terça-feira, 13 de dezembro de 2016

Ser fã do Justin Bieber não é fácil

No passado dia 25 de novembro Justin Bieber atuou no Meo Arena em Lisboa. Os bilhetes tinham esgotado há mais de um ano e em apenas um dia! Os preços legais variaram entre uns acessíveis 42€ e uns proibitivos 1840€, quanto aos preços do mercado negro, não consegui ter acesso, pois até aí os bilhetes esgotaram! Até aqui nada de novo, nada de estranho num país com um dos mais baixos salários mínimos da europa, mas onde os festivais e concertos estão sempre, ou quase sempre esgotados. 
O Correio da Manhã, esse “condenável” grupo da comunicação social que insiste em mostrar o que de mais estranho se passa no país (mas que não é ficção!), fez uma reportagem junto ao Meo Arena, onde algumas dezenas de jovens acamparam durante alguns dias para serem os primeiros a entrar e ficar na primeira fila. A coragem dos jovens é admirável, não se importaram de dormir no chão suportando o frio e a chuva, afinal é uma vez na vida, disseram eles. Os Pais, como lhes compete, apoiaram-nos, eram eles que lhes levavam o alimento, e que iriam buscar as mantas e os cobertores antes das portas abrirem. 
Que sorte estes jovens estarem de férias para poder… esperem lá, não estamos em tempo de aulas?! Estamos. E então?! Não faz mal, como afirmaram estes jovens, os professores pensam que eles estão doentes. Ufa… 
Agora sem ironias, eu não sou professor destes jovens, e também acredito que eles estão doentes, mais, eu sou capaz de acreditar que parte da doença é hereditária. Será normal os pais deixarem os filhos faltar às aulas durante dias para acamparem à espera de um concerto? Como professor gostava de saber se as faltas destas crianças vão ser justificadas, gostava de saber o que vão os pais escrever nas cadernetas dos alunos para justificar tais ausências. Se fosse eu, só acreditava mesmo na doença caso me fosse apresentado um atestado médico! Mesmo assim, era bem capaz de ver e rever a reportagem do Correio da Manhã para ter a certeza que o “doente” não estava mesmo lá. Só mais uma bicada: Será que a CPCJ (Comissão de Proteção de Crianças e Jovens) lá do sítio não vê isto e não o considera suficientemente grave (ou pelo menos estranho), para chamar estes pais à responsabilidade? 
Não sou Pai para falar nessa qualidade, se calhar sou demasiado retrógrado, mas com todos os Pais e Mães com os quais falei sobre isto, todos acharam esta situação absurda, todos afirmaram “nunca deixar os filhos fazer tal coisa”, se calhar somos mesmo todos um bocadinho “atrasados”, estamos demasiado longe da civilização para sermos modernos! 
Com tudo isto fiquei a saber que os fãs portugueses do Justin Bieber são fantásticos, mas muito fraquinhos quando comparados com os brasileiros. Em Portugal começaram a acampar na terça-feira à tarde para o concerto de sexta, no Rio de Janeiro os jovens só montaram o acampamento na quarta-feira, o concerto está previsto para … (preparem-se!) … 29 de março de 2017, daqui a cinco meses! 
Assim vai o mundo, um mundo onde os mesmos que se insurgem com eleição do “ditador” Donald Trump na América, lamentam e choram o desaparecimento do “revolucionário” comandante Fidel. Mas sobre isto, futuras crónicas serão escritas.

Crónica publicada na edição 307 do Notícias de Coura, 06 de dezembro de 2012.

terça-feira, 8 de novembro de 2016

A febre dos Pokémons!

O sucesso inicial do jogo Pokémon Go foi um acontecimento de dimensão mundial com uma adesão de jogadores sem precedentes no mundo dos jogos virtuais. Nos primeiros 3 meses o jogo arrecadou 600 milhões de dólares, chegou a faturar 16 milhões por dia, e embora atualmente a febre tenha baixado consegue ainda atrair cerca de 700 mil pessoas por dia… números difíceis de imaginar! 
Aquando do seu lançamento o jogo recebeu inúmeros elogios, pois convidava as pessoas a sair, a fazer exercício e a visitar novos locais, só dessa forma os jogadores conseguiam apanhar as personagens para colecionar. Em troca desta diversão, os utilizadores permitem que o jogo aceda aos seus dados, à câmara dos seus telefones e à sua localização, dados valiosos para empresas de venda de produtos e prestação de serviços. Dados valiosos demais e que podendo cair em mãos mal-intencionadas, podem colocar em risco a própria vida dos jogadores. No entanto, embora tudo isto mereça ser discutido, as notícias que fomos lendo e ouvindo prenderam-se sobretudo com acontecimentos hilariantes, e outros trágicos, que este jogo provocou. Não consigo deixar de partilhar alguns: 

- Fora criados serviços de táxi para apanhar Pokémons, no Porto, uma agradável viagem num Tuk-Tuk com este propósito custava 30€! 

- Uma companhia de seguros em Portugal apressou-se a oferecer um seguro especial para os jogadores, com capital de morte e invalidez permanente de 5000€. 

- Foram registados pelo mundo fora diversos acidentes de carro, provocados por condutores distraídos que enquanto conduziam, jogavam! 

- Na Nova Zelândia um jovem despediu-se do seu emprego para se dedicar a tempo inteiro a apanhar pokémons, diz que o jogo lhe deu a oportunidade de viver um sonho! 

- Nos EUA um apresentador televisivo viu-se interrompido em direto quando um colega lhe passou à frente, segurando o telemóvel e procurando apanhar os pokémons pelo estúdio! 

- O Museu Americano do Holocausto viu-se obrigado a tentar convencer as pessoas a não jogar dentro do edifício, sobretudo nas salas que tratam temas mais sensíveis, como as vítimas dos campos de concentração. 

- Uma adolescente norte-americana foi atropelada numa autoestrada, quando a atravessava para apanhar um boneco; outra adolescente encontrou um cadáver num rio, enquanto procurada pokémons aquáticos. 

- Na Noruega, a Primeira-ministra foi apanhada a jogar Pokémon Go durante um debate parlamentar, enquanto discursava a líder do partido Liberal. Esta por sua vez também já tinha sido apanhada na mesma situação durante uma reunião sobre segurança nacional! 

E muitas mais histórias haveria para contar, desde assaltos a raptos, acidentes e até mortes, mas não vale a pena. Vale a pena sim, falar-vos da Catxy, uma espécie de Pokémon Go da vida real, e é portuguesa! Imagine que visita um local, tira uma fotografia e a partilha na rede. Está a criar um catxie, um momento, e que será visível para os utilizadores num raio de 5 km, que podem ir ao local, apontar o telemóvel e ver a sua fotografia! Talvez seja interessante, muito interessante. Partilhamos algo num lugar, e isso só é visto no próprio local! Esta rede social participa em novembro na Web Summit* e é vista como uma das 8 redes sociais mais promissoras do mundo! Vamos aguardar! 

* A Web Summit é o maior evento de empreendedorismo, tecnologia e inovação, acontece em Lisboa de 7 a 10 de novembro. 

Crónica publicada na edição 305 do Notícias de Coura, 01 de novembro de 2016.

terça-feira, 11 de outubro de 2016

Obrigado João.

Foi com uma estranha sensação que li no passado dia 15 de setembro uma notícia do jornal Público, “João Pedro Vaz vai dirigir o Teatro Oficina em Guimarães”. De repente pensei ser engano, depois olhei para a data, esperançado que fosse uma daquelas notícias já com meia dúzia de anos de atraso e que por vezes se partilham no facebook, alarmando quem as lê. Mas não era. Era atual. De seguida pensei que provavelmente isto seria uma daquelas acumulações de cargos que se fazem, dá-se uma mão neste projeto, apoia-se um outro, faz-se uma perninha em mais um, mas não era, não é. João Pedro Vaz vai mesmo deixar as Comédias do Minho, vai mesmo embora… 
Já em tempos escrevi uma crónica sobre esta coisa fantástica de existir uma companhia de teatro profissional sediada no Alto Minho, que leva espetáculos de teatro às aldeias, que trabalha com a comunidade, que dá formação aos grupos de teatro amador, que leva o teatro às escolas, e faz isto em cinco municípios, cinco municípios com dirigentes políticos ousados, capazes de investir na cultura. 
Ao longo dos últimos anos tive o prazer de estar presente em muitas reuniões de trabalho orientadas pelo João Pedro Vaz. Muitas vezes, quando apresentava um projeto, o João dizia “Eu tive uma ideia louca de se fazer…”! E assim foi quando pela primeira vez se falou do Fitavale, o Festival Itinerante de Teatro Amador do Vale do Minho. Começou em 2011, a ideia louca era a de num fim-de-semana os grupos amadores dos cinco concelhos apresentarem os seus trabalhos num concelho diferente do seu! Todos os grupos fariam uma “peregrinação”, acompanhando os outros grupos. Funcionou. Os grupos conheceram-se, partilharam as vivências que só o teatro proporciona, e o Fitavale já vai a caminho da sétima edição! Mais, já não ocupa um fim-de-semana, já ocupa dois, integra grupos de teatro amador espanhóis que vêm a Portugal, integra oficinas de leitura encenada em três línguas e reuniões de trabalho. Numa das últimas em que estive presente, o João, desculpando-se com a loucura que o orienta, falava para os presentes em projetos futuros, mas não para 2017, já falava de coisas a fazer em 2018 e que teriam frutos em 2020! Ao meu lado, um dos nossos parceiros espanhóis, visivelmente admirado com tais planos segredava-me: “Como diabo consegue ele já estar a planear para 2020?!” (Obviamente que as palavras usadas por ele eram ligeiramente mais picantes, vocês já imaginam!). 
Lembram-se das Comédias do Minho terem feito uma ocupação minhota no Teatro D.ª Maria II em Lisboa? E dos grupos amadores dos cinco concelhos terem levado os seus espetáculos ao Porto e a Lisboa? Pois bem, quando pela primeira vez o João falou nisto disse: “Sabem, as Comédias do Minho conseguiram disponibilidade para apresentar espetáculos no Porto e em Lisboa. Mas nós não vamos apresentar nenhum espetáculo da companhia, quem vai atuar vão ser os grupos amadores! “ 
Já este ano, em mais uma reunião de trabalho da Platta, a Plataforma Transfronteiriça de Teatro Amador, falava-se da necessidade de conhecer os públicos e de satisfazer os seus desejos de teatro, o João mais uma vez surpreende, “É importante saber que existe muita gente a querer um determinado tipo de espetáculo, mas se eu sei que há duas pessoas que têm outro desejo, porque não satisfazê-lo? Se há duas pessoas que querem uma coisa diferente, eu vou trabalhar para elas.” 
Costuma-se dizer que ninguém é insubstituível, mas a verdade é que há pessoas que simplesmente nós não queremos substituir. 

João Pedro Vaz: Não te vou desejar boa sorte, não precisas, sorte vão ter os que vão trabalhar contigo. Obrigado por tudo o que deste ao teatro no Vale do Minho.

Crónica publicada na edição 303 do Notícias de Coura, 04 de outubro de 2016.

terça-feira, 13 de setembro de 2016

Coura ALL STARS!

Dezassete de agosto de 2016, vinte horas, o sol vai-se embora dando uma cor fantástica a um dia que começou chuvoso. Ali para os lados do Rio Coura começam os concertos do Vodafone Paredes de Coura, o “Rock”, o festival que todos conhecem, na terra conhecida pelo mundo fora por causa dele, o festival que enche os campos de tendas, o rio de banhistas, as ruas de gerações de tanta gente diferente! 
Começa a música. Uma orquestra de jovens enche o palco, violinos, violoncelos, flautas… Como?! Uma orquestra num festival rock?! Crianças?! Sim, é isso, os We Trust subiram ao palco com os Coura All Stars, um conjunto de quase 100 crianças, orquestra e coro, crianças da terra, crianças de Coura a abrir o seu festival.
Desde abril que o grupo We Trust se encontrava a fazer uma residência artística em Coura, com ensaios regulares com quase 100 jovens do Agrupamento de Escolas de Paredes de Coura que frequentam o ensino articulado da música através da Academia de Música de Viana do Castelo. As honras de abertura do festival foram assim entregues aos jovens talentos locais, aqueles que um dia serão o futuro da terra. 
Esta iniciativa não teve só o mérito de levar ao palco as crianças, levou ao recinto os irmãos, os Pais, os Avós e todos aqueles que não podiam perder a oportunidade de presenciar um momento histórico na vida destas crianças (tenho a impressão que só daqui a uns anos eles terão consciência do significado da experiência que viveram)!
O concerto foi ainda marcante pelo facto de ter sido o último (para já), dos We Trust. Emocionado pelo momento, André Tentúgal anunciou-o aos presentes, destacando ainda ser importante esse momento ser aqui (em Coura), o local onde tudo tinha começado. 
Para mim, este foi um festival único, pela simples razão de ter sido o primeiro, não podia perder a oportunidade de ver os meus alunos em palco! Parabéns aos professores de música, às direções da escola e da academia, à autarquia, à direção do festival, aos We Trust, e acima de tudo, às crianças. Já imaginaram bem o que é um dia poderem dizer que abriram a edição de 2016 do Festival de Coura?! 
Mais uma vez, o festival trouxe milhares de pessoas a Coura, já não vale a pena fazer balanços nem justificar nada, o resultado está à vista. Em 2017 o festival faz 25 anos… data simbólica e que será certamente mais um êxito estrondoso. Eu vou aguardar pelo cartaz, e mesmo que lá não vá pelas bandas, acho que vou lá pelo espírito, se o ambiente na vila é de outro mundo, no recinto é mesmo de outra galáxia. Como me disse alguém há uns tempos, “estares em Coura e não ires ao rock é pecado”!

Festival: até pró ano!

Nota: O autor decidiu adotar a nova denominação da terra, Coura. Se por vezes ainda aparecer Paredes de Coura, os leitores devem desculpar, não é fácil uma pessoa livrar-se das Paredes de um dia para o outro. E já agora, esta magnífica ideia de “tirar as Paredes a Coura”, será um dia destes o motivo de mais uma crónica.

Crónica publicada na edição 301 do Notícias de Coura, 06 de setembro de 2016.

sexta-feira, 29 de julho de 2016

Campeões!

Finalmente fomos campeões! 
Paris, 10 de julho de 2016, PORTUGAL vence a França por 1-0 e é campeão da Europa! 
Esta é uma vitória especial por muitas razões. 
Especial por ser a primeira vez que a seleção A de Portugal vence um título. 
Especial por ser conquistada frente à França, à qual não ganhávamos desde 1975 e que já nos tinha roubado a presença em três finais. 
Especial por ser conquistada no território do inimigo, e escrevo inimigo e não adversário propositadamente. Que dizer da imprensa francesa que se fartou de criticar a seleção portuguesa? Desde a revista francesa Le Point que escreveu que “Portugal não tem nada que estar nas meias-finais” ao jornal 20 minutes que após a vitória de Portugal sobre a Croácia escreveu "Este Portugal é nojento, mas está nos quartos-de-final." Na noite da nossa vitória, a Torre Eiffel foi iluminada com as cores francesas. Mas que importa isso!? Como li há uns minutos algures no facebook, “Os semáforos do mundo inteiro estão com Portugal!” 
Especial por ser conquistada em Paris, a terra onde milhares de emigrantes portugueses trabalham e buscam o sustento que a pátria não lhe conseguiu oferecer. Não dá para imaginar a alegria e o orgulho que devem estar a sentir. 
Especial por terem sido 120 minutos de sofrimento, uma equipa privada do seu capitão (o melhor do mundo) antes da meia hora de jogo, uma equipa comandada por um treinador crente, humilde e bem-disposto que cumpriu a promessa de só regressar a Portugal no dia 11 e com a taça na mão, um golo marcado pelo “patinho feio” da seleção. Éder pode nunca mais marcar um golo pela seleção, mas fez até agora o mais importante golo de todos. 
Especial por marcar o fim das vitórias morais. Acabou-se a triste sina vivida durante tantos anos, de merecer mas não ganhar. O que é recordado, o que fica nos livros e na história são as vitórias, é o nome do vencedor. Portugal faz finalmente parte dos países que venceram o Europeu de Futebol. Acredito que o nosso nome vai mais vezes ser escrito em troféus semelhantes! 
Finalmente fomos campeões no futebol, porque noutras modalidades, Portugal continua a mostrar a sua força. No dia 10 de julho de 2016 não foi só o futebol que teve mérito. Sara Moreira conquistou a medalha de ouro na meia maratona do campeonato europeu de atletismo e teve a companhia de Jéssica Augusto no pódio, com a medalha de bronze. Rui Costa, no ciclismo, ficou em 2.º lugar na 9.ª etapa da volta a França; Patrícia Mamona conquistou a medalha de ouro em triplo salto nos Europeus de Amesterdão e Tsanko Arnaudov obteve a medalha de bronze no lançamento do peso, nos Europeus de Atletismo. 

Parabéns a todos!

Crónica publicada na edição 299 do Notícias de Coura, 22 de julho de 2016.

terça-feira, 28 de junho de 2016

Sim, Senhor Ministro

Nas últimas semanas a cor amarela ganhou destaque em muitos órgãos de comunicação social. É a cor do protesto escolhida pelos colégios com contratos de associação e que viram o despacho de abertura do ano letivo não lhes permitir abrir turmas de início de ciclo no próximo ano letivo. 
O que está em causa é muito simples e explica-se em meia dúzia de palavras. Quando a oferta pública de ensino não era suficiente para chegar a todos os alunos, foram estabelecidos contratos de associação com colégios, cooperativas de ensino e outras instituições, para dessa forma cumprir o dever constitucional do Estado de garantir a educação de todos os cidadãos. O Estado pagava anualmente uma verba de cerca de 80.500€ por turma para tal. Penso que será fácil perceber que, se há oferta pública do estado, não faz sentido pagar aos privados. Não me vou alongar a esmiuçar a legislação que regula toda esta problemática, deixo apenas algumas questões/considerações: 

1. Em Vila Nova de Famalicão existem 3 colégios financiados e 13 escolas públicas próximas. Vão ser poupados 4 milhões de euros. 

2. Em Braga, há 7 escolas públicas a menos de 10 km do Externato Infante D. Henrique. 

3. O Colégio Liceal de Santa Maria de Lamas, em Santa Maria da Feira, recebeu em 2015/2016, 6 milhões de euros, apesar de existirem à sua volta 14 escolas públicas com os mesmos níveis de ensino. 

4. Em Vila Praia de Âncora, a escola pública e a escola privada ficam na mesma rua, uma de cada lado. Neste caso nem é argumento falar-se em liberdade de escolha, porque depois de terminarem o 2.º ciclo, os alunos são obrigados a deixar a escola pública. 

5. Há até neste país um colégio, financiado, com 27 estabelecimentos públicos a menos de 10 km. (Como disse e bem a Secretária de Estado da Educação, há casos em que o Estado está a “sustentar os privados”, e isso tem que acabar.) 

6. Os professores destas escolas estão preocupados com o desemprego que o fecho de turmas vai causar. Perdoem-me colegas, mas muitos de vocês estão a trabalhar nos colégios por opção, nunca quiseram submeter-se a um concurso nacional de professores que vos poderia colocar a trabalhar longe de casa. Digam-me como foram recrutados, foi por concurso nacional e transparente como os professores do público? Onde estavam os vossos gritos de igualdade e revolta nos últimos anos, quando mais de 30000 professores do público ficaram fora do sistema? 

7. As manifestações “amarelas” são sem sombra de dúvida organizadas e promovidas por grupos económicos que estão prestes a perder um filão de dinheiro fácil. Basta ouvir as declarações de muitos dos entrevistados, alguns momentos farão parte decerto dos melhores apanhados da televisão. No congresso do Partido Socialista pudemos assistir a uma manifestação, segundo os próprios, “espontânea”, com cartazes todos idênticos, o mesmo grafismo, o mesmo tamanho e as mesmas palavras de ordem. 

Enfim, muito mais haveria para dizer, vou deixar outras considerações para quem sabe, outra crónica. Não está em causa a existência dos colégios, nem sequer a qualidade do ensino que ministram. Trata-se simplesmente da seriedade na gestão dos dinheiros públicos. Por isso, o título desta crónica, Sim, Senhor Ministro, nesta temática louvo-lhe a audácia da tomada de decisão. Na verdade, trata-se apenas de cumprir a lei, mas os seus antecessores nunca tiveram a coragem de o fazer, e por isso, estas palavras de apreço.* 

* Como professor, não posso deixar de escrever sobre as temáticas que rodeiam a minha profissão. Como “Courense há já 10 anos”, sinto que escrever sobre educação pode ver associada a questão política, pois Tiago Brandão Rodrigues, Ministro da Educação, é um filho da terra. Como já algumas vezes aqui o disse, escrevo totalmente liberto de tonalidades partidárias, e ainda tenho guardada uma crónica em que pretendo falar da abolição dos exames, com a qual não concordei, embora me tenha livrado de muito trabalho, o que nesta altura do ano dá imenso jeito.




Crónica publicada na edição 297 do Notícias de Coura, 21 de junho de 2016.

terça-feira, 31 de maio de 2016

O circo das gravatas!

No passado mês de abril os deputados da Câmara dos Deputados do Brasil votaram favoravelmente a autorização para que o Senado pudesse dar seguimento ao processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff. Dos 513 deputados apenas 2 faltaram à votação, num processo que demorou mais de 6 horas! Sim… 6 horas para uma votação de SIM ou Não! Este caricato processo foi acompanhado em direto por muitas estações televisivas, fazendo os canais portugueses muitas ligações em direto, a que fui assistindo, incrédulo, estupefacto, chocado… (ainda hoje não consigo caraterizar o que vi). 

1) A Presidente Dilma é acusada de manipulação das contas públicas pelo facto de ter recorrido ao crédito dos bancos estatais para financiar programas sociais, adulterando assim o Orçamento de Estado. É errado? É. Deve ser julgada? Deve. E quem é que a decide julgar? 513 deputados, dos quais 273 (53%!) estão indiciados em crimes de corrupção. 

2) Durante a votação tivemos a oportunidade de ver todos, sim, todos os deputados de gravata. Faz parte do protocolo, naquela sala do Congresso só entra quem estiver de gravata. Concordo. Acho um adereço essencial para contrastar com a algazarra e bagunça durante toda a votação. 

3) As justificações e dedicatórias de alguns deputados, daqueles que votaram SIM, são verdadeiras pérolas de humor. Grande parte deles dedicou o voto à família, houve até um deputado, que já depois de ter votado, voltou atrás para dedicar também o voto ao outro filho, aquele de que se tinha esquecido! Uma deputada dedicou o voto ao marido, afirmando ela ser ele o melhor perfeito do Brasil. Poucas horas depois, o marido foi preso! Um deputado mais afoito, chamou o presidente da Câmara de gangster, dizendo que a sua cadeira cheirava a enxofre! Um deputado, também pastor da Assembleia de Deus, votou SIM, pela paz em Jerusalém! No meio de tanta “palhaçada”, Tiririca, o palhaço, disse apenas: “Pelo meu país, o meu voto é SIM.” 

Já este mês, o Senado decidiu pela abertura do processo de impeachment, ficando Dilma Rousseff afastada do cargo por 180 dias. Num discurso proferido nesse mesmo dia, Dilma afirmou que este processo é uma brutalidade e um golpe. Aproxima-se um período difícil para Dilma, felizmente para ela mantém o salário (+/- 7.000€), a segurança privada, assistência na saúde, carro oficial, avião, equipa de gabinete e Palácio como morada oficial. 
Entretanto, e como este enorme país não pode ficar sem líder, Michel Temer, o vice-presidente de Dilma assume a presidência. 
Dos ministros do novo presidente mais de metade responde a processos judiciais e quase um terço, incluindo o próprio presidente, foram citados, ou estão a ser investigados na operação Lava-Jato. Nas ruas, deixaram-se de se ouvir os gritos de “fora Dilma”, e passaram a ouvir-se “fora Temer”, o povo não aceita ter um presidente que não foi eleito por ele. Além disto, é suspeito que todos os nomeados sejam homens, brancos, no segundo país do mundo com mais negros. 
O futuro não se avizinha fácil para o Brasil, desemprego, baixo consumo, recessão económica, descrédito nos partidos e falta de legitimidade dos governantes. 
A culpa é do povo. Em democracia, a culpa é sempre do povo. Pena o carnaval ser só uma vez no ano, porque nessa altura, nada mais parece existir.

Crónica publicada na edição 295 do Notícias de Coura, 24 de maio de 2016.

terça-feira, 26 de abril de 2016

A mochila da Joana

Nas últimas semanas a Plataforma de Apoio aos Refugiados lançou um desafio a muitas das crianças portuguesas, queria saber o que elas levariam consigo se tivessem de partir do seu país, fugindo de uma guerra e levando apenas uma mochila. A RTP lançou este desafio a várias figuras públicas, entre elas a artista plástica Joana Vasconcelos. O vídeo partilhado na página de facebook da televisão pública recebeu imensas críticas às palavras da artista. Vamos tentar perceber a razão, espreitando para a mochila da Joana Vasconcelos:

1) Lápis e caderno para fazer os desenhos: nada de estranho neste artigo, sendo uma artista plástica seria estranho não o fazer. Seriam sem dúvida úteis para registar a dor e a miséria deste fenómeno que ensombra a atualidade, talvez nem fosse necessário levar lápis de cor.

2) iPad, para aceder à informação e às fotografias. Talvez não fosse má ideia levar antes um pequeno álbum de fotografias, daquelas antigas, impressas em papel de 10 por 15. Não sei muito bem se nos campos de refugiados existe facilidade em carregar a bateria dos equipamentos, e talvez também não exista wireless. Era capaz de ser boa ideia deixar o iPad e levar antes um saco cama e duas ou três peças de roupa quente.

3) Phones para ouvir música. Não condeno. Eu próprio talvez o fizesse também, além de que se trata de um acessório bem pequeno. Ainda bem que a artista não partilhou a sua playlist, sou levado a imaginar o pior. Se pudesse, recomendava-lhe que levasse a música “I could have done more”*, da banda sonora da Lista de Schlinder. 

4) Óculos de Sol. Mais uma vez não condeno a escolha, eu próprio o faria, talvez no meu caso por necessidade, pois são graduados e preciso deles para ver. No caso da artista, sem dúvida que o faz pensando neles como um mero adereço estético.

5) As lãs e as agulhas. Eu preferia levar uma camisola de lã e um par de meias já feitos, mas respeito a vontade e coragem da artista em fazer tricot num campo de refugiados, ou até pelo caminho. Joana Vasconcelos justifica esta escolha afirmando que leva as lãs e as agulhas para “alguma eventualidade”. Será que por algum momento ela pensou como seria estar num barco de borracha, apinhado de pessoas, em mar alto, lutando pela mera sobrevivência? (Estejam descansados, não se preocupem, nalguma eventualidade a Joana veio precavida com agulhas e lã. Seria para rir, se não fosse trágico.)

6) As joias. Portuguesas. A origem das joias parece vir justificar o facto de num primeiro momento todos termos a vontade de a condenar por pensar em joias numa situação destas. (Não me condenem, eu levo as joias, mas as portuguesas, está bem? Pensará assim a Joana.) Não condeno, nem tenho nada que condenar, se calhar até era uma boa opção, quanto mais não fosse para trocar por comida, ou até para conseguir chegar a um país mais seguro.

7) iPhone. Creio que todos nós o levávamos, não o iPhone, simplesmente o telemóvel. No caso da Joana a razão era para comunicar com o mundo. Mas que mundo Joana? Achas mesmo que o mundo quer comunicar com os refugiados? Cada dia que passa me parece mais que não. 

No fundo, não me choca o conteúdo da mochila da Joana Vasconcelos, choca-me o ar sobranceiro e descontraído com que o descreve. Em nenhum momento se consegue perceber na situação de refugiada, mais parece uma “tia” da margem sul a descrever o conteúdo da bolsa que leva para a praia, não uma praia da Grécia ou da Turquia, mas a praia da Costa da Caparica.

* “I could have done more”, traduzido do inglês: “Eu poderia ter feito mais”. O autor desafia todos os leitores a ouvir esta música. Oiçam, fechem os olhos e oiçam… lembrem-se que todos nós poderemos fazer sempre mais. 

Crónica publicada na edição 293 do Notícias de Coura, 19 de abril de 2016.

terça-feira, 29 de março de 2016

A jaula de segurança

O último jogo entre Sporting e Benfica teve o mérito de me dar uma ideia para mais uma crónica jornalística! Nas horas que antecederam o clássico vários canais de televisão dedicaram o seu tempo a entrevistas a antigas glórias dos clubes, prognósticos de personalidades e adeptos, escolta dos autocarros dos clubes e, o acompanhamento das claques dos clubes nas chamadas caixas de segurança da polícia. 
Estas caixas são a forma da polícia controlar o percurso das claques até ao local do jogo. É tudo planeado de forma a não haver restrições ao trânsito e por forma a garantir a segurança de todos os locais e pessoas por onde esse grupo de adeptos passa. Durante esse percurso, o grupo de adeptos grita, insulta e muitas vezes agride todos aqueles que com eles se cruzam, já houve casos até de lojas destruídas e/ou assaltadas, mas tudo isto, devidamente controlado pelas forças de segurança. 
Não consigo entender o que move este tipo de adeptos, até me custa chamá-los de adeptos, uma vez que muitos deles passam o jogo virados de costas para o campo a incentivar as claques e alguns são presos ainda antes dos jogos começarem. 
Apetecia-me perguntar: 
- Mas que raio de criaturas são estas que precisam de ser enjauladas para se deslocarem para um estádio? 
- O que leva o país a mobilizar meios policiais para este tipo de coisas? Não seria mais lógico mobilizar esses meios para prender tantos marginais que andam por aí? 
Mas não vou perguntar, vou-me limitar a contar uma pequena história. 
Há muitos, muitos anos, (em 30/10/1996 para ser preciso!) eu e mais dois amigos fomos ver um jogo do FC Porto para a Liga dos Campeões, um jogo com o Rosenborg que o FC Porto viria a ganhar por 3-0. Semanas antes, escrevemos num grande pano branco uma mensagem de apoio ao nosso clube (Vilarandelo apoio FC Porto), Vilarandelo é a minha/nossa vila (na altura aldeia) em Trás-os-Montes. Fomos ainda de manhã para a cidade do Porto e lá almoçámos, duas doses de tripas cada um! Chegámos ao estádio bem cedo pois queríamos prender a nossa faixa na rede, a televisão tinha de nos apanhar, custasse o que custasse. Depois da faixa presa fomos até ao bar buscar uma bebida. Quando regressámos… a faixa estava caída na bancada. Quando nos aproximámos, logo um (sei lá o que lhe chamar), um ser humano, dirigiu-se a nós questionando se a faixa era nossa, e que aquela rede era deles, do Coletivo Curva Norte, uma claque do FC Porto e que pelos vistos era “rival” dos Superdragões. Enquanto os meus amigos tentaram justificar o nosso apoio, eu afastei-me, peguei na faixa e chamei-os para uma zona da bancada quase vazia. Lá nos sentámos os três, segurando a faixa, um em cada ponta e outro no meio. Sempre que a bola vinha para aquela zona do campo, ficávamos de pé aos saltos. Aparecemos várias vezes na televisão! Na viagem de regresso a casa, felizes pelo resultado, questionei os meus amigos: - Que sorte tivemos, já imaginaram o que nos poderia ter acontecido se fôssemos adeptos rivais? 
Nunca mais fui ver um jogo do FC Porto. Talvez um dia destes vá, se conseguir ficar longe, bem longe de qualquer tipo de claque. O futebol é um desporto magnífico e os adeptos podem dar um espetáculo fantástico de apoio aos seus clubes, sem este tipo de comportamentos. Esta foi a minha única experiência com claques de futebol, mas acredito que as dos outros clubes, nomeadamente daqueles que se chamam “grandes”, não serão muito diferentes. 
Entretanto, faço planos para este ano me deslocar a dois estádios. Ao do GD de Chaves que luta para subir à 1.ª divisão e ao do Courense, uma vez que fica a dois passos da minha casa e consigo muitas vezes ouvir os gritos dos adeptos. Vamos ver se a experiências correm bem, ou se fico com mais uma história para contar daqui a 20 anos!

Crónica publicada na edição 291 do Notícias de Coura, 22 de março de 2016.

quarta-feira, 2 de março de 2016

Será a Internet um perigo?


Foi esta a pergunta que o professor de informática fez aos seus alunos no âmbito de uma aula dedicada a esta temática e lecionada na 1.ª quinzena de fevereiro para assinalar a passagem pelo dia 9, o dia internacional da Internet segura. 
SIM, responderam os menos corajosos; NÃO, disseram com convicção os mais afoitos, julgando-se os mais fortes e conhecedores de tal terreno; Depende… disseram a medo alguns, acrescentando num tom baixinho, quase com medo de serem ouvidos: Depende da forma como a usamos. 
Era isso mesmo que o professor queria ouvir. Assim ficou com a desculpa para os questionar: - Então digam-me lá, que cuidados devem ter para que a Internet não se torne um lugar perigoso? 
Durante cerca de 30 minutos reavivámos a memória dos alunos sobre esta temática, eles já ouviram isto várias vezes, mas nunca é demais chamar este assunto a debate. Uma das principais mensagens transmitidas foi a de “pensar antes de publicar”, é fundamental perceber que depois de se publicar uma coisa, ela jamais desaparece, mesmo que seja apagada uns segundos depois, com certeza já alguém a viu, por certo já alguém a copiou, e há riscos sérios de alguém um dia a vir a partilhar. 
Num dos filmes que tivemos oportunidade de partilhar, alguns alunos disseram que a música era assustadora. E era. E o objetivo era mesmo ser, pois tratava-se de um vídeo sobre predadores online, e sob a facilidade com que se obtém informação através de perguntas simples e numa primeira impressão, inocentes. 
Como não podia deixar de ser, uma das coisas mais faladas durante esta aula/palestra/sessão de informação, foi o Facebook. Eles sabem que só devem ter amigos que conhecem; sabem que não devem aceitar pedidos de amizade sem antes verificar se aquele “amigo” será mesmo quem parece ser; sabem que devem ter cuidado com o que publicam e sabem também que não devem usar o Facebook para ofender e criticar os outros. Fazem-no? Grande parte acho que sim, mas ainda há alguns que insistem em falhar. É aí que a missão dos Pais, Encarregados de Educação, Professores e demais interessados, é a de atuar, pedagogicamente. 
Há que defenda que as crianças não deviam ter Facebook, há quem não deixe os filhos ter Facebook, há outros que criam as contas dos próprios filhos e partilham com eles a palavra-passe (o que é muito importante), há até psicólogos que dizem que os pais NÃO devem ter como objetivo ser amigos dos filhos. Não vou tecer considerações. O que eu sei é que o Facebook é uma ferramenta extremamente poderosa, pode ser viciante, é verdade, mas as potencialidades superam em larga medida os riscos. Há que a saber usar, há que saber aproveitar tudo aquilo que ela nos pode dar, há que estar atento e vigilante, no caso das crianças, super-vigilante. 
Antes de saírem da sala de aula, foi entregue aos alunos um panfleto sobre este tema. Foi-lhes dito que era para lerem em casa, junto com os Pais e Encarregados de Educação. Espero que o tenham feito! 
No final da aula de uma das turmas, um aluno questionou: 
“ – Oh Sr. Professor, quer a gente fique cheia de medo é?” 
” – Cheios de medo não”, respondi, “apenas com o medo suficiente para sempre que estiverem na Internet se lembrem das coisas que aqui falámos!” 

NOTA: O autor é professor de informática e tem Facebook, que utiliza com grande intensidade. Entre os amigos do Facebook do autor estão praticamente todos os seus alunos. Esta é uma das formas do professor “ir vigiando” alguns comportamentos dos mesmos, inclusive nas aulas em que permite o seu uso por parte dos alunos. O autor acredita que a Internet foi a melhor invenção do homem e devemos aproveitá-la ao máximo, sem nos deixarmos dominar por ela é claro, embora seja um vício mais saudável que muitos outros.

Crónica publicada na edição 289 do Notícias de Coura, 23 de fevereiro de 2016.

terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

Não há mais candidatos?

Quando os leitores lerem este artigo já estará eleito o Presidente da República, a menos que, haja segunda volta.
Esta corrida eleitoral fica marcada pelo número exagerado de candidatos. Dez! A (des)vantagem de se viver em democracia é esta, qualquer um se pode candidatar a este cargo, basta cumprir o estabelecido no artigo 4º da Constituição, ser eleitor, português de origem, maior de 35 anos e recolher 7500 assinaturas a propor a sua candidatura. Parece-me muito pouco. Sinceramente, questiono-me muitas vezes que espécie de loucura levará certos candidatos a quererem desempenhar o cargo do mais alto magistrado da nação. Será que não têm amigos, pelo menos um amigo consciente, que lhe diga para terem juízo?! Basta ter ouvido os infindáveis debates, e muitas das intervenções públicas, para ficar na dúvida se aquilo é uma campanha eleitoral, ou um programa de humor (e dos fracos). Permitam-me falar um pouco de cada um, tenho de aproveitar agora, pois muitos eram desconhecidos, e dentro de alguns dias voltarão a sê-lo, felizmente.

Marcelo Rebelo de Sousa: Alguém disse que lhe bastava fingir de morto, respirar baixinho e levantar poucas ondas, e seria Presidente. Alguns acusam-no de ter usado a televisão durante anos para se dar a conhecer, sob esta perspetiva, assusta-me pensar que daqui a uns anos a Teresa Guilherme se possa candidatar a igual cargo. Será certamente o próximo Presidente, a menos que Deus desça à terra, e Marcelo deve ter cuidado, pois Deus já cá desceu um dia e obrigou-o a ser líder partidário!

António Sampaio da Nóvoa: Deu-se a conhecer há pouco tempo, e candidatou-se porque sentiu o apoio de muitos dirigentes do PS. Afirma-se independente e suprapartidário, mas apresenta uma candidatura cheia de mandatários, com uma máquina fantástica de apoio, com a presença de imensa gente ligada aos partidos e até alguns membros do governo. Para quem se afirma tão independente…

Maria de Belém: Candidatou-se porque parte do seu partido não gostou de ter sentido o apoio do partido a um independente. Em 2006 o PS cometeu o mesmo erro, apoiou Mário Soares depois de Manuel Alegre ter avançado. Resultado: 10 anos com Cavaco Silva na Presidência. Embora não me pareça que desta vez isso fizesse muita diferença, a esquerda volta mais uma vez a mostrar alguma falta de união.

Marisa Matias e Edgar Silva: Candidatos do BE e do PCP porque sim. O que ficará desta sua participação é o debate entre os dois e a questão de condenar ou não os testes nucleares da Coreia do Norte. Marisa Matias considerou a Coreia do Norte uma ditadura, Edgar Silva… deu uma resposta simpática!

Bom, faltam 5 candidatos, é pena já ter poucas linhas disponíveis, pois agora é que a coisa podia ser divertida! Vou tentar escrever um pouco de cada um, não me vão acusar de ser antidemocrático!

Henrique Neto não merece comentários, merece o respeito e a admiração por ter sido um empreendedor. Merece agora descansar, é justo que não se meta nestas coisas da política. Jorge Sequeira é um psicólogo, speaker motivacional e comentador político, e pelos vistos a coisa mais radical que fez foi dormir com o edredom do Rei Leão! Cândido Ferreira é um médico e marcou a sua campanha quando abandonou em direto o debate na TVi24 acusando as televisões de impedir que todos debatam com todos, e da diferença dos tempos de antena atribuídos. Eu gostava de lhe dizer que mesmo assim, a pobreza dos debates foi tal, que dar tempo de antena a alguns candidatos é um autêntico desperdício de dinheiro, e quando se trata de dinheiro público, é ainda mais grave. Paulo Morais é o candidato que só fala de um tema: a corrupção. Sobre os acordos de regime entre PSD e PS diz que já temos tidos vários, e que se chamam, corrupção. Por fim, Vitorino Silva, mais conhecido como Tino de Rans, explicou que se candidata para “por o povo a sorrir, devolver a alegria aos portugueses, porque o povo anda triste.” E nada melhor para isto do que entregar parte das 8118 assinaturas dentro de um cesto das vindimas, afirmando que “a colheita vai ser boa, e espera dar uma pinga aos adversários”.

Resta-me apelar ao voto, fica sempre bem, independentemente das nossas convicções ou preferências, dizer que é importante votar, que foi por isso que tantos portugueses lutaram, que o voto é um dever cívico, blá, blá, blá. Entretanto, é esperar pelos resultados, “à partida” só um deles será Presidente, mas na noite da contagem dos votos todos se vão assumir como os grandes vencedores!

Crónica publicada na edição 287 do Notícias de Coura, 26 de janeiro de 2016.