segunda-feira, 1 de abril de 2024

Chega de eleições.

Gosto imenso de acompanhar as noites eleitorais nos canais televisivos, só tenho mesmo pena de não conseguir ver e ouvir todos os comentadores ao mesmo tempo! Se tivesse paciência para tirar apontamentos ficaria com um rol imenso de contradições e de curiosidades para conseguir escrever meia-dúzia de crónicas! Para ser mais fácil e até mais interessante para os leitores, vou dividir este texto em tópicos, podem assim ler apenas aqueles que forem do vosso interesse.

Abstenção: Costuma ser uma das grandes preocupações dos comentadores e dos políticos. Uma abstenção elevada é sempre um bom argumento para qualquer tipo de resultado, quer se ganhe, quer se perca, embora normalmente nunca ninguém perca no nosso país. Desta vez, a abstenção baixou significativamente e isso beneficiou o partido Chega. Antigamente a abstenção era associada à falta de interesse pela democracia, agora é vista como como responsável pela mudança do sentido de voto dos portugueses, em direção a ideais ditatoriais. Dizia um comentador ainda antes das projeções: “Ainda vamos chegar ao final da noite a lamentar a descida da abstenção.”

Jovens: Ao que parece, os jovens voltaram a interessar-se pela política e não ficaram em casa. Ao que parece também, grande parte do eleitorado do partido Chega foi a classe etária abaixo dos 35 anos. Que irão dizer agora aqueles que acusavam os jovens de serem pouco interessados e pouco participativos na política do país? Como lhes explicar que têm de se interessar, mas não nessa direção!? Que lhes irão responder se eles questionarem: - “Mas então, a democracia não é mesmo isto!?”

ADN: Este partido subiu de dez para cem mil votos! Beneficiou claramente do descuido de muitos portugueses que certamente pretendiam votar na AD. Ou será que foi ao contrário? Como disse o seu líder: “Será que os portugueses não quereriam votar no ADN, e enganaram-se e votaram na AD?” Eu até acredito mais nesta última hipótese, o seu líder Bruno Fialho defende a reabertura do Tarrafal para enviar para lá tudo o que é bandidos, corruptos, homossexuais, estrangeiros… Ao pé do ADN, o Chega é inofensivo!

BE e PCP: Caíram no erro de passar a campanha toda a defender uma solução de esquerda e a colocarem-se prontos para dar a mão ao PS para uma nova geringonça. O resultado mostra que neste momento já servem para muito pouco. Escrevo isto com respeito, pois já em tempos e em diferentes tipos de eleições votei nestes partidos. Entristece-me ver o PCP desaparecer e continuar a insistir no mesmo discurso e nas mesmas posições. Ou é desta que se reinventam, ou nas próximas eleições desaparecem de vez.

PS e PSD: Ajudaram a criar o monstro, agora correm o risco de ser comidos por ele. O fim do bipartidarismo parece ser uma realidade e, com o avanço da chamada extrema-direita correm o sério risco de um deles desaparecer. Veja-se o que aconteceu em França. E está a acontecer na Europa.

Chega: Obviamente que foi o grande vencedor das eleições. Sentia-se claramente que teria mais votos e mais deputados, mas nem nos seus melhores sonhos André Ventura imaginou este resultado. Ter mais de um milhão de votos e quase cinquenta deputados é um resultado estrondoso. Nos últimos dias tenho visto muitos políticos, comentadores e jornalistas a relativizar estes números e a insistir na ideia de que o Chega pode não ser preciso para nada, nem para ninguém. Parece-me uma postura pouco democrática e muito arriscada. Este fenómeno pode não ser momentâneo.

Perdoem-me os partidos que não citei, mas o espaço para o texto começa a ficar pequeno e a minha paciência para a política é cada vez menos. (Mas não posso deixar de agradecer à política os tantos e tantos motivos que me tem dado para escrever!) Não prometo, mas vou tentar deixá-la fora das minhas crónicas durante uns tempos. A ela voltarei se se atreverem a não devolver o tempo de serviço aos Professores, promessa feita por todos os partidos, até por aqueles que tiveram a possibilidade de o fazer, e não fizeram.


Crónica publicada na edição 475 do Notícias de Coura, 26 de março de 2024

Sem comentários:

Enviar um comentário