terça-feira, 2 de março de 2021

Não vou escrever sobre isso!

Esta é a minha crónica número 111. Como é habitual, deixo a sua escrita para o último dia, e agora ando aqui aos papéis à procura de assunto. Por vezes, surgem-me algumas ideias de temas que dariam boas crónicas. Para não me esquecer, vou registando meia dúzia de palavras sobre os mesmos num documento que fica aqui “pendurado” à espera do dia em que, desesperado por assunto, lá vá espreitar. De todas as vezes que escrevo uma nova crónica, vou apagando algumas ideias que, ou já explorei ou já se tornaram tão antigas que se escrevo sobre elas ninguém se vai lembrar. Hoje foi esse dia, o dia em que vasculho por todas estes rascunhos e … pouco ou nada encontro. E agora? Deixa-me cá vasculhar mais uns minutos na Internet à procura... e nada. A Internet está pobre, não me está a ajudar, tudo o que me aparece tem pouco interesse, ou tendo interesse são assuntos que já esgotei.

Não vou escrever novamente sobre o Covid-19. Dizer o quê? Que estou farto deste confinamento? Na verdade estamos todos, especialmente os proprietários dos pequenos negócios que estão a morrer lentamente. Dizer que os números estão a melhorar? Estão sim, felizmente, mas ao ritmo que a vacinação está a ser feita não acredito que se alcance a imunidade de grupo este ano. Falar da falta de vacinas? Estamos a falar em vacinar a população mundial, como conseguem as farmacêuticas atingir níveis de produção satisfatórios? A cada semana que passa aparece uma nova variante e mais rápida a transmitir-se. Nalguns países as novas variantes já se tornaram dominantes, e para piorar ainda mais as coisas, parece que as vacinas têm uma eficácia reduzida para estas novas variantes. Um pesadelo… quando é que terminará este pesadelo? Será que ainda vamos ter a variante portuguesa? (Este é um assunto que dava umas belas piadas, mas o assunto é triste demais para tal).

Não vou escrever novamente sobre o ensino à distância. Ainda hoje um aluno meu brasileiro me dizia: “- Professor, estou farto dessa droga desse ensino à distância.” E ainda só passou uma semana. Basicamente, estamos a brincar às escolas, podemos estar todos a dar o melhor que sabemos, mas de uma forma geral os alunos fingem que aprendem e os professores fingem que ensinam. E depois, há a gigante desigualdade de condições em que os alunos estão. Há uns dias via-se na televisão uma criança da região de Bragança que tinha de ir com o computador para a serra na carrinha do Pai, para apanhar rede de internet. Obviamente que se todos tivessem os computadores e as ligações à internet prometidas, tudo seria melhor, mas não necessariamente justo. Às vezes falta muito mais do que o computador e a internet na casa dos nossos alunos. Por isso o Sr. Ministro diz repetidas vezes: “Nada substitui o ensino presencial.” E diz muito bem. Mas sempre assim foi. Ou será que só agora é que estão a ter consciência da importância do trabalho dos professores e das escolas?!

Não vou falar de futebol. Dizer o quê? Que os grandes clubes quando não conseguem ganhar se queixam sempre das arbitragens? Que os dirigentes não ajudam a um clima de paz e dignidade? Que o campeonato português se limita a 2 equipas a lutar pelo título, 3 ou 4 a lutar pelos lugares europeus e os restantes a lutar para não descer? Ah… este ano será diferente, a menos que uma grande tragédia se abata sobre o campeonato, o Sporting será campeão. (Acabei de me lembrar agora que quando o Sporting for campeão, tenho assunto para uma crónica). Não vou falar de Coura. Dizer o quê? Que estou cheio de saudades? Obviamente que estou, mas como tenho a mania que sou insensível nem quero admitir. Não vou confessar a ninguém mas tenho aqui uma crónica intitulada “Saudades de Coura”. Mas quero guardá-la. Publicá-la seria quase desistir. Quero matar as saudades de Coura sem máscara, ver o sorriso e sentir o abraço daqueles que gosto. Coragem… quem aguenta um ano, também aguenta mais alguns meses…


Crónica publicada na edição 404 do Notícias de Coura, 23 de fevereiro de 2021.



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