segunda-feira, 14 de outubro de 2024

Estão todos entalados!

Está ao rubro a discussão política em torno do Orçamento de Estado (OE). Aliás, o que está animada é a conversa provocatória entre 1.º Ministro, Pedro Nuno Santos e André Ventura, porque sobre o orçamento em concreto pouco se sabe.

Luís Montenegro tem absoluta razão quando afirma ser da competência do governo, governar, e é absolutamente natural que o faça seguindo as linhas orientadoras do seu programa, aquele que os portugueses votaram. Por outro lado, não se pode esquecer que não tem deputados suficientes na Assembleia da República, logo, terá de agradar de certa forma a alguém para ter o seu OE aprovado. Está entre a espada e a parede, e já começo a acreditar que pela sua postura, por vezes intransigente, está a desejar que alguém provoque o naufrágio da legislatura.

Pedro Nuno Santos também tem absoluta razão quando afirma que não abdicará dos ideais socialistas e nunca aprovará medidas que são contra esses ideais e contrários aos que constavam no seu programa, que embora não tendo sido o mais votado, representa uma parte significativa do povo. Tal como Luís Montenegro, parece-me que também ele se encontra entre a espada e a parede, e não me parece que seja uma só espada. Se deixar passar o orçamento terá uma significativa oposição interna que considera que não tem de ser o PS a ser a muleta do governo. Ao mesmo tempo, perderá a posição de líder da oposição, fará com que André Ventura veja as suas previsões tornarem-se realidade, quando dizia que PS e PSD são iguais e que estão mais preocupados em manter os seus lugares que em resolver os problemas do país. Quanto à postura, Pedro Nuno Santos continua zangado e revoltado, é justo que não aprove o OE, mas também não pode achar sensato que o mesmo seja apoiado nas propostas do seu partido. Não me parece que aposte no naufrágio, mas devia prevenir-se já e agarrar numa boia.

André Ventura tem sempre razão, diga o que disser. Pelo menos assim julga! É capaz de mudar de opinião três vezes por dia, de manhã garante que não aprovará este orçamento, depois do almoço afirma estar disponível para negociar e que até concorda com as medidas que Pedro Nuno Santos considera inconcebíveis, e à noite garante que o Chega sempre esteve disponível para suportar uma maioria de direita e que este OE só não passará se o Governo não quiser. Afirma tanto e o seu contrário que me obriga e ler três ou quatro vezes o que acabei de escrever para ver se não há contradições. Tal como os outros, também ele está entre a espada e a parede: se aprova o OE dá trunfos a Pedro Nuno Santos para ser ele o verdadeiro e único líder da oposição e poder acusar Luís Montenegro de que afinal, “o não é não, se calhar é uma força de expressão.” Se reprova o OE não pode mais pensar em ser uma alternativa de apoio à direita, e caso haja eleições vai ser castigado. (Eu continuo a acreditar que muita gente votou no Chega para “chatear o sistema”, acredito também que muitos já viram que dali não se pode esperar grande coisa).

Marcelo Rebelo de Sousa: O Sr. Presidente da República já se deve ter arrependido de ter convocado eleições legislativas em 2021, depois do chumbo do OE de António Costa, quando PCP e BE se uniram à direita. Desde essa altura, a política portuguesa tem sido um desenrolar de casos, casinhos e outras peripécias lamentáveis. Se não houver OE, Marcelo Rebelo de Sousa não tem outra saída que não seja convocar eleições antecipadas. E lá iremos nós para mais uma voltinha, “onde as crianças não pagam, mas também não votam”, e onde no final ficará provavelmente tudo na mesma, ou pior. Marcelo Rebelo de Sousa foi-se encostar à parede, e é ele próprio quem segura a espada. Para terminar a rir, nada como a política na América… onde o candidato a Presidente, Donald Trump, acusa os imigrantes de andar a comer os cães e os gatos na cidade de Springfield! Nem os melhores criadores de humor político seriam capazes de inventar tamanha parvoíce!

Crónica publicada na edição 487 do Notícias de Coura, 8 de outubro de 2024



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