É rara a semana em que não nos chegam nas notícias de vários canais televisivos, em particular da CMTV, casos de violência doméstica, muitos deles com desfechos trágicos. Nos últimos dias a comunicação social foi brindada com um caso particularmente relevante, não pela gravidade e pertinência do tema, mas pelos intervenientes envolvidos. José Castelo Branco, personagem difícil de caraterizar, foi acusado de ser violento com a sua esposa, uma senhora de noventa e cinco anos de idade, americana multimilionária com a qual se casou há trinta anos. Desde que a senhora foi internada por ter caído da escada, (segundo ela ter sido empurrada), têm nascido casos e casinhos, quais cogumelos a brotar numa floresta tropical! Há ex-empregadas que dizem agora que os maus-tratos não são novidade; há inquilinos que falam em esquemas de burla no aluguer da mansão da senhora, ex-amigos que falam que toda a vida do casal é uma peça de teatro, e até agora se descobre que a senhora Betty Grafstein tem uma dívida à autoridade tributária. Mais uma vez me apetece repetir palavras ainda escritas na anterior crónica: “Isto é tudo gente que não interessa”. Ainda assim, abrem noticiários, alimentam entrevistas, fazem capas de revistas e até me servem a mim para escrever algumas linhas de texto.
Entretanto, há um país para governar, há problemas importantes a resolver, os portugueses foram a votos para que muitos dos seus problemas sejam resolvidos. O governo está em funções há um mês e ainda não fez quase nada. Lamentável. O que nos vale é que temos alguma oposição a pegar nas rédeas da governação. Ver o Chega a votar as propostas do PS é algo perfeitamente normal. É assim a democracia, os partidos são livres de votar de acordo com as suas propostas. Naturalmente que se o Chega se abstiver para aprovar propostas da AD toda a esquerda verá nisto uma perigosa coligação de direita! Achei imensa piada quando o governo aprovou um aumento extraordinário do complemento solidário para idosos. O PS e o BE vieram logo dizer que é uma medida boa, e que estava nas suas propostas de governo, o Chega critica-a dizendo que também estava no seu programa, mas que esta fica aquém da sua, até o PCP a aprova, mas dizendo que fica a meio caminho da sua. Que forma engraçada de fazer política, critica-se aquilo que não se gosta, e daquilo que se gosta diz-se ser ideia nossa! Já estou a imaginar o que alguns partidos dirão quando o governo anunciar o local para a construção do novo aeroporto de Lisboa. Se o novo aeroporto vier a ser em Bragança, obviamente que a ideia original foi dos Gato Fedorento! A cereja no topo do bolo da política nacional dos últimos dias parece-me ser o projeto de deliberação entregue pelo Chega no Parlamento e que requer a abertura de um processo contra o Presidente da República pelos crimes de traição à pátria. Já tive oportunidade de me pronunciar sobre este assunto, mas esta ação do Chega, aliás, de André Ventura, é um absurdo e uma perda de tempo e recursos daquilo que deveria ser o trabalho da Assembleia da República.
Nos últimos dias chegou-nos também a notícia de um acordo de cooperação militar entre a Rússia e São Tomé e Príncipe. Marcelo Rebelo de Sousa, bem ao seu estilo, resolveu desde logo afirmar querer conhecer o documento. Na resposta, o 1.º Ministro de São Tomé afirmou que o seu executivo “não precisa de Portugal para se relacionar com a Europa.” Enquanto isto, Putin às tantas nem sabe onde fica São Tomé nem Portugal, mas continua a colecionar aliados. Para respeitar o título da crónica, não vou escrever mais nada sobre estas três personagens.
Um último parágrafo sobre futebol. O Sporting foi um justíssimo campeão, a equipa na qual apostei as minhas fichas! (Na verdade apenas apostei dois euros, ganhei dezasseis.) O meu Chaves foi justamente despromovido à segunda liga, entristece-me, mas quem joga tão mal não merece estar na primeira liga. A época termina com mais buscas às claques do Futebol Clube do Porto, gente que não trabalha, exibe sinais de riqueza e está decerto envolvida em negócios ilícitos. Esta gente faz também jus ao título da crónica.
Crónica publicada na edição 479 do Notícias de Coura, 21 de maio de 2024
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