terça-feira, 11 de junho de 2024

Bem mou finto!

Resolvi dar a esta crónica um título diferente! Bem mou finto é uma expressão que pertence ao léxico-transmontano (e provavelmente a outros). Mesmo caída em desuso, ainda hoje se ouve por vezes esta expressão, sobretudo pelas gerações mais velhas, nas quais os meus “quase” cinquenta anos me fazem integrar! Significa “não acredito” ou “nessa não caio”. Lembro-me de a ouvir dezenas de vezes pela boca da minha Avó materna, que nunca acreditava em tantas das coisas que nós lhe contávamos, coisas demasiado avançadas para a sua época. É uma expressão agradável ao ouvido, e mesmo quem nunca a tenha ouvido, percebe imediatamente o seu significado pela entoação dada por quem a pronuncia. É tão divertida de se ouvir que há uns tempos, uns jovens da minha aldeia transmontana, Vilarandelo, resolveram usá-la para dar nome ao seu grupo de animação medieval que vai estando presente em casamentos e festas temáticas. Desta forma, vou dedicar esta crónica a coisas nas quais definitivamente não acredito, e portanto, tecer aqui uma série de opiniões pessimistas dignas de uma outra expressão que ouvi em tempos de uma colega Professora: “Eh pá, esta quando fala é só mau tempo!” (Referia-se ela a uma outra colega Professora que fosse qual fosse o assunto ou problema, só via o que podia correr mal.)

Aeroporto: Bem mou finto que vamos ter aeroporto em Alcochete! O governo anunciou há dias aquilo que há cinquenta anos estão muitos portugueses à espera: a localização do novo aeroporto de Lisboa. Será em Alcochete. Não acredito por várias razões: é preciso um novo estudo de impacto ambiental que vai obviamente demorar um ou dois anos; o contrato de concessão com a Vinci que obviamente não vai abdicar dos seus direitos e exigir uma indemnização astronómica; as outras candidaturas, nomeadamente Santarém, irão provavelmente impugnar a escolha, é muito provável que Portugal entre num período de recessão económica nos próximos anos e, por fim, tal como José Sócrates dizia que “as dívidas não são para se pagar, gerem-se”, eu digo que o Aeroporto não é para se construir, vai-se falando nele. Entretanto, o Aeroporto Humberto Delgado está permanentemente em obras e vai dando conta do recado.

Provas de Aferição: Bem mou finto que vão servir para alguma coisa! Sobre este assunto, que me irrita profundamente, sou melhor que Cavaco Silva, nunca me engano e nem sequer dúvidas tenho. Tenho a certeza que o processo vai correr mal, bem pior que no ano passado e os resultados de tal trabalho continuarão a não ter utilidade absolutamente nenhuma. No ano letivo anterior tive oportunidade de o expressar em carta dirigida ao Senhor Ministro da Educação. Este ano voltarei a fazê-lo, acrescentando o facto de lamentar que o governo não tenha tido a coragem política para as suspender, como teve o governo da geringonça em 2015 que no primeiro dia após a tomada de posse acabou com os exames nacionais de 4.º e 6.º ano.

Estabilidade política: Bem mou finto que nos vamos livrar de ir a eleições todos os anos! As eleições na Madeira são um belo exemplo, o PSD ganhou, mas sem maioria, e ninguém quer conversar com Miguel Albuquerque, o PS reuniu com o JPP para fazer um acordo, mas não têm maioria, ou será que vão conseguir convencer o Chega!? Cá pelo “contenente”, como dizia sempre em tom de gozo o Senhor Alberto João Jardim, a coisa continua animada, o governo só decide por decreto, na Assembleia só se aprovam coisas boas para o povo graças às propostas do PS, que passam com a abstenção ou voto a favor do Chega! (Quero ver a qual destes dois partidos os portugueses irão agradecer no momento de ir votar!) Daqui a dias teremos as eleições para o Parlamento Europeu que mais não servem para que quem ganhe se vanglorie dos resultados. Depois despacham-se os deputados para a Europa durante uns anos e poucas mais vezes ouvimos falar deles. Guerra: Neste tema não consigo usar a expressão que dá título a esta crónica. Sobre este tema as palavras têm de ser frias. Não acredito que a guerra na Ucrânia termine enquanto a Rússia não a destruir quase totalmente e tomar posse de todos os territórios que lhe interessam. Não acredito que Israel descanse enquanto não acabar com a Faixa de Gaza e quem sabe, não fizer desaparecer o Estado Palestiniano. (Oxalá me engane.)


Crónica publicada na edição 480 do Notícias de Coura, 4 de junho de 2024




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