terça-feira, 9 de agosto de 2022

Será desta que vou falhar?

Confesso que estou a escrever esta primeira linha sem fazer a menor ideia de como me vou arranjar para chegar à segunda página! Todas as semanas a Gorete me lembra da necessidade do envio do artigo, “até terça-feira” escreve-me ela nas mensagens. Nunca questionei se existe uma hora específica, mas apetece-me ser como os meus alunos, se é até terça-feira, é até à meia-noite, uns segundos antes ainda é terça, portanto, talvez ainda não seja assim tão tarde, afinal, ainda só são três da tarde. Assumir um compromisso tem destas coisas, sofrer muitas vezes para o cumprir, logo hoje que estou com uma dor de cabeça terrível, não sei se pela preocupação em escrever o meu texto, se será algum sintoma desse quase esquecido vírus chamado Covid-19 (que ainda não apanhei), ou se será do sol que me queimou a careca durante a manhã quando fui andar de bicicleta. Irresponsável dirão vocês, e com alguma razão, devia ter ficado em casa e escrever este artigo logo manhã, pela fresca! Mas depois já não podia ir andar de bicicleta o resto do dia, e a esta hora até não se está mal no escritório, em frente ao computador, a inventar assuntos e desculpas, e a fazer crescer um texto que vai já com quinze linhas! (Por momentos pensei aumentar o tamanho da letra em dois pontos, mas isso só me faria ganhar duas linhas, não vale a pena! Acreditem que fiz a experiência!)

Estamos em pleno verão, quente e seco, Portugal atravessa um período bastante difícil para a agricultura e para a pecuária, já muitas culturas foram deixadas ao abandono pela falta de água, muitos produtores desesperam com a falta de alimento para os animais, vi uma notícia onde se podia ler que já é possível atravessar a pé o Rio Tejo nalgumas zonas. Incrível e preocupante, aquele que é o maior rio da Península Ibérica. Para piorar este cenário de falta de água, o país volta a estar coberto de incêndios. Todos os anos a mesma coisa, todos os anos os mesmos discursos e andamos assim há anos. É urgente limpar as florestas deste país, as prisões estão cheias de reclusos que deviam ser colocados a trabalhar para o país e sob a supervisão dos militares. É apenas mais uma ideia, aliada à ideia de agravar as penas para este tipo de crimes. (E não se trata de demagogia, nem de conversa à Ventura, ser criminoso neste país não é assim tão mau.)

Não vale a pena ser alarmista, mas acredito que já atravessámos o ponto de não retorno, o ser humano já não vai ser capaz de corrigir os males que fez ao planeta. Temos de ter consciência que estamos a caminhar para o fim, na melhor da hipótese só nos resta tentar adiá-lo o mais possível.

Estou quase a salvar-me. Perdoem-me esta conversa às tantas sem sentido, este espírito triste e preocupado com o estado do mundo, mas não há quem resista a “tanto mau tempo”, gosto de ver os canais noticiosos durante todo o dia e é preciso ouvir trinta tragédias para aparecer qualquer positiva. Mas elas existem penso eu, falta pouco mais de uma semana para ir de férias, férias do professor da atualidade, no meu tempo de estudante os alunos tinham três meses de férias no verão, e o Professores pouco menos! E que nenhum professor reformado que se atreva a tentar desmentir-me! Continuo a achar que ser professor é muito bom, mas já foi muito, mas muito melhor, e não estou obviamente a pensar nos três meses de férias, estou a pensar mais no reconhecimento que tinham perante a sociedade… mas vou deixar esta conversa para outra altura!

Salvei-me, cheguei a meia da segunda página e resta-me terminar este parágrafo. Como? É fácil. Desejando a todos os leitores do Notícias de Coura umas boas férias de verão, um merecido descanso nessas terras verdes e frescas de que sinto saudades, e um excelente festival rock, aquele festival que faz de Coura o centro do mundo para milhares de pessoas.



Crónica publicada na edição 438 do Notícias de Coura, 2 de agosto de 2022.