Lá vou eu outra
vez falar de educação! Terão de me perdoar, não fui nomeado professor, sou
porque escolhi sê-lo, e é, portanto, um tema sobre o qual até sei falar, e
escrever, não preciso que me façam os discursos, não tenho meia dúzia de frases
decoradas e que uso conforme as ocasiões. (Dirão alguns de vós: - Presunção e
água benta…; desafiem-me, escolham o local e as armas, lá estarei!)
Vou começar pelo
anúncio feito há dias pelo Sr. Ministro da Educação sobre o lançamento no
próximo ano letivo do Plano Nacional das Artes. Com ele, as escolas poderão
nomear um Coordenador para o mesmo, e teremos residências artísticas de um ano,
onde um “criador” habitará a escola promovendo a criação artística, construindo
com os alunos… (blá, blá, blá). Parece-me uma ideia bonita. Não tenho dúvidas
nenhumas que nalgumas escolas o Coordenador será certamente algum “artista”
(professor), que terá assim algumas horas no seu horário que mais não servirão
para justificar a sua própria existência, leia-se, “justificar a sua
permanência na escola”. Também não tenho dúvidas, que noutras escolas,
certamente na maioria, o cargo será ocupado e dinamizado por alguém que o
merece e que o justificará. (Dirão vocês: - Esta última frase é para ficar bem
na fotografia. – Direi eu: - É.) Não está em causa a pertinência e a
importância deste tipo de projetos, o que provavelmente os responsáveis se
estão a esquecer é que no âmbito das artes e das expressões, todas elas têm
sido esquecidas e trocadas desde há muito tempo por mais horas de matemática,
de ciências e de português, com os resultados que todos bem conhecemos. E
justiça seja feita, neste aspeto o atual Ministério é talvez o menos
responsável.
Também há dias,
o Conselho Nacional de Educação deu-se conta de que há cada vez menos alunos
interessados em ser Professores. (E deixem-me que vos diga: fazem vocês muito
bem!). Segundo eles, (os sábios que o integram), a culpa era do exame de
matemática exigido para o ingresso nos cursos de formação de professores. Qual
a solução: recomendaram os sábios que tal exame deixe de ser exigido! Excelente
solução, digo eu que “tenho a língua afiada”! Se o insucesso dos alunos é
resolvido com cada vez menos exigência, porque não fazer o mesmo com aqueles
que insistem em ser professores?
Estudos recentes
relativos ao ano letivo anterior (2017/2018), permitem-nos saber que continua a
chumbar-se muito no 12.º ano, mas as retenções estão em queda acentuada, tendo
sido as mais baixas do século! Que novidade! As retenções só ainda não são
nulas porque a classe docente ainda não está completamente rendida, embora
cansada e consciente de que as retenções dão mais trabalho do que as
transições, há professores que continuam a insistir que se os alunos não sabem,
se não atingem minimamente as competências, se os seus resultados são na ordem
dos 30% e se o seu comportamento é pautado por dezenas de ocorrências e faltas
disciplinares, os alunos não podem transitar. Teimosos estes professores! No
dia em que pautas foram afixadas, na minha escola, aqui em Paredes de Coura,
ficaram-me gravadas duas frases. A primeira, de uma encarregada de educação de
um aluno que dizia: “Oh Professor, do 5.º até ao 8.º não chumba quase ninguém,
isto é muito bom!”. Tem razão, respondi-lhe, de facto só chumbaram 5 alunos, em
mais de 300. Se é bom… isso já não lhe garanto que seja. Mais tarde, uma das
minhas melhores alunas, daquelas que têm quase tudo cincos, (lá há um ou outro
professor mais “ranhoso” que só dá 4!), e daquelas cuja educação é um exemplo,
dizia-me: “Professor, eu esforço-me tanto para tirar 4 e 5, e depois vejo
alguns, que durante o ano pouco, ou nada fizeram, ter quase o mesmo prémio, não
é justo.” Habitua-te minha querida, respondi-lhe. A escola de hoje não pensa em
alunos como tu, ou pensa muito pouco. A escola de hoje vive obcecada com o fim
das retenções, e usa muitos dos seus recursos naqueles que não querem
trabalhar. Mas não desanimes… tu estás habituada à exigência, ao trabalho, à
concentração e ao estudo, quando a “vida real” te aparecer pela frente tu vais
enfrentá-la sem pestanejar…
Para terminar,
as obras da escola de Paredes de Coura foram inauguradas pelo Sr. Ministro da
Educação. É bonito ver na placa o nome de alguém da terra. A comunidade escolar
tem a obrigação de agradecer ao atual elenco camarário todo o esforço que desde
a primeira hora fizeram na educação. Temos uma escola com condições excelentes.
Merecem o nosso MUITO OBRIGADO. Agora só resta que sejamos todos capazes de a
manter assim por muitos anos.
NOTA: O autor foi demasiado duro nalgumas afirmações sobre o atual estado da
educação, nomeadamente sobre o grau de exigência dos professores. O autor
desafia quem quer que seja a contrariar tais palavras. Obviamente que o autor
escreve pois tem dados mais do que suficientes para o fazer, dados que não
podendo ser tornados públicos, servirão de prova a quem, em privado, comigo
quiser discutir tal temática.
Crónica publicada na edição 367 do Notícias de Coura, 09 de julho de 2019.