terça-feira, 12 de outubro de 2021

Resultados eleitorais

Esta foi uma crónica em que não me preocupei minimamente com a necessidade de arranjar assunto. Tive a sorte de ter de a escrever no fim-de-semana das eleições legislativas, e portanto bastou esperar até serem anunciados os resultados eleitorais para arranjar vários pontos interessantes para umas quantas linhas, algumas com satisfação, outras com alguma preocupação e tristeza, mas que temos de aceitar em virtude de, como um disse Winston Churchill, “a democracia ser o pior dos regimes, à exceção de todos os outros.” Aqui ficam então, os aspetos mais relevantes da “minha” noite eleitoral:

1. Abstenção: Ultrapassou os 46%, é assustador ver que quase metade da população portuguesa está-se a “marimbar” para a democracia, desculpem-me o termo. Por mais que muitos partidos e muitos políticos “deixem muito a desejar”, não é a melhor forma de o manifestarmos. No Ensaio sobre a Lucidez, Saramago faz uma crítica mordaz ao poder político, quando num qualquer país mais de 70% da população vota em branco. E se por cá acontecesse algo parecido? Ficariam os políticos preocupados?

2. Chega: Se a abstenção não é a melhor forma de responder ao descontentamento com a política, votar em determinados partidos, daqueles em que o povo vota “só para chatear”, talvez também não seja melhor. O Chega obteve mais de 200 mil votos, elegeu 19 vereadores e ficou em 4.º lugar. Para um partido com pouco mais de 2 anos e com ideais que muitos consideram perigosos, pode ser assustador.

3. Santana Lopes: Vinte e quatro anos depois, Pedro Santana Lopes volta a vencer as eleições na Figueira da Foz e torna-se novamente Presidente de Câmara. Como independente, e contra todos os aparelhos partidários, Santana Lopes demonstrou o que é ser um político da velha guarda. Foi a minha primeira alegria da noite eleitoral.

4. Carlos Moedas: A minha segunda alegria da noite eleitoral foi a vitória de Carlos Moedas na capital. Este também, contra tudo e contra todos, venceu aquela que no fundo é Câmara mais importante do país. Carlos Moedas mostrou ao longo da campanha ser um político do qual não é difícil gostar, transpira simpatia, respeito e honestidade. Apesar de Fernando Medina ter assumido a derrota como “pessoal e intransmissível”, António Costa tem muita responsabilidade também. Andar pelo país a fazer da “bazuca” uma arma de campanha ficou-lhe mal, tentar passar a ideia de que com autarcas do PS seria mais fácil às autarquias aceder aos milhões da “bazuca” foi um truque baixo. Incompreensível para aquele que é, na minha e na de muitos comentadores, o mais hábil político do país.

5. Valença: O resultado de Valença deixou-me triste e feliz ao mesmo tempo. Depois do meu amigo Jorge Mendes ter deixado a Câmara para rumar à Assembleia da República, o PSD fragmentou-se, essa divisão levou a que o PS ganhasse as eleições. O movimento independente Fortalecer Valença, liderado por José Monte, integrava nas suas listas a Professora Catarina Domingues, que em tempos passou por Paredes de Coura, e com a qual tive o privilégio de trabalhar. Valença pode ter perdido uma excelente Vereadora da Educação, mas as crianças que a vão continuar a ter como Professora ganharam ainda mais!

6. O meu concelho: Fruto da minha mudança de residência, votei pela primeira vez no concelho de Alcochete. Ajudei o PS a obter a maioria na Câmara e na Junta de Freguesia do Samouco, e fiquei feliz por isso. Embora não me identifique muito com este atual PS, quando se trata de eleições locais o que importa são as pessoas, e é fácil perceber quando os executivos trabalham bem. E aqui, tive a sorte de ver obras, limpeza e bastante alcatrão durante todo o mandato, não como em muitas autarquias do país onde o alcatrão só aparece 6 meses antes das eleições. E quando é assim, é esse partido que merece o voto do povo.

7. Paredes de Coura: Esta foi daquelas alegrias que quase nem se festeja pois já se sabe que vai acontecer. Ainda assim fiquei admirado pois desta vez o PS não obteve a totalidade dos mandatos. Se calhar até é bom, ter algum tipo de oposição é muitas vezes um estímulo para se melhorar o trabalho. Apesar de estar longe, sigo com atenção o que se passa naquela que foi a minha terra durante 13 anos, e continua e vai continuar no meu coração. Continuo a achar que era muito bom que houvesse uns quantos “Vítor Paulos” pelo país fora. O PS tem muito a aprender com Paredes de Coura, e já teve tempo para isso.


Crónica publicada na edição 418 do Notícias de Coura, 5 de outubro de 2021.





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