segunda-feira, 16 de agosto de 2021

Otelo, medalhas e vacinas.


Na última crónica falei das férias que se aproximavam. Hoje escrevo-vos com a irritação de ter de ir trabalhar amanhã, mas são apenas mais dois ou três dias, depois volto a ter mais três meses, perdão, três semanas de descanso! Não vos querendo maçar com uma crónica inteira sobre um mesmo tema, volto a dividir o meu texto em partes, torna-se bem mais fácil para mim, e tenho a possibilidade de não desagradar a tantos leitores, de entre dois ou três assuntos, algum lhe deve agradar!

Otelo: Morreu Otelo Saraiva de Carvalho e não houve luto nacional. Eu acho uma vergonha, mas como já nasci depois do 25 de abril se calhar não tenho direito a achar nada. O luto nacional é declarado quando morrem as altas figuras do Estado, ou quando o governo assim o entende. Usar o argumento de que não é comum os militares terem luto nacional é lamentável. Não vou obviamente comparar Otelo com outras figuras como Eusébio, Carlos do Carmo, Manuel de Oliveira ou D. José Policarpo, mas foi graças a ele que morreram em liberdade, viveram os seus últimos anos em democracia e tiveram até direito a luto nacional. Caso Otelo não tivesse tido a ousadia e coragem (alguns chamam-lhe loucura) de fazer o que fez, será que o país era hoje o que é? (Não quero com isto dizer que somos um país exemplar, longe disso, mas pelo menos até eu tenho a oportunidade de escrever isto, e têm vocês, leitores, a oportunidade de o ler). Termino com um pequena história que provavelmente muitos conhecem, quando uma jornalista, que não conhecia Otelo Saraiva de Carvalho, lhe perguntou onde estava no 25 de abril, ao que ele respondeu: “Oh menina, eu sou o 25 de abril!”. Com todo o respeito me dirijo ao comandante: “Obrigado pá, obrigado!”

Medalhas: Na noite em que escrevo esta crónica Portugal ainda “só” conquistou 2 medalhas, uma de prata, Patrícia Mamona no triplo salto, e outra de bronze, Jorge Fonseca no judo. Ao mesmo tempo percebe-se a razão, em muitas publicações que se vão tornando virais pelas redes sociais, e onde se pode ler: “Um país quer medalhas mas só pensa em futebol; um país que tirou horas à disciplina de educação física, quer medalhas olímpicas; um país onde os alunos que querem praticar desporto profissional são obrigados a ter uma carga letiva absurda, e acabar os treinos às 10 ou 11 da noite; um país que despreza a educação física no 1.º ciclo, quer medalhas.” Podia continuar mas não é necessário. A disciplina de Educação Física, tal como a de Educação Visual, TIC, Educação Musical e Educação Moral, faz parte do grupo de disciplinas da 3.ª divisão (como carinhosamente aprendi com a minha saudosa colega Alzira). E posso-vos dar imensos exemplos: Quando um aluno tinha por exemplo negativa a Português, Inglês e Educação Física, e só podia ter duas para passar, o conjunto de professores ponderava e ouvia-se então o diretor de turma dizer: “- E então? Quem é que pode subir a negativa?” E toda a gente se virava na direção de quem?! Do Professor de Educação Física é claro… e nem que a criança não conseguisse correr 10 metros, jogasse com dois pés esquerdos e não soubesse distinguir as regras do futebol das do badminton, era de Educação Física a negativa que subia. Ah… não é bem assim dirão alguns… atrevam-se a desmentir-me. Qualquer medalha trazida pelos portugueses é uma vitória, deles, da família e nalguns casos dos clubes que os apoiam. O país deve ficar orgulhoso, mas se quiser mais, tem de dar condições às crianças, desde a mais tenra idade, de praticar desporto nas melhores condições.

Vacinas: Pelos vistos a vacinação às crianças com menos de 15 anos não foi aprovada pela DGS, no continente, pois na região autónoma da Madeira já decorre a bom ritmo. A ordem dos médicos já se veio manifestar contra esta regra que cria desigualdades, pois a vacina foi apenas recomendada às crianças com morbilidades. Entretanto, já houve alguns desenvolvimentos e pelos vistos, a vacinação das crianças saudáveis vai ficar à “livre escolha dos Pais”. Pois muto bem! Eu também assinei um termo de responsabilidade quando levei a Pfeizer! Continuo com um cansaço inexplicável e por vezes com palpitações no coração. Se calhar é apenas malandrice ou outra coisa qualquer, se calhar daqui a uns anos vai-se perceber que afinal a vacina provocava outras coisas… sei lá, mas obviamente que mesmo sabendo tudo isto, levei a vacina, e voltaria a levar. Como diz o ditado, “Enquanto o pau vai no ar, folgam as costas.” Enquanto nos vão testando com as vacinas, vamos enganando o vírus. E pelo menos até agora, é a vacina que nos está a salvar.


Crónica publicada na edição 415 do Notícias de Coura, 10 de agosto de 2021.

 

terça-feira, 3 de agosto de 2021

Finalmente de férias!

Estou a escrever este artigo quando já só me resta um dia de trabalho para entrar de férias! Já!? Pois já! Mas não fiquem a pensar que vou já de férias até meados de setembro! O tempo em que os Professores tinham dois ou três meses de férias de verão já lá vai! Alguns ainda têm quase isso, mas isso é outra conversa! Este foi um ano letivo extremamente duro. Começou em setembro com muitas medidas que nos condicionaram o trabalho, as máscaras, as bolhas, o desfasamento das turmas, as portas e as janelas abertas, o afastamento entre as crianças (tantas e tantas vezes esquecido). Depois, no final de janeiro viria o pior, voltámos todos para o ensino à distância e por lá ficámos durante dois meses. A pausa letiva da Páscoa de uma semana serviu apenas para as reuniões de avaliação, estamos a trabalhar sem parar há praticamente 6 meses. Estamos todos cansados, e não é apenas um efeito secundário da vacina! Antes de ir para férias, deixo alguns desabafos sobre o que se passa na educação:

Matemática: O programa da disciplina vai mudar pela sexta vez nos últimos 30 anos. Daquilo que li, desta vez vai ser suprimida a numeração Romana e as medidas agrárias! Vou deixar isto para uma crónica inteira, de facto, a numeração Romana e as medidas agrárias são coisas sem interesse nenhum, nem utilidade! No ensino, como em áreas fundamentais como a saúde e a justiça, a estabilidade devia ser um pilar fundamental, não dependente da ideologia política de quem nos governa. Não tem sido o caso. Não vou escrever muito sobre a matemática, já o fiz algumas vezes, é uma disciplina da 1.ª divisão, tem sido das que mais tem ocupado as preocupações dos governantes nas últimas décadas. Resultados? Estão à vista.

Provas de Aferição: Ainda este ano letivo não terminou, o próximo vai começar com as mesmas medidas de combate à pandemia que o anterior, e já o governo se antecipou a publicar um calendário escolar (obviamente necessário), cheio de datas para imensas provas de aferição. Já muitas vezes critiquei estas provas e volto a fazê-lo, e continuarei a fazê-lo enquanto não vir soluções ou estratégias decididas em função dos seus resultados. Até hoje, o que é que mudou com as Provas de Aferição? Nada. Sobre as escolas são despejadas orientações e despachos, sem nunca se avaliar qual o seu impacto nas aprendizagens dos alunos. Os resultados da aferição que se aproxima vão trazer como conclusão aquilo que todos já sabem: que nestes últimos dois anos os alunos viram as suas aprendizagens comprometidas pela pandemia que vivemos, e que aprenderam pouco, e que os alunos com mais dificuldades e com problemas sociais, menos aprenderam ainda. Não é preciso ser bruxo para prever isto.

Promessas e anúncios: Foi com satisfação que ouvi o Senhor Ministro da Educação anunciar que a diminuição dos alunos por turma iria continuar. Mas depois refleti e pensei: Mas para continuar, já devia ter começado, coisa que ainda não aconteceu. Já quase parecem aqueles anúncios da contratação de auxiliares de ação educativa para as escolas, se contratassem tantos quantos prometem, as escolas teriam mais auxiliares que alunos! Mas sobre o tamanho das turmas, vou também deixar casos concretos para uma próxima crónica.

Imprecisões nos Exames Nacionais: A elaboração dos exames nacionais do ensino secundário é um processo elaborada por equipas experientes de professores, analisados por consultores, validados cientificamente por professores do ensino superior, verificados e testados por outros tantos especialistas, e ainda assim, todos os anos há gralhas, há imprecisões, há questões dúbias e constantes ajustes aos critérios de correção. Não devia acontecer. Não devia, mesmo.

Vou agora de férias durante uns dias. Quando voltar a escrever já estarei de novo a trabalhar, e às tantas até posso usar os resultados dos exames nacionais como tema de inspiração para a próxima crónica!

Crónica publicada na edição 414 do Notícias de Coura, 27 de julho de 2021.