quinta-feira, 16 de dezembro de 2021

Entrevista ao fugitivo

Começaram no passado dia 22 de novembro as transmissões televisivas da CNN Portugal, um novo canal de informação que substituiu a TVI24. CNN é uma marca de informação lançada há 40 anos nos Estados Unidos e uma referência mundial no jornalismo. Em Portugal o canal resolveu incluir na programação do primeiro dia de emissão, uma entrevista a João Rendeiro! (Este ponto de exclamação significa que quase pensei estar a ver a CMTV).

João Rendeiro, ex-presidente do Banco Privado Português (BPP) tem no seu currículo 3 condenações recentes: 10 anos de prisão efetiva por crimes de fraude fiscal, abuso de confiança e branqueamento de capitais; 5 anos e 8 meses de prisão efetiva por falsidade informática e falsificação de documento e 3 anos e 6 meses de prisão efetiva por burla qualificada. Apesar de tudo isto, João Rendeiro informou no verão a justiça que ia passar uns dias a Londres e que regressaria no dia 30 de setembro. Sabe-se agora que não pretende voltar, a menos que, segundo palavras do próprio, seja ilibado dos crimes ou lhe seja concedido um indulto por parte do Presidente da República.

Através de uma nota do Conselho Superior de Magistratura, a juíza que presidiu ao coletivo que julgou João Rendeiro afirmou que não houve “qualquer informação da qual pudesse antever-se um concreto perigo de fuga”. O próprio João Rendeiro afirmou que quando viajou para Londres não tinha planeado a fuga. No entanto, sabe-se agora que passou uma procuração forense ao seu advogado, Carlos do Paulo, com data de 25 de agosto, onde lhe concede poderes de representação jurídica em qualquer processo de extradição. Curioso…

Entretanto, soube-se também há dias, que as 124 obras de arte arrestadas pela justiça a João Rendeiro não estavam à guarda do Estado, as obras continuavam em sua casa à guarda da sua esposa, que tinha sido nomeada fiel depositária das mesmas. Estranhamente, parece que desapareceram 15 obras de arte e suspeita-se da autenticidade de pelo menos 3 delas. Só agora as obras de arte foram transportadas para as instalações da Polícia Judiciária (PJ). Estas obras, pinturas e esculturas, foram apreendidas há 10 anos para servirem de indemnização aos lesados do BPP. Três destas obras foram vendidas pela leiloeira Christie’s entre março e outubro de 2021, rendendo a João Rendeiro 229 mil euros. A esposa, incorre agora no crime de descaminho de coisa pública. Todos estes factos parecem retirados do argumento de um filme italiano mafioso, no meio de tanta vigarice e estratagema, a esposa arrisca-se a ser a única a ir parar atrás das grades. É mais um triste exemplo da justiça em Portugal.

A PJ encontra-se a analisar o vídeo da entrevista em busca de pistas que ajudem a localizar João Rendeiro. Pelo aspeto dos cortinados deve estar na casa de alguma Tia-Avó. Alguém já se lembro que as autoridades portuguesas têm ao seu serviço outro “condenado”, o hacker Rui Pinto? Coloquem o rapaz nos computadores da CNN e ele descobre a localização do ex-banqueiro em três tempos!

Numa coisa João Rendeiro é capaz de ter razão, quando diz “Como nunca paguei nada a ninguém e não tenho segredos de Estado, sou um poderoso fraco”, lembrando um outro ex-banqueiro que segue a sua vida tranquila em Lisboa, Ricardo Salgado. Afirma também que a justiça portuguesa tem dois pesos e duas medidas e justifica-o pelo facto de Ricardo Salgado ser “uma pessoa que tem muita informação sobre operações delicadas e intervenientes também complexos.”

Na minha mordaz forma de ironizar com tudo isto apetece-me dizer-lhe: - Esqueça-se de tudo. Já pensou em tentar safar-se alegando esquecimento?

É uma pena as centenas de pessoas que foram lesados pelas vigarices destes ex-banqueiros não possam também esquecer-se. É uma pena os portugueses não se poderem esquecer que estão há anos a pagar as vigarices de alguns bancos portugueses.

Crónica publicada na edição 422 do Notícias de Coura, 7 de dezembro de 2021.



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