terça-feira, 16 de maio de 2017

A baleia azul

Nas últimas semanas temos assistido a inúmeras notícias sobre um estranho jogo chamado baleia azul. Consiste em 50 desafios diários que são propostos pelos denominados “curadores” ou “administradores”, aos incautos adolescentes que se deixam envolver em tal aventura. Na maioria dos casos, os jogadores são jovens adolescentes com problemas depressivos e que dessa forma se deixam levar por tais desafios, inicialmente fáceis e aparentemente pouco perigosos, mas que depressa envolvem automutilações e, o último de todos, chamado “Tira a tua própria vida”, leva ao suicídio. 
Acredita-se que este fenómeno tenha surgido na Rússia através de uma rede social e estimam-se cerca de 130 suicídios provocados ou relacionados com ele. O jogo já chegou a Portugal e já terá originado uma vítima, uma jovem que ficou ferida ao atirar-se de um viaduto para a linha férrea, em Albufeira. 
Dos 50 desafios muitos envolvem fazer cortes nos braços, escrever mensagens com navalhas na mão, acordar às 4 da manhã e assistir a filmes de terror, subir a telhados ou visitar linhas de comboio. Todos eles têm de ser comprovados através do envio de fotografias para os “curadores” ou de publicações na rede social.
Apetecia-me tanto escrever: “Como é possível tal estupidez?!” mas, não o vou fazer. Envolvendo crianças perturbadas e com sintomas de depressão a situação não é assim tão fácil de explicar. Aliás, se assim não fosse, nenhuma criança na plenitude das suas faculdades se deixaria levar pelos desafios propostos pelos, esses sim estúpidos, curadores. Já agora, chamar curador a semelhantes criaturas é desde logo uma ofensa e uma falta de gosto tremenda, um curador é alguém responsável por alguma coisa, e não me parece que neste caso se possa considerar responsável, alguém que no limite, incentiva ao suicídio. 
As redes sociais têm as suas responsabilidades nestas coisas, mas fartei-me de procurar na mais conhecida (o facebook), e não encontrei ninguém que mostrasse sinais de estar envolvido neste desafio. Ufa, ainda bem. Encontrei sim, 50 desafios muito mais interessantes para adolescentes, e que não resisto a partilhar alguns: Fazer a cama ao acordar sem que ninguém precise mandar; Conseguir dobrar e arrumar a própria roupa nas gavetas; Enviar mensagens sem erros ortográficos; Obedecer no mínimo a 70% das ordens dos Pais; Ouvir música sem incomodar quem mora na mesma casa; Respeitar os professores; Passar um dia sem dizer as palavras “LOL”, “TIPO” e “TOP”; Dizer “Obrigado”, “Bom dia” e “Com licença”; entre muitas outras, deliciosas e que me fazem lembrar os comportamentos de outros tempos.
Também divertido, foi o desafio da baleia azul proposto na página “Chorei de Rir” do facebook: Etapa 1: Chame sua esposa de baleia azul. Fim do jogo. 
Também nesta página do facebook encontrei um texto bastante esclarecedor, do qual não posso deixar alguns excertos e com o qual termino mais esta crónica:

“A baleia azul não tem culpa! Lamento informar aos pais, mas não vai adiantar acabar com a "baleia azul". Se acabarmos com a baleia, pode vir o "elefante roxo", o "tigre amarelo", o "pica-pau cor-de-rosa" e outros. O que de fato está faltando é a "cor" nas famílias. (…) Sabe porque essa geração de filhos não sai do celular, do computador, dá internet, do isolamento? Porque vocês os empurram pra esse mundo virtual. (…) Se você não tiver tempo para seus filhos, os bichos do mundo terão.”

Crónica publicada na edição 319 do Notícias de Coura, 09 de maio de 2017.