terça-feira, 31 de outubro de 2017

Eleições, o que (me) fica de mais um ato eleitoral?

A grande vantagem dos atos eleitorais, além da óbvia faculdade dos cidadãos escolherem quem os governa, é a fonte quase inesgotável de notícias para os órgãos de comunicação social. Destas eleições, ficam-me 3 coisas: 

1. A nível nacional aconteceu o que estava mais ou menos previsto: o PS ganhou, ganhou mesmo, não é necessário modelar o discurso. Os outros partidos também ganharam! O PCP perdeu 10 câmaras, mas pelo discurso do seu líder continua a mostrar a sua força na defesa dos direitos dos trabalhadores! (Isto de apoiar uma solução governativa do PS tem custos!) O BE não perdeu nenhuma câmara, mas também não tinha nenhuma! Conseguiu eleger um vereador em Lisboa… que vitória! O CDS mostrou ao país a sua força e representatividade ao ficar em 2.º lugar… em Lisboa! Queres ver que o resto é paisagem?! Então e o PSD? Bem, desta vez alguém perdeu mesmo. Tal como ele em tempos anunciou, chegou o “Diabo”, e a Passos Coelho não lhe restou outra alternativa que entregar o partido a outros. (E Santana Lopes está de regresso… mais probabilidades de se arranjar assunto para escrever uma crónica!) 

2. Em Paredes de Coura… “Furacão Vítor Paulo”, como noticiou este jornal na sua última edição. Obter mais de 76% dos votos e ocupar os 5 mandatos da Câmara Municipal só é surpresa para quem não conhece a realidade local. E se assim continuarem… não me admirarei nada que daqui a 4 anos venham ainda a obter uma maior percentagem de votos. (E julgo que nem precisa da vantagem de ter um PSD que desaparece durante quase 4 anos, e se apresenta a eleições com um candidato… desconhecido*.) 

3. Preocupado com as habituais elevadas taxas de abstenção, o Governo está decidido a impedir a realização de jogos de futebol em dias de eleições. Eis que de repente me quer parecer que o voto, esse instrumento conquistado a pulso pelos nossos antepassados, deixa de ser um direito e um dever cívico para se tornar numa obrigação. Aliás, pior do que se tornar uma obrigação é transformar-se num fator limitativo da liberdade de cada um. E já agora?! Só se vão impedir a realização e jogos de futebol? Então e todas as outras manifestações culturais, religiosas, sociais, que têm a capacidade de movimentar milhares de pessoas para longe das suas residências? Imaginem só se tal medida já estivesse em vigor nestas últimas eleições autárquicas? O ex-Presidente Cavaco Silva não poderia ter ido à Escócia a um casamento de um familiar! Um aborrecimento. 

* O autor usou a palavra desconhecido propositadamente. Apesar de não conhecer o Sr. Venâncio Fernandes, ouvi dizer que é natural do concelho e certamente conhecido de muita gente. Mas nestas coisas das autárquicas, ser conhecido é estar presente na terra, aparecer nos eventos, ter um papel interventivo nos órgãos e dar-se a conhecer. E não é na campanha, é durante 4 ou 8 anos. Quando os cartazes são colocados, não pode haver ninguém que exclame: “Quem é este?”

Crónica publicada na edição 327 do Notícias de Coura, 24 de outubro de 2017.