terça-feira, 29 de março de 2016

A jaula de segurança

O último jogo entre Sporting e Benfica teve o mérito de me dar uma ideia para mais uma crónica jornalística! Nas horas que antecederam o clássico vários canais de televisão dedicaram o seu tempo a entrevistas a antigas glórias dos clubes, prognósticos de personalidades e adeptos, escolta dos autocarros dos clubes e, o acompanhamento das claques dos clubes nas chamadas caixas de segurança da polícia. 
Estas caixas são a forma da polícia controlar o percurso das claques até ao local do jogo. É tudo planeado de forma a não haver restrições ao trânsito e por forma a garantir a segurança de todos os locais e pessoas por onde esse grupo de adeptos passa. Durante esse percurso, o grupo de adeptos grita, insulta e muitas vezes agride todos aqueles que com eles se cruzam, já houve casos até de lojas destruídas e/ou assaltadas, mas tudo isto, devidamente controlado pelas forças de segurança. 
Não consigo entender o que move este tipo de adeptos, até me custa chamá-los de adeptos, uma vez que muitos deles passam o jogo virados de costas para o campo a incentivar as claques e alguns são presos ainda antes dos jogos começarem. 
Apetecia-me perguntar: 
- Mas que raio de criaturas são estas que precisam de ser enjauladas para se deslocarem para um estádio? 
- O que leva o país a mobilizar meios policiais para este tipo de coisas? Não seria mais lógico mobilizar esses meios para prender tantos marginais que andam por aí? 
Mas não vou perguntar, vou-me limitar a contar uma pequena história. 
Há muitos, muitos anos, (em 30/10/1996 para ser preciso!) eu e mais dois amigos fomos ver um jogo do FC Porto para a Liga dos Campeões, um jogo com o Rosenborg que o FC Porto viria a ganhar por 3-0. Semanas antes, escrevemos num grande pano branco uma mensagem de apoio ao nosso clube (Vilarandelo apoio FC Porto), Vilarandelo é a minha/nossa vila (na altura aldeia) em Trás-os-Montes. Fomos ainda de manhã para a cidade do Porto e lá almoçámos, duas doses de tripas cada um! Chegámos ao estádio bem cedo pois queríamos prender a nossa faixa na rede, a televisão tinha de nos apanhar, custasse o que custasse. Depois da faixa presa fomos até ao bar buscar uma bebida. Quando regressámos… a faixa estava caída na bancada. Quando nos aproximámos, logo um (sei lá o que lhe chamar), um ser humano, dirigiu-se a nós questionando se a faixa era nossa, e que aquela rede era deles, do Coletivo Curva Norte, uma claque do FC Porto e que pelos vistos era “rival” dos Superdragões. Enquanto os meus amigos tentaram justificar o nosso apoio, eu afastei-me, peguei na faixa e chamei-os para uma zona da bancada quase vazia. Lá nos sentámos os três, segurando a faixa, um em cada ponta e outro no meio. Sempre que a bola vinha para aquela zona do campo, ficávamos de pé aos saltos. Aparecemos várias vezes na televisão! Na viagem de regresso a casa, felizes pelo resultado, questionei os meus amigos: - Que sorte tivemos, já imaginaram o que nos poderia ter acontecido se fôssemos adeptos rivais? 
Nunca mais fui ver um jogo do FC Porto. Talvez um dia destes vá, se conseguir ficar longe, bem longe de qualquer tipo de claque. O futebol é um desporto magnífico e os adeptos podem dar um espetáculo fantástico de apoio aos seus clubes, sem este tipo de comportamentos. Esta foi a minha única experiência com claques de futebol, mas acredito que as dos outros clubes, nomeadamente daqueles que se chamam “grandes”, não serão muito diferentes. 
Entretanto, faço planos para este ano me deslocar a dois estádios. Ao do GD de Chaves que luta para subir à 1.ª divisão e ao do Courense, uma vez que fica a dois passos da minha casa e consigo muitas vezes ouvir os gritos dos adeptos. Vamos ver se a experiências correm bem, ou se fico com mais uma história para contar daqui a 20 anos!

Crónica publicada na edição 291 do Notícias de Coura, 22 de março de 2016.

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