O País está em
campanha eleitoral. As eleições legislativas estão à porta e vivemos aquelas
semanas “magníficas” em que os políticos se lembram do povo, visitam todas as
terrinhas, andam nos mercados, nas feiras e nas festas, distribuem beijinhos e
abraços, prometem mil coisas que sabem que não vão cumprir, e depois
desaparecem até às próximas eleições. É claro que nem todos são assim, mas
quase.*
Nestas eleições não
são esperadas grandes surpresas. Acreditando nas sondagens que quase todos os
dias aparecem, é certo que o PS vai ganhar, o PSD está em maus lençóis, apesar
de nos últimos dias ter vindo a recuperar, o CDS-PP arrisca-se a desaparecer,
mas isso já não é novidade, há anos que as sondagens os vão “quase” apagando, e
eles lá se vão aguentado, BE e PCP lutam pelos votos da esquerda, atacando o
partido que suportaram no governo, o BE por certo vai subir na votação, o PCP
terá rapidamente de mudar o discurso repetitivo que tem desde o 25 de abril,
renovar-se, sob pena de quase desaparecer. O PAN e o Aliança esforçam-se por
eleger um ou dois deputados e serem decisivos na formação de um governo.
Se a minha
crónica ocupasse apenas um cantinho numa página do Notícias de Coura, ficava-me
por aqui, ainda por cima gosto cada vez menos de política e é difícil escrever
sobre uma coisa que não se gosta sem cair na tentação de só falar mal. Como
ainda me faltam 20 ou 30 linhas para a crónica ter um tamanho aceitável, vou
aqui recordar algumas das coisas engraçadas, ou estranhas, desta campanha
eleitoral.
O Bloco de
Esquerda foi apanhado a pintar propaganda eleitoral num dos muros do Instituto
Superior Técnico em Lisboa. Nada na lei impede a realização de murais de
propaganda em período eleitoral, exceto em monumentos nacionais, edifícios
religiosos, e edifícios do estado. Desculpem-me a franqueza, mas haja paciência
para tamanha estupidez. Eu não sei como iria reagir se apanhasse a malta de um
partido político, fosse ele qual fosse, a pintar propaganda eleitoral num muro
ou parede da minha casa. Uns dias depois, alguns elementos do PNR (aquele
partido da extrema-direita, daqueles homens carecas assustadores), pintou o
muro, fazendo desaparecer a propaganda do Bloco. Como se está mesmo a ver,
alguém vai ser condenado, é que “danificar material de propaganda eleitoral
constitui crime punível com prisão”. Pois é, a malta do PNR provavelmente até
merecia estar toda presa, mas não por isto.
O caso “Tancos”
torna-se a arma de arremesso entre PS e PSD. Para os mais esquecidos, “Tancos”
é aquele caso estranho das armas que desapareceram, e voltaram a aparecer algum
tempo depois. Há quem diga que foram roubadas, depois os ladrões zangaram-se
uns com os outros, ameaçaram denunciar-se e finalmente, encenaram a sua
devolução para que ninguém pudesse ser castigado. Mas o mais grave sabe-se
agora, pelos vistos há escutas que confirmam que o Ministro da Defesa da altura
sabia de tudo, bem como o chefe da Casa Militar da Presidência da República. E
mais, noutra escuta, o major da Polícia Judiciária Militar refere-se a uma
grande personalidade como o “papagaio-mor do reino”, justificando-se depois que
não se referia ao Presidente da República, podia ser o Miguel Sousa Tavares ou
o Marques Mendes! Oh Senhor Major, um bocadinho mais de respeito… só faltava
dizer que até podia ser o Bruno de Carvalho! Mais do que estranho, tudo isto é
muito grave, e vergonhoso para o país. Na falta de argumentos e de melhores
assuntos, o PSD usa isto para “atacar” o PS. Também mal fica o PS, quando se
refere a tudo isto como uma “cabala” do Ministério Público. E como quase tudo
parece acontecer ao PS, ainda veio o Ex 1.º Ministro Sócrates defender o
ex-partido!
Quando este
artigo vos chegar às mãos as eleições já terminaram. Os políticos já estarão a
ocupar os seus novos lugares na Assembleia da República. Outros, não eleitos,
começarão desde já a “trabalhar” para nas próximas eleições ocupar um melhor
lugar na lista. Quanto ao povo, voltará a ser “quase” esquecido, as feiras e
mercados serão locais menos confusos e os noticiários voltarão a ter mais
acidentes, desgraças e crimes.
* O autor conhece alguns políticos que felizmente não são assim.
Felizmente, a população de Paredes de Coura também.
Crónica publicada na edição 372 do Notícias de Coura, 08 de outubro de 2019.
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