terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

Não há mais candidatos?

Quando os leitores lerem este artigo já estará eleito o Presidente da República, a menos que, haja segunda volta.
Esta corrida eleitoral fica marcada pelo número exagerado de candidatos. Dez! A (des)vantagem de se viver em democracia é esta, qualquer um se pode candidatar a este cargo, basta cumprir o estabelecido no artigo 4º da Constituição, ser eleitor, português de origem, maior de 35 anos e recolher 7500 assinaturas a propor a sua candidatura. Parece-me muito pouco. Sinceramente, questiono-me muitas vezes que espécie de loucura levará certos candidatos a quererem desempenhar o cargo do mais alto magistrado da nação. Será que não têm amigos, pelo menos um amigo consciente, que lhe diga para terem juízo?! Basta ter ouvido os infindáveis debates, e muitas das intervenções públicas, para ficar na dúvida se aquilo é uma campanha eleitoral, ou um programa de humor (e dos fracos). Permitam-me falar um pouco de cada um, tenho de aproveitar agora, pois muitos eram desconhecidos, e dentro de alguns dias voltarão a sê-lo, felizmente.

Marcelo Rebelo de Sousa: Alguém disse que lhe bastava fingir de morto, respirar baixinho e levantar poucas ondas, e seria Presidente. Alguns acusam-no de ter usado a televisão durante anos para se dar a conhecer, sob esta perspetiva, assusta-me pensar que daqui a uns anos a Teresa Guilherme se possa candidatar a igual cargo. Será certamente o próximo Presidente, a menos que Deus desça à terra, e Marcelo deve ter cuidado, pois Deus já cá desceu um dia e obrigou-o a ser líder partidário!

António Sampaio da Nóvoa: Deu-se a conhecer há pouco tempo, e candidatou-se porque sentiu o apoio de muitos dirigentes do PS. Afirma-se independente e suprapartidário, mas apresenta uma candidatura cheia de mandatários, com uma máquina fantástica de apoio, com a presença de imensa gente ligada aos partidos e até alguns membros do governo. Para quem se afirma tão independente…

Maria de Belém: Candidatou-se porque parte do seu partido não gostou de ter sentido o apoio do partido a um independente. Em 2006 o PS cometeu o mesmo erro, apoiou Mário Soares depois de Manuel Alegre ter avançado. Resultado: 10 anos com Cavaco Silva na Presidência. Embora não me pareça que desta vez isso fizesse muita diferença, a esquerda volta mais uma vez a mostrar alguma falta de união.

Marisa Matias e Edgar Silva: Candidatos do BE e do PCP porque sim. O que ficará desta sua participação é o debate entre os dois e a questão de condenar ou não os testes nucleares da Coreia do Norte. Marisa Matias considerou a Coreia do Norte uma ditadura, Edgar Silva… deu uma resposta simpática!

Bom, faltam 5 candidatos, é pena já ter poucas linhas disponíveis, pois agora é que a coisa podia ser divertida! Vou tentar escrever um pouco de cada um, não me vão acusar de ser antidemocrático!

Henrique Neto não merece comentários, merece o respeito e a admiração por ter sido um empreendedor. Merece agora descansar, é justo que não se meta nestas coisas da política. Jorge Sequeira é um psicólogo, speaker motivacional e comentador político, e pelos vistos a coisa mais radical que fez foi dormir com o edredom do Rei Leão! Cândido Ferreira é um médico e marcou a sua campanha quando abandonou em direto o debate na TVi24 acusando as televisões de impedir que todos debatam com todos, e da diferença dos tempos de antena atribuídos. Eu gostava de lhe dizer que mesmo assim, a pobreza dos debates foi tal, que dar tempo de antena a alguns candidatos é um autêntico desperdício de dinheiro, e quando se trata de dinheiro público, é ainda mais grave. Paulo Morais é o candidato que só fala de um tema: a corrupção. Sobre os acordos de regime entre PSD e PS diz que já temos tidos vários, e que se chamam, corrupção. Por fim, Vitorino Silva, mais conhecido como Tino de Rans, explicou que se candidata para “por o povo a sorrir, devolver a alegria aos portugueses, porque o povo anda triste.” E nada melhor para isto do que entregar parte das 8118 assinaturas dentro de um cesto das vindimas, afirmando que “a colheita vai ser boa, e espera dar uma pinga aos adversários”.

Resta-me apelar ao voto, fica sempre bem, independentemente das nossas convicções ou preferências, dizer que é importante votar, que foi por isso que tantos portugueses lutaram, que o voto é um dever cívico, blá, blá, blá. Entretanto, é esperar pelos resultados, “à partida” só um deles será Presidente, mas na noite da contagem dos votos todos se vão assumir como os grandes vencedores!

Crónica publicada na edição 287 do Notícias de Coura, 26 de janeiro de 2016.