segunda-feira, 29 de maio de 2023

O meu TAC continua a encantar-me!

Decorreu no fim-de-semana de 5 a 7 de maio o 13.º Fitavale, Festival Itinerante de Teatro de Amadores do Vale do Minho. Iniciativa das Comédias do Minho, este festival leva à cena 5 peças de teatro encenadas por atores das Comédias com os grupos de teatro de amadores de Melgaço, Monção, Paredes de Coura, Valença e Vila Nova de Cerveira, com a particularidade de cada grupo estrear fora do seu concelho.

O Mais Teatro Amador Courense (TAC) de Paredes de Coura, subiu ao palco do Cineteatro de Vila Nova de Cerveira na noite de sábado. Encenados pelo Luís Filipe Silva, apresentaram a obra “A Visita da Velha Senhora”, de Friedrich Dürrenmatt, uma peça que mostra como a tentação do dinheiro pode corromper os valores morais de uma sociedade, e onde os interesses pessoais de cada personagem emergem perante a oferta tentadora de uma velha senhora que regressa à terra para vingar o passado.

Quando soube das datas do Fitavale deste ano tratei logo de planear a minha vida. Não eram os 450 km de distância que me iriam impedir de estar na estreia do TAC, do meu TAC! (Já em 2022 fui a Monção, Cerveira fica bem mais perto!)

Quando cheguei ao Cine Teatro, uns vinte minutos antes da hora do espetáculo, fiquei feliz por ver tanta gente conhecida, e tanta gente que comigo fez parte do TAC durante tantos anos. Lá fomos conversando da vida, mas acima de tudo de teatro, e do que estava para vir, e “confesso que fiquei um pouco preocupado”. O TAC tinha estado a ensaiar durante tarde, os trabalhos tinham-se arrastado dificilmente na última semana, e ver o encenador de um lado para o outro era sinal de preocupação. Entre nós fomos dizendo, “mas isto é o TAC, sempre foi assim”, só fiquei mais preocupado quando alguém me disse: “Oh Mandinho, olha que até eles estão assustados com a estreia.” Confesso que fiquei pensativo e nervoso, mas ao mesmo tempo não pude deixar de recordar tantas e tantas coisas que jamais esquecerei e que sempre fez de nós, um grupo de teatro especial:

- Combinar datas sempre foi um dos “calcanhares de Aquiles” do TAC, havia sempre alguém que tinha um casamento ou um batizado, e arranjar uma data para apresentar a peça em Coura era um desespero!

- Decorar os textos era outra das coisas que nos tornava únicos, era normal haver atores com o texto escondido atrás das cortinas durante as apresentações, eu próprio fui alguma vez espreitar aos meus apontamentos;

- Havia um ator, e sobre o qual tenho um carinho especial, que mesmo só quando tinha duas frases para decorar, insistia em dizê-las de forma diferente a cada ensaio;

- Um dia, já o público entrava na sala e nós atrás das cortinas a tremer, ouve-se um telefone tocar, pior… o destinatário (nosso ator) atende e diz à neta que agora não pode falar pois está numa peça de teatro, e tudo isto em francês! O avô fazia anos e a neta não podia ter escolhido melhor hora para lhe dar os parabéns! Ainda hoje nos fartamos de rir quando o recordamos, jamais o vamos esquecer!

Podia estar aqui durante páginas e páginas a recordar momentos inesquecíveis que vivi com o TAC, no palco e fora dele. Hoje, vejo o meu TAC da plateia, continuo a sentir-me nervoso e ansioso por eles, vejo-os a representar e imagino-me lá, não sei em que papel nem isso interessa, vejo-me no meio deles, e confesso que sinto saudades! Em Vila Nova Cerveira vi o melhor de muitos deles, vi uma encenação fabulosa com ideias daqueles que não “lembram ao diabo”, só podem mesmo vir de atores das Comédias, vi uma história que não conhecia e que adorei e que fiquei com vontade de ler, e fiquei mesmo com vontade de voltar a ver em palco. Eu sei que eles vão andar aos papéis para arranjar uma data para apresentar esta peça em Coura, mas vão fazê-lo, e eu vou fazer tudo por tudo para os voltar a ver!

Crónica publicada na edição 456 do Notícias de Coura, 23 de maio de 2023.

terça-feira, 16 de maio de 2023

O 25 de abril fez-se também para isto

Nunca fui apologista de que não devemos trabalhar nos feriados ou aos domingos. Se há trabalho que precisa ser feito, e alguma vontade, faça-se. Da mesma forma defendo que devemos descansar ou dormir quando nos apetece, desde que isso não ponha em causa a nossa segurança e o cumprimentos dos nossos deveres profissionais. Pensei em escrever este texto na sexta-feira (28/04), ficava logo despachado e libertava-me da obrigação no fim-de-semana. Depois pensei que talvez fosse melhor esperar, os casos e casinhos continuam a fazer parte da agenda política e, se esperasse, talvez viesse por aí alguma bomba. Acabei por esperar, mas pela simples razão de me ter deitado no sofá e ter dormido toda a tarde. Chegou assim o feriado (1 de maio, Dia do Trabalhador) e, como trabalhador exemplar, vou cumprir a minha tarefa.

A última semana foi marcada por alguns acontecimentos políticos dignos de filme, trapalhadas e mentiras que nem sei se dariam um filme cómico, se dariam uma novela. Descobriu-se que afinal não existia papel nenhum. O parecer que supostamente servia de alicerce jurídico para a demissão da CEO e do Chairman da TAP, não existia. O tal papel foi invocado aquando da demissão dos mesmos em conferência de imprensa, existia quando foi pedido pela Comissão Parlamentar de Inquérito, mas a sua entrega negada pelo Governo alegando a “defesa do interesse público”, só quando os deputados ameaçaram com uma queixa à Procuradoria-Geral da República é que se fez luz. Afinal, não há papel nenhum. Mais engraçado ainda é, descobrir-se também agora que o Governo só recorreu ao apoio jurídico do Estado no dia seguinte ao da demissão da CEO da TAP. (O Governo deixou-se influenciar um bocadinho pela disciplina militar da convivência com o Vice-Almirante Gouveia e Melo, primeiro cumpre-se a missão, e depois logo se vê!) Para completar o ramalhete, Mariana Vieira da Silva veio afirmar que toda esta polémica é uma “questão de semântica”. Senhora Ministra da Presidência: - Não faça de nós estúpidos, argumentos deste tipo são ofensivos do respeito que o povo merece. Lembre-se do cargo que ocupa. Não queira envergonhar as Instituições, como sempre fazem questão de apontar a outros à sua direita.

Se a coisa tem ficado por aqui, o governo tinha tido uma semana positiva, com a inflação a baixar (embora estranhamente os preços estejam iguais!) e o PIB a registar valores dignos de alguma esperança, mas, eis senão quando, regressa ao país João Galamba. Demite o seu adjunto alegando que o mesmo não queria partilhar as notas da reunião entre deputados do PS e a CEO da TAP, aquela reunião em que supostamente se prepararam as perguntas e respostas que iam ser dadas na Comissão Parlamentar de Inquérito. Zangado pela demissão, acusando de ser João Galamba quem não queria que as notas fossem divulgadas, Frederico Pinheiro desloca-se ao Ministério e rouba o computador, atira uma bicicleta contra um vidro, obriga as funcionárias a esconderem-se na casa-de-banho e tem de chamar a polícia pois alguém lhe fechou as portas do Ministério! No dia seguinte, agentes secretos do SIS, Serviço de Informações e Segurança, foram incumbidos da missão de recuperar o computador, missão que cumpriram com sucesso e relativa facilidade. Daria vontade de rir se tudo isto fosse entre pessoas como nós, gente do povo. Mas isto passa-se com a gente que nos governa, com aqueles que tomam decisões, com aqueles que, de uma forma mais ou menos direta, traçam o futuro do país e do povo. É demasiado mau para ser tolerado. E para descer os últimos degraus na escada da dignidade política, não posso deixar de fazer referência à triste figura dos deputados do Chega na Assembleia da República na receção ao Presidente Lula da Silva e da tão, ou mais triste figura, do Presidente da Assembleia da República, Augusto Santos Silva, na mesma sessão, e nos comentários e piadas proferidas cá fora na presença do Presidente da República, e que para grande azar dos mesmos, foram filmadas e transmitidas em direto. Santos Silva e Marcelo Rebelo de Sousa pareciam dois amigos, no café da aldeia, a mandar piadas e a rir sobre os vizinhos pelos quais não tem respeito nem consideração. Quando os mais altos magistrados da nação se prestam a isto, já não é de admirar que a democracia esteja como está. Afinal a revolução de abril fez-se para que tudo, ou quase tudo, se pudesse fazer e dizer.


Crónica publicada na edição 455 do Notícias de Coura, 9 de maio de 2023.

terça-feira, 2 de maio de 2023

Os políticos não são todos iguais.

Andei afastado da minha residência por uns dias, fruto de uma semana de pausa letiva que como professor tive direito! Eu, e muitos milhares por esse país fora. Nestas alturas de pausa letiva só estão normalmente na escola alguns professores que fazem parte das direções. A carreira docente é mal paga, é pouco reconhecida, mas ainda tem muitas coisas que eu aprecio, e esta é uma delas, ter uns dias de pausa na altura do Natal, outros na Páscoa… no verão a história já é outra, pelo menos no que me diz respeito. Chegado à casa, e perdoem-me esta acentuação, mas foi uma das coisas que me ficou de Coura, lá encontrei o nosso jornal no meio de tantas encomendas e correspondência. Já o esperava, ele chega sempre dois dias antes da mensagem da Gorete a alertar para o prazo de envio da minha crónica, e a mensagem já me tinha sido entregue! Como é costume, só comecei a pensar num assunto quando o prazo de envio se aproximou e desta vez fui salvo pelo próprio Notícias de Coura, que trazia uma notícia “Via Verde de Vítor”, sobre a qual não posso deixar de escrever algumas coisas.

Melhor do ler a entrevista ao Presidente Vítor Paulo, é conseguir ouvir a sua voz em todas as palavras, e mais, se tirassem da entrevista todas as referências geográficas, políticas e pessoais, quem o conhece não teria dificuldade em reconhecer as suas palavras. O Vítor é mais do que o Presidente da Câmara de Coura, é um Courense, apaixonado pela terra, que está no lugar de Presidente, e isso faz toda a diferença. Muito antes de ir para Coura, e sem saber muito bem onde ficava, já tinha ouvido falar da terra, por causa do Festival. Hoje, que já lá não estou, continuo a ouvir referências ao festival, mas ainda há dias ouvi uma pessoa dizer “não é lá que fizeram uma fábrica de vacinas?”. Por vezes, lá vemos ou ouvimos os responsáveis autárquicos Courenses num programa de televisão ou rádio a promover os eventos e os produtos da terra. A gestão política atual da autarquia não precisa de discursos nem de apoios escritos, à população basta olhar à sua volta, ver e sentir para perceber se está ou não bem entregue, e a nível local o povo normalmente vota nas pessoas e não nos partidos. E tem votado bem, muito bem.

Falar de obra nesta altura é muito mais do que falar da inauguração recente da ligação à autoestrada A3. Ela vai ser útil sobretudo aos parques empresariais. Quem vai a Coura ao festival rock, ao mundo ao contrário, à feira mostra, à feira da truta e até ao Fitavale, não vai deixar de ir só pelo facto de não ter autoestrada. Acredito que em Coura não aconteça o que se passa em muitas outras terras do nosso país, chega a autoestrada, e em vez das pessoas virem, vão embora.

Diz Vítor Paulo ao filho que “O mundo não pertence aos fortes, mas aos fracos com capacidade de adaptação e que lutam sempre”, e tem sido este espírito que tem levado Coura a um patamar atingido por muito poucos. Há terras com orçamentos dezenas de vezes superiores e que não têm uma escola como a que já foi minha, não têm um Centro Cultural, não têm uma agenda cultural diversificada e permanente ao longo do ano e, acima de tudo, não têm gente que ame tão fervorosamente a sua terra como os Courenses.

Coura tem a sorte de ter um Vítor Paulo genuíno, e uma equipa autárquica capaz de dirigir a terra com ousadia, com esperança, e sobretudo com amor. É por eles que posso dar o título que dei a esta crónica.

Sobre os Courenses, termino com uma frase que ouvi ao Senhor Janeca numa noite, no Centro Cultural, “Eles podem-nos comer, mas não nos vão conseguir c@g@r!”

Crónica publicada na edição 454 do Notícias de Coura, 25 de abril de 2023.