segunda-feira, 15 de abril de 2024

Mais coisas que me irritam

Ao longo destes quase doze anos de crónicas no Notícias de Coura, já por três vezes tive o descaramento de escrever sobre coisas me irritam, sei bem que para muitos dos leitores isso até pode não ter interesse, mas, se forem como eu, a curiosidade é bem capaz de vos fazer ler até ao fim. No final, poderão estar a rir e pensar que também vocês se irritam com coisas parecidas ou então, lamentar o tempo perdido e pensar: - “Estive eu a perder cinco minutos com estes disparates!” Neste caso, fica sempre o ganho da leitura, que é o caminho mais curto para o conhecimento. *

Podia acrescentar aqui meia dúzia de linhas enumerando as minhas anteriores irritações, mas deixo à consideração dos leitores ir procurá-las no meu blog, caso tenham curiosidade em saber quais eram e ainda são. Aposto que muitas delas, são também coisas que vos irritam. Vamos então às mais recentes:

1. Condutores que fazem pisca nas rotundas! Refiro-me obviamente aos que fazem pisca para a esquerda e seguem em frente! Por vezes eu também faço pisca para a esquerda, mas é quando pretendo virar para a esquerda! Irritam-me antes da rotunda, embora já não me irritem depois, quando a meio da rotunda fazem pisca para a direita! Enfim, querem seguir em frente, mas experimentam fazer pisca para os dois lados, quase me apetecia escrever aqui uma piada política, mas prometi na anterior crónica que iria deixar a política por uns tempos.

2. Coisas à venda sem preço! Na rede social facebook são uma praga. Mesmo nos grupos de vendas onde a colocação dos preços é obrigatória, são inúmeras as pessoas que insistem em fazê-lo, depois têm mil comentários a perguntar o preço, e têm de responder mil vezes: “enviei mensagem privada.” Na grande maioria dos negócios o fator decisivo é o preço, é aquele que pode desde logo chamar a atenção dos interessados. Quando não é apresentado, deixa de ser um fator decisivo. Para mim, e acredito que para muitos outros interessados, é logo um fator de afastamento.

3. Oferecerem-me bolos ou garrafas de água quando peço um café. Tem-me acontecido ultimamente nas estações de serviço das autoestradas. Depois de pedir um café oiço sempre: “Não que acompanhar com uma nata? E uma garrafa de água?”. Das primeiras vezes ainda respondia que não, que era só o café, ultimamente limito-me à palavra “CAFÉ”, e sim, pronunciada um bocadinho mais alto; temo um dia destes ser vencido pelo meu mau feitio e dizer mais qualquer coisa. (Parei de escrever por uns minutos, fui à Internet e comprei uma minigarrafa térmica. Não volto a parar para tomar café!)

4. Receber certas notificações no facebook. Ter um perfil numa rede social faz-nos perder obviamente alguma privacidade e sossego, mas só se não soubermos ser cuidadosos. Ser notificado porque alguém comentou uma publicação nossa, ou gostou de algo que publicámos é normalmente agradável. As que ultimamente me têm irritado são aquelas com as hashtags @seguidores ou @destacar. Quem as faz tem a certeza de chegar a toda a gente, mas para quem as recebe podem simplesmente não ter interesse nenhum. Já deixei de seguir alguns grupos por causa disto. É que usarem-nas de vez em quando ainda se percebe, mas todos os dias é insuportável.

5. Noticiários televisivos. Adoro ver os canais de notícias portugueses, a minha televisão passa horas e horas ligada na SIC Notícias e na CNN Portugal, onde tenho muitas vezes pena de não conseguir ouvir simultaneamente os programas de debate e comentário político. Aquilo que me irrita profundamente são os noticiários principais do dia, tantas vezes me acontece mudar de canal porque não me apetece ouvir falar do conflito entre a Rússia e a Ucrânia, por exemplo. Não adianta mudar, têm quase sempre o mesmo alinhamento, e com diferenças de segundos as notícias são repetidamente as mesmas. É nestas alturas que vejo pela centésima vez os episódios do inspetor Max na TVI ficção!


E chega de irritações. Prometo só voltar a este tema daqui a dois ou três anos. Entretanto, vou começar já a pensar na próxima crónica, isto de ter prometido deixar a política de lado durante uns tempos está a deixar-me nervoso. Apetecia-me tanto escrever sobre certas coisas! 

* Aristóteles.

Crónica publicada na edição 476 do Notícias de Coura, 9 de abril de 2024

segunda-feira, 1 de abril de 2024

Chega de eleições.

Gosto imenso de acompanhar as noites eleitorais nos canais televisivos, só tenho mesmo pena de não conseguir ver e ouvir todos os comentadores ao mesmo tempo! Se tivesse paciência para tirar apontamentos ficaria com um rol imenso de contradições e de curiosidades para conseguir escrever meia-dúzia de crónicas! Para ser mais fácil e até mais interessante para os leitores, vou dividir este texto em tópicos, podem assim ler apenas aqueles que forem do vosso interesse.

Abstenção: Costuma ser uma das grandes preocupações dos comentadores e dos políticos. Uma abstenção elevada é sempre um bom argumento para qualquer tipo de resultado, quer se ganhe, quer se perca, embora normalmente nunca ninguém perca no nosso país. Desta vez, a abstenção baixou significativamente e isso beneficiou o partido Chega. Antigamente a abstenção era associada à falta de interesse pela democracia, agora é vista como como responsável pela mudança do sentido de voto dos portugueses, em direção a ideais ditatoriais. Dizia um comentador ainda antes das projeções: “Ainda vamos chegar ao final da noite a lamentar a descida da abstenção.”

Jovens: Ao que parece, os jovens voltaram a interessar-se pela política e não ficaram em casa. Ao que parece também, grande parte do eleitorado do partido Chega foi a classe etária abaixo dos 35 anos. Que irão dizer agora aqueles que acusavam os jovens de serem pouco interessados e pouco participativos na política do país? Como lhes explicar que têm de se interessar, mas não nessa direção!? Que lhes irão responder se eles questionarem: - “Mas então, a democracia não é mesmo isto!?”

ADN: Este partido subiu de dez para cem mil votos! Beneficiou claramente do descuido de muitos portugueses que certamente pretendiam votar na AD. Ou será que foi ao contrário? Como disse o seu líder: “Será que os portugueses não quereriam votar no ADN, e enganaram-se e votaram na AD?” Eu até acredito mais nesta última hipótese, o seu líder Bruno Fialho defende a reabertura do Tarrafal para enviar para lá tudo o que é bandidos, corruptos, homossexuais, estrangeiros… Ao pé do ADN, o Chega é inofensivo!

BE e PCP: Caíram no erro de passar a campanha toda a defender uma solução de esquerda e a colocarem-se prontos para dar a mão ao PS para uma nova geringonça. O resultado mostra que neste momento já servem para muito pouco. Escrevo isto com respeito, pois já em tempos e em diferentes tipos de eleições votei nestes partidos. Entristece-me ver o PCP desaparecer e continuar a insistir no mesmo discurso e nas mesmas posições. Ou é desta que se reinventam, ou nas próximas eleições desaparecem de vez.

PS e PSD: Ajudaram a criar o monstro, agora correm o risco de ser comidos por ele. O fim do bipartidarismo parece ser uma realidade e, com o avanço da chamada extrema-direita correm o sério risco de um deles desaparecer. Veja-se o que aconteceu em França. E está a acontecer na Europa.

Chega: Obviamente que foi o grande vencedor das eleições. Sentia-se claramente que teria mais votos e mais deputados, mas nem nos seus melhores sonhos André Ventura imaginou este resultado. Ter mais de um milhão de votos e quase cinquenta deputados é um resultado estrondoso. Nos últimos dias tenho visto muitos políticos, comentadores e jornalistas a relativizar estes números e a insistir na ideia de que o Chega pode não ser preciso para nada, nem para ninguém. Parece-me uma postura pouco democrática e muito arriscada. Este fenómeno pode não ser momentâneo.

Perdoem-me os partidos que não citei, mas o espaço para o texto começa a ficar pequeno e a minha paciência para a política é cada vez menos. (Mas não posso deixar de agradecer à política os tantos e tantos motivos que me tem dado para escrever!) Não prometo, mas vou tentar deixá-la fora das minhas crónicas durante uns tempos. A ela voltarei se se atreverem a não devolver o tempo de serviço aos Professores, promessa feita por todos os partidos, até por aqueles que tiveram a possibilidade de o fazer, e não fizeram.


Crónica publicada na edição 475 do Notícias de Coura, 26 de março de 2024