terça-feira, 16 de julho de 2019

Final de ano letivo


Lá vou eu outra vez falar de educação! Terão de me perdoar, não fui nomeado professor, sou porque escolhi sê-lo, e é, portanto, um tema sobre o qual até sei falar, e escrever, não preciso que me façam os discursos, não tenho meia dúzia de frases decoradas e que uso conforme as ocasiões. (Dirão alguns de vós: - Presunção e água benta…; desafiem-me, escolham o local e as armas, lá estarei!)
Vou começar pelo anúncio feito há dias pelo Sr. Ministro da Educação sobre o lançamento no próximo ano letivo do Plano Nacional das Artes. Com ele, as escolas poderão nomear um Coordenador para o mesmo, e teremos residências artísticas de um ano, onde um “criador” habitará a escola promovendo a criação artística, construindo com os alunos… (blá, blá, blá). Parece-me uma ideia bonita. Não tenho dúvidas nenhumas que nalgumas escolas o Coordenador será certamente algum “artista” (professor), que terá assim algumas horas no seu horário que mais não servirão para justificar a sua própria existência, leia-se, “justificar a sua permanência na escola”. Também não tenho dúvidas, que noutras escolas, certamente na maioria, o cargo será ocupado e dinamizado por alguém que o merece e que o justificará. (Dirão vocês: - Esta última frase é para ficar bem na fotografia. – Direi eu: - É.) Não está em causa a pertinência e a importância deste tipo de projetos, o que provavelmente os responsáveis se estão a esquecer é que no âmbito das artes e das expressões, todas elas têm sido esquecidas e trocadas desde há muito tempo por mais horas de matemática, de ciências e de português, com os resultados que todos bem conhecemos. E justiça seja feita, neste aspeto o atual Ministério é talvez o menos responsável.
Também há dias, o Conselho Nacional de Educação deu-se conta de que há cada vez menos alunos interessados em ser Professores. (E deixem-me que vos diga: fazem vocês muito bem!). Segundo eles, (os sábios que o integram), a culpa era do exame de matemática exigido para o ingresso nos cursos de formação de professores. Qual a solução: recomendaram os sábios que tal exame deixe de ser exigido! Excelente solução, digo eu que “tenho a língua afiada”! Se o insucesso dos alunos é resolvido com cada vez menos exigência, porque não fazer o mesmo com aqueles que insistem em ser professores?
Estudos recentes relativos ao ano letivo anterior (2017/2018), permitem-nos saber que continua a chumbar-se muito no 12.º ano, mas as retenções estão em queda acentuada, tendo sido as mais baixas do século! Que novidade! As retenções só ainda não são nulas porque a classe docente ainda não está completamente rendida, embora cansada e consciente de que as retenções dão mais trabalho do que as transições, há professores que continuam a insistir que se os alunos não sabem, se não atingem minimamente as competências, se os seus resultados são na ordem dos 30% e se o seu comportamento é pautado por dezenas de ocorrências e faltas disciplinares, os alunos não podem transitar. Teimosos estes professores! No dia em que pautas foram afixadas, na minha escola, aqui em Paredes de Coura, ficaram-me gravadas duas frases. A primeira, de uma encarregada de educação de um aluno que dizia: “Oh Professor, do 5.º até ao 8.º não chumba quase ninguém, isto é muito bom!”. Tem razão, respondi-lhe, de facto só chumbaram 5 alunos, em mais de 300. Se é bom… isso já não lhe garanto que seja. Mais tarde, uma das minhas melhores alunas, daquelas que têm quase tudo cincos, (lá há um ou outro professor mais “ranhoso” que só dá 4!), e daquelas cuja educação é um exemplo, dizia-me: “Professor, eu esforço-me tanto para tirar 4 e 5, e depois vejo alguns, que durante o ano pouco, ou nada fizeram, ter quase o mesmo prémio, não é justo.” Habitua-te minha querida, respondi-lhe. A escola de hoje não pensa em alunos como tu, ou pensa muito pouco. A escola de hoje vive obcecada com o fim das retenções, e usa muitos dos seus recursos naqueles que não querem trabalhar. Mas não desanimes… tu estás habituada à exigência, ao trabalho, à concentração e ao estudo, quando a “vida real” te aparecer pela frente tu vais enfrentá-la sem pestanejar…
Para terminar, as obras da escola de Paredes de Coura foram inauguradas pelo Sr. Ministro da Educação. É bonito ver na placa o nome de alguém da terra. A comunidade escolar tem a obrigação de agradecer ao atual elenco camarário todo o esforço que desde a primeira hora fizeram na educação. Temos uma escola com condições excelentes. Merecem o nosso MUITO OBRIGADO. Agora só resta que sejamos todos capazes de a manter assim por muitos anos.

NOTA: O autor foi demasiado duro nalgumas afirmações sobre o atual estado da educação, nomeadamente sobre o grau de exigência dos professores. O autor desafia quem quer que seja a contrariar tais palavras. Obviamente que o autor escreve pois tem dados mais do que suficientes para o fazer, dados que não podendo ser tornados públicos, servirão de prova a quem, em privado, comigo quiser discutir tal temática.


Crónica publicada na edição 367 do Notícias de Coura, 09 de julho de 2019.