ex-parceiros da geringonça pela falha na aprovação do orçamento, os partidos da direita, PSD e CDS, andam em processos de eleições internas, em processos de “guerrilha” que nunca trazem benefícios. António Costa prova mais uma vez ser o mais hábil político da atualidade, se calhar de todos os tempos, e não me admirava nada que daqui a algumas horas “tire um coelho da cartola”, anuncie a demissão do governo ou outro qualquer “golpe de teatro” que a todos espante. Não posso deixar de tirar o chapéu à coragem do PCP em manter os seus princípios e anunciar o voto contra, embora em nada me reveja em muitos dos seus ideais, é de coragem assumir uma posição sabendo que muito provavelmente vão ser penalizados nas urnas. Em 2015 foi Jerónimo de Sousa que fez de António Costa 1.º Ministro quando, após a vitória da coligação de direita PSD/CDS nas legislativas, afirmou que “O PS só não forma governo se não quiser.” Seis anos depois… parece que volta a ser o PCP a escolher o trunfo e a distribuir as cartas.

Esta crónica vai ser enviada para a redação do Notícias de Coura antes das 21 horas do dia de hoje, 25 de outubro, e vai mesmo, não pensem que estou a inventar, e a quem duvidar terei todo o gosto em apresentar as provas. Quando o jornal vos chegar às mãos vão estar em condições de dizer que adivinhei, ou que errei profundamente. Sinceramente, e embora ache que este PS de António Costa mereça “levar um apertão”, não desejo que haja eleições. Em primeiro lugar porque teria muitas dúvidas em quem votar, em segundo lugar porque me parece que eleições nesta altura só dariam força àquele perigoso partido de extrema-direita, em terceiro lugar porque se me enganar terei assunto para mais uma crónica.

Crónica publicada na edição 420 do Notícias de Coura, 2 de novembro de 2021.



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