segunda-feira, 15 de março de 2021

Abaixo a Ponte 25 de Abril.

Para quem não sabe, existe lá para os lados de Lisboa, junto ao Tejo, um monumento que evoca a expansão ultramarina portuguesa, relembra o passado glorioso dos portugueses, impulsionado pela grandeza da obra do Infante D. Henrique, é o Padrão dos Descobrimentos. O monumento simboliza uma caravela, na proa da qual se destaca o Infante, acompanhado de outros heróis portugueses, “navegadores, cartógrafos, guerreiros, colonizadores, evangelizadores, cronistas e artistas.” (1)

Mas o que foi isso dos descobrimentos? Como disse um dia Agostinho da Silva, “Uns acham que foi por outros, outros acham que foi pela fé, outros acham que foi pela aventura, outros acham que eles iam impelidos por uma ideia de catolicidade do Universo, outros acham que iam impelidos por outra ideia, quer dizer, o descobridor sobra no sistema filosófico. O descobridor tem o corpo mais vasto de que os paletós de que os querem vestir.” Suspeitaria ele que, um dia, alguém considerasse os descobrimentos uma vergonha para o país?

Embora a minha opinião pouco possa interessar, especialmente quando a coloco lado a lado com as das individualidades referidas nesta crónica, parece-me que os descobrimentos são algo que devemos lembrar com orgulho, se hoje se fala em globalização, aos portugueses se deve provavelmente o conceito. Por que razão se falará português em tantas partes do mundo? Agostinho da Silva dizia também que “Nós não devemos nada à Europa, a Europa é que nos deve a nós o conhecimento do Mundo”.

E esta conversa a que respeito, perguntarão os leitores do Notícias de Coura, pensando com todo o direito que estou a valer-me de factos históricos para encher mais uma crónica? Talvez em parte tenham razão. Mas a verdade é que não podia deixar passar em claro esta ideia, completamente patética, do deputado do PS Ascenso Simões, que numa crónica escrita no jornal Público veio defender que o “O 25 de abril de 1974 não foi uma revolução, foi uma festa. Devia ter havido sangue, devia ter havido mortos…”, e ainda que “o Padrão dos Descobrimentos deveria ser demolido, enquanto monumento do regime ditatorial que é”.

Depois da polémica, Ascenso Simões veio dizer que não o fez no sentido literal das palavras. Donald Trump, há pouco tempo, quando afirmou que "a eleição lhe foi roubada pelos democratas e que se teria que travar o roubo”, também não estava a ser literal, e o que aconteceu foi a invasão do Capitólio poucas horas depois. Mas de Ascenso Simões devemos sempre esperar o pior, já em tempos usou o Twitter para apelidar de “palerma”, “parvo” e “ausente de cérebro”, internautas que o criticaram. Chegou mesmo a questionar uma delas de “qual seria a sua rua e a sua esquina”. Posteriormente, alegou que a conta era falsa, mas era a que tinha registada na sua página oficial. Já em tempos, João Soares, então Ministro da Cultura, ameaçava com um par de bofetadas um colunista do jornal Observador, não lhe restando outra alternativa senão apresentar a demissão. Quando Ascenso Simões associa o Padrão dos Descobrimentos ao regime ditatorial, quererá ele também sugerir um dia, a demolição de coisas como a Ponte 25 de Abril, dezenas de escolas primárias, os hospitais de Santa Maria e São João e até o Estádio do Jamor? Nem sei por que razão em vez de terem mudado o nome à ponte não a destruíram. Isso sim, seria acabar de vez com a imagem de Salazar.

Imagine-se que na atual democracia, os sucessivos governos do PS e PSD desatavam a destruir tudo aquilo que os antecessores tinham feito!? Já nos bastam as mudanças ideológicas. Se a redução de deputados na Assembleia da República fizer com que deputados como Ascenso Simões deixem de representar os Portugueses, será uma medida positiva.

Crónica publicada na edição 405 do Notícias de Coura, 9 de março de 2021.

(1) https://padraodosdescobrimentos.pt/padrao-dos-descobrimentos/




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