terça-feira, 10 de dezembro de 2019

Obrigado Mister!

Algures do outro lado do mundo, a mais de 9000 km de distância do nosso país, vejo um senhor de cabelos brancos com uma bandeira portuguesa vestida. Chama-se Jorge Jesus, tem 65 anos e é treinador de futebol.
Quando saiu de Portugal para treinar nas “Arábias”, os portugueses puderam ver um homem no Aeroporto que partia sozinho, emocionado e triste por deixar o país, especialmente nas condições em que o fazia, depois dos lamentáveis incidentes em Alcochete. Alguns meses depois numa reportagem sobre a vida de Jorge Jesus na Arábia Saudita, lembro-me de ver um homem rodeado de luxos, tinha tudo o queria no país do “petróleo”, mas os seus olhos não conseguiam disfarçar tristeza, aquela tristeza tão portuguesa chamada saudade.
Tempos depois vai para o Brasil. A chegada ao nosso “país irmão” não foi acolhedora, muitos lhe vaticinaram um regresso precoce a Portugal. Entre eles, Marco de Vargas, jornalista desportivo brasileiro que “gozou” com “aquele velhinho de 64 anos que só tinha ganho 3 campeonatos na porcaria do futebol português”. Pouco tempo depois, o velhinho sábio e humilde afirmou que não tinha ido para o Brasil para ensinar ninguém. Ainda assim, os brasileiros aprenderam como com trabalho se pega numa equipa a 8 pontos do 1.º lugar e se é campeão a 4 jornadas do fim do campeonato. Entretanto, leva-a à conquista de um título único.
Num fim-de-semana histórico, Jorge Jesus conduziu o Flamengo à vitória na Taça Libertadores da América e poucas horas depois sagrou-se campeão de futebol do Brasil. Alvo de imensas piadas sobre o seu português “engraçade”, Jorge Jesus nunca deixou de ser quem era, um homem trabalhador. Sempre deixou a sua marca nos clubes que treinou, sendo no Benfica que alcançou as suas maiores conquistas. Muitos insistem em lembrar-se daquele título perdido para o Porto nos minutos finais de um jogo, bem como das duas finais europeias perdidas. Não deviam. Deviam recordar os títulos que ganhou, e que foram muitos. E quanto às finais perdidas, tal como ele não se cansa de lembrar: “Perdeu-as porque esteve lá”, são muitos mais aqueles que nunca as vão perder. Talvez tivessem sido estas lembranças que nos fizeram (sim, a nós, milhares de portugueses), vibrar tanto com aquela reviravolta sobre o River Plate. Estas lembranças e aquelas mais dolorosas quando, um bando de patifes invadiu a academia do Sporting agredindo jogadores e desrespeitando um treinador que, embora não tendo sido campeão (embora o merecesse), levou o Sporting a lutar pelo título até à última jornada.
Tal como eu, creio que milhares de portugueses festejaram aquele título. Mais do que uma vitória de uma equipa de futebol, foi a vitória de um homem, um português que nos festejos vestiu a bandeira do país e emocionou-se ao dizer que tinha muito orgulho em ser português. E nós também. Os portugueses também têm orgulho em si.
Obrigado Senhor Jorge Jesus!

Crónica publicada na edição 376 do Notícias de Coura, 03 de dezembro de 2019.

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