terça-feira, 14 de julho de 2015

Hiperatividade, autoestrada, Grécia…

Esta é a 31.ª crónica da sombra das palavras que escrevo. Até hoje, e passados quase 3 anos da primeira, foi a mais difícil de escrever. Não que a temática seja penosa ou delicada, o problema é a minha “desaconselhável” mania de deixar as coisas para a última hora. Desta vez, acresce ainda o facto de no limite do prazo eu estar sem acesso à Internet, e dessa forma, sem poder cumprir o meu dever. “Isso não é justificação”, dirão vocês, e com razão, no fundo é mais uma desculpa para adiar o compromisso. Seja como for, aqui estou eu a escrever, e já com a conta de correio eletrónico preparada para fazer o envio, ainda muito tempo antes da saída do jornal para as bancas, mas já quase dois dias depois do prazo que eu gosto de cumprir. Toda esta pressão em não saber o que escrever teve para já duas consequências: a primeira foi permitir-me escrever as primeiras dez linhas, a outra foi ter tomado a decisão de ter esboçadas pelo menos duas crónicas, para quando for assaltado por esta falta de assunto. Na procura de argumento para a presente crónica muitos foram os temas que me bateram à porta, vou pegar neles nas próximas edições, mas partilho já com os leitores a base da sua futura existência, com a esperança que algum leitor, já farto destas minhas justificações, me escreva a enumerar uma série de assuntos, de preferência locais, desafiando-me dessa forma a deixar suspensos os que agora descrevo: 

1. Escrever sobre a Hiperatividade. Este seria um desafio tremendo, especialmente por não possuir os conhecimentos suficientes para me atrever a fazê-lo. Ainda assim, gostaria de me poder pronunciar sobre um dos problemas “da moda” nas escolas atuais. Hoje em dia são imensas as crianças medicadas para os sintomas do défice de atenção e hiperatividade, no meu tempo (há longos anos), só me lembro de ter colegas mais irrequietos e distraídos. Ainda sobre esta temática, não posso deixar de partilhar uma notícia que li nos últimos dias. David Neeleman, o empresário que é um dos novos donos da TAP, foi diagnosticado com défice de atenção e hiperatividade, mas recusa ser medicado, diz que tem medo de ficar parado e perder a criatividade. Numa conferência em que lhe perguntaram porque não tratava do seu problema, respondeu: "Se fizesse isso, ficaria igual a vocês." 

2. Escrever sobre a falta de uma autoestrada até Paredes de Coura. Esta poderia ser uma crónica com alguma polémica, pois este é um dos temas que vem sempre à baila, nomeadamente em altura de eleições. Como viajo muito pouco, não sinto essa necessidade, e chegar, ou sair de Paredes de Coura uma ou duas vezes por semana é sempre um apelo aos sentidos, uma contemplação à paisagem que a envolve. Para quem o faz todos os dias, e percorre distâncias consideráveis, é óbvio que seria uma mais-valia. No entanto, sou daqueles que acredita que não é a autoestrada que vai trazer pessoas a Paredes de Coura, se a oferta cultural, desportiva, recreativa for interessante, as pessoas aparecem. Aliás, mesmo sem autoestrada, pressinto que em Agosto vão aparecer aqui uns milhares de pessoas para um festival de música! 

3. Escrever sobre a Grécia. Mas para dizer o quê? Seria complicado, nem sequer saberia por onde começar. Durante anos a Grécia viveu muito acima das suas possibilidades, qualquer pessoa, só por existir, conseguia viver de um qualquer subsídio. Depois, com a crise a alastrar pela Europa, a Grécia teve de pagar, e não tinha dinheiro. Austeridade, programas de apoio e mais dificuldades. Entretanto, um governo eleito democraticamente e que bate o pé à austeridade. Ameaça com um referendo, mas os Gregos não querem sair da União Europeia. Do outro lado, a União Europeia ameaça com o fim dos programas de apoio e com a saída da Grécia do Euro, mas está com medo que isso aconteça, por certo a Europa sofreria uma crise, até porque, muitos dos bancos da Grécia são… alemães, e grande parte do dinheiro que está na Grécia é… alemão. 

E desta forma termino a mais dura crónica dos últimos tempos. Espero que os leitores me perdoem esta forma de cumprir a minha obrigação, escrevendo sobre tantas coisas, e ao fim e ao cabo, sobre coisa nenhuma. Se o Diretor me perdoar, estarei convosco daqui a um mês. Fiquem bem!

Crónica publicada na edição 275 do Notícias de Coura, 7 de julho de 2015.