segunda-feira, 17 de maio de 2021

Soltem o povo

Depois de quase meio ano em estado de emergência, o país entra agora em estado de calamidade. Dito assim até parece mais assustador. Na verdade, é a forma do governo ter poderes para limitar algumas das liberdades e definir medidas de funcionamento da atividade económica para combater alguma esperança que o vírus possa ter de nos vencer, agora que nos vão “abrir as portas de novo”!

A vacinação processa-se a um ritmo que nos dá esperança de que pelo menos até ao final do mês do maio estejam vacinados a quase totalidade dos grupos de risco e dos maiores de 60 anos. Além destes, há outros grupos que vão chegar ao final do mês com as duas doses da vacina, entre eles, aquele em que me incluo, o dos professores, num processo de vacinação digno de um elogio do tamanho do mundo, extremamente rápido, organizado de uma forma fantástica, e com uma simpatia tal por parte dos profissionais de saúde, de tal forma que tive de perguntar se já estava vacinado pois quase nem senti a picada da agulha! Já que estou numa de elogiar, não posso deixar de dar aos parabéns ao Governo por ter colocado o Vice-almirante Gouveia e Melo como coordenador do Plano de Vacinação contra a covid-19, depois da sua nomeação, acabaram as “poucas-vergonhas” que se viram com a inclusão nos planos de vacinação de familiares e amigos de quem ocupava cargos de decisão. Se todas estas medidas me dão um certo alívio e esperança, aquilo que vejo na rua já me assusta um pouco. Nos últimos dias as esplanadas encheram-se de gente, sedenta de um café, de uma conversa com os amigos à mesa, sem máscara… os centros comerciais voltaram a encher-se… não que eu tenha entrado, mas habituei-me a ver cerca de 50 a 100 carros no parque de estacionamento, e da última vez que lá passei eram mais de 1000… e nos supermercados já se vê muita gente que se esquece do distanciamento social…

Enfim, isto tem tudo para correr mal, não me parece que o povo se sinta muito assustado com o vírus e esteja lembrado do que aconteceu depois do Natal, mas tenho a esperança que a coisa não vá correr assim tão mal, e embora o número de infetados vá por certo subir, a taxa de mortalidade não vai ser muito afetada, como dizia alguém informado que ouvi há dias, “quem tinha de morrer já morreu, os velhotes já estão quase todos vacinados e os riscos já são menores, e a malta que agora está a apanhar o vírus, muitos deles nem sintomas têm…”. Que assim seja, que as coisas possam lentamente voltar a algum tipo de normalidade, e que tudo não passe em breve de uma recordação, um período difícil pelo qual fomos obrigados a passar.

Em termos económicos é que não me parece que estes tempos se tornem numa recordação a curto prazo. O desemprego aumentou, centenas de empresas fecharam portas e dificilmente voltarão a abrir. O governo já apresentou muitos milhões num plano de recuperação e resiliência (PRR) que se apresenta como o salvador da pátria, são quase 17 mil milhões de euros. Mas as empresas já se queixaram que neste plano há muito investimento público e pouco apoio concreto à atividade empresarial. Ainda estes dias o governo foi confrontado com a ideia de que estava a esconder as reformas negociadas com Bruxelas, comprometendo-se depois de divulgada esta notícia a apresentar ao público todas as reformas estruturais que se propõe implementar até 2026. Vamos aguardar.

Disse um dia Winston Churchill “Nunca desperdice uma boa crise.” Curiosamente ouvi um dia destes num programa de rádio alguém afirmar uma coisa semelhante, que Portugal tinha saído mais forte da crise de 2008, e que esta crise era mais uma oportunidade para fortalecer o país. Perante isto, lembrei-me de uma frase que ouvi há imenso tempo, “Não sei se pense, não sei se diga, não sei se fale!” Não fazia ideia de quem a tinha proferido, verifiquei agora ter sido José Castelo Branco! Acabo de escrever esta crónica a rir! Que mais nos reservará o futuro!?

Crónica publicada na edição 409 do Notícias de Coura, 11 de maio de 2021.



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